Andréa Mazurok Schactae


A REVOLUÇÃO CUBANA: REPRESENTAÇÕES GENERIFICADAS EM UM LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA



Historicamente o Estado e as suas organizações de poder, são espaços ocupados por homens, nos quais os seus símbolos e suas práticas são identificadores de masculinidades. Os heróis tendem a serem homens que pertenceram a instituições armadas e participaram de conflitos armados, e são constituídos em símbolos identificadores do Estado. Assim como a farda e as armas, são construções simbólicas do Estado e de uma masculinidade identificada pela violência, pela força, pela coragem e pela honra. Essas construções constituem identidades de gênero e orientam o estabelecimento de um “saber a respeito das diferenças sexuais” [SCOTT, 1994, p. 12] construídas historicamente, as quais são expressas em práticas, símbolos e leis que organizam e identificam o Estado e suas instituições.

Voltando o olhar para a construção dos símbolos nacionais e instituições armadas, observa-se que os heróis, tendem a serem símbolos vinculados a masculinidade. Constituem-se em representações de um ideal de hombridade [SCHACTAE, 2013; MOREIRA, 2015; BONINO, 2002; STONER, 2003; OLAVARRIA, 2001; CONNEL, 2005]. Para Abel Sierra Madero (2005) a historiografia cubana, tende a explicar os processos históricos focando na guerra, além do que esse espaço e suas práticas são percebidos como pertencentes ao masculino. Portanto, para o pesquisador, os estudos da História de Cuba, sobre a perspectiva da guerra, reforçam um modelo de cubania heterossexual, patriarcal, sexista e homofóbico [SIERRA MADERO, 2005, p. 68].

Em Cuba e em outros lugares do Ocidente, conforme destaca Ariel Sierra Madero [2005], entre o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, está se construindo uma nação-sexuada imaginada, os Estados Nacionais silenciam as mulheres e colocam os homens heterossexuais no domínio do lugar público [CORBIN, 2013; SIERRA MADERO, 2005]. Os mambises que lutaram pela independência de Cuba, do domínio espanhol, são representado na historiografia, como heróis, homens, heterossexuais [SIERRA MADERO, 2005, p. 85].

Essa herança cultural que constitui as culturas no Ocidente, também é percebida na Revolução Cubana, esse acontecimento que marcou o século XX e exportou um ideal de masculinidade para a América Latina. Para Matías Alderete (2013), a construção do homem novo, pela Revolução Cubana, é constituída pela “masculinidade revolucionária”, [Alderete, 2013, p. 3) e marcada pela homofobia. Prevalece em Cuba o modelo do macho, porém, “un macho no es homosexual ni heterosexual per se, sino la continua muestra de valores masculinos: ser violento y agresivo, hablar y actuar en forma vulgar y penetrar en la relación sexual” [Alderete, 2013, p. 6]. Para a Revolução o contra-revolucionário é o maricon, isto é, aquele que é penetrado e apresenta comportamento percebido como feminino [Alderete, 2013, p. 6-7], o homossexual macho tende a aceito como macho revolucionário, nas décadas de 1960 e 1970, em Cuba.
Orientando-se por um modelo de cubania constituído por um ideal de macho revolucionário, a Revolução Cubana é um movimento paradoxal, pois ao mesmo tempo que se propõem estabelecer uma ruptura na ordem estabelecida político-econômico-social, ela também resignificou um ideal de masculinidade caracterizado pela virilidade, na segunda metade do século XX [AUDOIN-ROUZEAU, 2013].

O ideal de masculinidade, construído no processo da Revolução Cubana e presente na historiografia publicada pelo Conselho de Estado em Cuba, tende a reproduzir o modelo viril. Entre os primeiros escritos sobre a Revolução Cubana, destacam-se os textos do médico, Ernesto Guevara, que no processo revolucionário se tornou um guerrilheiro e assumiu o nome de Ernesto Che Guevara. Os seus textos: “Uma história da Revolução Cubana”, publicado na Revista Cruzeiro, no Brasil, em 1959 [GUEVARA, 1959]; e “O socialismo e o homem em Cuba”, publicado em 1965, no Uruguai [GUEVARA, 1965], são marcos significativos na definição da Revolução Cubana como masculina e na projeção internacional desse acontecimento que marca a história política do século XX. Nos dois textos o autor destaca a luta armada e os líderes homens como centrais na construção o projeto político revolucionário em Cuba. Portanto, as armas, os homens e a guerra representam o núcleo central para compreender o processo revolucionário e da vitória dos rebeldes.

O texto publicado em 1959, por Ernesto Che Guevara, pode ser lido como fundante do mito da Revolução dos Guerrilheiros, sendo a guerrilha e os guerrilheiros os sujeitos da vitória. O movimento urbano é esquecido, nesse texto, bem como a participação das mulheres na guerrilha. No outro texto, ele segue com essa construção discursiva, pois ao colocar o Estado, o Partido e os homens de vanguarda – os guerrilheiros –, como encarregados de educar o povo para o socialismo [GUEVARA, 1965], sendo assim, ele define quem foram os sujeitos que construíram e legitimam a Revolução Cubana. 

Essas publicações projetam a ideia de uma Revolução Cubana, cujos líderes homens se constituem em guias e salvadores do povo [GIRARDET, 1987] e o líder que ganhou maior destaque de Ernesto Guevara é Fidel Castro. Ao afirmar que no dia 26 de julho de 1953, “um grupo de homens dirigidos por Fidel Castro atacou (...) o Quartel Moncada” [GUEVARA, 1965], ele oculta a presença de mulheres nesse grupo, legitimando a Revolução como um espaço de homens que pegaram em armas para defender um projeto político.

Ao voltar o olhara para as pesquisas sobre as representações da Revolução Cubana, nos livros didáticos, no Brasil, destaca-se o texto de Rafael Adão e Julio Cesar dos Santos [2015]. No texto os autores analisam as narrativas sobre a Revolução Cubana, focando nas relações políticas em Cuba e no contexto internacional, indicando as aproximações entre os textos dos livros didáticos e algumas obras historiográficas sobre a Revolução Cubana. O foco da análise são as questões políticas, porém não há um diálogo com a categoria gênero.

Sendo assim, ainda está em aberto à construção de reflexão sobre as representações da Revolução Cubana nos livros didáticos, utilizando como ferramenta de análise a categoria gênero. Considerando que os manuais didáticos orientam a construção de uma consciência história [RÜSEN, 2010], é fundamental uma reflexão sobre os discursos generificados presentes nessas ferramentas do ensino de História. Portanto, o objetivo é analisar as representações da Revolução Cubana nos livros didáticos utilizados no Campus do IFPR partir da categoria gênero.

Voltando o olhar para o livro didático como construtor de sentido, cabe uma análise dos sentidos que estão sendo apresentados nos livros didáticos, sobre a Revolução Cubana. Conforme destacam Itamar Oliveira e Margarida Oliveira [2014],

“coerente com o valor atribuído ao ensino de História (enraizado na matriz disciplinar – objeto da sua teoria da História), o livro didático é visto como instrumento fundamental para a vida escolar, já que atua, diretamente, na construção do sentido (orientação no tempo)” [p. 227].

Portanto, o livro didático é um dos instrumentos de construção da consciência histórica, pois é parte do processo da aprendizagem histórica [RÜSEN, 2010] e para este texto foi selecionado o livro didático, utilizado pelos estudantes do Ensino Médio, do Campus do Instituto Federal do Paraná (IFPR), de Telêmaco Borba.  E o texto sobre a Revolução Cubana é analisado a partir das concepções de análise de conteúdo de L. Bardin [2011], da análise do discurso, orientando-se pela categoria gênero [SCOTT, 1995], e dialogando com o conceito de representações [CHARTIER, 1990]. Vale destacar que na análise de imagens será realizado um diálogo com autores que utilizam imagens como fonte histórica.

Para R. Chartier representações são formas de percepção do social que produzem discursos e práticas que buscam legitimar ou justificar para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas. Elas são determinadas pelo grupo que as forjou, o que resulta em diferentes representações, que estão relacionadas a uma multiplicidade de práticas que resultam na construção de mundos sociais e identidades [1990, p. 17-18]. Segundo ele, o estudo das representações

“permite articular três modalidades da relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais uns ‘representantes’ (instâncias coletivas ou pessoas singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade” [CHARTIER, 1990, p. 23].

Considerando que os textos presentes nos livros didáticos, refletem pontos de vistas dos autores, os quais são influenciados por um contexto e por discursos historiográficos, os conteúdos dos livros didáticos são generificados e reveladores de subjetividades.

Portanto é apropriar-se de Joan Scott [1995] para analisar os discursos presentes nos livros didáticos, pois estes também são reveladores das construções das diferenças sexuais. Os significados das diferenças historicamente construídas estão nos símbolos; nos discursos; nas práticas e nas representações; nas identidades; nos espaços sociais. Ao orientar a construção os espaços sociais, portanto gênero também dá significado as relações de poder [SCOTT, 1995, p.88]. Portanto, a história como saber também é constituído pelo gênero, orientando a construção de representações sobre as realidades e práticas sociais.

Um saber que é apropriado pelos jovens na escola e em outros espaços sociais. O livro didático portanto expressa um instrumento de saber e de construção de consciência histórica, que orienta a construção de saberes generificados. Para Jorn Rusen [2001] as apropriações dos estudantes sobre o passado são expressões da consciência histórica, pois para J. Rusen “a consciência histórica é a realidade a partir da qual se pode entender o que a história é, como ciência, e por que ela é necessária” [2001, p. 56].

Ao voltar o olhar para o livro didático História 3, dos autores Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira, Georgina dos Santos [2013], com foco na Revolução Cubana, se observa que o tema está inserido no capítulo  nove : “construindo rivalidades: o mundo do pós-guerra II” (VAINFAS et al., 2013, p. 140). Ao observar os demais títulos dos capítulos observa-se que esse volume da coleção tem como foco a história política dos Estados e a parte quatro do capítulo nove tem como título: “A Revolução Cubana” [VAINFAS et al., 2013, p. 147-149].

O primeiro parágrafo é uma referência a influência dos Estados Unidos na independência de Cuba e o parágrafo o foco é a ditadura de Fulgêncio Batista, na década de 1950, e o movimento dos estudantes da Universidade de Havana contra a ditadura, concluindo o parágrafo com o nome de Fidel Castro. No parágrafo seguinte o foco é o Movimento 26 de julho e o início do processo de construção da luta armada [VAINFAS et al., 2013, p. 147].
Observando a primeira página do texto o foco da narrativa é a luta armada e nessa luta figuram o nome de dois homens: Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. O texto silencia a presença de mulheres no movimento estudantil, na organização do Movimento 26 de Julho (M-26) e na Guerrilha, e reproduz o discurso que coloca dois homens como líderes do movimento de resistência e construtores da Revolução, pois somente os nomes de Ernesto Guerra e Fidel Castro aparecem no texto. Os heróis e símbolos da Revolução Cubana, apresentados nesse livro didático são homens barbudos com armas, inclusive a fotografia que aparece na primeira página [VAINFAS et al., 2013, p. 147], legitima essa representação da Revolução Cubana como um lugar de homens viris. Para o manual didático,

“Em 26 de julho de 1953, Fidel, com 26 anos de idade, liderando um grupo de 150 homens, atacou o quartel Militar de Moncada. O objetivo era derrubar Batista. [...] Em 1955, Fidel foi para o México organizar outra revolta. Ele liderava uma organização política, o Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26). Um médio argentino de 27, Ernesto ‘Che’ Guevara, integrou-se ao grupo” [VAINFAS et al., 2013, p. 147].

Portanto, o foco do texto é a participação de dois homens, Fidel e Che Guevara. Ao construir essa narrativa o texto reproduz o esquecimento da participação das mulheres na Revolução Cubana e se refere a acontecimentos que marcaram o processo de luta armada em Cuba, como espaços de homens. O ataque ao quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, em Santiago de Cuba, fato que marca o início do processo de luta armada na Revolução Cubana, o qual teve a participação de diversas mulheres na organização da ação e duas delas participação diretamente da ação, Haydè Santamaria e Melba Hernandes [SCHACTAE, 2016, p. 207], figura como lugar de homens. A organização do desembarque dos guerrilheiros, vindos do México, no ano de 1956, foi tarefa da jovem Célia Sanchez [SCHACTAE, 2016], cujo nome também é silenciado. Ao se referir ao ano de 1958, o autor foca no controle do Estado pelo M-26 e silencia sobre o Pelotón Mariana Grajales, um grupo de mulheres guerrilheiras que atuava no M-26, combatendo na luta armada no Oriente de Cuba [SCHACTAE, 2016].

Um olhar rápido e atento sobre o texto do livro didático analisado observa-se uma reprodução das relações de poder generificadas, sendo o Estado e o espaço da guerra apresentados como exclusividade de homens viris. Além do silêncio da presença de mulheres nesses espaços o ideal de masculinidade, apresentado pelos heróis símbolos da Revolução Cubana, são viris, vestem uniforme, usam barba e possuem armas. Portanto, no início do século XXI, o texto do livro didático analisado tende a reproduzir uma construção do herói e do espaço da luta armada como domínio de homens, prática observada em outros estudos sobre masculinidades e virilidades [CORBIN, 2013; SIERRA MADERO, 2005; SCHACTAE, 2013; MOREIRA, 2015; BONINO, 2002; STONER, 2003; OLAVARRIA, 2001; CONNEL, 2005]. A construção da consciência história, apresentada nesse manual didática silencia a atuação política das mulheres no estado e na guerra, mesmo diante de ampla produção sobre estudos de gênero no Brasil atual. Todavia ainda é necessário aprofundar a análise da narrativa sobre a Revolução Cubana, apresentada no manual.

Referências
Dra. Andréa Mazurok Schactae, professora de História do Instituto Federal do Paraná (IFPR); professora do Mestrado Profissional em História, na UEPG; Coordenadora do Grupo de Estudos Cultura, Identidades e Gênero, no IFPR; Coordenadora do NEABI, Campus IFPR Telêmaco Borba. Contato: andrea.schactae@ifpr.edu.br

ADAO, Rafael; SANTOS, Julio Cesar.  A Revolução Cubana em livros didáticos de ensino médio. Revista Labirinto, Porto Velho-RO, Ano XV, Vol. 22, p. 127-143, 2015.
ALDERETE, Matías. Masculinidad revolucionaria: la represión de maricones y la construcción del hombre nuevo en Cuba pos-revolucionaria. X Jornadas de Sociología. Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2013.
AUDOIN-ROUZEAU, Stéphane. Exércitos e guerras: uma brecha no coração do modelo viril? CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges. História da Virilidade – A virilidade em crise? Séculos XX-XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 239-268, 2013.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BONINO, Luis. Masculinidad hegemônica e identidad masculina. Dossiers feministes -  Masculinitats: mites, de/construccions y mascarades, n. 67, 2002, p. 07-36.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
CONNELL, R. W. Políticas da masculinidade. Educação e realidade. V. 20 n.º 2, 2005, p. 185-206.
GIRARDET, Raoul. Mitos e Mitologias políticas. Companhia das Letras, SP. 1987.
GUEVARA, Ernesto Che. Una historia de la revolucion cubana, Revista O Cruzeiro, 1959.  Disponível em: Web del Centro Estudios “Miguel Enríquez”, CEME, <http://www.archivo-chile.com>. Acesso em: 05 de janeiro de 2018.
GUEVARA, Ernesto. O socialismo e o homem em Cuba. Semanário Marcha, Montevideo, Março de 1965. Disponível em:<www.marxists.org>. Acesso em: 03 de janeiro de 2018.
MOREIRA, R.; SCHACTAE, A.; SOTO, I. Sónõra. Entre guerrilleras, soldados y policias: lo femenino en instituciones armadas de Cuba y de Brasil. In: MARTINS; A.; GUEVARA, M. Políticas de Gênero na América Latina: aproximações, diálogos e desafios, Jundiaí: Paco Editorial, 2015, p. 141-170.
OLIVEIRA, Itamar F.; OLIVEIRA, Margarida D. Cultura histórica e livro didático ideal: algumas contribuições de categorias rüsenianas para um ensino de História à brasileira, v. 21, n. 2, Passo Fundo, p. 223-234, jul./dez. 2014. Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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STONER, K. L. Militant heroines and the consecration of the patriarchal state: the glorification of loyalty, combat, and national suicide in the making of Cuban National Identity. In: Cuban Studies, volume 34, 2003, pp. 71-96. Disponível em:
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VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge; SANTOS, Georgina dos. História 3. São Paulo: Saraiva, 2013.



31 comentários:

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  3. Olá, parabéns pelo ótimo texto!
    Em 1966, Fidel, na cidade de Santa Clara, faz seguinte discurso:
    “Quando chegamos esta noite aqui, eu disse a um colega que este fenômeno das mulheres na Revolução era uma revolução dentro de outra revolução. E se nos perguntassem que é o mais revolucionário que está fazendo a Revolução, responderíamos que o mais revolucionário é precisamente isto, a Revolução em curso nas mulheres do nosso país.”

    Acredito que o papel masculino na história da humanidade, se intensifica (digamos assim), com o surgimento da propriedade privada, logo do patriarcado. Para uma mudança de reprodução das relações de poder generificadas, como você cita no texto, não seria preciso uma mudança radical nas estruturas da sociedade, assim como na Revolução Cubana? Logo uma mudança nos livros didáticos?

    Att,
    Sarah Nathalia Cordeiro Cim

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    1. Olá Sarah!
      Obrigada pela leitura!
      As relações são complexas, mas o livro didático deveria ser um espaço para reflexões e transformação das relações. No caso da Revolução Cubana, observo uma reprodução dos discursos. Com relação ao discurso de Fidel, embora tenham ocorridos avanços nos espaços ocupados pelas mulheres em Cuba, especialmente nas instituições armadas, que são ainda hoje um "espaço sagrado" da virilidade, os heróis da Revolução seguem sendo os homens. Os livros didáticos poderiam levantar questões para romper com essas construções, pois são espaços de transformação.
      Espero ter respondido.

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  4. O livro didático é uma ferramenta de "ensino" importante para os alunos, bem como um fator norteador para os professores, no entanto, o mesmo não pode ser estabelecido como o "senhor da razão",assim sendo o professor deve buscar novos materiais pra complementar o assunto que no livro foi tratado de modo surperficial, deixando alguns aspectos mais evidentes que outros, aqui em questão a Revolução Cubana.

    Propor a uma mudança radical nos livros didáticos é um tanto quanto uma utópico e tal mudança não depende unicamente dos professores ou gestores. Qual seria a melhor saída/estratégia para suprir esse déficit?

    Marta Gleiciane Rodrigues Pinheiro

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    1. Olá Marta!
      Obrigada pela leitura!
      Entendo que os livros didáticos não deveriam ser os únicos instrumentos de ensino, mas se olharmos para a realidade dos docentes, acabam sendo centrais no processo de ensino. Então, ao menos incluir questões e sugestões que visem uma reflexão sobre os silêncios da história da Revolução Cubana (e outros acontecimentos do passado), já seria uma avanço.

      Ainda acho que mudanças nos livros didáticos sejam a saída mais fácil.Também poderia ser investido em cursos de formação para docentes de História, com foco nos silenciados.

      Espero ter respondido a sua questão.

      Grata!

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  5. Boa Noite, gostaria de saber o que levou você a escolher a Revolução Cubana como tema da sua pesquisa? Com o seu trabalho podemos analisar o contexto feminino em outras guerras que ocorreram e nas quais elas foram omitidas.
    Desde já agradeço a atenção. Obrigada

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    1. Olá Rafaela!

      Grata pela leitura!
      Eu estudo a Revolução Cubana, devido a minha trajetória. Durante o doutorado estive em Cuba, com bolsa, em um projeto MES/Cuba da Capes/CNPQ. Minha tese é sobre mulheres policiais, esse tema seria difícil pesquisar em Cuba, então fiz pesquisa sobre a participação das mulheres na luta armada e posteriormente o ingresso dessas mulheres nas instituições armadas (exército, polícia, etc.). Inclusive Cuba está entre os primeiros Estados da América Latina, que incluíram mulheres em instituições armadas do Estado.

      Essa experiência permitiu eu perceber que mesmo em Cuba, naquele momento, as mulheres eram silenciadas na História da Revolução. Portanto, existe uma cultural no Ocidente, que tente a silenciar a presença de mulheres como soldados/guerrilheiras. É importante destacar que em Cuba, no ano de 1958, 50% das lideranças provinciais, do Movimento 26 de Julho, eram mulheres. Mas quando os rebeldes assumem o poder do Estado, elas não assumiram 50% dos postos do alto escalão. Quando a guerra acada, elas tendem a ser colocadas novamente nos espaços que historicamente são percebidos como femininos.

      Caso queira mais informações estou disponível!

      Muito obrigada!

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  6. Olá, Andréa!
    Após a leitura do teu texto fiquei instigado a pensar no seguinte: para além desta falta de representação feminina nos capítulos sobre a Revolução Cubana dos livros didáticos brasileiros, como a categoria gênero está sendo trabalhada nas salas de aula de Cuba quando o assunto é o processo revolucionário do próprio país?

    Guilherme José Schons
    História - UFFS - Campus Erechim

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    1. Olá, Guilherme!

      Obrigada pela leitura!
      Faz 10 anos que eu realizei minhas pesquisas em Cuba, naquele momento não tive acesso ao material didático usado nas escolas, mas vi as aulas de história na TV. Nessas aulas o foco sempre foi os heróis que lutaram para libertar a América Latina e Cuba. As heroínas tendem ser as mães ou esposas desses homens.

      A sua questão é uma ótima proposta para pesquisa. Acredito que algumas mulheres devem figurar nesses livros (Célia, Haydée, Vilma e Melba). Mas assim como existem centenas de homens anônimos que atuaram na luta armada, também existem centenas de mulheres, que não estiveram na guerrilha, mas atuaram nos movimentos urbanos. Pouco se fala dessas mulheres que atuaram no Movimento 26 de Julho, nos espaços urbanos. O foco sempre são as guerrilheiras e os guerrilheiros, principalmente Fidel, Camilo e Che.

      Espero ter respondido.

      Att.

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    2. Muito obrigado pela resposta, Andréa!

      Abraço!

      Guilherme José Schons

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  7. Olá Andréia, parabéns pelo texto e pela abordagem escolhida. Pensar as relações de gênero nos livros didáticos é mais do que necessário, além disso, focar em como as figuras de Che Guevara e Fidel Castro produzem uma ideia de masculinidade foi muito interessante, como também, falar sobre o silenciamento vivido pelas mulheres que participaram do movimento que nem se quer são citadas nos livros. O que eu achei mais interessante é que eu estava lendo esse livro de História organizado pelo Ronaldo Vainfas essa semana, esse mesmo capítulo sobre a Revolução Cubana. E agora, depois de ler o seu texto, já não verei mais como os mesmos olhos o que li.

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    1. Olá, Vitória!

      Muito agradecida pela leitura e pelas colocações!
      Essa análise sobre a Revolução Cubana deve ser estendida para outras obras. É importante saber a sua percepção sobre o meu texto.

      Muito agradecida!

      Att.

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  8. Luiza Rafaela Bezerra Sarraff19 de maio de 2020 às 16:36

    Olá, Andréa. Boa tarde!
    Primeiramente, gostaria de parabenizá-la pela temática escolhida. Achei muito interessante.
    Segundo, o livro utilizado em sua análise é um material aprovado pelo PNLD. Gostaria de saber como você pensa a relação entre o PNLD(considerando que este tem a função de ditar aquilo que deve estar nos livros) e a ampliação das abordagens de temáticas que apontem o protagonismo feminino nas narrativas didáticas.
    Abraços

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    1. Olá, Luiza!

      Muito obrigada pela leitura e considerações!
      A PNLD realiza uma análise mais geral, observado a existência de reflexões sobre gênero. Porém, precisamos lembrar que nós somos herdeiros de uma cultura e portanto, muitas vezes naturalizamos determinadas espaços sociais e não percebemos os silêncios. Portanto, o uso de livro de didáticos como fonte para pesquisas é uma prática importante para melhorar as narrativas didáticas.

      Grata

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    2. Luiza Rafaela Bezerra Sarraff21 de maio de 2020 às 11:55

      Grata pela resposta! :)

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  9. Boa noite Andréa, tudo bem?
    Primeiramente gostaria de parabenizá-la pela temática escolhida e devo dizer que fiquei bastante reflexiva sobre os textos que li sobre a Revolução Cubana e o apagamento, assim como, deixei passar por minhas leituras essa perspectiva da masculinidade e suas construções que os cerceiam tanto na historiografia cubana e o quanto bebemos dessa fonte e reproduzimos em nossa historiografia.
    Isto me fez pensar: A história das mulheres, estudos de gênero é algo ""novo"" na historiografia e observar esse caminhar para os livros didáticos ainda se debruça-se. No momento em que fez a análise dos livros didáticos escolhidos, fora observado suas referências e em que anos esses autores que foram consultados escreviam sobre a revolução cubana? Essa ideia como um meio de mapear como a historiografia ainda demora em lidar com novas temáticas como gênero e raça para observar determinados contextos. A historiografia cubana hoje se detém a esse olhar de gênero sobre a Revolução?
    Abraços.

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    1. Olá, Débora!

      Muito agradecida pela leitura e pelas questões!
      Concordo contigo que ainda os estudos de gênero estão chegando nos livros didáticos. Porém, os debates sobre História das Mulheres e posteriormente Gênero, iniciam-se na década de 1980, então já faz muito tempo. Porém, talvez existe uma certa resistência a esses temas.

      Com relação a obra, sobre a Revolução Cubana, pelos autores do livro didático, ela também é uma história da revolução que silencia as mulheres. Emboras existam estudos sobre mulheres e a Revolução cubana, ainda não foram incorporadas nessas obras.

      Em Cuba existem alguns estudos sobre mulheres e a revolução, que são indicados pelo pesquisador Samuel Olivero Calderón, no livro Rompiendo silencios (2013),estudos de Julio C. Pagés e Ivette Sóñora Soto, para citar alguns. Porém, posso afirmar que são poucos os estudos em Cuba, no campo da história, sobre a participação das mulheres na revolução.

      Grata pela leitura!

      Andréa Mazurok Schactae

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  11. Telma Almeida da Silva20 de maio de 2020 às 13:36

    Parabéns pelo texto!
    Em sua pesquisa quando esteve em Cuba foi possível observar as relações cotidianas em relação ao machismo na sociedade cubana? As mulheres cubanas são amparadas pelo Estado quando vítimas de violência ? Obrigada.
    Telma Almeida da Silva

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    1. Olá, Telma!

      As párticas culturais das relações de gênero são muito parecidas na América Latina, pois temos uma herança cultural ibérica e cristã. Então em Cuba as práticas cotidianas, nas relações de gênero, são próximas das existentes aqui no Brasil.

      Existem políticas publicas de proteção as mulheres vítimas de violência, indico os estudos da pesquisadora Yuliuva Hernández García, sobre essa temática. Ela esteve no Brasil, em 2015.

      Espero ter contribuído.

      Grata.

      Andréa Mazurok Schactae

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  12. Se atribuye al hombre su masculinidad por ser un “macho varonil” demostrando su capacidad dominante en la sociedad, pero la sociedad está llena de prejuicios y estereotipos de género hacia el comportamiento tanto de hombres como de mujeres, por lo cual desde el estudio del género es importante no tomar una sola parte sino ambas; tanto hombres como mujeres.

    Cabe resaltar que las mujeres han jugado un papel importante en la lucha de la causa revolucionaria, en este caso la mujer cubana siempre ha sido una defensa de la patria y ha sido y sigue siento primordial para el desarrollo de la sociedad.


    Felicitaciones por tu texto, está demasiado interesante.

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    1. Olá, Kelly!

      Muito agradecia pela sua leitura e pelas suas reflexões!

      As mulheres também construíram as revoluções na América Latina, porém tende ao esquecimento. A memória das revoluções é marcada por figuras de homens.

      Grata.

      Andréa Mazurok Schactae

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  13. Saudações Andréa, primeiramente parabéns pelo texto. Você comentou que para este trabalho fez a análise do livro didático que está sendo utilizado no If do Paraná. Pretende analisar mais livros didáticos? Vejo como uma grande ausência a questão de gênero em outros países que tiveram políticas de formação do "Homem Novo", como Angola por exemplo. Quase todas as narrativas são masculinas. Parabéns novamente pelo trabalho. Renata Dariva Costa

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    1. Olá, Renata!
      Muito grata pela sua leitura e pela questão?
      Sobre a análise pretendo analisar outra obras sim, para comparar as narrativas. Já li outros livros didáticos e a narrativa é muito próxima do livro analisado.

      Sobre as mulheres que lutaram em Angola, há uma pesquisa da antropóloga Margarida Parede.

      Um abraço

      Andréa Mazurok Schactae

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  14. Olá, Andréa! parabéns pela produção, excelente texto. Eu sou professora de Direito e tenho uma afinidade pelas relações de gênero. No meu campo de atuação (trabalho/previdenciário) vejo muita invisibilidade das mulheres na elaboração das normas. Assim, a nossa legislação têm influências patriarcais e masculinas que afetam diretamente a perspectiva de vida das mulheres no âmbito público e privado. Gostaria de saber se você pode me indicar algum texto/autor na história que aborda essas influências patriarcais na criação das leis.

    Desde já, agradeço a atenção dispensada!

    Att: Nathália Rydam Pereira Silveira.

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  15. NATHALIA RYDAM PEREIRA SILVEIRA21 de maio de 2020 às 11:08

    Olá, Andréa! parabéns pela produção, excelente texto. Eu sou professora de Direito e tenho uma afinidade pelas relações de gênero. No meu campo de atuação (trabalho/previdenciário) vejo muita invisibilidade das mulheres na elaboração das normas. Assim, a nossa legislação têm influências patriarcais e masculinas que afetam diretamente a perspectiva de vida das mulheres no âmbito público e privado. Gostaria de saber se você pode me indicar algum texto/autor na história que aborda essas influências patriarcais na criação das leis.

    Desde já, agradeço a atenção dispensada!

    Att: Nathália Rydam Pereira Silveira.

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    1. Olá, Nathalia!

      Obrigada pela leitura!
      Sobre políticas públicas na América Latina eu indico o livro: Martins, Ana Paula Vosne; Guevara, María de los Ángeles Arias
      Políticas de Gênero na América Latina: Aproximações, Diálogos e Desafios - http://www.generos.ufpr.br/files/c99b-miolo-do-livro-politicas-de-genero-na-amrica-latina.pdf

      Espero que esse livro possa te ajudar nas reflexões!

      Um abraço

      Andréa Mazurok Schactae

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  16. Texto excelente!
    Minha inquietação é como podemos trabalhar, problematizar e desmitificar o tema das Depressões em sala de aulas? O conceito em si já é algo complicadíssimo.

    Atenciosamente: Fabrícia Lopes

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  17. Maria Vitória Barbosa Santos21 de maio de 2020 às 20:20

    O texto é excelente. Vemos nos dias atuais a homofobia bem enraizada na nossa sociedade. Além da sociedade não aceitar, pressionam para que todos tenham "jeito de macho", que não sejam delicados ou afeminados. Analisando esse fato aqui no Brasil, vemos a semelhança com Cuba,já que ambos são países enraizados no preconceito. Gostaria de saber se isto está ligado ao processo de colonização da America. Desde já, grata.


    Att: Maria Vitória Barbosa Santos

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