AS MULHERES MEDIEVAIS ENTRE “A ROCA E A ESPADA”: PROTAGONISMO, SUBMISSÃO E PODER FEMININO NOS DISCURSOS HISTÓRICOS E LITERÁRIOS
Sabe-se
que o campo de estudos da História das Mulheres tem permitido com que
historiadores possam pesquisar e refletir acerca de questões referentes às
mulheres medievais, nunca antes debatidas. As pesquisas acerca das realidades e
condições femininas dentro do Medievo mostram-se inovadoras muitas vezes por
combaterem velhos estereótipos cristalizados sobre essas personagens femininas,
além de trazer um maior protagonismo as mulheres medievais.
Este
protagonismo feminino não fica restrito ao campo historiográfico e ocupa
espaços em narrativas literárias, nas quais figuras históricas femininas se
fazem presentes como protagonistas. Caso explicito no sucesso editorial de
obras que retratam mulheres medievais nos bastidores de conflitos políticos ou
até mesmo de guerras, temáticas estas exploradas por romancistas como Philippa
Gregory e Jean Plaidy.
Ainda
assim, há que se reconhecer que as fronteiras entre o real e a representação
existem, mas elas não podem deslegitimar o trabalho que o romance histórico faz
ao propor a reabilitação da memória de muitas dessas mulheres esquecidas como
coadjuvantes em narrativas oficiais da História, Por isso é necessário repensar
as relações de gênero e os protagonismos femininos na Idade Média, garantindo a
escrita de uma história das mulheres que promova essa representatividade.
A escrita de uma História das mulheres da Idade Média
Apesar
de algumas limitações de fontes para a formulação de estudos sobre as mulheres
medievais, principalmente por conta da escrita ser majoritariamente dominada
por homens ligados à Igreja Católica, como monges ou outros clérigos, ainda
assim é possível apontar que essas figuras femininas conseguiram deixar
vestígios que permitem um trabalho historiográfico sobre as vivências dessas
mulheres:
“Muitos
dos estudos sobre o Medievo mais recentes, consagrados a mulheres de todas as
condições – religiosas e mulheres santas, jovens prometidas em casamento ou
esposas laboriosas- mostraram a importância central do casamento na
determinação da condição feminina; muitos decodificaram os sistemas de valores,
de imagens e de representações que os comportamentos traduziam no cotidiano;
outros testemunharam o lugar que algumas mulheres ocuparam na vida intelectual
e religiosa do seu tempo, longe das figuras célebres ocasionalmente saídas da
obscuridade pelo poder que detêm;
outros, por fim, retomam a tradição da história do direito”. [KLAPISH-ZUBER,
1992, p. 12]
De
acordo com Klapish-Zuber [1992] as atividades femininas do Medievo permanecem
quase que raramente assinadas, ficando sob o domínio das conjecturas.
Entretanto, Klapish-Zuber [1992] aponta que vestígios íntimos como agulhas,
pentes, roupas, vasos, etc permitem uma abordagem que possa restituir os
espaços e objetos que definem a vida quotidiana de uma mulher, as suas
atividades no interior ou fora de sua casa.
Porém,
como explica José Rivair Macedo [1992, p.10]: “na idade Média, como em outros
períodos, a sociedade definiu os papéis e os lugares reservados aos sexos”;
entretanto, sabe-se que a sociedade medieval era guiada por valores morais
cristãos e pelo ideal de guerra, o que produzia uma elevação do homem em
detrimento da mulher. Portanto, ainda que houvesse mulheres que conseguiam de
certa forma ultrapassar as barreiras impostas ao seu sexo, a submissão feminina
era quase que padrão nesta sociedade – claro que com exceções, visto no exemplo
de rainhas como Elizabeth Woodville (1437-1492), soberana que se destacou em
meio a “Guerra das Rosas”:
“A
definição dos papéis e dos lugares das duas “metades” encontra-se expressa nos
próprios símbolos que as designavam: o homem, a espada. A mulher, a roca; [...]
ao homem, o símbolo de uma atividade realizada nos campos de batalha; às
mulheres, o símbolo de uma tarefa realizada na vida privada. Trata-se
evidentemente, de um estereótipo, de uma ideia desmentida pela realidade
histórica, mas como se sabe, por vezes os preconceitos nutrem-se de ideias comuns”.
[MACEDO, 1992, p.10]
Ao
olhar para essas mulheres e tentar reescrever uma nova história, levando em
consideração as diferenças de gênero e as imposições sociais, culturais e
políticas que muitas mulheres medievais sofreram, o campo da História das Mulheres
também ousa ao tentar vencer esses preconceitos, já que pensar a mulher
medieval como a reles submissa empobrece as diversas trajetórias de figuras
femininas do Medievo enquanto sujeitas históricas. Neste sentido, Klapish-Zuber
[1992, p. 18] evidencia que:
“Paradoxalmente,
estas mulheres da Idade Média, a quem senhores, esposos e censores negam a
palavra com tanta persistência, deixaram afinal mais textos e ecos do seu dizer
do que traços propriamente materiais. [..] mulheres de todos os meios ousavam-se
fazer ouvir; ainda que seja preciso apurar o ouvido para a escutar, abafada no
barulho imenso do coro dos homens, a parte que estas vozes executam no concerto
literário ou místico ganha uma autonomia”.
É
possível afirmar que, os estudos sobre as condições femininas na Idade Média,
tem muito a oferecer a historiografia contemporânea, propondo uma maior
abordagem sobre as mulheres medievais. É válido frisar a ideia de “Mulheres” no
plural, já que a realidade vivenciada era diferente para cada mulher, não
podendo-se pensar a mulher medieval de uma forma homogenia.
Necessita-se
observar as diversas limitações e maneiras de se atingir a autonomia feminina,
fazendo-nos refletir sobre os variados meios que essas mulheres se valeram para
obter o controle de suas vidas e as diversas adaptações ou transgressões a essa
realidade de submissão.
O protagonismo das mulheres medievais: representações
femininas dos discursos historiográficos à literatura
O
historiador Tapioca Neto [2013] expõe que, graças a ideologia feminista a
partir da década de 1960, e, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, o pensamento
político feminino começou a ter grande aderência entre as massas populares de
vários países, e essa valorização do papel da mulher transcendeu os discursos
historiográficos adentrando também as páginas de obras literárias e das obras
cinematográficas.
Por
exemplo, ao acessarmos a obras audiovisuais presentes na plataforma de
streaming Netflix, observamos o destaque que é dado aos títulos que apresentam
protagonismo feminino, com a criação da categoria específica “Protagonistas
femininas fortes”. Outro exemplo é a telenovela global “Deus Salve o Rei”
[2018] que mesmo ambientada no Medievo, trazia no embate entre a mocinha Amélia
(interpretada por Marina Ruy Barbosa) e a vilã Catarina (papel de Bruna
Marquezine) aspectos da força e coragem feminina, equiparando-se ao
protagonismo do herói, Príncipe Afonso (interpretado pelo ator Rômulo Estrela).
Nota-se
que no campo da literatura essa quebra de preconceitos nos discursos de que as
mulheres medievais eram o sexo frágil comparadas a força e virilidade
masculina, são constantemente questionados e contestados, principalmente
através de romances históricos, que ao darem uma nova ótica a personagens
fictícias – ou reais –impulsionam novas interpretações sobre a situação
feminina e a ideia da submissão versus autonomia:
“Esse
discurso de independência, por sua vez, deslocara-se um pouco da oralidade e
começou a adentrar na própria literatura. Alguns romances da segunda metade do
século XX passaram a trazer a figura da mulher emancipada como personagem
principal da trama. Não obstante, se verificou um resgate de personalidades
femininas do passado, reinterpretadas à luz dos atuais acontecimentos, tais
como: Cleópatra, Joana d’Arc, Elizabeth I, Maria Antonieta, e a própria Ana
Bolena”. [TAPIOCA NETO, 2013, p. 53]
Este
protagonismo de mulheres medievais nas páginas de obras literárias é reflexo
das próprias conquistas feministas e do estudo das concepções de gênero pelo
campo da História das Mulheres, este campo de estudos segundo Joan Scott [1992]
reivindica um novo olhar sobre o papel da mulher ao longo da história e busca
também destacar as suas contribuições. Neste quesito, a literatura pode servir
como grande aliada da História ao interagir com os mais diversos leitores e
leitoras ao despertar o interesse sobre temáticas e dilemas referentes às
realidades e modos de vida de mulheres medievais.
Pode-se
apontar que apesar de ambientados no cenário medieval, utilizando-se da
cronologia e de elementos ligados ao cotidiano e imaginário acerca do Medievo,
esses romances históricos, que procuram dar uma nova perspectiva ao papel
desenvolvido por mulheres na Idade Média, tendem também a atender pautas da
própria atualidade levantadas pelas lutas feministas.
Vale
salientar que a função da Literatura, ao criar o mundo ficcional, não tem
compromisso na transmissão de verdades ou fatos inteiramente comprovados
historicamente, o que é diferente do trabalho historiográfico, que necessita
criar uma narrativa verossímil. Os romances históricos, ao tentar retratarem
essas mulheres medievais, trabalham assim com a representação dessas
figuras femininas.
De
acordo com Chartier [1990] desta forma, pode pensar-se uma história cultural do
social que toma por objeto a compreensão das formas e dos motivos, ou seja, das
representações do mundo social; estas, na revisão dos atores sociais, traduzem
as suas posições e interesses objetivamente confrontados, e que, paralelamente,
descrevem a sociedade tal como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse:
“As
definições antigas do termo [..] manifestam a tensão entre duas famílias de
sentidos: por um lado, a representação como dando a ver uma coisa ausente, o
que supõe uma distinção radical entre aquilo que representa e aquilo que é
representado; por outro, a representação como exibição de uma presença, como
apresentação pública de algo ou de alguém. No primeiro sentido, a representação
e instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objecto ausente através
da sua substituição por uma «imagem» capaz de o reconstituir em memória e de o
figurar tal como ele é [...] A relação de representação [...] como
relacionamento de uma imagem presente e de um objeto ausente, valendo aquela
por este, por Ihe estar conforme — modela roda a teoria do signo que comanda o
pensamento clássico”. [CHARTIER, 1990, p. 20-21]
A
representação de mulheres medievais, ao transpor o campo historiográfico e
partir para a literatura, trata-se, pois, de um processo de apropriação da
imagem dessas figuras/personalidades que estão ausentes, possibilitando, assim,
a sua presença através da reconstituição de sua memória. A representação
vale-se dessa substituição da “ausência pela presença” constituindo uma nova
imagem, de acordo com os objetivos que são convenientes para o processo da
elaboração de um sentido para este objeto/símbolo representado. Isto é muito
comum em romances históricos que buscam essa reabilitação da memória através da
narrativa ficcional.
O Romance Histórico como nova interpretação histórica:
A condição feminina entre a submissão e o poder
Apesar
dos romances históricos sobre as mulheres medievais ainda terem suas
limitações, pois o método literário nem sempre vai se embasar na análise
documental e de outros testemunhos como ocorre no método historiográfico, ainda
assim essas narrativas literárias podem propiciar uma nova interpretação
histórica sobre a condição feminina durante o Medievo, cobrindo até mesmo
lacunas das narrativas historiográficas, já que os escritores também apresentam
suas versões para fatos que ficam sem respostas muitos vezes na escrita de
historiadores:
“De
figura recatada, que tomava a virgem como ideal inalcançável, as mulheres
passaram a usar os elementos de que dispunham para se proverem, na medida em
que obtinham espaço para isso. Com o tempo, sua força fora aumentando, chegando
ao ponto de transformar a própria configuração da sociedade, antes representada
mais pelo gênero masculino. Inclusive, observou-se que essa mulher, de perfil
determinado, começou a adentrar no mundo da ficção, não mais sendo representada
como a donzela frágil e modelo de retidão social, mas sim como um ser humano
repleto de sentimentos comuns à espécie. Nesse caso, viu-se também o resgate de
certas personalidades femininas do passado, reinterpretadas à luz da nova
ideologia de emancipação da mulher que estava em voga desde o século XIX e
principalmente após a década de 1960. É nesse contexto que ressurgem no cenário
contemporâneo: Cleópatra, Maria Antonieta e a própria Ana Bolena”. [TAPIOCA
NETO, 2013, p. 57]
A
história das mulheres, como aponta Scott [1992] através das reinvindicações
feministas, buscou escrever novas discursos e valorizar o papel e contribuições
de múltiplas mulheres que durante muito tempo foram silenciadas nas narrativas
oficiais. Silêncios nas narrativas de várias rainhas inglesas, que atualmente
são resgatadas pela literatura nas suas representações em diversos romances
históricos.
Dessa
forma, o uso de metaficções historiográficas destaca-se cada vez mais.
Como explica Hutcheon [1991], esses textos expandem os modelos narrativos
acerca do passado, através da união da literatura e história. A partir do
prisma conceitual de metaficção historiográfica, na perspectiva que aborda
elementos do discurso histórico interagindo a liberdade ficcional da
literatura, podemos utilizar vários romances históricos para o estudo do
Medievo e seus eventos, como a “Guerra das Rosas” (1455-1485).
Côrrea
[2013] explica que essa guerra consistiu numa série de lutas pelo trono da
Inglaterra, disputado entre as famílias rivais: Yorks (representada pela rosa
branca) e Lancasters (representada pela rosa vermelha) levando a:
“três
revoltas regionais; uma série de assassinatos, cercos e feudos privados; treze
batalhas de larga-escala; dez tentativas de tomar o poder do rei; quinze
invasões; cinco usurpações do trono; cinco monarcas; sete reinados; e cinco
mudanças dinásticas”. [CÔRREA, 2013, p. 5-6].
Ao
analisarmos a literatura contemporânea, vemos na ambientação de enredos na
Idade Média novas perspectivas acerca de eventos deste período, aspecto
evidente no romance “O Sol em Esplendor” publicado em 1982 por Jean Plaidy, que
retrata a “Guerra das Rosas”. A obra está repleta de representações de figuras
femininas notáveis como Margaret de Anjou (1430-1482), Elizabeth Woodville
(1437-1492) e Anne Neville (1456-1485); ambas se tornaram rainhas em meio aos
conflitos da “Guerra das Rosas”.
O
livro expõe as diversas condições femininas da Inglaterra do século XV,
podendo-se refletir pela ótica de Plaidy acerca de temas como maternidade,
casamento, submissão, luta pelo poder, etc, nesse cenário turbulento entre os
homens e que afetava as mulheres. O romance mergulha na ficção para a
construção da sua narrativa abordando episódios vividos pelas figuras
históricas femininas citadas, dando maior destaque as personagens que ora
adaptam-se a submissão “no mundo dos homens”, mas em meio aos conflitos traçam
também artimanhas para ascender ao poder.
Além
de Plaidy, a escritora britânica Philippha Gregory também publicou uma série
literária dando protagonismo as figuras históricas femininas centrais da Guerra
das Rosas. Na série literária “Guerra dos Primos”, Gregory alça ao
protagonismo, Elizabeth de Woodville no livro “A Rainha Branca” (2012),
Margaret Beaufort (1443-1509) ne “A Rainha Vermelha” (2013), Jacquetta de
Luxemburgo (1415-1472) ne “A Senhora das águas” (2014) e Anne Neville ne “A
Filha do Fazedor de Reis” (2015). Essas obras deram origem a série televisa
“The White Queen” em 2013, da Starz. Gregory escreveu também sobre Isabel de
York (1466-1503) em “A Princesa Branca” (2018) que originou a série de TV “The
White Princess” (2017) da Starz.
Essas
figuras históricas ao serem retratadas nos livros de Gregory são evidenciadas
como protagonistas fortes, inteligentes e estrategistas, sendo verdadeiras
sobreviventes em meio aos conflitos dos Yorks e Lancasters, com papeis
decisivos no desenrolar das sucessões dos reis na guerra. Portanto, Gregory não delega a essas figuras
papeis coadjuvantes perante os homens, mas tenta restituir suas contribuições
históricas em seus livros.
Através
dessas representações literárias, seja na obra de Jean Plaidy ou Philippa
Gregory, narram-se aspectos de trajetórias femininas em meio a conflitos
políticos e sociais, mostrando assim as diversidades das condições femininas na
Idade Média, marcadas pela desigualdade de gênero ou até pela transgressão de
padrões impostos às mulheres, como no caso das figuras retratadas pelas
autoras:
“Isso
significa dizer que não vemos a questão da representação como algo que ameace o
conhecimento histórico ou que constitua uma negação do mesmo. A dimensão da
representação é uma possibilidade que deve ser levada em consideração e não
excluída apresentando como desculpas os inúmeros problemas que traz consigo.
Não estamos sugerindo que de um lado está a representação e de outro o real
formando uma dicotomia que obrigue o leitor a escolher, ou ficar com a
representação ou com o real. Assim sendo, talvez possamos pensar a
representação como uma dimensão do real [...] Desta forma, a representação e o
real são interdependentes, um não existe sem o outro”. [SANTOS, 2011, p. 43]
Santos
[2011] argumenta que as diferenças entre história e literatura podem ser
sintetizadas no fato de que o historiador representa acontecimentos que não
dependem de sua consciência para que possam existir, ou seja, eles habitam na
memória de quem os presenciou e podem servir como testemunhas; já o literato
tem a licença discursiva para inventar situações e personagens sem a obrigação
de ter referência no mundo empírico. Conforme Santos explica [2011] ainda que
independente de historiadores falarem dela ou apresentarem suas perspectivas,
existiu uma cidade chamada Roma que foi capital do que ficou famoso como Antigo
Império Romano; entretanto, não há Terra média sem Tolkien ou Nárnia sem Lewis.
A
representação de uma figura feminina medieval em romances históricos tem muito
a nos dizer sobre o contexto de sua produção e as concepções de seu autor(a);
ela pode dialogar com a própria historiografia à medida em que o romance é
analisado reconhecendo as barreiras entre real e ficção, e as perspectivas
expressas pelo autor possam ser também debatidas diante dos próprios discursos
históricos sobre fatores referentes a trama, já que, como a
História, a literatura visa criar uma narrativa com base na representação, que
só é confeccionada através da reconstituição da memória.
Considerações Finais
Os
romances históricos com base em um contexto histórico relacionado ao Medievo,
tem entre suas características a complexidade em abordar temáticas ou eventos
referentes a Idade Média que são permitidos pela licença poética do seu
escritor. Sendo assim, as tramas narradas por romancistas como Plaidy e
Gregory, ainda que ambientadas no cenário medieval e com personagens
históricas, expressam as próprias concepções das suas autoras.
É
possível apontar que novos debates se abrem para o campo da História das Mulheres,
ao falarmos das condições femininas no Medievo, pois vemos que na dinâmica do
jogo “das rocas e espadas”, descrita por Macedo [1992], haviam personagens que
conseguiam se destacar e se equiparar a homens, como as rainhas da “Guerra das
Rosas”, porém muitas dessas figuras foram silenciadas nas narrativas oficias.
Entretanto com o advento do campo da História das Mulheres esta realidade vem
sendo transformada.
Essa
reinterpretação da história de figuras femininas e de suas contribuições
políticas, culturais e sociais presentes em obras literárias contemporâneas,
mostra que as representações de figuras históricas dentro da literatura podem
vir a dialogar com discursos históricos, pois, à medida em que novas fontes
para a escrita da história vão sendo analisadas, podemos ter um leque de
possibilidades ao ofício do historiador.
Referências
Marcos
de Araújo Oliveira é graduado em Licenciatura em História na Universidade de
Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
CHARTIER, Roger. Introdução. In:______,
A História Cultural: Entre Práticas e Representações. Rio de Janeiro: Bertrand,
1990. p. 13-28.
CÔRREA,
Wesley. Razões e causas da crise política inglesa no tardo medievo e a Guerra
das Rosas: limites de sua interpretação. In: XVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA.
2013. Natal. Anais... Natal: ANPUH, 2013. 11 p.
HUTCHEON,
Linda. Poética do pós-modernismo: História, Teoria, Ficção. Trad. Ricardo Cruz.
Rio de Janeiro: Imago, 1991. 331 p.
KLAPISCH-ZUBER,
Christiane. Introdução. In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle (Orgs).
História das mulheres
no ocidente: A idade média. Porto: Afrontamento, 1992. p. 9-23.
MACEDO,
José Rivair. A mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 1992.
SANTOS,
Dominique Vieira Coelho dos. Acerca do Conceito de Representação. Revista de Teoria
da História. Ano 3, n. 6, dez, 2011. p. 28.
SCOTT,
Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da História.
São Paulo: Unesp, 1992. p. 63-95.
TAPIOCA
NETO, R. D. A condição da mulher na Inglaterra do século XVI: O discurso feminista
em The Secret Diary of Anne Boleyn (1997). Monografia de conclusão de curso
(História) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Ilhéus, 2013. 62 p.
Fontes Literárias
GREGORY,
Philippa. A Senhora das Águas: A Guerra dos Primos – Livro I. Rio de Janeiro: Record,
2014. 532 p.
GREGORY,
Philippa. A Rainha Branca: A Guerra dos Primos – Livro II. Rio de Janeiro:
Record, 2012. 434 p.
GREGORY,
Philippa. A Rainha Vermelha: A Guerra dos Primos – Livro III. Rio de Janeiro:
Record, 2013. 364 p.
GREGORY,
Philippa. A Filha do Fazedor de Reis: A Guerra dos Primos – Livro IV. Rio de
Janeiro: Record, 2015. 476 p.
GREGORY,
Philippa. A Princesa Branca: A Guerra dos Primos – Livro V. Rio de Janeiro:
Record, 2018. 560 p.
PLAIDY,
Jean (Eleanor Alice Burford Hibbert). O Sol em Esplendor. Rio de Janeiro:
Record, 2000. 432 p.
Olá, Marcos
ResponderExcluirA minha dúvida é a seguinte: como fazer a devida abordagem da representação feita de mulheres medievais, em especial as nobres, na literatura diante da sala de aula, sendo que a maioria das representações, como aborda Michele Perrot, eram feitas a partir da ótica de homens?
At.te
José Carlos da Silva Ferreira
Olá José, obrigado pelas considerações.
ExcluirAcho que uma das principais abordagens que podemos fazer em termos de mulheres medievais é mostrar aos alunos que embora muitas vezes silenciadas, as mulheres estavam presentes em vários espaços.
Em fontes imagéticas por exemplo, temos representações de vários mulheres.
Um dos clássicos conteúdos que abordamos em sala é o estudo dos Francos, neste conteúdo falamos do Batismo de Clóvis, mas sabemos que Clotilde, sua esposa teve uma importância significativa para a tomada de decisão de Clóvis em se converter.
Em várias representações imagéticas desse batismo, a figura de Clotilde está lá como coadjuvante, mas que interessante seria se abordassemos com os alunos um pouco da contextualização da história não só de Clóvis , mas de Clotilde, apresentando essas imagens da cena do Batismo.
Essa é só uma possibilidade, mas existem inúmeras, pois por mais que o domínio dos discursos estivessem nas mãos de homens, as mulheres nem sempre se deixavam apagar e cabe assim um olhar atento para elaborar essa didática que ajude os alunos em sala.
Marcos de Araújo Oliveira
Olá!! Parabéns pelo seu texto. Achei muito interessante a forma como abordou representação das mulheres a partir da literatura, bem a importância da literatura para a história. Quando estudamos ou escutamos falar das mulheres na Idade Média, geralmente estão representadas como frágeis, além disso, há abordagem da representação da mulher ligada a bruxaria. Na sua opinião como a a literatura contribua para a formação da imagem "mulher/bruxa" nos cinemas? É como isso se fortaleceu no cenário imagético dos filmes?
ResponderExcluirObrigada!
Vanessa Trzaskos
Olá Vanessa, obrigado pelas considerações.
ExcluirOlha, durante muito a bruxaria foi associada a uma prática de adoração ao diabo e também ligada a idéia do pecado ou da subversão feminina, se pararmos para analisar figuras como Ana Bolena, que fez o rei Henrique VIII romper com a Igreja Católica e fundar o Anglicanismo, vemos claramente que a figura dessa rainha l é igada a Bruxaria por seus opositores, principalmente por Católicos rancorosos diante da onda Reformadora
Talvez essa Demonização de Mulheres tidas como maléficas sirva de inspiração para a construção de representações de bruxas no cinema, o que se fortalece no imaginário de vários cineastas e influencia nessa produção de filmes, como a exemplo de "Caça as Bruxas" e "João e Maria Caçadores de Bruxas", onde temos sempre a Bruxa ligada a idéia de trevas e escuridão.
Marcos de Araújo Oliveira
Acho que a forma com a qual você abordou a forma com a qual as mulheres eram vistas e tradas na idade foi excepcional. Apesar de hoje as mulheres terem mais voz e ser mais ativas na sociedade, ainda há muitos que tem pensamentos e ações de uma era já perdida, más que ainda não foi esquecida. Gostaria de saber como poderia abordar este tipo de assunto, para que pudéssemos fazer com que cada vez mais mulheres tivessem mais voz e fossem mais ativas na sociedade atual?.
ResponderExcluirAtt. Isabeli Caroline Dias Ferreira
Isabeli muito obrigado pelas considerações.
Excluirprimeiramente precisamos desconstruir a idéia de que o feminismo é algo ruim por conta das ações extremistas de algumas ativistas, já que esse movimento é muito importante nos dias atuais , como foi no passado. Afinal.a igualdade de gêneros é uma luta constante.
Segundo, acredito que a escola sirva como um palco de inúmeros debates, sendo assim o diálogo acerca das contribuições femininas deve ser feito cada vez mais .
Pois ao falar de Clóvis, Rei dos Francos, podemos falar de Clotilde, ao Falarmos de Henrique VIII, podemos falar de suas seis esposas, ao falar de D.Pedro, não podemos esquecer Leopoldina.
Então dar voz significa também não esquecer, permitir que essas contribuir femininas sejam evidenciadas na educação.
Marcos de Araújo Oliveira
Olá, Marcos, ótimo texto com ótimas considerações.
ResponderExcluirA começar com uma sugestão aos demais leitores: no âmbito da experiência da mulher no medievo, Silvia Federici compõe uma leitura imprescindível em Calibã e a Bruxa, expondo um mecanismo estrutural de subversão do poder feminino na forma da caça às bruxas, um fenômeno cultural que perpassa a historiografia e a literatura com frequência, mas que raramente aborda a condição feminina, sujeita à desvalorização de suas ocupações sociais.
Relativo ao texto, minha dúvida é se há uma correspondência entre o advento da representatividade feminina na historiografia e a popularização do protagonismo feminino na literatura assim como nas demais formas de consumo de mídia, potencialmente indicando um elo que alimenta o interesse dos dois âmbitos numa relação mútua.
Henrique Roberto Almeida de Lima
Olá Henrique, obrigado pelas considerações.
ExcluirConforme expus no texto , o protagonismo feminino se destaca cada vez mais em veículos de entretenimento, como filmes, novelas e séries.
Citei como exemplo a categoria "protagonistas fortes" da Netflix e as personagens femininas da trama Global "Deus Salve o Rei"(2018).
Além disso, existem as adaptações televisão das obras de Gregory.
Muito viciantes , por sinal!
Sendo assim, a literatura tem apelo também na mídia, visto nas adaptações das obras
Marcos de Araújo Oliveira