Maristela Carneiro e Vilson André Moreira Gonçalves


INTERSECÇÕES HISTÓRICAS E GÊNERO EM MULHER-MARAVILHA (PATTY JENKINS, 2017)



O cinema comercial não é estranho ao filme histórico. Algumas das primeiras super-produções cinematográficas foram épicos espetaculares como Quo Vadis (Enrico Guazzoni, 1910) e Intolerância (D.W. Griffith, 1916). Dito isso, não são apenas os “filmes de época”, ao menos não no sentido mais restrito do termo, que apoiam suas narrativas em discursos de historicidade. Obras de outros gêneros empregam a “autoridade” da narrativa histórica em suas tessituras para fins de ambientação, desenlace narrativo e apresentação estética.

Até mesmo blockbusters hollywoodianos, formas de entretenimento frequentemente mais dirigidas para o impacto visual que para tramas de grande complexidade, podem recorrer à supracitada autoridade da disciplina histórica. A tendência dos filmes de super-herói, que marca de forma indelével a fase mais recente do cinema comercial estadunidense, apresenta sua cota de diálogos entre esse modelo e o filme histórico; um dos casos mais emblemáticos dessa intersecção é Mulher-Maravilha (Patty Jenkins, 2017).

Concebido como parte do universo cinematográfico conhecido como DCEU (DC Extended Universe), o filme de Patty Jenkins situa sua narrativa na Europa de 1917, ao fim da Primeira Guerra Mundial, apresentando sua reflexão estética e narrativa acerca do conflito. Ao fazer isso, a obra, que também é um dos raros exemplos de filme de super-herói protagonizados por uma personagem feminina, coloca em perspectiva as relações de gênero e o modo como o cinema convencionalmente as representa.

Para analisar essas representações, faz-se pertinente delinear os conceitos que estruturam essa modalidade midiática. O filme histórico, conforme compreendido aqui, é a produção que adere às convenções narrativas que buscam elaborar um discurso audiovisual com a conotação de passado.  Entretanto, todo filme é um filme histórico, visto que, como apontado por Napolitano (2011, p. 67), tem algo a dizer a respeito do contexto de sua produção. Dito isso, nem todo filme é produzido com a intenção de situar-se em uma conjuntura histórica específica, e este é o local do filme histórico enquanto modalidade narrativa ou gênero. O gênero fílmico, por sua vez, é uma categoria diegética inteligível para públicos e criadores (ALTMAN, 1999, p. 15-16), uma “gama de expressão” para os cineastas e uma “gama de experiência” para os espectadores (SCHATZ, 1981, p. 22), caracterizando-se como um repertório de signos convencionais que permitem saber qual é o tipo de história que está sendo contada.

E o gênero fílmico histórico, como definido por Rosenstone (2015, p. 33), utiliza o discurso histórico como ponto crucial de sua coerência temática, concentrando-se em “pessoas documentadas ou criando personagens ficcionais que são colocados no meio de um importante acontecimento ou movimento”. Em vista dessas considerações, o presente texto se dedica a observar como Mulher-Maravilha se estrutura estética e narrativamente para apresentar seus temas ao público, tendo como pano de fundo marcas de historicidade como pontos fulcrais de seu enredo.

Mulher-Maravilha no cinema: histórico da presença da personagem e sinopse
Criada na década de 1940 pelo psicólogo William Moulton Marston e pelo ilustrador Harry George Peter, a Mulher-Maravilha veio a se tornar uma das personagens mais reconhecíveis do gênero super-herói nas histórias em quadrinhos, sendo ainda representada em produções animadas, jogos eletrônicos e em uma série televisiva da década de 1970 (FIGURA 1). Entretanto, enquanto outras figuras conhecidas dos quadrinhos, como Superman e Batman recebiam múltiplas interpretações cinematográficas, a princesa das amazonas não recebeu uma versão na tela grande até Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Zack Snyder, 2016), produção na qual aparece como coadjuvante.


FIGURA 1: Pôster do seriado da década de 1970.
FONTE: http://imdb.com

No ano seguinte, o filme solo da personagem chegou às telas. A trama narra em pinceladas amplas as origens do povo sobre-humano ao qual a protagonista pertence, as amazonas da ilha de Themyscira. Todavia, seu foco principal é a saída de Diana desse contexto e seu confronto com o “Mundo dos Homens” - forma pela qual as amazonas, uma cultura exclusivamente composta por mulheres semidivinas, referem-se aos mortais que residem além de suas fronteiras.

O confronto em questão se inicia quando as praias de Themyscira são atingidas por um espião estadunidense em fuga, Steve Trevor, e os soldados alemães que estavam em seu encalço. As amazonas vencem os soldados com relativa facilidade, mas não sem a morte de algumas guerreiras. Trevor é interrogado pela rainha Hipólita, e fala sobre a guerra na Europa e o que o levou a chegar até aquele território.

As amazonas, até então reclusas por opção, adquirem ciência da escala monstruosa do conflito que acomete o Mundo dos Homens. Diana, filha de Hipólita, acredita que uma guerra tão pavorosa só poderia ser fruto da vontade do deus grego Ares, e assume para si a tarefa de matá-lo, acreditando que isso daria fim à carnificina.

Mulher-Maravilha inicia, portanto, com uma protagonista outsider, estranha ao palco do conflito, mas decidida a transformar este cenário, ainda que acompanhada de Trevor, que representa a humanidade que contrapõe a dimensão semidivina da própria heroína. Diana é otimista, até mesmo ingênua, e seu heroísmo não é desconstruído ou dúbio. A postura de Diana como salvadora é absoluta, mesmo quando guiada por uma motivação equivocada – crer que os homens entram em guerra apenas por causa da influência perniciosa de uma divindade. Dito isso, os vilões, Ares, o General Ludendorff e a Doutora Veneno, também são absolutos, indivíduos guiados pelo desejo de dominar e destruir. O tom singelo e maniqueísta da narrativa se preserva ao longo da produção: ao fim do filme, a heroína supera sua ingenuidade, mas a mensagem que ela deixa é inquestionavelmente positiva.

A estética, por sua vez, apesar de predominantemente verossímil, emprega cores fortes e efeitos visuais impactantes, especialmente para expressar o contraste entre a positividade da heroína e a desolação do mundo que ela deve salvar. Nesse sentido, conforme elaborado no tópico a seguir, é inescapável que a configuração estética trabalhe com as tensões que emanam das relações de gênero abordadas no filme, ainda que de forma superficial, cômica ou metafórica.

As Amazonas e o mundo dos homens
A noção de gênero, como afirma Scott (1995, p. 86), é uma categoria que se constrói primariamente a partir das diferenças percebidas entre os sexos. Entretanto, segundo a autora, a cadeia de relações derivadas dessas percepções é imensamente mais complexa que uma distinção biológica, à medida que incorpora um vasto histórico de complexas relações de poder.

Assim, ao compartimentar seus cenários entre os polos compostos por Themyscira e o Front, ou o Mundo dos Homens, o filme de Jenkins, não obstante fantástico, dialoga com problemas de gênero do mundo real. As amazonas, narra Hipólita ao início do filme, foram criadas pelos deuses para ensinar a humanidade a viver em paz, mas sua sabedoria foi rejeitada, e por isso elas receberam seu próprio paraíso terrestre, onde poderiam viver à revelia das guerras dos homens. 

À narrativa em voz over de Hipólita é contraposta uma série de pinturas animadas, aparentemente de moldes da arte neoclássica, as quais utiliza como recurso para explanar à filha (e ao público) a guerra passada que resultou na morte da maior parte dos deuses e no banimento de Ares, pouco antes do deus supremo, Zeus, abrigar as amazonas no paraíso destinado a elas.
A cenografia paradisíaca de Themyscira reforça sua aura mística e seu status especial. Além do aparentemente isolamento geográfico e mágico que a oculta de seres humanos comuns, ela parece ser uma amálgama de paisagens intocadas, vegetação exuberante, fauna tropical, quedas d’água, arquitetura monumental e estatuária reminiscentes da Antiguidade Clássica. Nas cenas que se passam na ilha, a fotografia é dominada por verdes, dourados e cores quentes.

Dirigindo-se à Europa com Trevor em uma embarcação (personagem com o qual mais tarde desenvolverá um vínculo mais íntimo e afetivo), Diana tem um vislumbre das concepções de moralidade comuns ao Mundo dos Homens: ele demonstra desconforto ao se deitar com ela por não serem casados. A noção contratual e exclusivamente heteronormativa de amor, casamento e sexualidade que ele lhe apresenta parece ser recebida com estranhamento ao longo do diálogo.

O Mundo dos Homens no qual eles aportam, em oposição à ilha das amazonas, é lúgubre e melancólico. Predominam os azuis e cinzas. Prevalece a umidade, a neblina e a poluição; poucos espaços parecem claros, limpos ou bem preservados. Ironicamente, a tecnologia pós-industrial da Europa do início do século XX é mais dilapidada que a antiguidade encapsulada de Themyscira. O primeiro contraponto estético para a ilha das amazonas é a metrópole nebulosa de Londres, que Diana descreve como “horrenda”.

Ali Diana é apresentada a Etta Candy, a secretária de Trevor, com quem deve ir comprar “roupas adequadas”, já que seria muito conspícua utilizando uma pitoresca armadura amazônica naquele cenário. Ela se choca primeiro com o tipo de trabalho servil que Candy faz para Trevor, depois com as roupas que lhe são apresentadas. Ela questiona como mulheres poderiam lutar usando trajes como aqueles, alheia à noção de que, no Mundo dos Homens, espera-se que mulheres assumam papeis secundários. Isso se torna perceptível para a protagonista quando, ao acompanhar Trevor até uma reunião do Conselho de Guerra, ela tenta se fazer ouvir e é tratada como impertinente por falar sem que alguém tenha lhe dirigido a palavra antes.

De modo geral, o sexismo naturalizado neste contexto, inclusive entre os amigos e comparsas de Trevor, faz com que praticamente todos os homens da trama, com exceção de Ares, duvidem das intenções e habilidades da protagonista, descartando suas ações a princípio e taxando-a de precipitada, louca ou excessivamente emotiva. Essa naturalização se torna ainda mais visível quando se considera que minutos antes se descortinava diante do espectador uma próspera cultura de semideusas.

O contraste entre a terra natal de Diana e o mundo que ela ambiciona salvar se torna mais agudo à medida que o filme se desloca para o esquálido front, na Bélgica, onde se dará o clímax da narrativa. Ali, o cenário não é apenas insalubre, mas de completa destruição e estagnação. Em parte, nestes casos, a ambientação se pauta por parâmetros similares aos de um drama de época ou um filme de guerra convencional. As representações da Londres do início do século XX e das trincheiras do Front Ocidental são parte da “textura histórica necessária” a um filme transcorrido no passado. Como salienta Jonathan Stubbs (2013, p. 17-18), mesmo filmes vagos acerca da época em que a trama se desenrola e que tomam liberdades em relação ao período retratado, precisam apresentar signos de historicidade.

Entretanto, é inegável que, além do papel de contextualização, a formulação cênica e a caracterização dos personagens servem à geração do contraponto entre o fantástico de um mundo de deuses e a dureza da realidade que Diana enfrenta, e, portanto, aos temas tensionados ao longo da narrativa. Como afirma Burke (2004, p. 200), o filme histórico, que não é menos cinematográfico em razão de seu discurso de historicidade, mobiliza sentimentos, e não apenas uma corrente coesa de fatos ou conjunturas pretensamente precisas.

Por exemplo, quando está prestes a partir para uma missão no front, Diana se depara com soldados britânicos feridos retornando do conflito no continente: homens feridos e aterrorizados com o que testemunharam. Veteranos que perderam braços e pernas em conflitos reais foram utilizados como figurantes nessa cena, a fim de reforçar a tensão e a atmosfera da cena (BUCKLAND, 2017). Essa composição traduz em imagens a percepção de que a guerra em andamento é um conflito sem esperanças, sem heróis e de proporções inimagináveis. Deste modo, o filme simultaneamente introduz Diana e o espectador a este mundo no qual a guerra não é um tópico glorioso, mas o auge da desolação e do terror.

Adiante, essa percepção é reforçada quando é informada que o sofrimento nas trincheiras se arrasta há anos sem que qualquer avanço real tenha sido feito. A reação de Diana, crente em sua função como redentora em meio àquele conflito, é emergir da trincheira como Mulher-Maravilha (FIGURA 2), entrando em combate de forma decisiva e expondo de forma espetacular o contraste entre o mundo fabuloso de onde veio das amazonas e o universo verossímil e desencantado da frente de batalha. Os tons de vermelho, prata e dourado do traje e das armas de Diana são uma reminiscência dos valores e dos aspectos mais fantásticos de Themyscira, colocando-se em oposição ao panorama desolado do Mundo dos Homens, com seus cinzas e azuis.


FIGURA 2: Mulher-Maravilha emerge da trincheira.
FONTE: Mulher-Maravilha (Patty Jenkins, 2017)

Diana é em si é uma reminiscência de seu mundo, este local, cuja fartura e beleza emanam dos próprios deuses, um referencial moral para a heroína quando ela combate os males que afligem os mortais. Quando Diana decide abandonar a ilha para salvar o mundo dos homens da destruição, sua mãe afirma que “os homens não a merecem”, mas ela opta por trocar a existência idílica e reclusa para viver em um mundo que acredita precisar dela. A Mulher-Maravilha se dirige ao mundo dos mortais porque considera sua intervenção uma responsabilidade moral.

Este componente de inabalável nobreza e desprendimento da personagem é salientado de forma especialmente dramática quando Ares exige que ela observe a humanidade atentamente e constate sua mesquinhez e feiura. Apesar disso, ela opta por salvar o Mundo dos Homens, insistindo em apegar-se aos seus melhores aspectos e aspirações.

Considerações
Em meio ao núcleo temático do filme, uma questão se sobressai: há lugar para uma amazona no Mundo dos Homens?

Essa pergunta inicial convoca outra. Qual é o espaço ocupado pelas mulheres em narrativas de ficção histórica? E, dado que frequentemente são peças importantes na formação do senso de historicidade das pessoas familiarizadas com as mídias, se esse espaço é exíguo, ínfimo, o espectador questionaria qual é o posto das mulheres no início do século XX do modo como Diana questiona?

A primeira questão também pode ser reelaborada nos seguintes termos: há lugar para mulheres no cinema? Os filmes de super-heróis, como inúmeros outros formatos midiáticos de sucesso, são uma seara predominantemente masculina. Mulher Maravilha é um caso relevante por abrir portas para uma protagonista feminina, mas também para uma diretora, e para outros filmes que, ao buscar emular seu sucesso nesse mérito, criarão mais espaço para heroínas na mídia.

Como afirma Matos (2005, p. 21-22), o feminino e o masculino se constroem um em função do outro, em uma cadeia de representações nas arenas do social, do econômico e do cultural. A ciência dos processos pelos quais convenções acerca do feminino e do masculino são formadas permite encontrar formas de mantê-las em estado de indagação e de revisão, de modo que mais heroínas possam emergir das trincheiras, por vezes horrendas, da cinematografia.

Referências
Maristela Carneiro é professora da UFMT, junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea - ECCO. Doutora em História pela UFG.
Vilson André Moreira Gonçalves é professor da SEDUC/MT e digital influencer, administrador da página História da Arte com o Tio Virso (@hadevirso). Doutor em Comunicação e Linguagens pela UTP.

ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: BFI Publishing, 1999.
BUCKLAND, Danny. Soldiers who lost arms or legs appear in war films to lend realism to scenes. Mirror. 23 Set. 2017. Disponível em: <https://www.mirror.co.uk/news/uk-news/soldiers-who-lost-arms-legs-11225096>. Acesso em: 13 de Fev. de 2019.
BURKE, P. Testemunha Ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004.
MATOS, M. I. S. de. Âncora de emoções: corpos, subjetividades e sensibilidades. Bauru: Edusc, 2005.
NAPOLITANO, M. A escrita fílmica da história e a monumentalização do passado: uma análise comparada de Amistad e Danton. In: CAPELATO, M. H.; MORETTIN, E.; NAPOLITANO, M.; SALIBA, E. T. (orgs.). História e cinema: duas dimensões históricas do audiovisual. São Paulo: Alameda, 2011.
ROSENSTONE, R. A. A história nos filmes, os filmes na história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
SCOTT, J. Gênero: uma Categoria Útil de Análise Histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, p.71-99, 1995. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/1210/scott_gender2.pdf>. Acesso: 10/09/2017.
SCHATZ, Thomas. Hollywood Genres: Formulas, Filmmaking and the Studio System. Nova York: Random House, 1981.
STUBBS, Jonathan. Historical Film: A Critical Introduction. Nova York: Bloombsury, 2013.

55 comentários:

  1. Gostei bastante do seu tema e do seu texto, vou agora à pergunta: Historicamente, o que você considera que colaborou em primeiro lugar para que uma geração que cresceu assistindo e sendo fã da Mulher-Maravilha seja tão misógina e com taxas tão elevadas de feminicídio?
    Vi recentemente a ministra Damares usando máscara da Mulher-Maravilha nessa pandemia. Não parece que ela sabe que Diana é bissexual, feminista, pagã, contra o patriarcado e intencionada a MUDAR o cenário do dito "Mundo dos Homens". O que pode ter se perdido no caminho, afinal?
    Eu tenho consciência de que a questão do "empoderamento" foi se aprimorando com o tempo, mas é difícil entender o apagamento desses pontos importantes da mente das pessoas. Isso fica até mais amplo quando observamos gente pedindo a volta da ditadura no momento atual. O que é necessário nas conexões entre cinema e História para enfrentar a desigualdade de gênero? Sabe-se que a desconstrução não é total logo de cara, já que, em HQs mais antigas, Steve tenta forçar Diana a se casar. Faltou algo em Mulher-Maravilha? Se sim, o quê?

    Gabriela Santos Ribeiro

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    1. Olá Gabriela! Agradecemos os questionamentos.

      Pensamos que é importante observar que, quando tratamos de arte/mídia/entretenimento, muitas pessoas são capazes de dissociar a experiência da apreciação da vivência de suas vidas. Admirar uma personagem com esses valores em uma obra fílmica não implica em necessariamente abraçá-los, especialmente quando as pessoas assistindo a produção se encontram em lugares de poder que naturalizam situações de opressão. Também é possível apreciar uma obra seletivamente, interessando-se apenas por alguns aspectos estéticos e técnicos sem atentar para os temas subjacentes a ela.

      Além disso, o filme, as HQs e demais meios impõem limites aos mencionados temas, pois os equilibram com outras prioridades, como o impacto visual, a agilidade da narrativa e o apelo às sensibilidades dos espectadores. Esse nível de "ruído" pode muitas vezes se sobrepor e impedir que alguns espectadores captem certos aspectos da narrativa, especialmente aspectos que eles não estejam dispostos a ver.

      É complexo ditar o que uma obra deve ou não fazer, visto que entramos aí no respeito da criatividade autoral, mas certamente é possível cobrar que uma obra como "Mulher-Maravilha", tão decisiva por ser uma das únicas do gênero a apresentar uma protagonista feminina, seja mais assertiva. Também é fundamental compreender que assistir filmes, como qualquer forma de apreciação artística, não é um exercício estritamente espontâneo, e o exercício da apreciação cinematográfica no meio educacional possivelmente formaria espectadores mais críticos e atentos ao teor político do discurso inerente às narrativas apresentadas - e assim talvez não se deixem levar por qualquer máscara, mas desejem saber mais sobre as pessoas que estão atrás desses recursos - nos filmes ou na vida política.

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  2. Gostei muito do texto e após ler caiu a ficha de que realmente há uma pouca quantidade de mulheres representadas em filmes heróicos como nesse caso. Sabemos que a Mulher Maravilha é um agrande símbolo de empoderamento feminino, sendo assim há tambem outras mulheres fortes mas que ficam em segundo plano como a Viúva negra e a mulher do Tony Stark, ambas da sequência de filme dos vingadores. Pode-se dizer que esse segundo plano é dado pelo receio da aceitação do público se elas tivessem um filme com elas protagonizando?

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  3. Gostei muito do texto e após ler caiu a ficha de que realmente há uma pouca quantidade de mulheres representadas em filmes heróicos como nesse caso. Sabemos que a Mulher Maravilha é um agrande símbolo de empoderamento feminino, sendo assim há tambem outras mulheres fortes mas que ficam em segundo plano como a Viúva negra e a mulher do Tony Stark, ambas da sequência de filme dos vingadores. Pode-se dizer que esse segundo plano é dado pelo receio da aceitação do público se elas tivessem um filme com elas protagonizando?

    (Anteriormente Houve uma falha minha na qual não me identifiquei, desculpa)


    Anna Jullia Santana Marques Ferreira

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    1. Bem, "Mulher-Maravilha" é realmente um caso raro. Poucas produções do gênero protagonizadas por personagens femininas a antecedem, sendo elas "Supergirl" (1984), "Mulher-Gato" (2004) e "Elektra" (2005), nenhuma das quais desfrutou de sucesso junto ao público ou boa recepção crítica. "Mulher-Maravilha", por outro lado, teve grande êxito. É válido notar que embora não faltem super-heroínas nos quadrinhos, são relativamente poucas as personagens amplamente conhecidas entre não-leitores; dentre elas, a Mulher-Maravilha ocupa um lugar de destaque. Para as empresas que desenvolvem filmes do gênero, apostar em personagens menos conhecidas, especialmente em vista de resultados anteriores, é visto como um risco. O sexismo sistêmico também é um componente fundamental: o senso comum já ditou em outros momentos que as mulheres não tinham interesse em filmes do gênero, e portanto não haveria urgência em contemplá-las como setor do público. Há mudanças em curso nesse sentido, como se pode avaliar pelo investimento dos Estúdios Marvel na figura da Capitã Marvel e no filme em produção da Viúva Negra, mas o processo ainda é lento - excessivamente lento.

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  4. excelente texto, principalmente levando em conta que nos filmes de contexto heróico até o momento ainda não tinha um filme, voltado exclusivamente a uma heroína. Com uma boa aceitação do público, quais os principais impactos dentro da industria cinematogáfica?

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  5. em relação ao empoderamento feminino, como este filme pode ser utilizado nas aulas de História, seja no contexto histórico ou feminista?

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  6. Amplamente discutidos nos debates envolvendo questões de gênero. Como esse filme é relevante nos parametros sociais envolvendo essa questão?

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    1. Olá Adriano! Sim, Mulher-Maravilha é o primeiro filme de super-heroína a ser um sucesso de público e crítica - como observamos na resposta ao comentário da Anna Jullia. A repercussão pode ser notada nos investimentos posteriores em filmes protagonizados por outras heroínas, como Capitã Marvel, Aves de Rapina e Viúva Negra - ainda não lançado, diante da pandemia. O filme pode ser discutido em sala em vista das representações que faz do período e da espacialidade, como a guerra de trincheiras e as atitudes convencionalmente esperadas de homens e mulheres. À parte o modo como retrata o contexto, o filme pode ser analisado pela leitura que faz dos mitos gregos, bem como pela concepção de uma sociedade utópica - Themyscira. A relevância do filme reside principalmente no protagonismo de Diana enquanto heroína de ação, no modo como são representadas as amazonas e na discussão que traz acerca das relações conjugais e do que é esperado das mulheres em sociedades contemporâneas.

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  7. Olá, gostei bastante do tema. Acho incrível a junção de História e Cinema tanto como recurso pedagógico para utilizar em sala de aula como também sendo utilizado como uma fonte histórica. Queria saber como foi a construção do texto e como vocês refletiram sobre a problemática, vi que vocês utilizaram textos do historiador e professor Napolitano, e sobre isso gostaria de saber se atualmente no Brasil existem mais autores que se dediquem a História e Cinema? Ou é difícil encontrar pequisas ligadas a está temática?
    Abraços!

    Ass: Cibeli Grochoski

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    1. Olá Cibeli! Há um número considerável de teses e dissertações sobre o tema, que ainda apresenta muito espaço para crescimento. Recomendo que procure por publicações de Miriam de Souza Rossini, Eduardo Morettin e Renato Mocellin.

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  8. Amei a temática do seu texto, afinal eu amo a mulher Maravilha e o que ela representa para sociedade. Bom o fato de filmes com personagens heroicos femininos terem sido produzido rescentemente enquanto personagem como Batman já foi adptado inúmeras vezes para o cinema e isso mostra de certa forma como a indústria cinematográfica é de certa forma preconceituosa ? E seria a Mulher Maravilha que abriu as portas para as grandes produções como capitã Marvel, o filme solo da Viúva Negra que seria lançado esse ano mas foi adiado, e projetos como uma série derivada da Wanda (feiticeira escarlate) outro membro feminino dos vingadores ? E pq o filme da mulher gato também não é tão bem visto como o da mulher Maravilha, seria a falta de recursos, o que teve em a mulher Maravilha ? E por fim, mesmo tendo toda essa representatividade feminina nos filmes as mulheres tem que lutar pelos seus direitos ? afinal Gal GadoT tendo vindo a público revelar que ganhou menos que seus parceiros nos filmes em que participou

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    1. Olá Julio Cesar! O sexismo na indústria cinematográfica, assim como em outras áreas, ainda é muito naturalizado, e isso pode ser notado na assimetria que você apontou. Mulher-Maravilha pode ter inaugurado um fenômeno novo nesse gênero de filmes, mas não há como prever se o mercado seguirá nesse sentido, embora tudo indique que seja um nicho de consumo com muito potencial. O filme da Mulher-Gato parece ter falhado em apelar às sensibilidades do público, já que sua estética foi muito questionada na época, bem como a narrativa e a caracterização dos personagens, em especial pelo distanciamento da protagonista em relação à sua equivalente nos quadrinhos. Quanto à questão da luta por direitos, bem, ela é incessante, e deve ser, visto que cadeia de opressões do gênero é ampla e persistente na indústria.

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  9. Olá, tenho um interesse especial por esse tema, pois estou trabalhando em um projeto sobre o filme "Capitã Marvel" e percebo que "Mulher-Maravilha" foi melhor recebido pelo público. Por qual razão você acha que se dá essa diferença?
    Thayline de Freitas Bernadelli

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    1. Olá Thayline! Bem, pensamos que há muitos fatores envolvidos aqui. Talvez o fato de Mulher-Maravilha ter sido lançado antes, acompanhado por uma onda de entusiasmo em um gênero muito suscetível à exaustão, devido à sua prevalência do cinema contemporâneo, tenha interferido na sua recepção. Também é inevitável que, sendo filmes de super-heroínas tão raros, Capitã Marvel tenha sido comparado a Mulher-Maravilha, comparação essa frequentemente desfavorável, dada a competitividade que caracteriza as dinâmicas da cultura pop e dos fandoms. Ademais, não se pode subestimar o clima de controvérsia que circundou Capitã Marvel desde sua fase de pré-produção, com a escolha de Brie Larson para o papel titular. A atriz revelou uma postura militante em prol da representatividade feminina em filmes de super-herói e imagens mais positivadas do feminino (o que nos deixa esperançosos, mas também cria uma horda de fãs raivosos) - haja vista o sexismo difundido entre o público desse gênero cinematográfico, as declarações de Larson geraram polêmica, o que pode ter sido um fator decisivo no aspecto da recepção.

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  10. Grata pelo texto, muito bom para refletir sobre as obras cinematográficas e o papael feminino em tal contexto.Professores Maristela e Vilson é correto afirmar que no início do século xx , o mundo era dos homens e não das mulheres , porque até para estudar as mulheres sofriam obstáculos , para ingressar por exemplo em medicina não era tão comum , em outras aréas também ,o filme da Mulher -Maravilha talvez seria um chamado para a sociedade em que os deuses da terra de Diana para tentar salvar o mundo dos homens que sucumbiam de guerra em guerra ? Fico no aguardo para melhor compreensão do texto.

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    1. Olá Vanessa! É importante salientar que filmes exercem várias funções. Dentre elas, a mais comum é entreter e comover os espectadores, de modo que nós não caracterizaríamos a película como um "chamado". Dito isso, o fato de ser uma peça de entretenimento não desqualifica os temas apresentados em Mulher-Maravilha. Toda obra de arte pode ser discutida em termos daquilo que representa e das escolhas estéticas que faz para tecer essa representação, e obras que discutem relações de gênero, no passado e/ou no presente, sempre têm algo a acrescentar.

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    2. Bom dia professores, se não podemos compreender como um "chamado" como posso trabalhar com filmes em sala de aula ?Quero compreender pois, acho muito interessante usar as obras cinematográficas eem sala de aula. Fico no aguardo
      Grata!

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    3. Olá novamente Vanessa! Pensamos apenas que a palavra "chamado" é um pouco forte, mas não estamos questionando o uso dos filmes em sala. Como estudiosos de obras fílmicas e de seus usos para diferentes práticas de ensino e aprendizagem nas humanidades, interpretamos essas obras como recursos e como oportunidades, não só para diversificar a dinâmica das aulas, mas também para estimular os alunos a apreciar criticamente a linguagem cinematográfica.

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  11. Maristela E Vilson
    Amei a temática do texto, sou fã da mulher maravilha dos quadrinhos e da tv década de 1980(kkkkk) Mas me chama atenção no que falam sobre o processo de como o filme histórico e até os HQs são fontes históricas, que ultimamente tem sido bem pesquisadas. o que me inquieta é que talvez não ténhamos projetos de formação continuada em ensino de história que abordem a temática.
    abraços

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    1. Olá Jaque! Como não amarmos Mulher-Maravilha? ^^
      Se por um lado temos uma diversificação das fontes nas pesquisas atuais, por outro ainda encontramos dificuldades em difundir o uso destes materiais como recursos válidos para o ensino de história. À medida que as pesquisas sobre o uso de HQs e cinema no campo da história se multiplicam, cabe agora pensar em como introduzir essas investigações no espaço da sala de aula, especialmente em vista da popularidade desses meios. Temos pensado os estágios na graduação (que levam de volta ao espaço da escola as ideias dos-das discentes) e os mestrados profissionais na área do ensino de história (não apenas mas em especial) como esferas potenciais que contribuem para estimular a formação continuada dos professores. Claro, as políticas públicas também precisam ajudar - e as humanidades costumam sofrer consequências nem sempre favoráveis ou amistosas de acordo com as ideias daqueles que empunham as canetas do poder e da lei.

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  12. Texto muito interessante!
    Ao trabalharmos o cinema no ensino de História precisamos relacioná-lo ao contexto histórico de sua produção. Quais aproximações e/ou distanciamentos identificou nos dois momentos históricos, do surgimento da personagem e a da produção de 2017?

    Janaina Jaskiu

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    1. Olá Janaina! Agradecemos a pergunta. É válido notar que quando a Mulher-Maravilha emergiu nas HQs, as editoras especializadas expressavam grande interesse em atingir o público feminino, e o criador da personagem, William Moulton Marston, explorou de forma muito efetiva esse interesse, visto que obteve sucesso em uma empreitada considerada incerta na época: produzir uma figura tão icônica e duradoura quanto Superman e Batman. Um ponto de convergência com o contexto mais recente é certamente o interesse mercadológico. Da mesma forma que os editores da década de 1940, a indústria cinematográfica contemporânea busca formas de atrair o público feminino. Entretanto, como se pode notar pelo desequilíbrio entre heróis e heroínas nas telas, essa busca ainda é incipiente. Uma diferença significativa entre os contextos de 1941 e 2017 é que, na presente conjuntura, os quadrinhos já contam com dezenas de heroínas muitas delas inspiradas pela própria Mulher-Maravilha, e a dificuldade agora, mais que criar personagens, é adaptar para uma nova linguagem figuras já consagradas nas páginas, muitas delas notórias, por exemplo, por trajes e poses extremamente sexualizadas, detalhes que precisam ser revistos e repensados.

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  13. Ótimo texto, sua temática é extremamente relevante e visto nas dificuldades de abordar a temática gênero em sala de aula, em relação ao filme como vocês abordariam ele no ambiente escolar? em qual faixa etária?
    Joyce da Costa Maciel

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    1. Olá Joyce! O filme foi lançado no Brasil com censura 12 anos. Com efeito, o filme apresenta cenas violentas, que podem ser perturbadoras para espectadores mais jovens, mas não são explícitas em vista dos padrões atuais do cinema e da TV. A violência que está presenta pode inclusive ser uma pauta de discussão junto aos alunos, visto que, em vários momentos ela se presta a problematizar a aura de heroísmo em torno da guerra, tratando do sofrimento dos civis, por exemplo. Como com qualquer outro material do tipo, convém abordá-lo não como algo ilustrativo, mas tensionando sua narrativa e seus aspectos visuais, instigando os alunos a fazerem perguntas, levantando o que levou a diretora a manusear o filme como manuseou, como teria sido feito o trabalho de reconstrução histórica por cenógrafos e figurinistas, como os atores trabalharam para formular suas performances, e assim por diante.

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  14. Saudações, Maristela e Wilson,
    Gostei muito do texto e principalmente das questões de reflexões no final. Os espaços de poder das Heroínas nos filmes ainda são pouco discutidos, ainda menos o são nas Hq’s, infelizmente a sexualização de seus corpos ainda é uma constante presente nos dois espaços (Cinema e Hq’s). assim como o romance, mesmo na continuação Liga da Justiça, vemos a necessidade de achar um par para a Mulher Maravilha, no caso o Batman. Como vocês analisam a questão do romance presente no filme? De certa maneira é como se Trevor a guiasse a se tornar quem é, seria a velha necessidade de dá importância a uma figura masculina, para não afastar o público masculino das telas?

    Nila Michele Bastos Santos

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    1. Olá Nila. Esse peso que é dado às relações românticas heteronormativas, especialmente quando se trata de histórias protagonizadas por uma mulher, é um aspecto problemático do cinema hollywoodiano mainstream que não dá sinais de enfraquecimento. É também possível notar que, quando comparados os trajes usados pelas amazonas em Mulher-Maravilha e em Liga da Justiça, os do último filme são mais sexualizados. A personagem de Trevor, uma espécie de "avatar" do público que é apresentado à semideusa no papel titular, já é uma presença tradicional nos quadrinhos, e pode ter sido usada no filme como uma forma de não negligenciar/contrariar o público masculino, assim como pode ter sido empregado pela diretora para colocar em pauta o lugar tradicionalmente ocupado pela mulher em filmes protagonizados por homens, isto é, o de parceira incondicional que se sacrifica em nome da sua glória - embora a diretora humanize muito mais Steve do que a média dos diretores costumam fazer com suas coadjuvantes.

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  15. Géssica Cristiane Ferreira Pinto19 de maio de 2020 às 22:28

    Boa Noite Maristela e Wilson adorei a temática. E realmente a mulher maravilha ganhou destaque no mercado cinematográfico assim como a Viúva-Negra que são grandes ícones... Filmes ou séries que envolve a luta de mulheres são perfeitos para analisar o contexto histórico, no caso Primeira guerra mundial, avanço da medicina...é muito bom! Os jovens já estão percebendo que as mulheres começaram a ganhar espaço nas telas de cinemas,porém ainda tem muito o que avançar visto que mesmo as mulheres sendo maioria no mercado cinematográfico os homens ainda continuam a ganhar mais destaque. Os filmes de heróis são uma ótima ferramenta para da uma aula diferenciada para os alunos principalmente do ensino básico.

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    1. Olá Géssica. Com certeza é importante que as mulheres ocupem mais espaços em todas e que isso seja notado. O cinema, assim como outras mídias, é uma parte significativa da vida das pessoas, especialmente das imagens que elas nutrem em seu arcabouço pessoal de símbolos. Não se pode subestimar essa representatividade crescente (esperemos) na área criativa.

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  16. É inquestionável que os filmes do gênero quadrinhesco vieram para ficar e ocupar um local aberto com os primeiros filmes dos X-Men e do Homem-Aranha (Tobey Maguire). Todavia, constata-se uma reformulação dentro destes mesmos filmes que é a abertura para as personagens femininas como é o caso da Mulher Maravilha, Harlequina, e dos vindouros Mulher Maravilha 1984, Viúva Negra, e Thor: Love and Thunder. Disto isso, o que a autora e autor pensam de sessões de cinema exclusivas para o público feminino, como foi o caso de uma rede de cinemas estadunidense e gerou polemicas nas redes sociais durante o lançamento do filme aqui em debate, Mulher Maravilha?

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    2. Olá Leonardo! Ao que parece, essa abertura é mais ampla. Como outros mercados, o cinema de super-herói se abriu para contemplar públicos outrora negligenciados, Iniciativas como as sessões exclusivas são parte dessa estratégia de diversificação e ampliação, e constituem um fenômeno muito interessante. Essas sessões são dignas de nota porque, no senso comum, filmes de super-herói são tratados como "coisa de meninos", uma percepção ainda processo de desconstrução. A polêmica certamente já era esperada, até em razão da mencionada desconstrução. Como frequentemente discutimos, públicos historicamente privilegiados muitas vezes interpretam seu privilégio como algo natural, e tomam a inclusão de outros como "perda de território" ou "opressão reversa".

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  17. Por meio desse filme, como o aluno pode ser incentivado a entender a realidade social, por meio de empatia e alteridade à mulher maravilha, de modo que o filme seja visto de forma crítica e não apenas pelo enredo ficcional?
    Cassia Cristina Aleixo de Moraes

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    1. Olá Cassia! Excelente pergunta. Qualquer obra artística trazida para a sala de aula deve vir acompanhada de um trabalho de apreciação crítica. É importante que o filme não seja usado como ilustração, mas que sua exibição seja precedida por observações do docente, interrompida para colocações adicionais quando necessário, e sempre sucedida por questionamentos e, quando possível, um debate, a fim de situar o lugar ocupado pela obra na aula e oportunizar um exercício crítico.

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  18. Olá, muito bom o texto!

    É interessante notar o quanto filmes sobre heroínas sempre tiveram seu potencial desacreditado pela indústria cinematográfica – é só repararmos a ínfima quantidade de longas protagonizados por mulheres, em relação aos de heróis. Os próprios quadrinhos de super-heróis são mais voltados para garotos, se analisarmos a forma como são criados. Nesse sentido, a partir de Mulher-Maravilha de Patty Jenkins, seria também possível discutir a necessidade de uma representação feminina “real” na cultura pop, ao invés da visão deturpada tradicional?

    Dalgomir Fragoso Siqueira

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    1. Olá Dalgomir! Bem, toda obra pode e deve ser lida a partir de múltiplos ângulos. Seria benéfico que os filmes mais apreciados da cultura pop, além de consumidos como entretenimento, servissem de plataforma para discutir problemas reais. Mídias repercutem junto aos públicos, mas os públicos, a partir do que escolhem assistir ou não, também atingem a indústria, instigando mudanças. Por isso é fundamental nós, que ocupamos os espaços da atividade acadêmica, estejamos dispostos a promover discussões.

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  19. Olá Dalgomir! Bem, toda obra pode e deve ser lida a partir de múltiplos ângulos. Seria benéfico que os filmes mais apreciados da cultura pop, além de consumidos como entretenimento, servissem de plataforma para discutir problemas reais. Mídias repercutem junto aos públicos, mas os públicos, a partir do que escolhem assistir ou não, também atingem a indústria, instigando mudanças. Por isso é fundamental nós, que ocupamos os espaços da atividade acadêmica, estejamos dispostos a promover discussões.

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  20. Leitura fascinante, muito obrigada por disponibilizar o texto,gostaria de saber através da perspectiva do fato que o personagem mulher maravilha ter sico co-criado por um psicologo a "intenção" não iria além da perspectiva de uma heroína do sexo feminino, e sim de uma representatividade,ate então nula das mulheres em histórias desse gênero, talvez com intuito psicológico de motivar e incentivar mulheres a assumir papeis ate então predominantemente masculinos?
    Lilian Daiane Both

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    1. Olá Liliana! Como você apontou, William Moulton Marston já era um psicólogo conhecido antes mesmo de começar a escrever quadrinhos. Como é do conhecimento de muitos fãs, a aparência da personagem foi baseada em Elizabeth Holloway e Olive Byrne, com quem Marston mantinha uma união poliafetiva. A ideia de uma civilização exclusiva de mulheres, da qual a Mulher-Maravilha emerge para salvar o "Mundo dos Homens", vinha de sua crença na influência positiva de lideranças femininas fortes. Componentes como os braceletes e o laço, por sua vez, vinham de sua vinculação com bondage e submissão sexual, que ele considerava práticas sadias. Somado ao fascínio pelo mito grego das amazonas, esse caldeirão de componentes foi um sucesso, não há como negar. Dito isso, atualmente é difícil determinar se os editores tinham a intenção de utilizar a expertise (e influência) de Marston como psicólogo ou se estavam apenas interessados em sua escrita criativa - que se provou muito lucrativa.

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  21. Texto muito interessante, acredito que é importante questionar os espaços de protagonismo feminino em todos os âmbitos, no cinema blockbuster recentemente em filme de super heróis, a representação feminina se fez necessária por um manifesto de parte da indústria, tanto em frente as câmeras como nos bastidores, pensando e desenvolvendo estes personagens, visto que assim a hiper sexualização e apagamento seriam impedidos, a passos lentos, a indústria vai se modificando. Neste sentido o questionamento é importante, vocês impulsionariam o uso deste filme na sala de aula? Quais aspectos metodológicos seriam interessantes abordar para a faixa etária de ensino fundamental?

    Att,
    Suzi De Andrade Leite

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    1. Olá Suzi! Pensamos que o filme pode ser utilizado em sala de aula de forma construtiva, não apenas porque trata de questões de gênero e do contexto histórico em que se passa de uma forma artística e instigante, mas porque desconstrói muitos dos valores dominantes dos blockbusters que consumimos sem grandes questionamentos. Questionamentos que seriam pertinentes, como: a guerra é algo glorioso ou algo horrível? Os homens atentam para seu posto de privilegio na sociedade? Eles buscam compreender que sua postura em relação às mulheres, mesmo que inadvertidamente, encoraja a opressão? Qual é o lugar das mulheres no cinema? Qual é o lugar das mulheres na história?
      Perguntas como essas, pensamos, são provocações muito pertinentes na formação dos alunos quando se busca uma educação mais questionadora e emancipatória, desde que o trabalho em sala seja o de sempre estimular o indivíduo a, quando colocado diante de uma obra de arte, fazer-lhe perguntas.

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  22. Texto essencial e importante na conjuntura atual!
    Atualmente na internet está rolando uma crítica à hiperssexualização das personagens femininas das histórias/filmes de heróis, colocando os personagens masculinos em trajes e situações “naturalizaras” no caso feminino. Como o filme Mulher-Maravilha conseguiu superar o arquétipo comum de construção de personagem sexualizado? Além disso, como trazer uma problemática como a orientação sexual de Diana, recentemente confirmada como Bissexual pelo roteirista, no mundo dos heróis predominantemente heteronormativo?

    att,
    Gabriele Maia Bezerra

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    1. Olá Gabriele! Agradecemos as perguntas. Essa crítica acerca da naturalização da heroína/vilã sexualizada não é recente e nunca deixa de ser pertinente, embora já tenhamos avançado muito nesse campo. Um ponto importante acerca do tratamento dado à personagem no filme é que os figurinos das amazonas em geral, e de Diana em particular, são curtos e justos como é convencional, mas não há grande número de close-ups ou outros tipos de tomadas que erotizem seus corpos de forma ostensiva, o que é uma prática muito comum em blockbusters e geralmente aceita como norma. Como apontamos em uma resposta acima, é possível notar a significativa diferença entre os tratamento dados aos corpos das amazonas em Mulher-Maravilha, dirigido por uma mulher, e em Liga da Justiça, filme dirigido por um homem. Quanto à orientação sexual de Diana, parece-me que essa declaração foi feito por Greg Rucka, que escrevia os quadrinhos da Mulher-Maravilha na DC em 2016, e não do roteirista do filme. Mesmo antes da declaração de Rucka, muitos leitores já especulavam que Diana era bissexual. Com efeito, um dos pontos mais problemáticos do filme é que esse aspecto da personagem não é feito evidente, ainda que seja insinuado no diálogo entre a protagonista e Steve Trevor sobre amor e reprodução - talvez uma medida para não espantar espectadores de sensibilidades mais conservadoras.

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  23. Olá,
    Gostaria de saber, embora filmes como Mulher Maravilha (2017), consigam dar mais visão à figura feminina e ao empoderamento da mulher no cinema, o fato da super-heroína mulher sempre ser apresentada de forma sexualizada, diferente do que acontece com super-heróis masculinos, por exemplo, não acabaria reforçando alguns esterótipos?

    Obrigada,

    Nathálya Ferreira Raseira

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  24. Olá,
    Na opinião de vocês, o que poderíamos esperar do cinema daqui pra frente, no que diz respeito à papeis femininos e à participação de mulheres nos bastidores da produção de um filme.

    Obrigada,

    Nathálya Ferreira Raseira

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    1. Olá Nathálya!
      A exploração do corpo feminino é endêmica no cinema (não apenas nos blockbusters, mas também em dramas, produções alternativas, e mesmo nos filmes convencionalmente classificados como "de arte", estadunidenses ou não), e certamente é algo que precisa ser debatido. Como comentamos nas perguntas mais acima, as críticas do público estimulam mudanças positivas, e é possível notar que a Capitã Marvel, uma produção posterior à Mulher-Maravilha, por exemplo, já traz uma personagem trajada de forma menos exploratória. Essa demanda persistente do público, e as respostas dos estúdios cinematográficos, nos levam a crer que podemos esperar mais mulheres em papeis de destaque no cinema comercial, tanto à frente quanto atrás das câmeras - ao mesmo tempo, um maior destaque às mulheres, esperamos, contribuirá para a diminuição da opressão e a ampliação da resistência e da subversão dessas práticas tão naturalizadas e por vezes tão agressivas.

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  25. Considerando a influência que as histórias de super-heróis possuem entre a juventude na atualidade, e abarcando a perspectiva abordada em sua pesquisa sobre a personagem Mulher-Maravilha e a representatividade feminina e discussão de gênero presente nas revistas em quadrinhos e no formato fílmico, qual a sua proposta para utilização desses documentos históricos em uma metodologia pedagógica?

    Adriana Cardoso dos Santos Pereira

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  26. David Jonas Tavares da Costa22 de maio de 2020 às 23:18

    Olá, ótimo texto
    Considerando que a mulher do início do século XX, já buscava por seus direitos, ainda assim era vista como um gênero de poucas oportunidades, tais como direitos trabalhista, o filme Mulher Maravilha coloca seu gênero como forma de empoderamento feminino, com força de liderança e decisões. Quando Etta Candy, a secretária de Trevor fala pra ela comprar roupas adequadas, Diana questiona como as mulheres lutavam com aqueles trajes da época. O filme baseado historicamente baseado durania 1 guerra mundial, no que ela questiona a "lutar com roupas adequadas", ela se refere também, força da mulher da sociedade por lutar por mais direitos???

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