ERA UMA VEZ...: CONTOS DE FADAS E ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO
Nunca ouvi contos de fadas da minha mãe, as
histórias que ela contava eram uma espécie de folclore da roça, onde tinha
muitos lobisomens, meninas d’água e assombrações. As histórias que eu ouvia
falavam dos camponeses, das peregrinações de João de Maria, das noites temidas
da quaresma. Fui ouvir sobre contos de fadas na escola, com a professora do
primário, com ela aprendi que existem princesas e bruxas, príncipes e ogros, e
de cara, logo percebi que nesse universo fantasioso que o conto de fadas nos
apresenta eu era a bruxa, a menina que vivia enclausurada na biblioteca porque
não era como as princesas, aquela que não dançava na festa junina porque não
tinha jeito, nem par (príncipe). Desde cedo aprendi então, que os contos de
fadas eram cruéis, pois nos mostravam paradigmas que deveríamos seguir, e nos
colocavam à margem quando não éramos como seus personagens principais,
tendíamos ao mesmo fim dos vilões, éramos a prole destes.
Não é a toa que hoje questionamos esses
modelos narrativos, passamos a vida sendo bombardeados por arquétipos, no
cinema, nas novelas, na escola, sim, a escola, locus privilegiado onde se
produz e reproduz estereótipos negativos de crenças, etnias, classe e gêneros.
Uma escola velha, tão velha quanto os contos de fadas, rançosa em seu
currículo, capenga em sua metodologia, infeliz em sua atuação ao tentar
enquadrar jovens e crianças nas realidades pretéritas do professor, um mestre
que não deseja envelhecer e que saudosamente vê seu mundo como um modelo a
seguir, mas que um dia cruza no pátio com a ex-aluna de jaleco pronta para dar
aulas.
Assim, eu bruxa crescida me tornei
professora, e deparei-me com o currículo de minha disciplina tendo como
conteúdo questões de gênero, uma perspectiva nada bem vista em um sistema
educacional tradicionalista e em uma cidade cujos representantes eleitos
bravejam um projeto provinciano contra o que chamam de ideologia de gênero (LOM
04/2018 - Ponta Grossa, Pr).
Pese a isso, o lugar social do aluno, segundo
ano do Ensino Médio, onde grande parte era evangélicos neopentecostais, um
universo de oitenta adolescentes, uma multiplicidade única de desejos, sonhos e
preconceitos raizadas pela família e os grupos dos quais faziam parte. Esse é o
pano de fundo desse texto, que tem como objetivo apresentar minha experiência
pedagógica do ano de 2019, referente às discussões e produções realizadas no
conteúdo sobre questões de gênero, na cidade de Ponta Grossa, Paraná.
Questões
de gênero e as propostas de abordagens
As discussões da atualidade não ficam alheias
às questões de gênero, seja para discutir sobre os papéis impostos acerca do
que é ser feminino ou masculino, ou dos estereótipos negativos em relação
àqueles que fogem dos arquétipos binários, cujos discursos resistem ao mundo
pós-moderno ou mesmo defender padrões e condutas ultrapassadas tendo como
parâmetro referências religiosas mal interpretadas.
A escola, no entanto, se esquivou por muito
tempo dessa discussão, mantendo ao longo de sua existência apenas uma abordagem
sanitarista em relação à sexualidade e seus desdobramentos, mas as novas
demandas da sociedade não a permitem mais omitir-se ou esquivar-se por mais
tempo, assim, como não é possível que as disciplinas de humanas fechem os olhos
a ela.
Nas disciplinas de História, Sociologia e
Filosofia, por exemplo, o gênero é visto como uma construção social, o qual
influência de forma desconcertante diversas práticas sociais e ratifica normas
comportamentais e modelos adequados de ser a agir dos membros de uma sociedade.
Como colocou Amanda Rabelo, o conceito diz respeito aos:
“atributos diferentes a homens e mulheres
consolidada durante toda a vida, o que determina as relações entre os sexos em
vários aspectos. O uso deste termo objetiva sublinhar o carácter social das
distinções fundadas sobre o sexo e a rejeição do uso da palavra sexo que,
etimologicamente, se refere à condição orgânica que distingue o macho da fêmea,
enquanto que a palavra gênero se refere ao código de conduta que rege a
organização social das relações entre homens e mulheres” (RABELO, 2010, p.
161).
Esse “código de conduta”, que impõe lugares
sociais e condensa uma diversidade identitária em dois grandes blocos
(masculino e feminino), trata como anormal as formas que escapam de sua óptica
binária e deseja a todo custo extirpar tais diferenças do comportamento de seus
agregados. E sendo a escola a grande reprodutora de normas e convenções
sociais, nada mais corriqueiro que ela mantenha uma perspectiva ultrapassada em
relação ao conceito de gênero, ou ignore as demandas atuais, por não se sentir
confortável ao abordá-lo, ou pressionada pelos dirigentes como tem sido comum
nos últimos anos.
Isso porque não há como falar de gênero sem
falar de sexualidade, da diversidade desta e das orientações sexuais dos
indivíduos que compõem a sociedade, e este assunto ainda é considerado tabu.
Mesmo que escola tenha em seu histórico uma prioridade de abordagem dessa
temática sob uma perspectiva sanitarista, ou relacionada à saúde pública, fato
que só mudou no último quartel do século XX, as discussões ainda precisam
caminhar para além desse ponto. Como
apontado por Andreza Marques de Castro Leão (2009):
“A sexualidade no ambiente escolar geralmente
é vista como forma de prevenir ou sanar os “problemas” de natureza sexual.
Contudo, a partir da última década do século XX alguns acontecimentos trazem
contribuições significativas à abrangência deste assunto pelas escolas, não
mais vinculado somente à precaução” (LEÃO, 2009, p.28).
Por isso, em sua tese, Andreza Marques de
Castro Leão (2009, p.118) afirma que é papel do professor atuar sobre a
temática, visto que as questões de gênero e orientação sexual é uma questão
básica para a cidadania, não apenas no curso de Pegagogia, mas em todos os
cursos de formação de professores, e friso que consequentemente nos cursos de
humanas, principalmente nas disciplinas de História, Sociologia e Filosofia.
Isto em razão de quê:
“os
estudos das relações sociais de sexo/gênero permitem a apreensão das
diferenciações hierarquizadas na relação entre mulheres e homens, que se
estabelecem no processo produtivo; possibilitam o desvelamento de uma
construção histórico-social do ser mulher, do ser homem. Uma construção que
estabelece relações de poder, inscritas sobre corpos sexualizados, forjadas
objetivamente por múltiplas instâncias sociais, e que se subjetivam através de
mecanismos de socialização” (MILHOMEM, 2015, p.38).
Assim, trabalhar as questões de gênero é
dever do professor que ensina para a cidadania, e ser cidadão é compreender e
respeitar o outro, estar ciente de seus direitos e deveres. As abordagens sobre
gênero, na escola, precisam refletir na quebra de estereótipos negativos, na
desconstrução do discurso binário acerca de nossos papéis de gênero e
orientações sexuais. Não há cidadania na exclusão, seja ela de que ordem for,
não se forma cidadão quando se ratifica uma proposta onde o sujeito não pode
ser ele mesmo, mas deve estar dentro do paradigma obtuso que se afirma a
revelia das mudanças sociais.
Esses papéis forjados dentro de uma esfera de
controle de mentes e corpos são propagados em discursos que estão presentes nas
mais diversas facetas do nosso cotidiano, entre elas os estereótipos que
reproduzimos conscientes ou inconscientemente nos contos de fadas. Estes nos dizem
como as mulheres devem se comportar, seus atributos físicos e psicológicos, da
mesma forma traz essa perspectiva em relação ao masculino, mostrando modelos
comportamentais e valorando a performance do príncipe ou cavalheiro, enfim, do
herói.
Para Maria do Carmo Gonçalo Santos:
“A relação entre os contos de fadas e gênero
pode conduzir à formação de vários estereótipos na vida das crianças,
meninas/os ou transgêneros; por elas/eles se identificarem com os/as
personagens e buscarem trazer, para a sua realidade, as características desses
personagens” (SANTOS, 2018, p.45).
Os contos não falam daqueles que fogem aos
paradigmas de gênero e propõem modelos negativados aqueles que fogem das
concepções ideais de ser masculino e feminino. Os que quebram as regras e
enfrentam o poder vigente são bruxas, ogros, vilões e estes têm as suas
características voltadas a tudo que é considerado feio, grotesco, desarmônico.
As bruxas, por exemplo, são mulheres que
desconhecem a bondade, invejosas, traiçoeiras, aterrorizantes, seus aspectos
físicos são descritos como repugnantes, trazem verrugas, rugas e defeitos
diversos, além, de estarem sempre acompanhadas de um livro, onde anotam seus
feitiços e maldades (ler e escrever são um ato subversivo, só as bruxas seriam
capazes de tal quebra na harmonia do corpo social, não é atoa que alguns filmes
sobre contos de fadas trazem uma releitura sobre isso, “Para sempre Cinderela”,
de Andy Tennant, é um exemplo dessas releituras).
As bruxas são acompanhadas de animais
peçonhentos, fazem planos cruéis e mágicas maléficas, elas são sempre detidas
pelo príncipe, cujo caráter e coragem está sempre pronto a destruir a mulher
feia e má ou enfrentar o perigo de seres que não tem lugar na paisagem
paradisíaca dos contos de fadas.
Já as princesas precisam caber na caixinha ou
no sapatinho de cristal, assim como o príncipe precisa encaixar-se nos ideais
masculinos de beleza e generosidade. Essas caixinhas propostas pelos contos de
fadas, ainda insistem em nos acomodar em suas formas etiquetadas e foi pensando
nelas e a partir desses quadrados que o trabalho se desenvolveu.
Num primeiro momento situamos e abordamos
nosso conceito (gênero), colocando as discussões que o fizeram surgir como uma
categoria analítica e as razões pela qual o gênero é uma construção histórica e
social, uma categoria de análise que surgiu das lutas do movimento feminista,
do qual abordamos as três ondas e as demandas que a estes correspondem.
Não poderíamos abordar o tema sem falarmos em
Simone de Beauvoir (1980) ou mesmo as concepções freudianas sobre o falo. Ao
falarmos de papéis de gênero destacamos, no quadro, características
qualitativas psicológicas e físicas de formas de agir consideradas corretas
para ambos os sexos biológicos.
Posteriormente questionei sobre aqueles que
fogem de tais modelos, e de onde vêm estas determinações e regras. Respostas
foram surgindo: da escola, da família, etc., onde e com quem aprendemos que ser
delicada é coisa de mulher. Questionei que se lá na infância não aprendíamos a
ser assim e acreditar que isso era correto porque nos foi passado na
literatura, passando daí a abordar os contos de fadas. Então, a desconstrução
de estereótipos começou.
Quando
os personagens não cabem na caixinha: contos pós-modernos
Após discussões sobre gênero, sexualidade e
formas de controle de corpos, estereótipos aceitos e rejeitados na sociedade,
abordei como os modelos femininos e masculinos estão presentes nas mais
diversas formas de discurso social, entre elas, a literatura, com os contos de
fadas. Antes de abordar as histórias da carochinha, questionei os alunos sobre
o conhecimento a respeito de algumas, como Bela Adormecida, Cinderela,
Chapeuzinho Vermelho e A princesa e o sapo.
Expliquei que os contos de fadas não foram apenas
historinhas para colocar crianças para dormir e que em sua origem serviam como
lição de moral ou para dizer como os grupos deviam agir e se comportar. Abordei
o livro de Robert Darnton (1986), O grande massacre de gatos, onde o autor
aborda a história de Chapeuzinho Vermellho e tece comentários sobre as
interpretações psicanalíticas a respeito do conto, além de situá-lo
historicamente e assim trazer a luz dados relevantes sobre sua origem, as
intenções e os tons que se desenham na narrativa. Vale lembrar que na
perspectiva de Darnton, os contos populares são documentos históricos e como
tais de forma alguma podem ser neutros ou deixar de ser questionados. Para o
autor, os contos:
“Surgiram ao longo de muitos séculos e
sofreram diferentes transformações, em diferentes tradições culturais. Longe de
expressarem as imutáveis operações do ser interno do homem, sugerem que as
próprias mentalidades mudaram” (DARNTON, 1986, p.26).
Daí a recontar alguns contos tradicionais,
mas a cada conto abordado os questionava se a história sempre fora assim ou
havia outras versões, a partir daí narrei as versões anteriores dos Irmãos
Grimm e Perraut a cerca da Cinderela, Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho,
só então partimos para uma análise dos contos de fadas, tendo como objetivo a
caracterização dos modelos de masculino e feminino ratificados nas narrativas.
A partir do quadro criado com as principais
características das personagens principais, sem esquecer os vilões, cujas
performances negativas também foram objeto de discussões, os alunos apontaram
diversas desigualdades de gênero e sociais presentes nas histórias.
E pensando na mutabilidade das mentalidades e
ressignificância das narrativas foi proposto como avaliação que os alunos
realizassem uma releitura de um dos contos de fadas, os quais foram sorteados
entre os grupos, a proposta incluía além da releitura feita em preto e branco,
uma versão colorida que no final deveria constar o conto original e uma pequena
conclusão sobre a temática.
Os trabalhos surpreenderam pela qualidade e
entendimento da proposta, tivemos de príncipes gays a princesas lésbicas, uma
busca de representatividade de meus alunos LGBTS, houve princesas que se
salvaram sozinhas ou derrotaram o dragão indo estudar e se tornar magas, outras
preferiram fazer desejos ao poço para viver com no brejo com seu amigo sapo, e
outra ainda transformou o príncipe em sapo, costurou o nome da amada na boca
dele e foi ser feliz com sua camponesa. Os alunos trouxeram para o seu contexto
os contos de fadas e muitos fizeram a narrativa pensando em contá-las aos
irmãos menores ou a outras crianças, para que não crescessem com os mesmos
estereótipos negativos que os seus.
Algumas
considerações
O universo do conto de fadas é fantástico,
suas narrativas são envolventes e criam modelos e aspirações que nos
acompanharão de forma positiva ou negativa durante nossas vidas. As releituras
feitas pelos alunos mostraram muito do seu universo e entendimento de mundo,
descontruíram paradigmas negativos.
Demostraram uma consciência voltada à
cidadania e a tolerância, propuseram autoestima e respeito à diversidade ao
caracterizarem princesas negras ou gordas, príncipes gays e Chapeuzinho que
entregou o lobo às autoridades por pedofilia. No universo mental dos alunos,
percebemos uma visão plural de gênero e dos papéis destes. Nas suas conclusões
e explicações acerca de suas produções encontramos o entendimento dos conceitos
trabalhados, o caminho ainda insipiente da construção de um mundo mais plural.
Já trabalho há alguns anos com essa temática
e sempre busco trazer abordagens diferentes em relação ao conteúdo, confesso
que foi um momento de minha vida profissional que deixará saudades, não só por
essas atividades, mas por todas aquelas que elaboramos no decorrer do semestre,
dos documentários sobre feminicídio aos depoimentos sobre machismo e violência
doméstica, pelas discussões prazerosas e por vezes acalorada, pela confiança
quando partilharam suas vivências.
Há tempos que nos orgulham como professor, há
histórias que precisam ser contadas e recontadas, contos pós-modernos que na
atualidade podem começar por: era uma vez, uma bruxa que se tornou professora e
gostava de ensinar crianças a pensar...
Referências
Doutora em História, pela Universidade
Estadual de Maringá. Professora da Educação Básica. E-mail: cathain_celta@hotmail.com
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo, v.I, II.
Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
Darnton, Robert. O grande massacre de gatos e
outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. Rio
de Janeiro: Graal, 1986.
LEÃO, Andreza Marques de Castro. Estudo
analítico-descritivo do curso de pedagogia da UNESP-Araraquara quanto à
inserção das temáticas de sexualidade e orientação sexual na formação de seus
alunos. 2009. Tese (Doutorado em Educação Escolar) - Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara, 2009.
Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/101587 Acesso em: 10
março 2020.
MILHOMEM, Maria Santana F. dos S. Gênero e
sexualidade na escola: experiências vividas na rede municipal de Palmas,
Tocantins. Caderno Espaço Feminino, v. 28, n. 1, p. 36-50, 2015. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/neguem/article/view/30848. Acesso em: 10 março
2020.
RABELO, Amanda Oliveira. Contribuições dos
estudos de género às investigações que enfocam a masculinidade. Ex æquo., n.
21, p. 161-76, 2010. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0874-55602010000100012&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 10 março 2020.
Hola! muchas gracias por compartir tu experiencia. Soy Maria Isabel Giraldo, profesora Universitaria en Colombia. Trabajo tambien en mis clases un poco del tema, pero desde un abordaje objetual. He tenido un poco de resistencia por parte de mis estudiantes (adultos) frente al tema. Considero que es más facil trabajar estos asuntos con niños y adolescentes que con adultos. Teniendo presente que son temas sensibles, que requieren de trabajo coelctivo, quisiera preguntarte en particular cómo ha sido la reacción de los padres, has tenido dificultades con ellos? Como lo has resuelto?
ResponderExcluirMaria Isabel Giraldo Vasquez
Hola, gracias por leer mi texto.
ExcluirNo tuve problemas con los padres, sobre todo porque los estudiantes aparentemente no comentan sobre su rutina escolar. Lo que tuve fue varias confesiones de estudiantes sobre las experiencias vividas en sus casas, desde casos de machismo hasta la no aceptación de miembros de la familia debido a su orientación sexual. Siempre busco diferentes maneras de abordar el mismo contenido y trabajar con cuentos de hadas proporcionó un diálogo muy interesante con estos jóvenes, creo que el enfoque cuenta mucho en temas delicados y este fue muy feliz. Trabajo con estudiantes adultos por la noche, muchos tienem familia, con ellos hubo resistencia de los hombres, pero las voces de las mujeres y la comunidad LGBTI se alzaron y se impusieron ante ellos. Las mujeres contribuyeron en varias discusiones sobre violencia doméstica, abuso, sobre el derecho a ser lo que quisieran, establecieron el tono para las conversaciones, yo solo era la mediadora.
Simone Aparecida Dupla
considerando o processo (lento) de desconstrução dos esteriótipos do mundo atual, acreditas que esse tema também deve ser trabalhado com os pais? já que, na maioria das vezes, o primeiro contato com o universo dos contos de fadas se da por meio deles. Se sim, de que modo podemos abordar? ótimo texto!! Rubia Anye Cassol.
ResponderExcluirOlá Rúbia, obrigada por ler meu texto. Eu acredito que a abordagem para uma conversa sobre gênero com os pais seria interessante. Os contos de fadas são comuns durante a infância e as crianças adoram, então para trazer essa discussão teríamos que abordar os pais da Educação Infantil e das Séries Iniciais e para fazer isso, precisamos formar adequadamente as professoras que trabalham com essa faixa etária. Por que digo isso? Eu trabalho com alfabetização também, é comum ouvir nos corredores professores com discursos que reproduzem estereótipos negativos e formatam o aluno para caber na caixinha: 'princesa senta assim", "um príncipe não age desse forma", "princesa usa rosa", "a bruxa é feia", entre outros, então para falar de contos de fadas e estereótipos temos trabalhar primeiro os professores, trazer outras abordagens para eles, há hoje diversos contos onde as princesas não precisam ser salvas, onde o dualismo bem X mal dá lugar a diversidade. Tem um livro que adoro do Pedro Bandeira, chama-se "é proibido miar", entre outros, rs, fiz um artigo sobre ele e a formação do leitor cidadão, acredito que dá para fazer uma ponte aí. Então, me parece que o caminho é esse, literatura temos tanto para desconstruir estereótipos negativos quanto para trabalharmos os positivos, então precisamos de formação para nossos professores, muitos têm, mas muitos ainda necessitam. Meu foco nesse texto, foi contar um pouquinho minha experiência com o Ensino Médio, sei que muitos pais tem filhos pequenos, então uma ideia é que poderíamos promover palestras ou mesmo uma amostra das produções dos alunos e posteriormente fazer uma fala com os pais mostrando os aspectos positivos da desconstrução dos estereótipos.
ExcluirEspero ter respondido.
att
Boa tarde! Muito interessante as releituras feitas por seus alunos. Gostaria de saber se em sua experiência em sala de aula algum aluno demostrou resistência ou dificuldade em recontar/resignificar os contos propostos?
ResponderExcluirMaria Izeth Braga Beltrão
Olá Izeth, obrigada por ler meu texto.
ExcluirSim, tivemos casos de alunos que tiveram essa resistência, principalmente nos debates, mas como a produção foi nosso momento conclusivo, nele os alunos demonstraram maior liberdade e acabou sendo também uma forma de se expressar, de mostrar seus novos estereótipos, de abordar seus anseios e de demonstrar suas resignificações e como a partir das discussões algumas opiniões mudaram, outras se cristalizaram e algumas se orgulharam de si mesmas, quando antes isso não parecia possível. Eu lembro sempre que nós somos reflexos, ainda que tortos das instituições sociais que nos marcaram antes mesmo da escola. Então é compreensivo toda carga que trazemos das instituições familiares, das igrejas, das agremiações, e muitos estereótipos são alimentados pela escola, nas Séries Iniciais, no Fundamental II, então é compreensivo que os alunos estranhem e tenham conflitos com o novo, com aquilo que não se enquadra no seu mundo. Mas a escola está aí para compartilhar as experiências, mostrar a multiplicidade de ideias e promover o respeito a diversidade. Então, o conflito é bem-vindo, porque nos ajuda a pensar, a reformular nossas estratégias e metodologias.
Simone
Bruno Moreno- Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA (CE)
ResponderExcluirboa noite. A leitura do artigo é muito prazerosa, traz uma discussão importantíssima na atualidade. A escola tem um potencial enorme de mudar a percepção do aluno sobre o machismo, embora seja complicado as vezes de trabalhar este tema por falta de tempo ou por vontade do professor mesmo. meu primeiro contato com a temática de gênero foi no ensino médio, porém com discussão muito rasa. Vim só conhecer mesmo a fundo na graduação de História. Mas é no ensino fundamental, na minha opinião, que é necessário levar para a sala de aula a discussão sobre gênero, para quando o aluno chegar no ensino médio já conhecer sobre o assunto e lá ter uma discussão mais abrangente do assunto e não só apresenta-lo, como acontece. mas sei que hoje estar mudando aos poucos por ter mais professores formados. Diferente de anos atras.
Oi Bruno, gratidão por ler meu texto.
ExcluirConcordo com você, é preciso mudar desde o Fundamental, e eu diria mais, do Fundamental I, das Séries Iniciais. Mas, para isso precisamos de professores bem orientados, de políticas públicas que nos permitam trabalhar e de profissionais engajados. Cada cidade conta com formas diferentes de apresentação do Fundamental I, a minha, por exemplo e infelizmente, não é aberta à professores de outras áreas, senão pedagogia, o que é muito triste, tanto do ponto de vista da pluralidade de ideias, quando da aprendizagem do aluno, pese a isso, um legislativo provinciano, tradicionalista, retrógrado e preconceituoso, e nós no olho do furacão. Então as coisas mudam, como você disse, mas, muito lentamente, como na longa duração de Braudel. A revelia disso, permanecemos na luta.
Simone
Boa noite Simone.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho realizado e grata por compartilhar este trabalho inspirador.
Qual foi o seu maior desafio pedagógico para a realização deste trabalho?
Celimara Solange da Silva Orlando Curbelo
Oi Celimara, grata por ler meu texto.
ExcluirCreio que um dos maiores desafios foi transformar todo o nosso aparato acadêmico de autores, de forma compreensiva para o aluno. Foi interessante perceber como ele produziram conhecimento a partir das discussões e explanações, e desconstruíram estereótipos negativos por meio de algo que fez parte de sua infância. Nesse sentido, eu fui muito feliz com minhas turmas, eles estavam interessados, eles queriam discutir, conhecer, ouvir, reconsiderar a partir do ponto de vista do outro. Então se fosse escolher o maior desafio, creio que seria fazer o aluno entrar na ciranda porque depois disso já está mais próximo de cantá-la.
Simone
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSimone, parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirGostaria de refletir acerca da reinvenção que pouco a pouco parece ocorrer, nesse sentido, em alguns filmes e séries infantis e infanto-juvenis.
Isso porque com uma abordagem que passa a abarcar uma perspectiva feminista, tem ocorrido uma transformação no cenário audiovisual, e em que pese seja bastante lento e tardio, esse processo tem resultado em filmes tais como Mulan (um dos pioneiros), ou alguns mais recentes como Moana, ou então Frozen (que inclusive gerou uma enorme discussão pela possibilidade da protagonista se envolver afetivamente com outra pessoa do mesmo sexo na continuação da franquia de filmes). Você acredita que alguns destes conteúdos possam ser utilizados para abordar estas questões, fazendo com que ocorra uma desconstrução da imagem limitadora e opressora da figura feminina, e em caso positivo, de que forma?
Marina Broch
Olá Marina, gratidão por ler meu texto.
ExcluirAcredito que esses novos contos, que as releituras de diversos outros, como Malévola ou Shrek, por exemplo, esse último fantástico, pela quantidade de discussões e quebra de estereótipos, contribuem para trabalharmos, não só questões de gênero, mas também a diversidade de formas de ser e existir e o respeito às diferenças. A abordagem, sempre depende do professor, dos objetivos que ele quer alcançar. Os estereótipos estão sendo desconstruídos, lentamente é verdade, mas caminhamos. As crianças têm acesso hoje, seja pela mídia, ou na escola, a toda uma nova literatura, além claro dos clássicos, então é possível fazer essa desconstrução, positivando a imagem da menina corajosa, da autoaceitação, da superação, da multiplicidade de formas de ser. Hoje é possível pensar fora da caixinha sim, ampliar nossos horizontes.
Simone
olá Simone, parabéns pela iniciativa da abordagem em sala de aula visto que a sociedade ainda mantém inúmeros tabus quando a abordagem é gênero e sexualidade. No que se refere a desafios gostaria de saber qual foi a reação dos seus alunos com essa desconstrução? Em algum momentos eles relataram algum tipo de tabu sobre o assunto ocorrido no ambiente familiar?
ResponderExcluirOlá,boa noite. Levando em questão a atual conjuntura em que se encontra a nação brasileira e considerando o grande tabu, quando se trata da abordagem de gênero e sexualidade, principalmente no âmbito escolar; Queria saber, qual foi a reação dos alunos frente a desconstrução ( ao dar resignificado aos contos), já que os esteriótipos estão raizados desde a família?
ResponderExcluirLeandro Cordeiro da Silva
Olá Simone, parabéns pela sua iniciativa e projeto. Achei incrível, a forma como abordoou e trabalhou a desconstrução de esteriótipos, levando o aluno a sentir-se protagonista da sua visão da história.
ResponderExcluirOi Simone, parabéns pelo seu projeto, belo texto!
ResponderExcluirGostaria de saber se dentro da atividade voce encontrou certa resistencia da parte dos alunos, e como foi a recepção deles com a proposta? Observa-se que muitos foram receptivos e demonstraram entusiasmo na realização de seus contos.
Jessica Aparecida Lukavy
Olá, adorei o seu trabalho e sua proposta para a sala de aula, achei muito criativo e necessário, visto que precisamos mudar constantemente a forma como ensinamos. Gostaria de saber como foi a recepção dos meninos diante dessa atividade? Porque geralmente as meninas são mais abertas a este tipo de trabalho.
ResponderExcluirJúlia Ribeiro Nicolodi
Primeiramente queria elogiar o trabalho e sua temática, gostei muito das ideias e organização do mesmo e sua iniciativa com os alunos. Como apontado no decorrer do texto o estudo e a análise sobre os contos de fadas como narrativas que influenciam diretamente no pensamento de crianças e a forma como vivem, pensam e reagem socialmente torna se necessário para o ensino e para a formação de mentes críticas, com isso, gostaria de pensar em como trabalhar temas em combate aos abusos sexuais, pedofilia e assédio em sala de aula, indo mais além do já citado: “Chapeuzinho que entregou o lobo às autoridades por pedofilia.”?
ResponderExcluirTífanne do Nascimento Araújo