Simone Aparecida Dupla


ERA UMA VEZ...: CONTOS DE FADAS E ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO



Nunca ouvi contos de fadas da minha mãe, as histórias que ela contava eram uma espécie de folclore da roça, onde tinha muitos lobisomens, meninas d’água e assombrações. As histórias que eu ouvia falavam dos camponeses, das peregrinações de João de Maria, das noites temidas da quaresma. Fui ouvir sobre contos de fadas na escola, com a professora do primário, com ela aprendi que existem princesas e bruxas, príncipes e ogros, e de cara, logo percebi que nesse universo fantasioso que o conto de fadas nos apresenta eu era a bruxa, a menina que vivia enclausurada na biblioteca porque não era como as princesas, aquela que não dançava na festa junina porque não tinha jeito, nem par (príncipe). Desde cedo aprendi então, que os contos de fadas eram cruéis, pois nos mostravam paradigmas que deveríamos seguir, e nos colocavam à margem quando não éramos como seus personagens principais, tendíamos ao mesmo fim dos vilões, éramos a prole destes.

Não é a toa que hoje questionamos esses modelos narrativos, passamos a vida sendo bombardeados por arquétipos, no cinema, nas novelas, na escola, sim, a escola, locus privilegiado onde se produz e reproduz estereótipos negativos de crenças, etnias, classe e gêneros. Uma escola velha, tão velha quanto os contos de fadas, rançosa em seu currículo, capenga em sua metodologia, infeliz em sua atuação ao tentar enquadrar jovens e crianças nas realidades pretéritas do professor, um mestre que não deseja envelhecer e que saudosamente vê seu mundo como um modelo a seguir, mas que um dia cruza no pátio com a ex-aluna de jaleco pronta para dar aulas.

Assim, eu bruxa crescida me tornei professora, e deparei-me com o currículo de minha disciplina tendo como conteúdo questões de gênero, uma perspectiva nada bem vista em um sistema educacional tradicionalista e em uma cidade cujos representantes eleitos bravejam um projeto provinciano contra o que chamam de ideologia de gênero (LOM 04/2018 - Ponta Grossa, Pr).

Pese a isso, o lugar social do aluno, segundo ano do Ensino Médio, onde grande parte era evangélicos neopentecostais, um universo de oitenta adolescentes, uma multiplicidade única de desejos, sonhos e preconceitos raizadas pela família e os grupos dos quais faziam parte. Esse é o pano de fundo desse texto, que tem como objetivo apresentar minha experiência pedagógica do ano de 2019, referente às discussões e produções realizadas no conteúdo sobre questões de gênero, na cidade de Ponta Grossa, Paraná.

Questões de gênero e as propostas de abordagens
As discussões da atualidade não ficam alheias às questões de gênero, seja para discutir sobre os papéis impostos acerca do que é ser feminino ou masculino, ou dos estereótipos negativos em relação àqueles que fogem dos arquétipos binários, cujos discursos resistem ao mundo pós-moderno ou mesmo defender padrões e condutas ultrapassadas tendo como parâmetro referências religiosas mal interpretadas.

A escola, no entanto, se esquivou por muito tempo dessa discussão, mantendo ao longo de sua existência apenas uma abordagem sanitarista em relação à sexualidade e seus desdobramentos, mas as novas demandas da sociedade não a permitem mais omitir-se ou esquivar-se por mais tempo, assim, como não é possível que as disciplinas de humanas fechem os olhos a ela.

Nas disciplinas de História, Sociologia e Filosofia, por exemplo, o gênero é visto como uma construção social, o qual influência de forma desconcertante diversas práticas sociais e ratifica normas comportamentais e modelos adequados de ser a agir dos membros de uma sociedade. Como colocou Amanda Rabelo, o conceito diz respeito aos:

“atributos diferentes a homens e mulheres consolidada durante toda a vida, o que determina as relações entre os sexos em vários aspectos. O uso deste termo objetiva sublinhar o carácter social das distinções fundadas sobre o sexo e a rejeição do uso da palavra sexo que, etimologicamente, se refere à condição orgânica que distingue o macho da fêmea, enquanto que a palavra gênero se refere ao código de conduta que rege a organização social das relações entre homens e mulheres” (RABELO, 2010, p. 161).

Esse “código de conduta”, que impõe lugares sociais e condensa uma diversidade identitária em dois grandes blocos (masculino e feminino), trata como anormal as formas que escapam de sua óptica binária e deseja a todo custo extirpar tais diferenças do comportamento de seus agregados. E sendo a escola a grande reprodutora de normas e convenções sociais, nada mais corriqueiro que ela mantenha uma perspectiva ultrapassada em relação ao conceito de gênero, ou ignore as demandas atuais, por não se sentir confortável ao abordá-lo, ou pressionada pelos dirigentes como tem sido comum nos últimos anos.

Isso porque não há como falar de gênero sem falar de sexualidade, da diversidade desta e das orientações sexuais dos indivíduos que compõem a sociedade, e este assunto ainda é considerado tabu. Mesmo que escola tenha em seu histórico uma prioridade de abordagem dessa temática sob uma perspectiva sanitarista, ou relacionada à saúde pública, fato que só mudou no último quartel do século XX, as discussões ainda precisam caminhar para além desse ponto.  Como apontado por Andreza Marques de Castro Leão (2009):

“A sexualidade no ambiente escolar geralmente é vista como forma de prevenir ou sanar os “problemas” de natureza sexual. Contudo, a partir da última década do século XX alguns acontecimentos trazem contribuições significativas à abrangência deste assunto pelas escolas, não mais vinculado somente à precaução” (LEÃO, 2009, p.28).

Por isso, em sua tese, Andreza Marques de Castro Leão (2009, p.118) afirma que é papel do professor atuar sobre a temática, visto que as questões de gênero e orientação sexual é uma questão básica para a cidadania, não apenas no curso de Pegagogia, mas em todos os cursos de formação de professores, e friso que consequentemente nos cursos de humanas, principalmente nas disciplinas de História, Sociologia e Filosofia. Isto em razão de quê:

 “os estudos das relações sociais de sexo/gênero permitem a apreensão das diferenciações hierarquizadas na relação entre mulheres e homens, que se estabelecem no processo produtivo; possibilitam o desvelamento de uma construção histórico-social do ser mulher, do ser homem. Uma construção que estabelece relações de poder, inscritas sobre corpos sexualizados, forjadas objetivamente por múltiplas instâncias sociais, e que se subjetivam através de mecanismos de socialização” (MILHOMEM, 2015, p.38).

Assim, trabalhar as questões de gênero é dever do professor que ensina para a cidadania, e ser cidadão é compreender e respeitar o outro, estar ciente de seus direitos e deveres. As abordagens sobre gênero, na escola, precisam refletir na quebra de estereótipos negativos, na desconstrução do discurso binário acerca de nossos papéis de gênero e orientações sexuais. Não há cidadania na exclusão, seja ela de que ordem for, não se forma cidadão quando se ratifica uma proposta onde o sujeito não pode ser ele mesmo, mas deve estar dentro do paradigma obtuso que se afirma a revelia das mudanças sociais.

Esses papéis forjados dentro de uma esfera de controle de mentes e corpos são propagados em discursos que estão presentes nas mais diversas facetas do nosso cotidiano, entre elas os estereótipos que reproduzimos conscientes ou inconscientemente nos contos de fadas. Estes nos dizem como as mulheres devem se comportar, seus atributos físicos e psicológicos, da mesma forma traz essa perspectiva em relação ao masculino, mostrando modelos comportamentais e valorando a performance do príncipe ou cavalheiro, enfim, do herói.

Para Maria do Carmo Gonçalo Santos:

“A relação entre os contos de fadas e gênero pode conduzir à formação de vários estereótipos na vida das crianças, meninas/os ou transgêneros; por elas/eles se identificarem com os/as personagens e buscarem trazer, para a sua realidade, as características desses personagens” (SANTOS, 2018, p.45).

Os contos não falam daqueles que fogem aos paradigmas de gênero e propõem modelos negativados aqueles que fogem das concepções ideais de ser masculino e feminino. Os que quebram as regras e enfrentam o poder vigente são bruxas, ogros, vilões e estes têm as suas características voltadas a tudo que é considerado feio, grotesco, desarmônico.

As bruxas, por exemplo, são mulheres que desconhecem a bondade, invejosas, traiçoeiras, aterrorizantes, seus aspectos físicos são descritos como repugnantes, trazem verrugas, rugas e defeitos diversos, além, de estarem sempre acompanhadas de um livro, onde anotam seus feitiços e maldades (ler e escrever são um ato subversivo, só as bruxas seriam capazes de tal quebra na harmonia do corpo social, não é atoa que alguns filmes sobre contos de fadas trazem uma releitura sobre isso, “Para sempre Cinderela”, de Andy Tennant, é um exemplo dessas releituras).

As bruxas são acompanhadas de animais peçonhentos, fazem planos cruéis e mágicas maléficas, elas são sempre detidas pelo príncipe, cujo caráter e coragem está sempre pronto a destruir a mulher feia e má ou enfrentar o perigo de seres que não tem lugar na paisagem paradisíaca dos contos de fadas.

Já as princesas precisam caber na caixinha ou no sapatinho de cristal, assim como o príncipe precisa encaixar-se nos ideais masculinos de beleza e generosidade. Essas caixinhas propostas pelos contos de fadas, ainda insistem em nos acomodar em suas formas etiquetadas e foi pensando nelas e a partir desses quadrados que o trabalho se desenvolveu.

Num primeiro momento situamos e abordamos nosso conceito (gênero), colocando as discussões que o fizeram surgir como uma categoria analítica e as razões pela qual o gênero é uma construção histórica e social, uma categoria de análise que surgiu das lutas do movimento feminista, do qual abordamos as três ondas e as demandas que a estes correspondem.

Não poderíamos abordar o tema sem falarmos em Simone de Beauvoir (1980) ou mesmo as concepções freudianas sobre o falo. Ao falarmos de papéis de gênero destacamos, no quadro, características qualitativas psicológicas e físicas de formas de agir consideradas corretas para ambos os sexos biológicos.

Posteriormente questionei sobre aqueles que fogem de tais modelos, e de onde vêm estas determinações e regras. Respostas foram surgindo: da escola, da família, etc., onde e com quem aprendemos que ser delicada é coisa de mulher. Questionei que se lá na infância não aprendíamos a ser assim e acreditar que isso era correto porque nos foi passado na literatura, passando daí a abordar os contos de fadas. Então, a desconstrução de estereótipos começou.

Quando os personagens não cabem na caixinha: contos pós-modernos
Após discussões sobre gênero, sexualidade e formas de controle de corpos, estereótipos aceitos e rejeitados na sociedade, abordei como os modelos femininos e masculinos estão presentes nas mais diversas formas de discurso social, entre elas, a literatura, com os contos de fadas. Antes de abordar as histórias da carochinha, questionei os alunos sobre o conhecimento a respeito de algumas, como Bela Adormecida, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e A princesa e o sapo.

Expliquei que os contos de fadas não foram apenas historinhas para colocar crianças para dormir e que em sua origem serviam como lição de moral ou para dizer como os grupos deviam agir e se comportar. Abordei o livro de Robert Darnton (1986), O grande massacre de gatos, onde o autor aborda a história de Chapeuzinho Vermellho e tece comentários sobre as interpretações psicanalíticas a respeito do conto, além de situá-lo historicamente e assim trazer a luz dados relevantes sobre sua origem, as intenções e os tons que se desenham na narrativa. Vale lembrar que na perspectiva de Darnton, os contos populares são documentos históricos e como tais de forma alguma podem ser neutros ou deixar de ser questionados. Para o autor, os contos:

“Surgiram ao longo de muitos séculos e sofreram diferentes transformações, em diferentes tradições culturais. Longe de expressarem as imutáveis operações do ser interno do homem, sugerem que as próprias mentalidades mudaram” (DARNTON, 1986, p.26).

Daí a recontar alguns contos tradicionais, mas a cada conto abordado os questionava se a história sempre fora assim ou havia outras versões, a partir daí narrei as versões anteriores dos Irmãos Grimm e Perraut a cerca da Cinderela, Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho, só então partimos para uma análise dos contos de fadas, tendo como objetivo a caracterização dos modelos de masculino e feminino ratificados nas narrativas.

A partir do quadro criado com as principais características das personagens principais, sem esquecer os vilões, cujas performances negativas também foram objeto de discussões, os alunos apontaram diversas desigualdades de gênero e sociais presentes nas histórias.

E pensando na mutabilidade das mentalidades e ressignificância das narrativas foi proposto como avaliação que os alunos realizassem uma releitura de um dos contos de fadas, os quais foram sorteados entre os grupos, a proposta incluía além da releitura feita em preto e branco, uma versão colorida que no final deveria constar o conto original e uma pequena conclusão sobre a temática.

Os trabalhos surpreenderam pela qualidade e entendimento da proposta, tivemos de príncipes gays a princesas lésbicas, uma busca de representatividade de meus alunos LGBTS, houve princesas que se salvaram sozinhas ou derrotaram o dragão indo estudar e se tornar magas, outras preferiram fazer desejos ao poço para viver com no brejo com seu amigo sapo, e outra ainda transformou o príncipe em sapo, costurou o nome da amada na boca dele e foi ser feliz com sua camponesa. Os alunos trouxeram para o seu contexto os contos de fadas e muitos fizeram a narrativa pensando em contá-las aos irmãos menores ou a outras crianças, para que não crescessem com os mesmos estereótipos negativos que os seus.


Algumas considerações
O universo do conto de fadas é fantástico, suas narrativas são envolventes e criam modelos e aspirações que nos acompanharão de forma positiva ou negativa durante nossas vidas. As releituras feitas pelos alunos mostraram muito do seu universo e entendimento de mundo, descontruíram paradigmas negativos.

Demostraram uma consciência voltada à cidadania e a tolerância, propuseram autoestima e respeito à diversidade ao caracterizarem princesas negras ou gordas, príncipes gays e Chapeuzinho que entregou o lobo às autoridades por pedofilia. No universo mental dos alunos, percebemos uma visão plural de gênero e dos papéis destes. Nas suas conclusões e explicações acerca de suas produções encontramos o entendimento dos conceitos trabalhados, o caminho ainda insipiente da construção de um mundo mais plural.

Já trabalho há alguns anos com essa temática e sempre busco trazer abordagens diferentes em relação ao conteúdo, confesso que foi um momento de minha vida profissional que deixará saudades, não só por essas atividades, mas por todas aquelas que elaboramos no decorrer do semestre, dos documentários sobre feminicídio aos depoimentos sobre machismo e violência doméstica, pelas discussões prazerosas e por vezes acalorada, pela confiança quando partilharam suas vivências.

Há tempos que nos orgulham como professor, há histórias que precisam ser contadas e recontadas, contos pós-modernos que na atualidade podem começar por: era uma vez, uma bruxa que se tornou professora e gostava de ensinar crianças a pensar...

Referências
Doutora em História, pela Universidade Estadual de Maringá. Professora da Educação Básica. E-mail: cathain_celta@hotmail.com

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo, v.I, II. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
Darnton, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
LEÃO, Andreza Marques de Castro. Estudo analítico-descritivo do curso de pedagogia da UNESP-Araraquara quanto à inserção das temáticas de sexualidade e orientação sexual na formação de seus alunos. 2009. Tese (Doutorado em Educação Escolar) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara, 2009. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/101587 Acesso em: 10 março 2020.
MILHOMEM, Maria Santana F. dos S. Gênero e sexualidade na escola: experiências vividas na rede municipal de Palmas, Tocantins. Caderno Espaço Feminino, v. 28, n. 1, p. 36-50, 2015. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/neguem/article/view/30848. Acesso em: 10 março 2020.

RABELO, Amanda Oliveira. Contribuições dos estudos de género às investigações que enfocam a masculinidade. Ex æquo., n. 21, p. 161-76, 2010. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0874-55602010000100012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 março 2020.

19 comentários:

  1. Hola! muchas gracias por compartir tu experiencia. Soy Maria Isabel Giraldo, profesora Universitaria en Colombia. Trabajo tambien en mis clases un poco del tema, pero desde un abordaje objetual. He tenido un poco de resistencia por parte de mis estudiantes (adultos) frente al tema. Considero que es más facil trabajar estos asuntos con niños y adolescentes que con adultos. Teniendo presente que son temas sensibles, que requieren de trabajo coelctivo, quisiera preguntarte en particular cómo ha sido la reacción de los padres, has tenido dificultades con ellos? Como lo has resuelto?

    Maria Isabel Giraldo Vasquez

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    1. Hola, gracias por leer mi texto.
      No tuve problemas con los padres, sobre todo porque los estudiantes aparentemente no comentan sobre su rutina escolar. Lo que tuve fue varias confesiones de estudiantes sobre las experiencias vividas en sus casas, desde casos de machismo hasta la no aceptación de miembros de la familia debido a su orientación sexual. Siempre busco diferentes maneras de abordar el mismo contenido y trabajar con cuentos de hadas proporcionó un diálogo muy interesante con estos jóvenes, creo que el enfoque cuenta mucho en temas delicados y este fue muy feliz. Trabajo con estudiantes adultos por la noche, muchos tienem familia, con ellos hubo resistencia de los hombres, pero las voces de las mujeres y la comunidad LGBTI se alzaron y se impusieron ante ellos. Las mujeres contribuyeron en varias discusiones sobre violencia doméstica, abuso, sobre el derecho a ser lo que quisieran, establecieron el tono para las conversaciones, yo solo era la mediadora.
      Simone Aparecida Dupla

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  2. considerando o processo (lento) de desconstrução dos esteriótipos do mundo atual, acreditas que esse tema também deve ser trabalhado com os pais? já que, na maioria das vezes, o primeiro contato com o universo dos contos de fadas se da por meio deles. Se sim, de que modo podemos abordar? ótimo texto!! Rubia Anye Cassol.

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    1. Olá Rúbia, obrigada por ler meu texto. Eu acredito que a abordagem para uma conversa sobre gênero com os pais seria interessante. Os contos de fadas são comuns durante a infância e as crianças adoram, então para trazer essa discussão teríamos que abordar os pais da Educação Infantil e das Séries Iniciais e para fazer isso, precisamos formar adequadamente as professoras que trabalham com essa faixa etária. Por que digo isso? Eu trabalho com alfabetização também, é comum ouvir nos corredores professores com discursos que reproduzem estereótipos negativos e formatam o aluno para caber na caixinha: 'princesa senta assim", "um príncipe não age desse forma", "princesa usa rosa", "a bruxa é feia", entre outros, então para falar de contos de fadas e estereótipos temos trabalhar primeiro os professores, trazer outras abordagens para eles, há hoje diversos contos onde as princesas não precisam ser salvas, onde o dualismo bem X mal dá lugar a diversidade. Tem um livro que adoro do Pedro Bandeira, chama-se "é proibido miar", entre outros, rs, fiz um artigo sobre ele e a formação do leitor cidadão, acredito que dá para fazer uma ponte aí. Então, me parece que o caminho é esse, literatura temos tanto para desconstruir estereótipos negativos quanto para trabalharmos os positivos, então precisamos de formação para nossos professores, muitos têm, mas muitos ainda necessitam. Meu foco nesse texto, foi contar um pouquinho minha experiência com o Ensino Médio, sei que muitos pais tem filhos pequenos, então uma ideia é que poderíamos promover palestras ou mesmo uma amostra das produções dos alunos e posteriormente fazer uma fala com os pais mostrando os aspectos positivos da desconstrução dos estereótipos.
      Espero ter respondido.
      att

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  3. Boa tarde! Muito interessante as releituras feitas por seus alunos. Gostaria de saber se em sua experiência em sala de aula algum aluno demostrou resistência ou dificuldade em recontar/resignificar os contos propostos?
    Maria Izeth Braga Beltrão

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    1. Olá Izeth, obrigada por ler meu texto.
      Sim, tivemos casos de alunos que tiveram essa resistência, principalmente nos debates, mas como a produção foi nosso momento conclusivo, nele os alunos demonstraram maior liberdade e acabou sendo também uma forma de se expressar, de mostrar seus novos estereótipos, de abordar seus anseios e de demonstrar suas resignificações e como a partir das discussões algumas opiniões mudaram, outras se cristalizaram e algumas se orgulharam de si mesmas, quando antes isso não parecia possível. Eu lembro sempre que nós somos reflexos, ainda que tortos das instituições sociais que nos marcaram antes mesmo da escola. Então é compreensivo toda carga que trazemos das instituições familiares, das igrejas, das agremiações, e muitos estereótipos são alimentados pela escola, nas Séries Iniciais, no Fundamental II, então é compreensivo que os alunos estranhem e tenham conflitos com o novo, com aquilo que não se enquadra no seu mundo. Mas a escola está aí para compartilhar as experiências, mostrar a multiplicidade de ideias e promover o respeito a diversidade. Então, o conflito é bem-vindo, porque nos ajuda a pensar, a reformular nossas estratégias e metodologias.
      Simone

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  4. Bruno Moreno- Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA (CE)
    boa noite. A leitura do artigo é muito prazerosa, traz uma discussão importantíssima na atualidade. A escola tem um potencial enorme de mudar a percepção do aluno sobre o machismo, embora seja complicado as vezes de trabalhar este tema por falta de tempo ou por vontade do professor mesmo. meu primeiro contato com a temática de gênero foi no ensino médio, porém com discussão muito rasa. Vim só conhecer mesmo a fundo na graduação de História. Mas é no ensino fundamental, na minha opinião, que é necessário levar para a sala de aula a discussão sobre gênero, para quando o aluno chegar no ensino médio já conhecer sobre o assunto e lá ter uma discussão mais abrangente do assunto e não só apresenta-lo, como acontece. mas sei que hoje estar mudando aos poucos por ter mais professores formados. Diferente de anos atras.

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    1. Oi Bruno, gratidão por ler meu texto.
      Concordo com você, é preciso mudar desde o Fundamental, e eu diria mais, do Fundamental I, das Séries Iniciais. Mas, para isso precisamos de professores bem orientados, de políticas públicas que nos permitam trabalhar e de profissionais engajados. Cada cidade conta com formas diferentes de apresentação do Fundamental I, a minha, por exemplo e infelizmente, não é aberta à professores de outras áreas, senão pedagogia, o que é muito triste, tanto do ponto de vista da pluralidade de ideias, quando da aprendizagem do aluno, pese a isso, um legislativo provinciano, tradicionalista, retrógrado e preconceituoso, e nós no olho do furacão. Então as coisas mudam, como você disse, mas, muito lentamente, como na longa duração de Braudel. A revelia disso, permanecemos na luta.
      Simone

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  5. celijuina@gmail.com18 de maio de 2020 às 21:58

    Boa noite Simone.
    Parabéns pelo trabalho realizado e grata por compartilhar este trabalho inspirador.
    Qual foi o seu maior desafio pedagógico para a realização deste trabalho?
    Celimara Solange da Silva Orlando Curbelo

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    1. Oi Celimara, grata por ler meu texto.
      Creio que um dos maiores desafios foi transformar todo o nosso aparato acadêmico de autores, de forma compreensiva para o aluno. Foi interessante perceber como ele produziram conhecimento a partir das discussões e explanações, e desconstruíram estereótipos negativos por meio de algo que fez parte de sua infância. Nesse sentido, eu fui muito feliz com minhas turmas, eles estavam interessados, eles queriam discutir, conhecer, ouvir, reconsiderar a partir do ponto de vista do outro. Então se fosse escolher o maior desafio, creio que seria fazer o aluno entrar na ciranda porque depois disso já está mais próximo de cantá-la.
      Simone

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  6. Simone, parabéns pelo trabalho!
    Gostaria de refletir acerca da reinvenção que pouco a pouco parece ocorrer, nesse sentido, em alguns filmes e séries infantis e infanto-juvenis.
    Isso porque com uma abordagem que passa a abarcar uma perspectiva feminista, tem ocorrido uma transformação no cenário audiovisual, e em que pese seja bastante lento e tardio, esse processo tem resultado em filmes tais como Mulan (um dos pioneiros), ou alguns mais recentes como Moana, ou então Frozen (que inclusive gerou uma enorme discussão pela possibilidade da protagonista se envolver afetivamente com outra pessoa do mesmo sexo na continuação da franquia de filmes). Você acredita que alguns destes conteúdos possam ser utilizados para abordar estas questões, fazendo com que ocorra uma desconstrução da imagem limitadora e opressora da figura feminina, e em caso positivo, de que forma?

    Marina Broch

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    1. Olá Marina, gratidão por ler meu texto.
      Acredito que esses novos contos, que as releituras de diversos outros, como Malévola ou Shrek, por exemplo, esse último fantástico, pela quantidade de discussões e quebra de estereótipos, contribuem para trabalharmos, não só questões de gênero, mas também a diversidade de formas de ser e existir e o respeito às diferenças. A abordagem, sempre depende do professor, dos objetivos que ele quer alcançar. Os estereótipos estão sendo desconstruídos, lentamente é verdade, mas caminhamos. As crianças têm acesso hoje, seja pela mídia, ou na escola, a toda uma nova literatura, além claro dos clássicos, então é possível fazer essa desconstrução, positivando a imagem da menina corajosa, da autoaceitação, da superação, da multiplicidade de formas de ser. Hoje é possível pensar fora da caixinha sim, ampliar nossos horizontes.
      Simone

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  7. olá Simone, parabéns pela iniciativa da abordagem em sala de aula visto que a sociedade ainda mantém inúmeros tabus quando a abordagem é gênero e sexualidade. No que se refere a desafios gostaria de saber qual foi a reação dos seus alunos com essa desconstrução? Em algum momentos eles relataram algum tipo de tabu sobre o assunto ocorrido no ambiente familiar?

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  8. Olá,boa noite. Levando em questão a atual conjuntura em que se encontra a nação brasileira e considerando o grande tabu, quando se trata da abordagem de gênero e sexualidade, principalmente no âmbito escolar; Queria saber, qual foi a reação dos alunos frente a desconstrução ( ao dar resignificado aos contos), já que os esteriótipos estão raizados desde a família?
    Leandro Cordeiro da Silva

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  9. Olá Simone, parabéns pela sua iniciativa e projeto. Achei incrível, a forma como abordoou e trabalhou a desconstrução de esteriótipos, levando o aluno a sentir-se protagonista da sua visão da história.

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  10. Oi Simone, parabéns pelo seu projeto, belo texto!
    Gostaria de saber se dentro da atividade voce encontrou certa resistencia da parte dos alunos, e como foi a recepção deles com a proposta? Observa-se que muitos foram receptivos e demonstraram entusiasmo na realização de seus contos.
    Jessica Aparecida Lukavy

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  11. Olá, adorei o seu trabalho e sua proposta para a sala de aula, achei muito criativo e necessário, visto que precisamos mudar constantemente a forma como ensinamos. Gostaria de saber como foi a recepção dos meninos diante dessa atividade? Porque geralmente as meninas são mais abertas a este tipo de trabalho.

    Júlia Ribeiro Nicolodi

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  12. Primeiramente queria elogiar o trabalho e sua temática, gostei muito das ideias e organização do mesmo e sua iniciativa com os alunos. Como apontado no decorrer do texto o estudo e a análise sobre os contos de fadas como narrativas que influenciam diretamente no pensamento de crianças e a forma como vivem, pensam e reagem socialmente torna se necessário para o ensino e para a formação de mentes críticas, com isso, gostaria de pensar em como trabalhar temas em combate aos abusos sexuais, pedofilia e assédio em sala de aula, indo mais além do já citado: “Chapeuzinho que entregou o lobo às autoridades por pedofilia.”?
    Tífanne do Nascimento Araújo

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