Ary Albuquerque Cavalcanti Junior


A HISTÓRIA DAS MULHERES E O ENSINO ATRAVÉS DE UMA ABORDAGEM REGIONAL E LOCAL



A História enquanto disciplina e abordagem científica passou por inúmeros debates ao longo do último século, algo que contribuiu de forma significativa para estudos que não mais privilegiassem apenas alguns grupos e indivíduos, tais como reis e “heróis”, sendo todos masculinos. Assim, algumas reflexões apresentadas por Natalie Davis, Edward Thompson e Christopher Hill dentre outros trouxeram contribuições aos estudos de outros personagens, passando a observar mulheres, operários, camponeses etc como entes ativos na história e não mais como passivos, visão errônea perdurou há muitos anos.

A partir dos debates acerca das fontes e os personagens na história, as mulheres passam a ser entendidas como importantes no processo histórico a que estavam inseridas, combatendo o silenciamento nas produções que perduraram durante anos. Dessa forma, entende-se a importância de compreender que a história das mulheres vai muito além de criar heroínas etc, mas de entender que estas sempre estiveram envolvidas direta ou indiretamente nos processos históricos que foram sendo constituídos ao longo dos séculos. Contudo, por muito tempo perdurou uma visão masculina da história, algo que principalmente na segunda metade do século XX recebeu novas abordagens e reflexões importantes sobre a construção de uma história das relações de gênero e no combate a seu silenciamento. Segundo Joan Scott:

“Ademais, o gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como aquelas que encontram um denominador comum para várias formas de subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior” (Scott, 1995, p. 7).

Além das contribuições apontadas anteriormente, importante destacar estudos como os de Michelle Perrot, historiadora francesa e uma das referências acerca da história das mulheres e que apresenta de forma clara e objetiva, a importância das ações das mulheres ao longo da historia. Segundo Michelle Perrot:

“Subsistem, no entanto, muitas zonas mudas e, no que se refere ao passado, um oceano de silêncio, ligado à partilha desigual dos traços, da memória e, ainda mais, da História, este relato que, por muito tempo, “esqueceu” as mulheres, como se, por serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, eles estivessem fora do tempo, ou ao menos fora do acontecimento” (Perrot, 2005, p. 9).

Com tal crítica á historiografia, da qual compactuo, no Brasil já há estudos importantes e avançados acerca da história das mulheres, algo que, com o diálogo com outras ciências permitiu um alcance ainda maior, bem como abordagens cada vez mais inovadoras. Hoje, por exemplo, as discussões em torno da história das mulheres e das relações de gênero já podem ser encontradas em cursos como engenharia, medicina etc, algo que muda não apenas as visões durante muito tempo distorcidas, como impacta positivamente na sociedade. Dessa forma, pesquisas desenvolvidas por Céli Pinto, Joana Pedro, Margareth Rago, Ana Colling, Cristina Wolff elucidam e exemplificam bem as inúmeras pesquisadoras brasileiras e seus estudos de excelência, os quais sob diferentes abordagens problematizam o espaço das mulheres na sociedade e seu protagonismo.

Neste breve texto, fazendo uso, ainda que nas entrelinhas das pesquisadoras citadas, busco apresentar algumas possibilidades de ensino de história através de trajetórias e/ou estudos de caso de mulheres numa abordagem regional e local, permitindo sua aplicabilidade em sala. A origem deste trabalho parte da inquietação de contrapor algo que durante muito tempo foi denominada “história nacional”, a qual privilegiava alguns locais e regiões como centro dos acontecidos históricos. Com isso, a história de determinados espaços e pessoas acabou sendo subtraída não apenas da historiografia, mas da, ainda, principal ferramenta de ensino no Brasil, o livro didático.

Como destacam Ana Colling e Losandro Tedeschi:

“Acostumamos a encarar a história como algo ligado ao cognitivo, às informações, aos fatos, desprovidos de relações de poder e saber. Deixamos de vê-la em seus aspectos de disciplinamento, de silêncios. Analisar quem a história convoca ou silencia nos seus textos discursivos deveria ser uma tarefa permanente do historiador”(Colling; Tedeschi, 2015, p. 310).

A partir do que destacam a referida autora e o autor, deve-se entender, ainda que não será possível aprofundar o debate neste breve texto, que a produção, confecção e circulação de um livro possui um propósito e que é necessária uma atenção em sua análise, desde como representam personagens, bem como os silencia. Uma vez que os livros didáticos ainda são a ferramenta de ensino mais utilizada em nosso sistema educacional.

Sobre a abordagem da história regional e local, os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de História sugerem o trabalho de questões locais e regionais em sala de aula. Contudo, o que observamos muitas vezes é o trabalho de datas específicas da localidade, geralmente em datas festivas. Por outro, a própria forma como os professores são cobrados quanto ao conteúdo é uma das dificuldades quanto a um trabalho que faça uma abordagem seja ela regional ou local. Segundo Erivaldo Neves:

“O vago conceito de região, pela imprecisão dos seus limites espaciais, não desvenda um sistema de relações explícitas ou implícitas como os de classe social ou capitalismo. Uma região define-se do mesmo modo que uma localidade, em relação aos seus componentes de tempo, espaço, etnia, cultura, atividade econômica e, por isto, os elementos históricos da sua caracterização não correspondem aos de outro recorte regional” (Neves, 2008, p. 28).

A partir do que descreve Neves (2018) se torna importante observar as particularidades do espaço onde se está localizado e contextualizá-lo com as dinâmicas do tempo, cultura etc, algo que ajudará o/a professor/a trabalhar com os/as alunos/as de uma forma que possam compreender as mudanças ocorridas em suas cidades e/ou regiões. Com isso, podem identificar importantes possibilidades metodológicas, bem como entender a construção histórica e social a que estão inseridos/as.

No tocante a história das mulheres, trabalhos biográficos e de trajetórias passaram a ter um novo olhar por parte da historiografia ao longo das últimas décadas, com isso, muitas mulheres que até então não haviam tido espaço nas abordagens históricas passaram não apenas a demonstrar suas lutas e conquistas, como o próprio combate a uma história que durante muito tempo permaneceu androcêntrica. Por outro lado, como destaca Moreira (2018), em livros didáticos, elas ainda são vistas, em sua maioria, em quadros separados como de curiosidades ou desconexas com o conteúdo principal, algo que dificulta o entendimento dos discentes quanto a real importância daquelas personagens naquele contexto estudado.

Segundo Susane Oliveira (2014):

Esta incorporação de aspectos da história das mulheres, de forma isolada e complementar, parece simplesmente ter a função de cumprir com as demandas dos movimentos feministas expressas nas políticas educacionais traçadas nos PCNs, no Plano Nacional de Educação (PNE) e no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Deste modo, tal inclusão parece se tratar de “histórias para as mulheres” e não de “história na perspectiva das mulheres” (Oliveira, 2014, p.283).

Assim, ao propor uma história que aborde as mulheres enquanto sujeitos históricos, levando-se em conta as perspectivas regionais e locais que as regem é importante observar as relações de gênero, algo que permite analisar a sociedade a que as mulheres estavam inseridas, entendendo resistências, culturas, padrões de feminilidade e as relações de poder que em muito determinavam as funções de mulheres e homens. Uma atividade é o/a docente solicitar aos estudantes que conversem com suas mães, avós, tias e questionem como eram suas rotinas e/ou lugares que podiam ou não “deveriam” frequentar. Ao fazer uma reflexão com a atualidade perceberão o quanto direitos foram alcançados e por mais que não estejam totalmente iguais, devido principalmente a uma estrutura de poder sexista, houve um avanço significativo.

A partir de uma definição dos pressupostos conceituais de gênero e história das mulheres, além do campo local e regional é possível apresentar exemplos de trabalhos que as abordam e algumas sugestões didáticas, sendo este o principal objetivo deste texto.

Em 2017, Marisa de Farias, Alexandra da Costa e Luciana Vieira, organizaram “Mulheres na história de Mato Grosso do Sul”, obra que trás diferentes abordagens e diferentes autoras destacando as mulheres sul-mato-grossenses. No referido livro, encontramos estudos que vão desde a violência até as mulheres em assentamentos rurais. Assim, entende-se que existe uma infinidade de possibilidades de se abordar os assuntos em sala de aula, onde o/a docente pode ter uma ferramenta importante ao destacar os assuntos e a ação das mulheres. Ainda que a produção aqui destaque o estado do Mato Grosso do Sul, pode ser utilizada para levantar discussões e propostas de ensino.

Em 2019, Raphael Coelho produziu a dissertação “A memória de uma heroína: a construção do mito de Maria Quitéria pelo exército brasileiro (1953)”. O texto é uma oportunidade para analisar a história de uma das mulheres de maior destaque dentro da historiografia militar, algo que aguardou certo tempo para ter seu reconhecimento. Assim, o docente pode propor uma relação entre aquilo que consta ou não no livro didático sobre Maria Quitéria e aprofundar o debate com textos de apoio, como o de Coelho (2019). Na oportunidade pode trazer a reflexão de quantas mulheres conhecem ou já ouviram falar na história, algo que contribui para combater o silenciamento e permitir que conheçam outras personagens em sua localidade.

Para quem busca fazer uma análise sobre a história das mulheres no período ditatorial, em 2019, Cavalcanti Junior lançou a obra “Três mulheres e uma história de luta pela democracia e pela liberdade”, analisando a trajetória de mulheres nordestinas em diferentes períodos durante a ditadura. Como sugestão, é possível que o/a docente busque analisar como se deu o referido período em sua cidade e/ou região e como foi à ação das mulheres. Outra possibilidade é fazer um levantamento de quantas mulheres da cidade/região atuam politicamente na cidade seja em ONG’s, como prefeita, vereadora. movimentos sociais etc. Com isso é possível refletir sobre o importante papel dessas mulheres em diferentes frentes de luta e as visões que carregam perante a sociedade.

Além de possibilidades de ensino com base nas abordagens apresentadas anteriormente juntamente aos estudos, existe uma infinidade de ações possíveis. Uma delas seria solicitar uma pesquisa de campo aos estudantes, os quais deveriam buscar quais quem são as mulheres com maior representatividade na cidade ou região. A partir desse levantamento analisarão as histórias das mulheres pesquisadas, bem como as classes sociais e os modelos culturais e políticos do período que atuaram/atuam. Tal atividade consiste em fazer uma reflexão sobre a história regional e local a partir das mulheres, permitindo com isso que os alunos possam compreender como se dá a escrita da história, ao mesmo tempo em que estarão inseridos.

Outra possibilidade se daria a partir das mulheres que mais convivem e/ou gostam e tentarem escrever suas biografias. Com isso, teriam não apenas uma proximidade maior com a pesquisa de campo, como também observariam as pesquisadas como inseridas numa sociedade e parte de uma história em construção daquele espaço estudado.

Uma outra sugestão de atividade é a realização de  um levantamento dos nomes de ruas, escolas e/ou instituições públicas que levam os nomes de mulheres. Após o resultado preliminar buscam informações sobre as personagens, inclusive perguntas a familiares se conheceram ou ouviram falar daquela personagem. Por fim, apresentam os resultados encontrados e analisam as principais dificuldades e as diferentes narrativas criadas em torno das figuras femininas. Esse recurso permite não apenas analisar quem foram as personagens, ou fazer um contraponto do quanto os nomes de personagens masculinos ainda é maioria em logradouros e/ou instituições. Além disso, também contribui de forma significativa para que os discentes conheçam um pouco da história de sua cidade e percebam a importância e a participação das mulheres para ela.

Ambas atividades servem como estímulo para uma abordagem que aproxime os discentes da história das mulheres que fazem parte da construção social, politico e cultural de sua cidade ou região. Além disso, o/a docente que buscar fazer as atividades pode interligar os conteúdos obrigatórios, com mulheres que atuaram naquele período em sua cidade/região. Isso permite um nível de proximidade importante entre a história e os alunos através de sua compreensão como algo em movimento, no qual também estão inseridos.

Obviamente que o trabalho com a história regional e local ainda é um desafio na maioria das instituições de ensino, seja pela preocupação dos conteúdos, ou até mesmo pelos processos seletivos, os quais cada vez menos se pautam no conhecimento no referido contexto. Porém, esta comunicação buscou propor ideias e ao mesmo tempo levantar inquietações acerca do tema da história das mulheres em diferentes localidades e regiões, demonstrando que é possível abordá-la em consonância com a realidade do ensino brasileiro.

Referências
Mestre Ary Albuquerque Cavalcanti Junior. Doutorando em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) é Docente do curso de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/CPCX.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Primeiro e Segundo Ciclos do ensino fundamental - História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.
_______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos do ensino fundamental - História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1998
FARIAS, Marisa de Fátima Lomba de; COSTA, Alexandra Lopes da; VIEIRA, Luciana Branco (Orgs.). Mulheres na história de Mato Grosso do Sul. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2017.
CAVALCANTI JUNIOR, Ary Albuquerque. Três mulheres e uma história de luta pela democracia e pela liberdade. São Paulo: Pimenta Cultural, 2019.
COELHO, Raphael Pavão Rodrigues. A memória de uma heroína: a construção do mito de Maria Quitéria pelo Exército brasileiro. 143 fl. Dissertação (mestrado). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
COLLING, A. M.; TEDESCHI, L. A. O ensino da história e os estudos de gênero na historiografia brasileira. Revista História & Perspectivas, v. 28, n. 53, 5 jan. 2016.
NEVES, Erivaldo Fagundes. História e região: tópicos de história regional e local. Ponta de Lança: Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura, v. 2, n. 2, p. 25-36, 2008.
OLIVEIRA, Susane Rodrigues de. Ensino de história das mulheres: reivindicações, currículos e potencialidades. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska. Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas. Santa Catarina: Editora Mulheres, 2014.
MOREIRA, Viviane da Silva. Ensinar mulheres na história: abordagens biográficas. Dissertação (mestrado). 103 fl. Programa de pós-graduação em ensino de História – Profhistória. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2018.
PAIM, Elison Antonio; PICOLLI, Vanessa. Ensinar história regional e local no ensino médio: experiências e desafios. História & Ensino, v. 13, p. 107-126, 2007.
PERROT, Michelle. As mulheres, ou, os silêncios da história. Edusc, 2005.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & realidade, v. 20, n. 2, 1995.
THOMPSON, Edward Palmer. A história vista de baixo. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, p. 185-201, 2001.

20 comentários:

  1. Bom Ary, gostei muito do teu tema e da forma que trataste o tema. É importantíssimo trazermos as histórias das mulheres para a sala de aula, e para isso é fundamental os materiais paradidáticos, como alguns que elenca-se. Minha questão é mais uma reflexão que sempre trago comigo, e acredito que talvez contribua para seu trabalho. Sobre contar histórias de mulheres e/ou fazer uma análise de gênero. Quando falamos em trazer destaque a mulheres que foram importantes para a história, seja da cidade, localidade, estado ou país, destacamos uma história em particular que pode estar ligada a diversos privilégios que não acompanham uma parcela de outras mulheres. O que me deixa inquieta é uma história das mulheres pura e simplesmente que possa acabar por reproduzir a ideia de grandes herois, no caso heroinas. Obviamente que atualmente nós falarmos de uma mulher importante é um baque para a sociedade que ainda está presa na masculinidade da história, mas fico pensando no processo que isso provoca, numa figura que, sem o nosso aparato analítico, possa acabar sendo distorcida. Ultimamente esses pensamentos estão me fazendo compreender que a história das mulheres não pode andar sem a análise de gênero, ou até mesmo uma análise interserccional. É com essa análise que a história das mulheres se torna ainda mais do local para o global, auxiliando os alunos a conseguir compreender melhor a sociedade na qual vivem. Não sei se consegui me fazer clara o suficiente, são coisas que ainda estão em uma grande formulação na minha cabeça, e gostaria muito de ouvir, no caso ler, o que tu pensas sobre.

    Nicole Angélica Schneider

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    1. Olá Nicole, obrigado pelas reflexões. Concordo plenamente com você, havia pensado em colocar algo, mas o tamanho acabou limitando. Mas vamos lá, creio que seja basicamente impossível abordarmos a história das mulheres sem trazermos às questões de gênero, pois as mulheres e suas resistências estão conectadas às questões normativas de sua época.
      Sobre a questão de heroína ou mulheres importantes, penso que como você sinaliza é necessário cuidado. Com isso o/a docente deve problematizar o que? e por que? ela/s tem toda uma repercussão no meio social daquela cidade. Pois, as relações de poder a história escrita durante muito tempo privilegiou classes, e nas pequenas cidades sempre encontramos essas questões.
      Penso que temos muito ainda que caminhar em relação as discussões da presença feminina na história, seja nos materiais didáticos, bem como as representações que são produzidas, mas isso com toda as questões e problematizações pertinentes ao campo da história. Não sei se consegui responder Nicole. Qualquer coisa pode escrever.

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  2. Olá,
    Achei muito interessante as propostas apresentadas, e gostaria de saber se quando colocadas em prática, quais foram as dificuldades ou possíveis dificuldades encontradas?

    Daiane da Silva Vicente

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    1. Bom dia Daiane, tudo bem? Obrigado pela pergunta. As dificuldades sempre aparecem, assim como para qualquer tema que "fuja" do livro didático. Muitas vezes os discentes apontam "Mas isso não está no livro", algo que se analisarmos bem nos permite fazer reflexões interessantes. Geralmente, mesmo hoje lecionando no ensino superior, levo bibliografias e/ou biografias femininas do período que esteja dando aula. Isso ajuda a desconstruir a onipresença da mulher na história, ainda que tenhamos que ter os cuidados, como aponto no questionamento acima da Nicole Schneider.
      Posto isso, penso que o maior desafio seja fazer essa reflexão em sala, mesmo com as propostas metodológicas, para que entendam como a história pode ser construída a partir do diálogo e das relações de gênero. Não sei se respondi, qualquer coisa estou por aqui.

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  3. Olá, achei bem interessante sua abordagem acerca da história das mulheres em que durante muito tempo estiveram excluídas da historiografia. Hoje estamos representadas por todas essas autoras mencionadas, entretanto, hoje ainda percebemos que as mulheres são invisibilizadas nos livro didáticos. Gostaria que você fizesse ressalvas a respeito disso.

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    1. Olá Aluizia, pois é, essa questão da invisibilidade feminina nos livros didáticos ainda é uma realidade. Creio que tenhamos avançado nos últimos anos, principalmente nos debates teóricos acerca do tema e sua relação com o ensino de história. Como destaquei nas respostas anteriores, deve haver uma proposta de reflexão com os estudantes acerca da presença das mulheres na história e uma das alternativas e levar imagens, ainda que estas devam vir dotadas de problematizações e contextualizadas. Isso evita o processo de heroicização, como tão bem apontou a Nicole no primeiro questionamento. Mas, infelizmente ainda vemos os pequenos quadros no canto da página ou curiosidades a respeito de mulheres na história. Espero ter respondido. Se não, pode me escrever. Obrigado Aluzia.

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  4. cabe a nós enfatizarmos em sala de aula, a credibilidade as mulheres que fizeram e fazem História.
    Abraços

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  5. Boa Tarde Ary.
    Gostei muito de sua reflexão.
    Historicamente, maior parte, dos nomes de mulheres que dão titulação às ruas, às praças e às escolas das cidades e no campo estão vinculadas ao conjunto dos personagens históricos que compõem a elite local, isto funciona como um demarcador simbólico de território e um instrumento de colaboração para construção da memória coletiva. Sendo assim, considerando o exemplo apresentado no texto, será possível trabalhar a relação gênero, classe e cor tendo a mulher como sujeito histórico?

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    1. Olá Andréa, obrigado pela participação.
      Gostei muito do questionamento, e sinalizo que sim, ainda que saibamos as inúmeras dificuldades nas quais nos professorxs passamos em sala de aula. Acho que uma possibilidade de tentarmos fazer esse trabalho seria analisarmos nomes de Organizações não governamentais e até mesmo dos movimentos sociais e bairros que podem estar presentes nas cidades. Em sua grande maioria, são nomes de pessoas ditas "anônimas", mas que podem trazer inúmeras discussões em sala. Por exemplo: Por que a maioria não conhece aquela determinada mulher? Quem é ela? Isso nos permite fazer uma reflexão quanto ao trabalho dxs historiadorxs ao eleger quais serão suas fontes e como trabalhá-las.
      Finalizando, penso que no sentido de se trabalhar a relação gênero, classe e cor é um dos grandes desafios no campo da história das mulheres, pois, ainda que tenhamos avançado muito nos últimos anos, muitas abordagens em sala ou até mesmo na própria academia as veem como homogêneas, sem levar em consideração estas categorias e as diferentes lutas .
      Espero ter respondido. Se não, pode perguntar. Mais uma vez, muito obrigado.

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  6. Olá! Parabéns pelo trabalho. Essa proposta poderia se aplicar a mulheres que compôem a cidade, região das alunas e alunos, nas aulas de História? Quais as possibilidades e desafios deste tipo de abordagem, em relação, a história das mulheres e a história local? Obrigada! Aceito sugestões de leituras!

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    1. Olá Carlize, tudo bem?
      Respondendo sua pergunta, pode sim. Sendo feitas todas as problematizações possíveis, como por exemplo, quem são as mulheres que tem seus nomes em ruas e bairros da cidade? Por que seus nomes estão ali? Assim, ainda que em sua maioria representem nomes de mulheres pertencentes a grupos de um elite local, essa pode ser uma problemática importante para que possa-se refletir em sala. Da mesma forma como podem ser proposta uma atividade que consistiria em: se xs discentes pudessem escolher o nome de uma rua/bairro/cidade e colocasse o nome de uma mulher, qual seria e quais os motivos para tal? Creio que contribuiria significativamente para perceber o próprio imaginário acerca do tema e serem problematizados e analisados os resultados apresentados pelos alunxs.
      Penso que o grande desafio seja a relação do tema com a perspectiva da história das mulheres, pois, muitas vezes o que se pensa é que as mulheres tiveram uma participação aparte do todo, quando na realidade estiveram presentes em todo o processo. Assim, ao propormos tal atividade precisamos estar atentxs aos possíveis diálogos e as formas como elas são representadas. Por isso, mesmo hoje lecionando no ensino superior, busco trazer discussões sobre as mulheres a partir do momento que trabalho determinado contexto histórico.
      Espero ter respondido. Se não, me escreva. Obrigado pelo questionamento e reflexões.

      Referências
      Sobre história regional e local:
      NEVES, Erivaldo Fagundes. História e região: tópicos de história regional e local. Ponta de Lança: Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura, v. 2, n. 2, p. 25-36, 2008.

      FERNANDES, José Ricardo Oriá. Um lugar na escola para a história local. Ensino em Re-vista, 2010.


      Sobre história das mulheres e ensino:

      MOREIRA, Viviane da Silva. Ensinar mulheres na história: abordagens biográficas. Dissertação (mestrado). 103 fl. Programa de pós-graduação em ensino de História – Profhistória. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2018.

      OLIVEIRA, Susane Rodrigues de. Ensino de história das mulheres: reivindicações, currículos e potencialidades. In: STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO, Valeska. Estudos Feministas e de Gênero: Articulações e Perspectivas. Santa Catarina: Editora Mulheres, 2014.

      Se precisar de mais referências sobre história das mulheres pode enviar e-mail para:
      academicoary@gmail.com

      Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

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  7. Olá, eu fazendo um curso no portal Formação Castro Alves sobre o feminismo. Com certeza precisamos discutir o papel da mulher na construção social de qualquer nação, e cabe também a escola assumir sua parcela de contribuição com um dialogo participativo que gere uma ação pertinente ao contexto social dos alunos. Minha pergunta é: Por que ainda temos que conviver com ações e reações machistas numa sociedade que se diz tão democrática e plural?
    Raimundo Denizar dos Santos Pires

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    1. Olá Raiumundo, eis uma questão fundamental para pensarmos, pois envolve toda uma cultura do machismo enraizada em nossa sociedade. Sem mencionar tantas outras práticas que infelizmente observamos/convivemos no dia dia. Penso que após nossa última constituição federal abriu possibilidades para se pensar em diferentes frentes, contudo o aparato "conservador" está em todas as formas de expressão. Como professorxs devemos buscar sempre propor reflexões sobre os diferentes temas, como no caso da presença ativa das mulheres a frente dos processos históricos. Espero ter te respondido. Qualquer coisa, pode me escever.


      Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

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  8. Olá Ary. Parabéns pelo texto:além da criticidade,seu texto é um mini manual para professores de História, que atuam na Educação Básica, como eu.As sugestões de atividades são ótimas, e estão devidamente anotadas.
    Contudo, como você apontou no texto, as relações de gênero vem sendo discutidas em outras áreas, e não somente nas Ciências Humanas. Você considera que a ampliação da discussão das relações de gênero também deve ser ampliadas no espaço escolar?E não somente ficar relegadas às aulas de História ou de Sociologia?

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    1. Olá Suellen, fico feliz em poder contribuir.
      Sobre seu questionamento, eu não apenas acredito que sim, que deva ser ampliado, como acho uma real necessidade. Hoje em dia já é possível encontrar estudos de mulheres nas diferentes áreas que contribuem no olhar ampliado sobre o tema, algo que não fica restrito a História ou às Ciências Sociais. A questão se faz tão importante que se analisarmos, na disciplina de português, ao abordar um obra literal é possível já na interpretação de texto problematizar o espaço que a autora descreve e como ela apresenta as características de determinado período. Da mesma forma que em uma aula de biologia, química e física, o/a docente pode iniciar uma aula pedindo para que a turma faça um levantamento dos grandes nomes na área, creio que já traria uma visão diferenciada e uma linha possível de questionamentos. Claro que estou trazendo apenas algumas possibilidades. Mas enfim Suellen penso que essa perspectiva de mudança em relação ás discussões de gênero e a história das mulheres, aqui não tencionada na questão historiográfica apenas, só será possível quando a educação for pensado no coletivo. Por isso, confesso ter uma queda pela interdisciplinaridade (risos).
      Espero ter respondido.
      Qualquer coisa, sigo à disposição.

      Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

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  9. A PARTIR DE QUANDO A MULHER VAI AO MERCADO DE TRABALHO E PROCCURA SEU ESPAÇO ALCANÇANDO ASSIM SEUS OBJETIVOS?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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  10. QUAL A IMPORTANCIA DAS AÇOES DAS MULHERES AO LONGO DA HISTÓRIA?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Olá Heinz, tudo bem, obrigado pelas questões.Vou respondê-las aqui neste post.Então, essa questão de quando a mulher vai ao mercado de trabalho é algo bem amplo e discutível, pois varia muito de cada sociedade. A nossa por exemplo acabou sendo uma das mais tardias. A Europa, a exemplo da Inglaterra teve um avanço significativo, vide seu processo industrial. Porém, se levar em consideração a perspectiva de "força de trabalho" feminino, este já estava presente há muito mais tempo, pois a mulheres, em muitas sociedades não eram reconhecidas cidadãs.
      Sobre a questão da importância, eu penso, a partir dos anos de estudo e das próprias produções realizadas, que as mulheres sempre estiveram presentes nos rumos das sociedades que se constituíram ao longo tempo. A grande questão é que por muito tempo as produções as deixaram invisibilizadas, retirando sua característica ativa. Eis um dos motivos para que possamos propor novos métodos de debate e desconstruir uma visão de passividade feminina perante os acontecimentos históricos. Não sei se respondi, qualquer coisa me escreva.

      Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

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