Vitória Duarte Wingert e Jander Fernandes Martins


DA MULHER PARA A MULHER: A CONDUTA DA RAINHA DO LAR NA DÉCADA DE 50 ATRAVÉS DA REVISTA O CRUZEIRO



O presente texto é fruto de uma análise realizada no decorrer de um semestre letivo de estudos, diálogos e reflexões na disciplina de Estudos de gênero e suas manifestações culturais, dentro do PPG Processos e Manifestações Culturais da Universidade FEEVALE-NH/RS. Tendo como objeto, fragmentos da sessão Da mulher para a Mulher, publicadas no ano de 1952 na revista O Cruzeiro. Através desta pesquisa, buscamos refletir sobre a imposição de uma determinada conduta para o gênero feminino na década de 50, influenciada pelos meios de comunicação, tais como a revista. Em termos metodológicos a discussão se desenvolve no campo da história das mulheres no Brasil e na normatização dos papeis de gênero.

Em um primeiro momento, foi realizada uma pesquisa de caráter bibliográfico como um dos instrumentos colaboradores para a realização da pesquisa por acreditar ser adequada neste processo investigativo. Desta forma foi traçada uma discussão sobre aspectos da história da mulher da década de 50, a partir de pesquisas historiográficas.

Em um segundo momento foram selecionadas cartas e conselhos da sessão Da mulher para a mulher, da revista O cruzeiro, do ano de 1952, a fim de problematizar as determinações quanto a conduta esperada para as mulheres casadas. Cabe ressaltar que aqui, o periódico será tratado como uma fonte histórica, em função de que: “a escolha de um jornal como objeto de estudo justifica-se por entender a imprensa fundamentalmente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social”; (LUCA, apud CAPELATO, p. 118, 1994). A análise dos fragmentos, do periódico foi feito, levando em consideração a categoria de gênero, uma vez que o percebemos como um campo, onde se vive a história.

O lugar da mulher na historiografia
A primeira história que gostaria de contar é a história das mulheres. Hoje em dia ela soa evidente. Uma história ‘sem as mulheres’ parece impossível. Entre tanto, isso não existia. Pelo menos no sentido coletivo do termo: não se trata de biografias, de vidas de mulheres especificas, mas das mulheres em seu conjunto[...]” (PERROT, 2017. p.13.)

Começo a primeira parte desta discussão, com a citação de Michelle Perrot, retirada do livro Minha história das Mulheres. O livro surgiu a partir do programa de rádio France Culture, onde com linguagem simples e acessível, a historiadora explicava ao público em geral, seus estudos desenvolvidos sobre a história das mulheres. Perrot chama a atenção para o silêncio das fontes, pontuando que as mulheres o quanto as mulheres foram invisibilizadas e silenciadas, dentro da historiografia tradicional. Com poucos vestígios sobre suas ações no meio social. O resultado é uma em certa deficiência nos estudos de gênero, que possuem como objetivo contemplar a mulheres e outras minorias, como participantes em variados campos das Ciências Humanas.

Realizando uma análise sucinta da historiografia brasileira, em geral, a figura masculina, sempre, protagonizou a História. E esta, tem sua razão de ser desde os primórdios da colonização do Brasil, onde a figura da mulher estava representada, tão somente, dentro do “sagrado matrimônio”, sendo que esta tinha como único objetivo dar continuidade a linhagem do marido através dos filhos e cuidar dos afazeres domésticos. Um proverbio português afirmava que a mulher virtuosa, saia de casa em apenas três ocasiões: para ser batizada, para casar-se e para ser enterrada. (HABNER, 2018).

As mulheres por sua vez, encontravam mecanismos de defesa próprios, como ir à missa, para se encontrar e conversar com as amigas ou até mesmo com seus amantes. Há também registros históricos de esposas que envenenavam os maridos, para se livrarem dos laços matrimoniais. (PRIORE, 2014) Como sintoma de uma estrutura patriarcal, se constata que até mesmo as punições para este tipo de caso eram desiguais, no que concerne à Legislação lusa vigente naquela época, enquanto:

Para a mulher não se colocava nem seque a possibilidade de serem desculpadas por matarem os maridos adúlteros, aos homens a defesa da honra perante o adultério feminino comprovado encontrava apoio nas leis. (PRIORE, 2014, p.34)

A visão limitada da mulher, aquela que constituía sua identidade apenas a partir do casamento, não foi algo apenas da época da Colônia. Em pleno século XX, continuou-se cultivando a ideia da moça de família, da mulher para casar, daquele tipo de jovem que se dá o respeito. Mesmo com um salto de alguns séculos, se percebe que o ideal de mulher, da representação construída sobre a mesma, pouco mudou: submissa, recatada, discreta, compreensiva, boa esposa, boa mãe, etc.

Da Mulher para a Mulher
Guardiã da moral e dos bons costumes a sessão Da mulher para a mulher, assinada por um indivíduo com pseudônimo de Maria Teresa, era uma espécie de consultório sentimental, onde as mulheres enviavam cartas pedindo conselhos e também apresentava textos escritos pela colunista e considerados de temáticas relevantes para mulheres. A sessão localizava-se nas últimas páginas da revista O cruzeiro. Entre os principais assuntos destacam-se namoro, casamento, filhos e conduta feminina. Sempre em tom moralizador e cristão, Maria Teresa, exercia o papel de conselheira feminina, deixando bem claro que cada mulher possuía um papel fixo dentro da sociedade.

Quando estudamos questões referente a construção social dos papeis atribuídos ao masculino e ao feminino, compreendemos que publicações, como esta sessão da revista O Cruzeiro, serviram para fortalecer a construção discursiva da divisão entre ser homem e ser mulher. Para esta sociedade que tinha como premissa o determinismo biológico, esta cultura do feminino era construída e expressa pela: “articulação de gênero com outras ‘marcas’ sociais, tais como classe, raça/etnia, sexualidade, geração, religião, nacionalidade”. (MAYER, 2004, p. 15). Tendo essa articulação como importante produtora das modificações nas formas de experenciar tanto a masculinidade quanto a feminilidade, pelos diferentes grupos que compõe a sociedade, no decorrer de suas vidas.

Várias correspondências desta sessão são relacionadas ao casamento, principal objetivo de vida da mulher da década de 50, ou pelo menos deveria ser. A leitora denominada Dulce Mascarenhas do Rio de Janeiro, escreve para a sessão contando sua história de amor. No relato ela afirma ter se apaixonado perdidamente por um jovem, porém sua família decide mudar de cidade, para seu desespero. Meses mais tarde, para sua decepção, ela recebe a notícia de que seu amado, está noivo de outra:

“Achei minha rival muito engraçadinha, mas custava a admitir que fosse a mulher talhada para meu antigo fã, pois o conhecia de perto para saber suas preferências. Enfim cheguei a evidência de que não estava enganada quando soube que haviam desfeito o noivado. E pouco tempo depois eis que ele me procura para saber se ainda o amava. E dizer que era eu, e não a outra, a mulher talhada para sua vida, ora, Eu ainda o amava, e quanto! Estamos casados há dois anos e espero meu primeiro bebê. Estou pedindo a Deus que seja um garotinho para continuar o nome do meu adorado Gilberto.” (O CRUZEIRO, 12 de janeiro, 1952)

Analisando historicamente o relato desta leitora, observamos algumas coisas. Primeiro: a construção de uma rival feminina, alguém havia furtado, o grande amor desta mulher. Em segundo lugar, o grande desfecho desta história de amor foi: o casamento e a gravidez.  Este era considerado o gran finale, o que era esperado a toda mulher desta década. Era de consenso que as mulheres viviam para o amor, “romantismo e sensibilidade eram, nos Anos Dourados, características tidas como especialmente femininas, sendo que toda uma literatura estava disposta a alimentar esta inclinação”. (PINSKY, 1997, p.618)

Não apenas casar-se era fundamental, mas manter o casamento também era peça chave para manter a estrutura social. E na harmonia do matrimonio, a esposa era a peça fundamental. Como forma de ajudar outras mulheres, dentro do casamento, a leitora Eleonor, de Taubaté, compartilhou dicas, “muito úteis”:

“Boa formação moral: apesar das ideias modernas a moça que sempre se soube se fazer respeitar tem aos olhos de seu marido um valor todo especial.
Conhecimento da questão sexual em boas fontes: Fui educada, sem minha mãe e o recato natural que nos separa de um pai levou-me a satisfazer minha curiosidade (desperta pelo que considero más conversas) em livros científicos vários e em conversas com pessoas que eu considerava de bom senso. Assim sendo, não tive choques, nem surpresas nas primeiras experiências conjugais.
Tempo suficiente de noivado: Por diversos motivos meu casamento foi adiado e tivemos noivos, pouco mais de dois anos. Esse espaço de tempo permitiu-me um conhecimento bastante profundo sobre o homem que seria meu marido e da família dele, o que é um ponto importantíssimo.
Sorte: Em último lugar, para não me alongar demasiado, há muita coisa, que escapa a qualquer cálculo de pretensão, está enfim, completamente fora das mãos da gente. A isso chamam de estrela, destino ou sorte. Também pode ter influenciado o fato de eu ter me casado já com 23 anos”. (O CRUZEIRO, 26 de janeiro de 1952)

Podemos destacar vários aspectos da fala de Eleonor. Em primeiro lugar ela nos apresenta o velho estereótipo de, a mulher precisa se dar o respeito, para que desta forma seja bem vista, pelo marido. Ainda era exigido, que a mulher se casasse virgem, sendo assim a descoberta do próprio corpo, era vetado e considerado pecaminoso. A própria Eleonor admite ter sido influenciada por más conversas. Por fim, ela considera-se uma garota sortuda, por ter encontrado um marido e já estar casada aos 23 anos.  Quanto a idade ideal para o casamento, vemos que a faixa etária aumentou, visto que no período colonial as meninas casavam-se entre 12 e 13 anos. Na década de 50, entre os 18 e 20 anos de idade. Uma mulher solteira de 25 anos era motivo de constrangimento e categorizada como solteirona. Em contra partida: “um homem de 30 anos, solteiro, e com estabilidade financeira, ainda era visto como um bom partido, para mulheres bem mais jovens”. (PINSKY, 2017, p.619)

A grande problemática em torno desta sessão é que ela não leva em conta, que cada indivíduo, vive e expressa sua sexualidade de diferentes maneiras. Grande parte do problema está na heterossexualidade normativa, pois esta é opressora: “na medida em que busca criar uma estabilidade entre sexo, gênero e desejo” (MARIANO, 2005, p. 487). A pureza sexual, representada pela virgindade, além do recato era algo fundamental nesta sociedade, distinguindo socialmente a moça de família da leviana. A jovem decente era que: “conserva sua inocência sexual e não se deixava levar por intimidades físicas com os rapazes [...] mantendo-se virgens até o matrimonio enquanto aos rapazes era permitido ter experiências sexuais”. (PINSKY, 1997, p.610)

A fala também sugere que embora o país estivesse se modernizando, e a mulher fosse estimulada a aderir um novo padrão de comportamento, principalmente no que tange a novas formas de beleza e o consumo de produtos para o lar, deveria continuar seguindo o antigo padrão de comportamento. Ou seja, deveriam conciliar o padrão de consumo moderno, com antigos deveres femininos, maternidade, casamento e tarefas domésticas.  Ademais, as próprias leitoras criticam algumas modernidades, como por exemplo, a separação:

 “Nada de divórcio, o Brasil não está preparado para a visita deste ditador, ouçamos antes a voz do coração, a exemplo do Mestre que disse: perdoai nossas dividas, como perdoamos os nossos devedores” (O cruzeiro, 27 de fevereiro de 1952).

Percebemos que as páginas, destinadas as mulheres, sempre buscavam redirecionar o comportamento feminino, tanto no âmbito social, quanto no privado, como algo natural se se ser. Aquelas, as quais o comportamento, não se adequasse, ao exigido socialmente, precisavam modifica-lo urgentemente. Para Joan Scott, o lugar da mulher na vida social humana não é, de qualquer forma direta, um produto das coisas que ela faz, mas do significado que suas atividades adquirem através da interação social concreta (SCOTT, 1995)

Uma fala que nos chamou muita atenção foi a coluna escrita assinada por Maria Teresa, responsável pela sessão Da mulher para a mulher, que se intitulava: Nível Intelectual, nela lemos o seguinte:

Em geral o marido está em nível intelectual superior ao da mulher, ou, o que está se tornando mais comum, os dois no mesmo nível.  Quando o homem é mais adiantado não existe problema nisto. Se transforma até num fator a mais de proteção no desempenho do seu papel de mais forte e, como reciproca, a esposa vê no seu marido um apoio mais seguro e exigido pela sua delicadeza feminina. [...] Quando porém, se dá o contrário, isto é, quando a mulher leva a melhor, do ponto de vista intelectual, a situação muda de aspecto e torna-se muito mais delicada [...](O CRUZEIRO, 26 de janeiro de 1952)

Em primeiro lugar, nos chama atenção na fala, a superioridade masculina, como sendo algo normatizado. É natural o homem ser mais inteligente, com isto ele consegue protege a família, etc. Porém a mulher ser mais inteligente causa uma problemática a harmonia do lar, pois dirigir a família é papel dado a ele e não a ela. Caímos novamente no binário biológico: masculino/feminino, homem/mulher, muito difundido na época, e diria muito presente até os dias atuais. Nesse marco, há o homem com H do iluminismo – branco, burguês, varonil, guerreiro, colonizador – e seu oposto, a mulher, instável, impregnada de fluidos sexuais, criatura do mundo de penumbras que é a vida privada, onde os homens recuperam a energia para retomar os embates da esfera pública e as guerras. Generalizamos também o que é ser um homem, uma vez que: “O conceito de masculinidade é falho porque ele essencialista o caráter dos homens ou impõe uma unidade falsa a uma realidade fluida e contraditória”. (CONNEL & MESSERSCHIMIDT, 2013, p.249).

No decorrer da fala de Maria Teresa, ela aconselha que a mulher intelectualmente superior haja com: “delicadeza, perseverança e sabedoria, que lhe conduza sem lhe ferir o amor próprio [...] os homens são orgulhosos por natureza e não admitem em hipótese nenhuma serem guiados pela mulher”. (O CRUZEIRO, 26 de janeiro de 1952). É fundamental nos determos para analisarmos, como estas diferenças e desigualdade entre homens e mulheres são discursivamente construídas e não biologicamente determinadas. A mulher não biologicamente subordinada e o homem um líder nato. Eliminar a essencialização e universalização é fundamental para compreender que o que se passa dentro desta relação são estratégias de poder que instituem e legitimam determinadas ações. (MEYER, 2004)

Esta não é a primeira, nem a última vez que Maria Teresa se posiciona quanto a essência feminina. Na edição de 16 de Fevereiro de 1952, ela escreve:

“Liderança feminina
Há pessoas que não fazem uma ideia perfeita da posição da mulher no seio da família. Umas revoltam-se, acham que a mulher casada perde a personalidade. Outras, vão além, acham que se transformam numa verdadeira escrava do marido. Surgem então novas opiniões, mais erradas ainda, de que ela deveria mandar e o marido obedecer. A mulher casada e feliz assume dentro da família uma posição que lhe foi ditada pela própria natureza feminina, na sua essência. Querer contrariar as leis naturais é entrar em choque com a própria condição humana, é criar situações insustentáveis.”

Aqui explicitamente temos o uso dos termos, ditada pela própria natureza, essência, leis naturais, condição humana, demonstram como erroneamente o fator biológico tenta explicar os papeis sociais. Compreendendo a cultura como um campo de disputa onde se vive e se representa a masculinidade e a feminilidade, estas visões universalistas, como as apresentadas por Maria Teresa se tornam demasiadamente simplistas: “Para manter as hierarquias entre o masculino e o feminino, as possíveis ameaças a “mulher culta” [...] certo nível cultural é necessário para que saiba conversar e agradar os rapazes” (PINSKY, 2017, p.625-627)

Considerações finais
Através desta pesquisa, buscamos refletir sobre a imposição de uma determinada conduta para o gênero feminino na década de 50, influenciada pelos meios de comunicação, tais como a revista O Cruzeiro. Tendo em vista analises aqui realizadas, com base na categoria de gênero e história das mulheres, conseguimos constatar em primeiro lugar que a unidade mulher é excludente e normatizadora “como se todas as mulheres o fossem de modo idêntico” (LOURO, 1995, p.115).

Aqui também ressaltamos a importância dos periódicos, como fontes históricas, permitindo que o pesquisador compreenda melhor a sociedade pesquisa, neste caso o Brasil da década de 50. Percebendo fragmentos do imaginário coletivo daquela época, bem como as condutados normatizadoras da feminilidade da mulher casada, como é o caso desta pesquisa. Ao nos determos nos anúncios destinados as mulheres, conseguimos perceber a predominância de produtos domésticos, reforçando que o lugar da mulher era dentro do lar, com tarefas exclusivamente manuais e não remuneradas. Enquanto a rua e o espaço político e de tomada de decisões, exclusivamente masculino. Quando o esposo chegava cansado do trabalho, capitalista e remunerado, cabia a esposa não o incomodar com frivolidades. Além do mais, como mesmo reforça o periódico, era da natureza feminina organizar a atmosfera de harmonia do lar, sendo delicada, pacienciosa, agradável, polida e vestida alinhadamente e com recato para esperar o homem, como ressalta a sessão Da mulher para a mulher.

A revista O cruzeiro, em função de seu alto impacto no cenário midiático da época, contribuiu na divulgação de um determinado tipo de discurso sobre a maneira correta de ser mulher. Influenciando muitas leitoras a aderirem comportamentos ou a suportarem abusos e traições, pois era de sua natureza serem passivas e submissas a seus maridos. Estes elementos apresentados pela revista moldaram a construção social e cultural da década de 50, bem como reforçaram certos estereótipos, dos quais temos resquícios até os dias atuais.

Com isto concluímos que o campo de gênero bem como a construção da masculinidade e da feminilidade hegemônica, se trata de um campo social de disputas de poder, assim como a própria cultura. Reconhecer estas categorias normativas como excludentes, fixas e problemáticas é o primeiro passo para darmos voz aos invisíveis da história e construirmos uma sociedade mais igualitária e democrática.

Referências
M.a. Vitória Duarte Wingert: Mestra em Processos e Manifestações Culturais- Universidade Feevale. Especialista em Mídias na Educação (IFsul Pelotas) Licenciada em História - Universidade Feevale. Professora na Rede Municipal de Campo Bom. E-mail: vitoriawingert@hotmail.com
Me. Jander Fernandes Martins. Mestre em Processos e Manifestações Culturais- Universidade Feevale. Doutorando em Processos e Manifestações Culturais. Pedagogo – UFSM. Professor na Rede Municipal de Campo Bom. E-mail: martinsjander@yahoo.com.br

CAPELATO, Maria Helena R. Imprensa e História do Brasil.2.ed. São Paulo:
Contexto/EDUSP, 1994.
CONNEL, Robert & MESSERSCHMIDT, James. Masculinidade hegemônica, repensando o conceito. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2013000100014 Acesso em 05 de novembro de 2018.
DEL PRIORE, Mary. Histórias íntimas. 2 ed. São Paulo: Planeta, 2014.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, História e Educação: Construção e Desconstrução. Educação e realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, 1995.
HABNER, June E. Mulheres da elite. In: PINSK, Carla Bassanezi & PEDRO, Joana Maria (org). Nova história das mulheres no Brasil – 1ª ed. São Paulo: Contexto, 2018.
MARIANO, Silvana Aparecida. O sujeito do feminismo e o pós-estruturalismo. Revistas Estudos Feministas, vol13, n.3, 2005.
MEYER, Dagmar E. Teorias e políticas de gênero: fragmentos históricos e desafios atuais. Brasília: Bras Enferm, 2004.

PINSKY, Carla Bassanezi. Mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, Mary (org). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/UNESP, 1997.
PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. Trad. Angêla M. S. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2007.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, 1995.

Periódicos consultados:
O Cruzeiro, 12 de janeiro, 1952
O Cruzeiro, 16 de janeiro, 1952
O Cruzeiro, 26 de janeiro, 1952



19 comentários:

  1. Boa tarde
    Gostaria de parabenizar os autores pelo ótimo trabalho e também, apresentar a seguinte questão:
    De que maneira é possível explicar a expansão desse processo de influência - e de certo modo interferência - das revistas nos comportamentos e ações do universo feminino, visto que atualmente essas não se limitam apenas a seções, mas a periódicos inteiros exclusivos com assuntos direcionados para esse público?
    Novamente, bela pesquisa!

    Bethânia Luisa Lessa Werner

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    1. Olá Bethânia,
      Desde já agradecemos o tempo que dedicaste a nossa a leitura da pesquisa.
      Sobre teu questionamento, hoje sabemos que todos os meios de consumo culturais, sejam eles televisão cinema, periódicos e etc, são o que formam a nossa identidade enquanto sujeitos. Para Hall (2006) a constituição da identidade acontece na relação com as pessoas que mediam os valores, sentidos e símbolos, ou seja, a cultura, para o sujeito. A identidade é, portanto, formada na interação do sujeito com a sociedade, num diálogo contínuo com o mundo. Nessa relação o sujeito se projeta e internaliza imagens e símbolos que irão constituir sua identidade numa relação dinâmica e constante.
      Para Hall (2006), a cultura é vista enquanto conjunto de valores e significados partilhados, e estes significados só podem ser partilhados por meio da linguagem e da representação. Estes significados por sua vez é que irão nortear e regular as práticas sociais. O cruzeiro através da sua linguagem visual e discursiva, contribuiu para a construção e propagação de um estereótipo, através da rede de significados simbólicos da qual fez uso.
      A grande problemática, que devemos questionar, seja na Revista o Cruzeiro ou nos periódicos atuais, como tu mesmo citaste, que tipo de feminilidade é esta vendida por estas revistas? Estas revistas buscam enquadrar todas as mulheres em um único estereótipo? Sempre tendo em mente que A construção do feminino, inicialmente estava unicamente ligado a fatores biológicos, descartando totalmente qualquer influência cultural. Uma das primeiras discussões ase dá com Simone de Beauvoir em sua obra O Segundo Sexo, onde a autora afirma uma ruptura no que se refere o “ser mulher” entre os conceitos de “natural” e de “cultural”. Para a autora “Não se nasce mulher, torna-se mulher” (BEAUVOIR, 1980, p. 9).Esta construção da feminilidade em contraponto, com a masculinidade, vigorou por muito tempo, como um dos principais binários sociais. A biologia categorizou o corpo da mulher como sendo inferior ao do homem e o “corpo passou a se percebido como um representante da natureza, ele assumiu o papel de “voz” da natureza. [...] o corpo tinha que falar esta distinção de forma binária” (NICHOLSON, 2000, p.21)
      Hoje, dentro dos estudos de gênero, o compreendemos como sendo “todas as formas de construção social, cultural e linguística implicadas com processos que diferenciam homens e mulheres incluindo aqueles processos que produzem seus corpos, distinguindo-os e nomeando-os” (MEYER, 2004, p.15). A partir desta visão descontruída e descentralizada, começamos a compreender que jogos de poder estão por detrás da construção histórica e social e dos papeis que atribuímos a homens e mulheres. Então, percebemos que este constructo se dá de forma discursiva dentro da sociedade, que propaga um modo heteronormativo nos modos d constituir-se como sujeito, sendo que “o reconhecimento de que o sujeito se constrói dentro de significados e de representações culturais, as quais por sua vez encontram-se marcadas pelas relações de poder” (MARIANO, 2005, p.486).
      Novamente agradecemos seu contato!
      Vitória e Jander

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  2. Boa noite.
    Congratulações pelo texto!
    Só gostaria de ponderações mais sobre: qual o público feminino leitor dessa revista?
    At. te: Ana Paula.

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    1. Olá Ana Paula,
      Desde já agradecemos seu contato!
      A revista O cruzeiro, foi um dos periódicos de maior relevância, dentro da década de 50. Fundada em 1928, foi porta voz de um discurso modernizante que buscava dinamizar as notícias, tendo conteúdo variado, foi a primeira do gênero, de circulação nacional. De circulação mensal, possuía diversas sessões, tanto de reportagens, artigos, humor, contos e romances, cinema, figurinos, assuntos femininos, entre outros. Claramente a linha editorial, buscava influenciar a maneira de o povo brasileiro representar-se, buscando modernizar a identidade nacional. O público feminino a quem a revista se destinava eram mulher urbanas, letradas, de classe média/alta, da época.

      Vitória e Jander

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  3. Bom dia!
    Também estudo a mulher nas revistas ilustradas da década de 50. Minha fonte é a Revista Manchete, concorrente da revista Cruzeiro na época. Foi muito bom encontrar o texto de vocês, principalmente por me apresentar textos que ainda não tinha conhecimento. Com certeza irá me ajudar. Minha pergunta: haviam discursos acerca da mulher que trabalhava fora do âmbito doméstico? Qual a opinião da revista sobre essas mulheres que trabalhavam fora e que não seguiam o padrão de mulher mãe/esposa/dona de casa ?
    Parabéns pelo texto!
    Naiara Ferreira de Aguiar Amaral

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    1. Olá Naiara!
      Sem dúvida é muito bom esta troca de experiências que o SIMPOHIS nos proporciona, de encontrarmos pesquisadores com a mesma temática e assim realizarmos trocas significativas. Desde já agradecemos o tempo que dedicaste a leitura de nosso trabalho.
      Quanto a teus questionamentos. Dentro da Sessão Da mulher para a mulher, sempre é reforçado o “lugar” que a sociedade exigia desta mulher, que era dentro de casa. É importante termos em mente o cenário histórico destas publicações pois Com o final da guerra e o retorno dos homens a seus países de origem, as mulheres, que haviam impulsionado a economia adentrando ao mercado de trabalho, “poderiam” finalmente voltar ao seu lugar de origem: o lar. Para o modelo de construção patriarcal da época, o homem detinha a autoridade e o poder sobre todos os membros da família, cabendo a ele o sustento da casa. Enquanto o status de mulher era definido pelo seu papel tradicional de “ocupações domésticas e cuidado dos filhos e do marido, das características próprias da feminilidade, como instinto materno, pureza, resignação e doçura” (PINSKY, 1997, p 608-609).
      A vocação da mulher ao casamento, maternidade vida doméstica, foi propagada em larga escala através da revista. Nas sessões destinadas as mulheres estes eram os únicos temas abordados. Para a rainha do lar e responsável pela felicidade do esposo e harmonia, não faltavam propagandas que estampavam as páginas da revista, com a finalidade de auxilia-la nas tarefas domésticas. Tendo em vista esta mentalidade, quem fugia desde estereótipo não se via representado nas páginas da revista e estava fadado a receber um grande “puxão de orelha” de Maria Teresa, que assinava a coluna pesquisada.
      Desde já agradecemos seu contato,
      Vitória e Jander

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  4. Olá Vitória e Jander. Gostei muito do texto de vocês, eu também pesquiso sobre revistas femininas. Estou analisando a representação da mulher na revista Querida durante a década de 1960.
    Uma das colunas da revista Querida se chama "Certo e errado nas pequenas coisas" e se aproxima muito com o que era escrito na coluna analisada por vocês "De mulher para mulher", a colunista também se chamava Maria Thereza Senise, será que é a mesma pessoa?
    Outra dúvida: como que vocês tiveram acesso aos periódicos? Está em algum acervo disponível em meio digital?

    Ass: Cibeli Grochoski

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    1. Olá Cibeli,
      Desde já agradecemos o tempo que dedicaste a nossa a leitura da pesquisa. Muito bacana também teu trabalho sobre a revista Querida, sem dúvida um dos grandes canais de propagação do modelo vigente de feminilidade e masculinidade da década de 50, sem dúvida foram as revistas. Em uma época em que a televisão, ainda era, insipiente e ao rádio faltava o “poder”, do uso da imagem, como forma de criar estereótipos sociais. Coube aos periódicos, o papel de reforçar o modelo familiar, hierárquico, os papeis sociais, regras de comportamento, valores, enfim, promover a classe, raça e gênero dominantes na época, que seriam repetidos, por grande parte da população de classe média brasileira.
      Já quando a autora da sessão Da mulher para a mulher Maria Teresa consiste na verdade em um pseudônimo, e não há como saber se a coluna era escrita por uma pessoa ou por um grupo. Há algumas especulações que dizem que eram homens que respondiam as cartas das leitoras nessa sessão!
      Quanto ao acervo da Revista, ele é de domínio da Universidade Feevale-RS a qual frequentamos, todos os exemplares são físicos e eles possuem todas as edições da revista.
      Novamente agradecemos seu contato!
      Vitória e Jander

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  5. Gostaria de parabeniza-los pelo excelente texto, as informações foram bem estruturadas de modo que foi possível captar a ideia central da pesquisa. Gostaria de saber a respeito do periódico estudado, pois vimos sempre o "modelo ideal" de mulher a ser seguido, porem e aquelas que não seguiam esse padrão recebiam algum tipo de punição? Pois vejo rótulos sempre muito fortes para esse modelo de mulher que não seguia tal ideologia, mesmo diante da necessidade de trabalhar como foi abordado por vocês.

    Parabéns novamente!

    Ruan David Santos Almeida

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    1. Olá Ruan,
      Agradecemos seu contato e o tempo que dedicaste a leitura do nosso trabalho.
      Quanto a teu questionamento, dentro da Sessão Da mulher para a mulher, sempre é reforçado o “lugar” que a sociedade exigia desta mulher, que era dentro de casa. É importante termos em mente o cenário histórico destas publicações pois Com o final da guerra e o retorno dos homens a seus países de origem, as mulheres, que haviam impulsionado a economia adentrando ao mercado de trabalho, “poderiam” finalmente voltar ao seu lugar de origem: o lar. Para o modelo de construção patriarcal da época, o homem detinha a autoridade e o poder sobre todos os membros da família, cabendo a ele o sustento da casa. Enquanto o status de mulher era definido pelo seu papel tradicional de “ocupações domésticas e cuidado dos filhos e do marido, das características próprias da feminilidade, como instinto materno, pureza, resignação e doçura” (PINSKY, 1997, p 608-609).
      A vocação da mulher ao casamento, maternidade vida doméstica, foi propagada em larga escala através da revista. Nas sessões destinadas as mulheres estes eram os únicos temas abordados. Para a rainha do lar e responsável pela felicidade do esposo e harmonia, não faltavam propagandas que estampavam as páginas da revista, com a finalidade de auxilia-la nas tarefas domésticas. Tendo em vista esta mentalidade, quem fugia desde estereótipo recebia punições de ordem social, sendo a exclusão e depreciação como algum destes
      Desde já agradecemos seu contato,
      Vitória e Jander

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  6. Excelente trabalho realizado por vocês! A minha pergunta é: durante a pesquisa, foi encontrado algum ponto ou aspecto que fosse minimamente destoante do padrão de comportamento e beleza vigentes?

    Nayara Brito Pereira

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    1. Olá Nayara,
      Desde já agradecemos seu contato.
      Dentro dos periódicos que pesquisamos, sempre ficou muito claro qual era a forma de “ser mulher” e exercer a feminilidade, que a revista propagava. Qualquer mulher fora do padrão, o diferente era apresentado como exótico. Como no caso das edições de carnaval onde a mulher negra era retratada como rainha do samba, símbolo sexual, etc. Mas no geral mantinha o tom conservador.
      Desde já agradecemos seu contato,
      Vitória e Jander

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  7. Um ótimo trabalho.
    Gostaria de saber como a sociedade respondeu a essa revista, se era bastante popular, ou se encontrou resistência de alguma forma, mesmo que por um grupo pequeno de mulheres.
    Francisca Kessione Mendonça Bezerra

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    1. Olá Francisca, agradecemos seu contato
      A revista O cruzeiro, foi um dos periódicos de maior relevância, dentro da década de 50. Fundada em 1928, foi porta voz de um discurso modernizante que buscava dinamizar as notícias, tendo conteúdo variado, foi a primeira do gênero, de circulação nacional. De circulação mensal, possuía diversas sessões, tanto de reportagens, artigos, humor, contos e romances, cinema, figurinos, assuntos femininos, entre outros. Claramente a linha editorial, buscava influenciar a maneira de o povo brasileiro representar-se, buscando modernizar a identidade nacional. O cruzeiro através da sua linguagem visual e discursiva, contribuiu para a construção e propagação de um estereótipo, através da rede de significados simbólicos da qual fez uso.
      Possivelmente houveram grupos de mulheres que se opuseram aos paradigmas propostos pela revista, principalmente dentro oriundas do movimento feminista, que já existia no Brasil.

      Mais uma vez agradecemos o contato,
      Vitória e Jander

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. A construção do periódico trazia por vezes em suas capas, charges e alusões cômicas, referências de mulheres sensuais por vezes sexualizadas, contrapondo a figura dócil, protetora e do lar que era disseminada nesta seção analisada. De que forma essas duas possibilidades sociais deveriam ser consumidas pelas mulheres leitoras nesta mesma fonte? Vocês acreditam que talvez a exposição deste outro lado feminino, o sedutor, sensual, seria para além de satisfazer o público masculino, seria também vetor moral para determinar entre as mulheres o perfil não ser seguido e sim repreendido?

    Tayane Ferreira de Almeida

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    1. Olá Tayane, agradecemos seu contato

      Quando analisamos este tipo de publicação, observamos alguns estereótipos de mulheres apresentadas pelo periódico: as mulheres exóticas, as negras, asiáticas, etc. As mulheres sexualidades, a fim de satisfazer o público masculino, e a mulher para casar, “bela, recatada e do lar”, como já lemos em uma revista da atualidade. A mulher que busca representar as leitoras da revista é representada na figura a da moça recatada, que possui os dotes necessários para o casamento. Moça “honesta”, com moral inquestionável e submissa ao marido. Seu silêncio e passividade são sinais de pureza e castidade. Sempre é papel do homem protege-la: O estereótipo de fragilidade da prenda justifica o porquê de ela precisar ficar apenas em casa cuidando dos afazeres domésticos, fortalecendo assim a legitimação de desigualdade entre gêneros. Também deduzimos que se a “rua” é um território masculino, isto justifica o afastamento da mulher da vida política e social de seu meio. A “mulher virtuosa” é constantemente diferenciada da “mulher de vida fácil”, que a revista sexualisa, mas critica.
      Mais uma vez agradecemos o contato,
      Vitória e Jander

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  10. Boa noite, parabéns pelo trabalho, gostaria de saber o porquê escolheram esse tema, e se houve dificuldades no percurso de estudos.

    Beatriz Fernanda Almeida da Silva

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