A REVOLUÇÃO CUBANA:
REPRESENTAÇÕES GENERIFICADAS EM UM LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA
Historicamente o Estado e as suas
organizações de poder, são espaços ocupados por homens, nos quais os seus
símbolos e suas práticas são identificadores de masculinidades. Os heróis
tendem a serem homens que pertenceram a instituições armadas e participaram de
conflitos armados, e são constituídos em símbolos identificadores do Estado.
Assim como a farda e as armas, são construções simbólicas do Estado e de uma
masculinidade identificada pela violência, pela força, pela coragem e pela
honra. Essas construções constituem identidades de gênero e orientam o
estabelecimento de um “saber a respeito das diferenças sexuais” [SCOTT, 1994,
p. 12] construídas historicamente, as quais são expressas em práticas, símbolos
e leis que organizam e identificam o Estado e suas instituições.
Voltando o olhar para a construção dos
símbolos nacionais e instituições armadas, observa-se que os heróis, tendem a
serem símbolos vinculados a masculinidade. Constituem-se em representações de
um ideal de hombridade [SCHACTAE, 2013; MOREIRA, 2015; BONINO, 2002; STONER,
2003; OLAVARRIA, 2001; CONNEL, 2005]. Para Abel Sierra Madero (2005) a
historiografia cubana, tende a explicar os processos históricos focando na
guerra, além do que esse espaço e suas práticas são percebidos como pertencentes
ao masculino. Portanto, para o pesquisador, os estudos da História de Cuba,
sobre a perspectiva da guerra, reforçam um modelo de cubania heterossexual,
patriarcal, sexista e homofóbico [SIERRA MADERO, 2005, p. 68].
Em Cuba e em outros lugares do Ocidente,
conforme destaca Ariel Sierra Madero [2005], entre o final do século XVIII e as
primeiras décadas do século XIX, está se construindo uma nação-sexuada
imaginada, os Estados Nacionais silenciam as mulheres e colocam os homens
heterossexuais no domínio do lugar público [CORBIN, 2013; SIERRA MADERO, 2005].
Os mambises que lutaram pela independência de Cuba, do domínio espanhol, são
representado na historiografia, como heróis, homens, heterossexuais [SIERRA
MADERO, 2005, p. 85].
Essa herança cultural que constitui as
culturas no Ocidente, também é percebida na Revolução Cubana, esse
acontecimento que marcou o século XX e exportou um ideal de masculinidade para
a América Latina. Para Matías Alderete (2013), a construção do homem novo, pela
Revolução Cubana, é constituída pela “masculinidade revolucionária”, [Alderete,
2013, p. 3) e marcada pela homofobia. Prevalece
em Cuba o modelo do macho, porém, “un macho no es homosexual ni heterosexual
per se, sino la continua muestra de valores masculinos: ser violento y
agresivo, hablar y actuar en forma vulgar y penetrar en la relación sexual”
[Alderete, 2013, p. 6]. Para a Revolução o contra-revolucionário é o
maricon, isto é, aquele que é penetrado e apresenta comportamento percebido
como feminino [Alderete, 2013, p. 6-7], o homossexual macho tende a aceito como
macho revolucionário, nas décadas de 1960 e 1970, em Cuba.
Orientando-se por um modelo de cubania
constituído por um ideal de macho revolucionário, a Revolução Cubana é um
movimento paradoxal, pois ao mesmo tempo que se propõem estabelecer uma ruptura
na ordem estabelecida político-econômico-social, ela também resignificou um
ideal de masculinidade caracterizado pela virilidade, na segunda metade do
século XX [AUDOIN-ROUZEAU, 2013].
O ideal de masculinidade, construído no
processo da Revolução Cubana e presente na historiografia publicada pelo
Conselho de Estado em Cuba, tende a reproduzir o modelo viril. Entre os
primeiros escritos sobre a Revolução Cubana, destacam-se os textos do médico,
Ernesto Guevara, que no processo revolucionário se tornou um guerrilheiro e
assumiu o nome de Ernesto Che Guevara. Os seus textos: “Uma história da
Revolução Cubana”, publicado na Revista Cruzeiro, no Brasil, em 1959 [GUEVARA,
1959]; e “O socialismo e o homem em Cuba”, publicado em 1965, no Uruguai
[GUEVARA, 1965], são marcos significativos na definição da Revolução Cubana
como masculina e na projeção internacional desse acontecimento que marca a
história política do século XX. Nos dois textos o autor destaca a luta armada e
os líderes homens como centrais na construção o projeto político revolucionário
em Cuba. Portanto, as armas, os homens e a guerra representam o núcleo central
para compreender o processo revolucionário e da vitória dos rebeldes.
O texto publicado em 1959, por Ernesto Che
Guevara, pode ser lido como fundante do mito da Revolução dos Guerrilheiros,
sendo a guerrilha e os guerrilheiros os sujeitos da vitória. O movimento urbano
é esquecido, nesse texto, bem como a participação das mulheres na guerrilha. No
outro texto, ele segue com essa construção discursiva, pois ao colocar o
Estado, o Partido e os homens de vanguarda – os guerrilheiros –, como
encarregados de educar o povo para o socialismo [GUEVARA, 1965], sendo assim,
ele define quem foram os sujeitos que construíram e legitimam a Revolução
Cubana.
Essas publicações projetam a ideia de uma
Revolução Cubana, cujos líderes homens se constituem em guias e salvadores do
povo [GIRARDET, 1987] e o líder que ganhou maior destaque de Ernesto Guevara é
Fidel Castro. Ao afirmar que no dia 26 de julho de 1953, “um grupo de homens
dirigidos por Fidel Castro atacou (...) o Quartel Moncada” [GUEVARA,
1965], ele oculta a presença de mulheres nesse grupo, legitimando a Revolução
como um espaço de homens que pegaram em armas para defender um projeto
político.
Ao voltar o olhara para as pesquisas sobre as
representações da Revolução Cubana, nos livros didáticos, no Brasil, destaca-se
o texto de Rafael Adão e Julio Cesar dos Santos [2015]. No texto os autores
analisam as narrativas sobre a Revolução Cubana, focando nas relações políticas
em Cuba e no contexto internacional, indicando as aproximações entre os textos
dos livros didáticos e algumas obras historiográficas sobre a Revolução Cubana.
O foco da análise são as questões políticas, porém não há um diálogo com a
categoria gênero.
Sendo assim, ainda está em aberto à
construção de reflexão sobre as representações da Revolução Cubana nos livros
didáticos, utilizando como ferramenta de análise a categoria gênero. Considerando
que os manuais didáticos orientam a construção de uma consciência história
[RÜSEN, 2010], é fundamental uma reflexão sobre os discursos generificados
presentes nessas ferramentas do ensino de História. Portanto, o objetivo é
analisar as representações da Revolução Cubana nos livros didáticos utilizados
no Campus do IFPR partir da categoria gênero.
Voltando o olhar para o livro didático como
construtor de sentido, cabe uma análise dos sentidos que estão sendo
apresentados nos livros didáticos, sobre a Revolução Cubana. Conforme destacam
Itamar Oliveira e Margarida Oliveira [2014],
“coerente com o valor atribuído ao ensino de
História (enraizado na matriz disciplinar – objeto da sua teoria da História),
o livro didático é visto como instrumento fundamental para a vida escolar, já
que atua, diretamente, na construção do sentido (orientação no tempo)” [p.
227].
Portanto, o livro didático é um dos
instrumentos de construção da consciência histórica, pois é parte do processo
da aprendizagem histórica [RÜSEN, 2010] e para este texto foi selecionado o
livro didático, utilizado pelos estudantes do Ensino Médio, do Campus do
Instituto Federal do Paraná (IFPR), de Telêmaco Borba. E o texto sobre a Revolução Cubana é
analisado a partir das concepções de análise de conteúdo de L. Bardin [2011],
da análise do discurso, orientando-se pela categoria gênero [SCOTT, 1995], e
dialogando com o conceito de representações [CHARTIER, 1990]. Vale destacar que
na análise de imagens será realizado um diálogo com autores que utilizam
imagens como fonte histórica.
Para R. Chartier representações são formas de
percepção do social que produzem discursos e práticas que buscam legitimar ou
justificar para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas. Elas são
determinadas pelo grupo que as forjou, o que resulta em diferentes
representações, que estão relacionadas a uma multiplicidade de práticas que
resultam na construção de mundos sociais e identidades [1990, p. 17-18].
Segundo ele, o estudo das representações
“permite articular três modalidades da
relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de
delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas, através das
quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos;
seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social,
exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um
estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivadas
graças às quais uns ‘representantes’ (instâncias coletivas ou pessoas
singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do grupo, da
classe ou da comunidade” [CHARTIER, 1990, p. 23].
Considerando que os textos presentes nos
livros didáticos, refletem pontos de vistas dos autores, os quais são
influenciados por um contexto e por discursos historiográficos, os conteúdos
dos livros didáticos são generificados e reveladores de subjetividades.
Portanto é apropriar-se de Joan Scott [1995]
para analisar os discursos presentes nos livros didáticos, pois estes também
são reveladores das construções das diferenças sexuais. Os significados das
diferenças historicamente construídas estão nos símbolos; nos discursos; nas
práticas e nas representações; nas identidades; nos espaços sociais. Ao
orientar a construção os espaços sociais, portanto gênero também dá significado
as relações de poder [SCOTT, 1995, p.88]. Portanto, a história como saber
também é constituído pelo gênero, orientando a construção de representações
sobre as realidades e práticas sociais.
Um saber que é apropriado pelos jovens na
escola e em outros espaços sociais. O livro didático portanto expressa um
instrumento de saber e de construção de consciência histórica, que orienta a
construção de saberes generificados. Para Jorn Rusen [2001] as apropriações dos
estudantes sobre o passado são expressões da consciência histórica, pois para
J. Rusen “a consciência histórica é a realidade a partir da qual se pode
entender o que a história é, como ciência, e por que ela é necessária” [2001,
p. 56].
Ao voltar o olhar para o livro didático
História 3, dos autores Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge
Ferreira, Georgina dos Santos [2013], com foco na Revolução Cubana, se observa
que o tema está inserido no capítulo
nove : “construindo rivalidades: o mundo do pós-guerra II” (VAINFAS et
al., 2013, p. 140). Ao observar os demais títulos dos capítulos observa-se que
esse volume da coleção tem como foco a história política dos Estados e a parte
quatro do capítulo nove tem como título: “A Revolução Cubana” [VAINFAS et al.,
2013, p. 147-149].
O primeiro parágrafo é uma referência a
influência dos Estados Unidos na independência de Cuba e o parágrafo o foco é a
ditadura de Fulgêncio Batista, na década de 1950, e o movimento dos estudantes
da Universidade de Havana contra a ditadura, concluindo o parágrafo com o nome
de Fidel Castro. No parágrafo seguinte o foco é o Movimento 26 de julho e o
início do processo de construção da luta armada [VAINFAS et al., 2013, p. 147].
Observando a primeira página do texto o foco
da narrativa é a luta armada e nessa luta figuram o nome de dois homens: Fidel
Castro e Ernesto Che Guevara. O texto silencia a presença de mulheres no
movimento estudantil, na organização do Movimento 26 de Julho (M-26) e na
Guerrilha, e reproduz o discurso que coloca dois homens como líderes do
movimento de resistência e construtores da Revolução, pois somente os nomes de
Ernesto Guerra e Fidel Castro aparecem no texto. Os heróis e símbolos da
Revolução Cubana, apresentados nesse livro didático são homens barbudos com
armas, inclusive a fotografia que aparece na primeira página [VAINFAS et al.,
2013, p. 147], legitima essa representação da Revolução Cubana como um lugar de
homens viris. Para o manual didático,
“Em 26 de julho de 1953, Fidel, com 26 anos
de idade, liderando um grupo de 150 homens, atacou o quartel Militar de
Moncada. O objetivo era derrubar Batista. [...] Em 1955, Fidel foi para o
México organizar outra revolta. Ele liderava uma organização política, o
Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26). Um médio argentino de 27, Ernesto
‘Che’ Guevara, integrou-se ao grupo” [VAINFAS et al., 2013, p. 147].
Portanto, o foco do texto é a participação de
dois homens, Fidel e Che Guevara. Ao construir essa narrativa o texto reproduz
o esquecimento da participação das mulheres na Revolução Cubana e se refere a
acontecimentos que marcaram o processo de luta armada em Cuba, como espaços de
homens. O ataque ao quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, em Santiago de
Cuba, fato que marca o início do processo de luta armada na Revolução Cubana, o
qual teve a participação de diversas mulheres na organização da ação e duas
delas participação diretamente da ação, Haydè Santamaria e Melba Hernandes
[SCHACTAE, 2016, p. 207], figura como lugar de homens. A organização do
desembarque dos guerrilheiros, vindos do México, no ano de 1956, foi tarefa da
jovem Célia Sanchez [SCHACTAE, 2016], cujo nome também é silenciado. Ao se
referir ao ano de 1958, o autor foca no controle do Estado pelo M-26 e silencia
sobre o Pelotón Mariana Grajales, um grupo de mulheres guerrilheiras que atuava
no M-26, combatendo na luta armada no Oriente de Cuba [SCHACTAE, 2016].
Um olhar rápido e atento sobre o texto do
livro didático analisado observa-se uma reprodução das relações de poder
generificadas, sendo o Estado e o espaço da guerra apresentados como
exclusividade de homens viris. Além do silêncio da presença de mulheres nesses
espaços o ideal de masculinidade, apresentado pelos heróis símbolos da
Revolução Cubana, são viris, vestem uniforme, usam barba e possuem armas.
Portanto, no início do século XXI, o texto do livro didático analisado tende a
reproduzir uma construção do herói e do espaço da luta armada como domínio de
homens, prática observada em outros estudos sobre masculinidades e virilidades
[CORBIN, 2013; SIERRA MADERO, 2005; SCHACTAE, 2013; MOREIRA, 2015; BONINO,
2002; STONER, 2003; OLAVARRIA, 2001; CONNEL, 2005]. A construção da consciência
história, apresentada nesse manual didática silencia a atuação política das
mulheres no estado e na guerra, mesmo diante de ampla produção sobre estudos de
gênero no Brasil atual. Todavia ainda é necessário aprofundar a análise da
narrativa sobre a Revolução Cubana, apresentada no manual.
Referências
Dra. Andréa Mazurok Schactae, professora de
História do Instituto Federal do Paraná (IFPR); professora do Mestrado
Profissional em História, na UEPG; Coordenadora do Grupo de Estudos Cultura,
Identidades e Gênero, no IFPR; Coordenadora do NEABI, Campus IFPR Telêmaco
Borba. Contato: andrea.schactae@ifpr.edu.br
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ResponderExcluirOlá, parabéns pelo ótimo texto!
ResponderExcluirEm 1966, Fidel, na cidade de Santa Clara, faz seguinte discurso:
“Quando chegamos esta noite aqui, eu disse a um colega que este fenômeno das mulheres na Revolução era uma revolução dentro de outra revolução. E se nos perguntassem que é o mais revolucionário que está fazendo a Revolução, responderíamos que o mais revolucionário é precisamente isto, a Revolução em curso nas mulheres do nosso país.”
Acredito que o papel masculino na história da humanidade, se intensifica (digamos assim), com o surgimento da propriedade privada, logo do patriarcado. Para uma mudança de reprodução das relações de poder generificadas, como você cita no texto, não seria preciso uma mudança radical nas estruturas da sociedade, assim como na Revolução Cubana? Logo uma mudança nos livros didáticos?
Att,
Sarah Nathalia Cordeiro Cim
Olá Sarah!
ExcluirObrigada pela leitura!
As relações são complexas, mas o livro didático deveria ser um espaço para reflexões e transformação das relações. No caso da Revolução Cubana, observo uma reprodução dos discursos. Com relação ao discurso de Fidel, embora tenham ocorridos avanços nos espaços ocupados pelas mulheres em Cuba, especialmente nas instituições armadas, que são ainda hoje um "espaço sagrado" da virilidade, os heróis da Revolução seguem sendo os homens. Os livros didáticos poderiam levantar questões para romper com essas construções, pois são espaços de transformação.
Espero ter respondido.
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ResponderExcluirO livro didático é uma ferramenta de "ensino" importante para os alunos, bem como um fator norteador para os professores, no entanto, o mesmo não pode ser estabelecido como o "senhor da razão",assim sendo o professor deve buscar novos materiais pra complementar o assunto que no livro foi tratado de modo surperficial, deixando alguns aspectos mais evidentes que outros, aqui em questão a Revolução Cubana.
Propor a uma mudança radical nos livros didáticos é um tanto quanto uma utópico e tal mudança não depende unicamente dos professores ou gestores. Qual seria a melhor saída/estratégia para suprir esse déficit?
Marta Gleiciane Rodrigues Pinheiro
Olá Marta!
ExcluirObrigada pela leitura!
Entendo que os livros didáticos não deveriam ser os únicos instrumentos de ensino, mas se olharmos para a realidade dos docentes, acabam sendo centrais no processo de ensino. Então, ao menos incluir questões e sugestões que visem uma reflexão sobre os silêncios da história da Revolução Cubana (e outros acontecimentos do passado), já seria uma avanço.
Ainda acho que mudanças nos livros didáticos sejam a saída mais fácil.Também poderia ser investido em cursos de formação para docentes de História, com foco nos silenciados.
Espero ter respondido a sua questão.
Grata!
Boa Noite, gostaria de saber o que levou você a escolher a Revolução Cubana como tema da sua pesquisa? Com o seu trabalho podemos analisar o contexto feminino em outras guerras que ocorreram e nas quais elas foram omitidas.
ResponderExcluirDesde já agradeço a atenção. Obrigada
Olá Rafaela!
ExcluirGrata pela leitura!
Eu estudo a Revolução Cubana, devido a minha trajetória. Durante o doutorado estive em Cuba, com bolsa, em um projeto MES/Cuba da Capes/CNPQ. Minha tese é sobre mulheres policiais, esse tema seria difícil pesquisar em Cuba, então fiz pesquisa sobre a participação das mulheres na luta armada e posteriormente o ingresso dessas mulheres nas instituições armadas (exército, polícia, etc.). Inclusive Cuba está entre os primeiros Estados da América Latina, que incluíram mulheres em instituições armadas do Estado.
Essa experiência permitiu eu perceber que mesmo em Cuba, naquele momento, as mulheres eram silenciadas na História da Revolução. Portanto, existe uma cultural no Ocidente, que tente a silenciar a presença de mulheres como soldados/guerrilheiras. É importante destacar que em Cuba, no ano de 1958, 50% das lideranças provinciais, do Movimento 26 de Julho, eram mulheres. Mas quando os rebeldes assumem o poder do Estado, elas não assumiram 50% dos postos do alto escalão. Quando a guerra acada, elas tendem a ser colocadas novamente nos espaços que historicamente são percebidos como femininos.
Caso queira mais informações estou disponível!
Muito obrigada!
Olá, Andréa!
ResponderExcluirApós a leitura do teu texto fiquei instigado a pensar no seguinte: para além desta falta de representação feminina nos capítulos sobre a Revolução Cubana dos livros didáticos brasileiros, como a categoria gênero está sendo trabalhada nas salas de aula de Cuba quando o assunto é o processo revolucionário do próprio país?
Guilherme José Schons
História - UFFS - Campus Erechim
Olá, Guilherme!
ExcluirObrigada pela leitura!
Faz 10 anos que eu realizei minhas pesquisas em Cuba, naquele momento não tive acesso ao material didático usado nas escolas, mas vi as aulas de história na TV. Nessas aulas o foco sempre foi os heróis que lutaram para libertar a América Latina e Cuba. As heroínas tendem ser as mães ou esposas desses homens.
A sua questão é uma ótima proposta para pesquisa. Acredito que algumas mulheres devem figurar nesses livros (Célia, Haydée, Vilma e Melba). Mas assim como existem centenas de homens anônimos que atuaram na luta armada, também existem centenas de mulheres, que não estiveram na guerrilha, mas atuaram nos movimentos urbanos. Pouco se fala dessas mulheres que atuaram no Movimento 26 de Julho, nos espaços urbanos. O foco sempre são as guerrilheiras e os guerrilheiros, principalmente Fidel, Camilo e Che.
Espero ter respondido.
Att.
Muito obrigado pela resposta, Andréa!
ExcluirAbraço!
Guilherme José Schons
Olá Andréia, parabéns pelo texto e pela abordagem escolhida. Pensar as relações de gênero nos livros didáticos é mais do que necessário, além disso, focar em como as figuras de Che Guevara e Fidel Castro produzem uma ideia de masculinidade foi muito interessante, como também, falar sobre o silenciamento vivido pelas mulheres que participaram do movimento que nem se quer são citadas nos livros. O que eu achei mais interessante é que eu estava lendo esse livro de História organizado pelo Ronaldo Vainfas essa semana, esse mesmo capítulo sobre a Revolução Cubana. E agora, depois de ler o seu texto, já não verei mais como os mesmos olhos o que li.
ResponderExcluirOlá, Vitória!
ExcluirMuito agradecida pela leitura e pelas colocações!
Essa análise sobre a Revolução Cubana deve ser estendida para outras obras. É importante saber a sua percepção sobre o meu texto.
Muito agradecida!
Att.
Olá, Andréa. Boa tarde!
ResponderExcluirPrimeiramente, gostaria de parabenizá-la pela temática escolhida. Achei muito interessante.
Segundo, o livro utilizado em sua análise é um material aprovado pelo PNLD. Gostaria de saber como você pensa a relação entre o PNLD(considerando que este tem a função de ditar aquilo que deve estar nos livros) e a ampliação das abordagens de temáticas que apontem o protagonismo feminino nas narrativas didáticas.
Abraços
Olá, Luiza!
ExcluirMuito obrigada pela leitura e considerações!
A PNLD realiza uma análise mais geral, observado a existência de reflexões sobre gênero. Porém, precisamos lembrar que nós somos herdeiros de uma cultura e portanto, muitas vezes naturalizamos determinadas espaços sociais e não percebemos os silêncios. Portanto, o uso de livro de didáticos como fonte para pesquisas é uma prática importante para melhorar as narrativas didáticas.
Grata
Grata pela resposta! :)
ExcluirBoa noite Andréa, tudo bem?
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-la pela temática escolhida e devo dizer que fiquei bastante reflexiva sobre os textos que li sobre a Revolução Cubana e o apagamento, assim como, deixei passar por minhas leituras essa perspectiva da masculinidade e suas construções que os cerceiam tanto na historiografia cubana e o quanto bebemos dessa fonte e reproduzimos em nossa historiografia.
Isto me fez pensar: A história das mulheres, estudos de gênero é algo ""novo"" na historiografia e observar esse caminhar para os livros didáticos ainda se debruça-se. No momento em que fez a análise dos livros didáticos escolhidos, fora observado suas referências e em que anos esses autores que foram consultados escreviam sobre a revolução cubana? Essa ideia como um meio de mapear como a historiografia ainda demora em lidar com novas temáticas como gênero e raça para observar determinados contextos. A historiografia cubana hoje se detém a esse olhar de gênero sobre a Revolução?
Abraços.
Olá, Débora!
ExcluirMuito agradecida pela leitura e pelas questões!
Concordo contigo que ainda os estudos de gênero estão chegando nos livros didáticos. Porém, os debates sobre História das Mulheres e posteriormente Gênero, iniciam-se na década de 1980, então já faz muito tempo. Porém, talvez existe uma certa resistência a esses temas.
Com relação a obra, sobre a Revolução Cubana, pelos autores do livro didático, ela também é uma história da revolução que silencia as mulheres. Emboras existam estudos sobre mulheres e a Revolução cubana, ainda não foram incorporadas nessas obras.
Em Cuba existem alguns estudos sobre mulheres e a revolução, que são indicados pelo pesquisador Samuel Olivero Calderón, no livro Rompiendo silencios (2013),estudos de Julio C. Pagés e Ivette Sóñora Soto, para citar alguns. Porém, posso afirmar que são poucos os estudos em Cuba, no campo da história, sobre a participação das mulheres na revolução.
Grata pela leitura!
Andréa Mazurok Schactae
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ResponderExcluirParabéns pelo texto!
ResponderExcluirEm sua pesquisa quando esteve em Cuba foi possível observar as relações cotidianas em relação ao machismo na sociedade cubana? As mulheres cubanas são amparadas pelo Estado quando vítimas de violência ? Obrigada.
Telma Almeida da Silva
Olá, Telma!
ExcluirAs párticas culturais das relações de gênero são muito parecidas na América Latina, pois temos uma herança cultural ibérica e cristã. Então em Cuba as práticas cotidianas, nas relações de gênero, são próximas das existentes aqui no Brasil.
Existem políticas publicas de proteção as mulheres vítimas de violência, indico os estudos da pesquisadora Yuliuva Hernández García, sobre essa temática. Ela esteve no Brasil, em 2015.
Espero ter contribuído.
Grata.
Andréa Mazurok Schactae
Se atribuye al hombre su masculinidad por ser un “macho varonil” demostrando su capacidad dominante en la sociedad, pero la sociedad está llena de prejuicios y estereotipos de género hacia el comportamiento tanto de hombres como de mujeres, por lo cual desde el estudio del género es importante no tomar una sola parte sino ambas; tanto hombres como mujeres.
ResponderExcluirCabe resaltar que las mujeres han jugado un papel importante en la lucha de la causa revolucionaria, en este caso la mujer cubana siempre ha sido una defensa de la patria y ha sido y sigue siento primordial para el desarrollo de la sociedad.
Felicitaciones por tu texto, está demasiado interesante.
Olá, Kelly!
ExcluirMuito agradecia pela sua leitura e pelas suas reflexões!
As mulheres também construíram as revoluções na América Latina, porém tende ao esquecimento. A memória das revoluções é marcada por figuras de homens.
Grata.
Andréa Mazurok Schactae
Saudações Andréa, primeiramente parabéns pelo texto. Você comentou que para este trabalho fez a análise do livro didático que está sendo utilizado no If do Paraná. Pretende analisar mais livros didáticos? Vejo como uma grande ausência a questão de gênero em outros países que tiveram políticas de formação do "Homem Novo", como Angola por exemplo. Quase todas as narrativas são masculinas. Parabéns novamente pelo trabalho. Renata Dariva Costa
ResponderExcluirOlá, Renata!
ExcluirMuito grata pela sua leitura e pela questão?
Sobre a análise pretendo analisar outra obras sim, para comparar as narrativas. Já li outros livros didáticos e a narrativa é muito próxima do livro analisado.
Sobre as mulheres que lutaram em Angola, há uma pesquisa da antropóloga Margarida Parede.
Um abraço
Andréa Mazurok Schactae
Olá, Andréa! parabéns pela produção, excelente texto. Eu sou professora de Direito e tenho uma afinidade pelas relações de gênero. No meu campo de atuação (trabalho/previdenciário) vejo muita invisibilidade das mulheres na elaboração das normas. Assim, a nossa legislação têm influências patriarcais e masculinas que afetam diretamente a perspectiva de vida das mulheres no âmbito público e privado. Gostaria de saber se você pode me indicar algum texto/autor na história que aborda essas influências patriarcais na criação das leis.
ResponderExcluirDesde já, agradeço a atenção dispensada!
Att: Nathália Rydam Pereira Silveira.
Olá, Andréa! parabéns pela produção, excelente texto. Eu sou professora de Direito e tenho uma afinidade pelas relações de gênero. No meu campo de atuação (trabalho/previdenciário) vejo muita invisibilidade das mulheres na elaboração das normas. Assim, a nossa legislação têm influências patriarcais e masculinas que afetam diretamente a perspectiva de vida das mulheres no âmbito público e privado. Gostaria de saber se você pode me indicar algum texto/autor na história que aborda essas influências patriarcais na criação das leis.
ResponderExcluirDesde já, agradeço a atenção dispensada!
Att: Nathália Rydam Pereira Silveira.
Olá, Nathalia!
ExcluirObrigada pela leitura!
Sobre políticas públicas na América Latina eu indico o livro: Martins, Ana Paula Vosne; Guevara, María de los Ángeles Arias
Políticas de Gênero na América Latina: Aproximações, Diálogos e Desafios - http://www.generos.ufpr.br/files/c99b-miolo-do-livro-politicas-de-genero-na-amrica-latina.pdf
Espero que esse livro possa te ajudar nas reflexões!
Um abraço
Andréa Mazurok Schactae
Texto excelente!
ResponderExcluirMinha inquietação é como podemos trabalhar, problematizar e desmitificar o tema das Depressões em sala de aulas? O conceito em si já é algo complicadíssimo.
Atenciosamente: Fabrícia Lopes
O texto é excelente. Vemos nos dias atuais a homofobia bem enraizada na nossa sociedade. Além da sociedade não aceitar, pressionam para que todos tenham "jeito de macho", que não sejam delicados ou afeminados. Analisando esse fato aqui no Brasil, vemos a semelhança com Cuba,já que ambos são países enraizados no preconceito. Gostaria de saber se isto está ligado ao processo de colonização da America. Desde já, grata.
ResponderExcluirAtt: Maria Vitória Barbosa Santos