Susane Rodrigues de Oliveira


MEMÓRIAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA




Introdução
A violência sexual nem sempre despertou os mesmos sentimentos, valores e respostas jurídicas (VIGARELLO, 1998). Como outras formas de violência, ela é indissociável do contexto que a produziu, recebendo diferentes sentidos e tratamentos ao longo do tempo e espaço. Inclusive a vergonha derivada da agressão variou dependendo da identidade da vítima e da imagem que dela se tinha. Tais mudanças nas definições, imagens, tratamentos e limites da tolerância da violência sexual denotam, portanto, a historicidade e a força de suas representações na vida social.

Compreendemos as representações como formas de produção de sentidos para as coisas, trata-se das “palavras que usamos para nos referir a elas, as histórias que narramos a seu respeito, as imagens que delas criamos, as emoções que associamos a elas, as maneiras como as classificamos e conceituamos, enfim, os valores que nelas embutimos (HALL, 2016, p. 21). Enquanto práticas centrais de produção de valores e significados culturais são capazes de regular e organizar nossos comportamentos, subjetividades e diferenças, auxiliando “no estabelecimentos de normas e convenções segundo as quais a vida em sociedade é ordenada e administrada” (HALL, 2016, p. 22). Ao atuar no nível do corpo, as representações remetem também aos modos de ser engendrados no social, constituindo processos de subjetivação, ou seja, referências com os quais os sujeitos podem se reconhecer e se posicionar na vida social. A subjetivação é “o processo pelo qual se obtém a constituição de um sujeito, mais exatamente de uma subjetividade, que evidentemente é uma das possibilidades dadas de organização de uma consciência de si” (FOUCAULT, 1984, p. 137). Assim, partimos do pressuposto de que as representações de violência sexual – difusas nos livros didáticos, nas práticas de ensino, nos sistemas jurídicos, na mídia televisiva, na historiografia, na ciência, no cinema, na música e outros artefatos culturais da contemporaneidade, – tem o poder de orientar práticas sociais, condutas e processos de subjetivação de sexo-gênero, incidindo nas formas de ver, imaginar, interpretar, sentir e tratar essa violência no tempo presente.

Os livros didáticos escolares revelam as expectativas e imaginários coletivos de sociedades escolarizadas, como parte integrante do patrimônio histórico-educativo constituem fontes imprescindíveis para o estudo da cultura escolar, pois permitem a compreensão do passado formativo comum de diversas gerações e dos padrões que determinam modos coletivos de comunicação e de relação com o mundo  (OSSENBACH, 2010, p. 117). Como instrumentos privilegiados de construção das identidades, funcionam também como dispositivos de subjetivação, na medida em que veiculam uma série de representações que nomeiam, descrevem e atribuem valor, significado, identidade, classificação e importância aos sujeitos e suas ações na vida social. Tais representações podem servir de guias, referencias ou modelos para legitimar ou justificar nossos projetos, escolhas, condutas, relações sociais e modos de ser.
É nesse sentido que elegemos aqui cinco livros didáticos de História, aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2018 para o Ensino Médio, como fontes de pesquisa para uma análise histórica das representações de violência sexual que circulam na cultura escolar, especialmente no ensino de história. Trata-se de representações do passado que se apoiam em um conjunto de memórias de violência sexual, especialmente de estupros em cenários de guerra, colonialismo, escravidão e outros conflitos sociais. Afinal, o que quer dizer essa lembrança evocada nas narrativas didáticas? Como as representações de estupros funcionam no interior dos enredos narrativos? Quem são as vítimas e os perpetradores destes estupros? Como as representações de estupros constroem os sujeitos envolvidos nesses acontecimentos, constituindo processos de subjetivação no ensino de história? Que ordem discursiva e epistêmica abarca estas representações do passado?

Enquanto professores/as e historiadores/as entendemos que é necessário analisar e discutir o modo como a violência sexual vem sendo incorporada, rememorada e ressignificada nos livros didáticos de História. “Para que o ensino de história contribua na igualdade entre os sexos e no fim da violência contra as mulheres, é necessário empreender uma desnaturalização de comportamentos e relações humanas que a história nos mostra como dados e não como construções” (OLIVEIRA, 2017, p. 223). Desvelar a historicidade dos sentidos constitutivos de narrativas históricas de violência sexual é parte fundamental de nosso compromisso político com a educação para a transformação das formas misóginas, racistas e sexistas de pensar e agir que ainda produzem a vitimização, a opressão e o sofrimento das mulheres no tempo presente (OLIVEIRA, 2014). Para isso, buscamos apoio teórico em estudos feministas interseccionais (pós-estruturalistas, pós-coloniais, decoloniais e negros), bem como nas noções de representação (HALL, 2016) e subjetivação (FOUCAULT, 1984).

A violência sexual contra as mulheres continua sendo um problema tão sério hoje como foi nos anos 1970. Por isso mesmo, os estudos feministas vem há muito tempo apontando para o caráter patriarcal, racista e sistêmico da violência sexual, colaborando na crítica e historicização de representações e discursos que naturalizam, sexualizam e erotizam tais atos de opressão e até mesmo o assassinato (feminicídio) de mulheres. Com um olhar atento às interseccionalidades do gênero – à raça, classe, etnia e outros marcadores sociais – alguns estudos problematizam a violência sexual como “um conjunto complexo de práticas culturais usadas para impor e manter não apenas o sexismo, mas também múltiplas formas de opressão” (BERTRAM; CROWLEY, 2012, p. 63. Tradução nossa). A realidade vivida do trauma sexual constitui assim uma “representação corporal do poder” capaz de articular as estruturas sistêmicas de exploração e opressão à experiência da agressão e dominação sexual (BERTRAM; CROWLEY, 2012, p. 63. Tradução nossa).

A violência sexual simboliza e expressa uma relação de poder que constrói posições subjetivas para vítimas/femininas e agressores/masculinos. Ao desencadear processos de subjetivação desiguais que engendram e reificam representações de sexo-gênero, funciona ainda como uma tecnologia de gênero (LAURETIS, 1994, p. 212). Lauretis explica que o gênero enquanto representação e auto-representação “é produto de diferentes tecnologias sociais, como o cinema, por exemplo, e de discursos, epistemologias e práticas críticas institucionalizadas, bem como das práticas da vida cotidiana” (1994, p. 208). É nesse sentido que destacamos aqui as práticas de violência sexual, bem como suas representações em memórias históricas e narrativas didáticas escolares, como tecnologias de gênero, pela capacidade de engendrar processos de subjetivação que também sustentam e mantém desigualdades estruturais em nossa sociedade.

Estupros coletivos na Idade Média
Em uma atividade localizada ao final de um capítulo dedicado à cultura, economia e sociedade medieval, no primeiro volume da coleção Olhares da História (VICENTINO; VICENTINO, 2016, v. 1, p. 244), identificamos uma menção aos estupros coletivos em tempos medievais.  A atividade, incluída na seção intitulada “Pratique”, é desencadeada pela leitura do seguinte fragmento de texto historiográfico:

“11. Em um artigo sobre os jovens na Itália medieval, a historiadora Elisabeth Crouzet-Pavan explica:

Os arquivos criminais atestam numerosas práticas anômicas ou criminosas que congregam os bandos de jovens. E essas práticas, em Veneza, são características das horas noturnas. O estupro coletivo, diferente de muitos estupros diurnos cometidos no espaço da cidade ou da casa, inscreve-se no registro dessas violências perpetradas à noite. Os componentes lúdicos que lhe são inerentes, as injúrias e os golpes que o acompanham, seguem as regras gerais que dramatizam a conduta violenta do grupo. O estupro, como todas as outras formas de agressão noturna, prova, no seio do grupo, uma capacidade social baseada essencialmente em critérios de virilidade. A violência contra as forças policiais vale igualmente como proeza viril. A luta é exigida pelas regras da honra quando, de armas na mão, o grupo recusa-se a deixar-se revistar. Mas, com frequência, a briga é voluntária, provocada por uma troca preliminar de insultos ou uma gritaria geral. Sem outra causa a não ser a escolha precisa desse adversário, observa a sentença, cinco ou seis delinquentes atacam as forças policiais do Conselho dos Dez. O jogo se prolonga. Quatro jovens, intimados a entregar suas armas, lutam de espada com um guarda, obrigam-no a refugiar-se numa casa, perseguindo-o até afinal feri-lo. [...] Os primeiros textos regulamentares das Comunas, na segunda metade do século XIII e nas primeiras décadas do século seguinte, lançavam as bases de um controle dos comportamentos. Trata-se então de um primeiro dispositivo de conjunto que, destinado a pacificar a cidade, visava certas práticas, protegendo mais particularmente alguns períodos e alguns lugares. [...]

CROUZET-PAVAN, Elisabeth. Uma flor do mal: os jovens na Itália medieval (séculos XIII-XV). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. História dos jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. v. 1. p. 204-205.

a) O que caracterizava o comportamento dos jovens nas cidademedievais?
b)Como as autoridades lidavam com os bandos jovens que agiam nas cidades?
c)Formem grupos de cinco ou seis pessoas e durante uma semana pesquisem  e selecionem notícias que tratam do jovem hoje na cidade. Que imagem a imprensa constrói do jovem?
d) A maneira como as autoridades lidam com o jovem hoje é diferente ou parecida com a forma como lidavam com eles na Idade Média? Explique.
e)Em sua opinião, a imagem construída pela imprensa traduz com fidelidade a juventude de hoje? Justifique.” (VICENTINO; VICENTINO, 2016, v. 1, p. 244. Grifos nossos).

As atividades propostas em torno do recorte historiográfico abrem importantes reflexões sobre as experiências de jovens urbanos, a partir das representações produzidas pela imprensa, mas deixam escapar a problematização de um tema sensível no tempo presente, os estupros coletivos como forma de violência e idealização de masculinidades dominantes. As questões “c”, “d” e “e”, ao direcionar o debate para o tempo presente, apenas para o modo como as autoridade e a imprensa lidam com os jovens urbanos na atualidade, enfatizam as diferenças e as imagens positivas e negativas dos jovens, deixando escapar não só a possibilidade de historicização de imagens que constroem masculinidades agressoras/estupradoras, como também a atualidade deste tema entre a juventude.

O recorte historiográfico que embassa estas atividades revela que os estupros coletivos nas noites de Veneza eram parte de uma confraria masculina associada à criminalidade, onde a violência sexual contra mulheres e a violência armada contra as forças policiais ganham contornos de jogo e ludicidade na expressão de uma subjetividade viril que serve como prova da capacidade de cumprir as “regras da honra” que fundamentam a identidade do grupo. Ao mesmo tempo em que confere visibilidade a um modelo agressivo de masculinidade, destaca a importante presença de dispositivos normativos de pacificação e controle dos comportamentos naquele contexto. Entretanto, o recorte demonstra que os estupros coletivos, seguidos de golpes e insultos, bem como as brigas e a luta armada nos espaços públicos, como representações de poder viril, fundamentavam o comportamento dos homens em grupo, especialmente, as formas de atuação que exigiam demonstração de coragem, força e honra na capacidade de burlar as normas sociais. Tal representação de virilidade, suscitada pelo campo da representação do estupro, conduz a um imaginário da sexualidade que distingue radicalmente os lugares do masculino e do feminino na história, já que se passa sem qualquer problematização.

O tratamento da violência sexual como uma parte onipresente da história, dificulta a capacidade de nossas/os alunas/os questionarem por que esses eventos ocorreram em tempos e lugares específicos, incluindo o presente. Existe o perigo de assumir uma tendência masculina inata de cometer violência sexual, ao invés de compreender a historicidade desse comportamento, bem como de seus significados e modos de funcionamento na vida social. A naturalização do desejo sexual masculino desenfreado se reflete na indiferença em relação à violência sexual na história. Essa suposição nociva tende a apagar os fatores sociais que tornam esse tipo de violência tão predominante. Ao situar a violência sexual, bem como as masculinidades que a produzem em seu contexto histórico específico, podemos romper com justificativas, para esse tipo de violência, baseadas em supostos princípios biológicos.

Estupros em cenários de escravidão e colonialismo
A coleção História Global menciona que as mulheres negras nas Minas Gerais, em tempos de escravidão, “suportariam uma dupla exploração: sexual e econômica” e que, assim, a “escravidão revelaria uma de suas faces mais severas” (COTRIM, 2016, v. 2, p. 337). Trata-se de uma imagem que fixa um modo de subjetivação das mulheres negras como corpos capazes de “suportar” o estupro e, concomitante, a exploração econômica. Assim, o livro didático parece informado pelos mesmos estereótipos racistas e sexistas que circulam intensamente no cinema, na telivisão, nas músicas e outros artefatos culturais, perpetuando a imagem das mulheres negras como seres fortes e capazes de aguentar, suportar e sobreviver à dor, à exploração e à violência extrema. Como bem disse Bell hooks, “A imagem estereotipada das mulheres negras como fortes e poderosas dominou tanto a consciência da maior parte dos americanos, que até a mulher negra é claramente conformada com as noções sexistas de feminilidade e passividade que ela pode caracterizar como resistente, dominadora e forte. Muito do que foi percebido pelos brancos como um traço amazônico nas mulheres negras foi meramente aceitação estoica de situações que não tivemos poder para mudar” (2014, p. 60).

A imagem de mulheres negras que suportavam a adversidade que nenhuma mulher branca supostamente seria capaz de suportar, constitui-se em um sinal de “força animalesca subhumana” (HOOKS, 2014, p. 59). Trata-se de uma concepção racista/sexista, informada por ideias acerca da natureza feminina negra que emergiram durante o século XIX (HOOKS, 2014, p. 59). Desse modo, o livro didático perpetua uma imagem colonial que tende a naturalizar a violência sexual sofrida cotidianamente por essas mulheres em nossa sociedade, desumanizando-as e excluindo-as como sujeitos de direito humanos. Essa dimensão simbólica e estruturante do estupro, produzida na intersecção entre escravidão e patriarcado, ainda tem efeitos imediatos, pois as mulheres negras são as maiores vítimas de estupro no Brasil.

Sobre colonialismo e estupro de mulheres negras na África, a coleção Cenas da História, ao tratar do tema “Partilha da África”, menciona o “extremo da violência” no Congo, cometida pelos colonizadores belgas no fim do século XIX, ao se permitir “o saque das vilas, o assassinato dos homens e o estupro das mulheres”, estimando que “essas ações chegaram a vitimizar entre 8 a 10 milhões de indivíduos” (GRANGEIRO, 2016, v. 3,  p. 75). Nesse enunciado observa-se que o destino dos homens é a morte, enquanto o das mulheres é o estupro. Essa forma de tratamento do corpo das mulheres até o último limite no que eles podem oferecer, denota uma violência e exploração ainda mais cruel e sem precedentes sobre o corpo de mulheres-colonizadas. Visto como alvo de ocupação e anexação, o estupro de seus corpos expressa uma subjetivação marcada simultaneamente pela diferença de gênero e raça. Esse ato de estupro expressa ainda a subjetivação dos sujeitos brancos-masculinos no poder e no controle do corpo das mulheres-colonizadas, constituindo-se em uma ferramenta do colonialismo patriarcal e racista que ainda persiste no tempo presente.

Em tais memórias de estupros de mulheres negras em cenários de dominação colonial e escravista observamos o caráter eurocêntrico da epistemologia ainda dominante na escrita da história escolar e que incide nas formas de inclusão dos povos afrodescendentes como sujeitos subalternizados e vitimizados. Apesar dos avanços no combate à presença de imagens preconceituosas e estereotipadas nos livros didáticos, colocados pelos critérios de avaliação do PNLD e pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, ainda observamos uma série de preconceitos relacionados à história da África e dos afrodescendentes nos livros didáticos (OLIVA, 2017, p. 49). 

Estupros e prostituição forçada na Guerra de Canudos
Sobre a história do Brasil, uma narrativa sobre a Guerra de Canudos (1896-1897) exposta na coleção Oficina de História, faz menção ao estupro dentre as “cenas de extremo horror” retratadas pelos jornalistas que acompanharam a última expedição militar a Canudos em 1867. Segundo os autores, muitos foram assassinados e tiveram seus corpos queimados, mas “como de horror foi o destino das meninas da comunidade, vítimas de estupro e muitas delas obrigadas pelos soldados a se prostituir” (CAMPOS; PINTO; CLARO, 2016, v. 2, p. 254). A expressão “como de horror” destaca a continuidade e normalidade dessa prática na história. Assim, os estupros e a prostituição forçada expõe uma situação precária de inferiorização, violência, assujeitamento e exploração sexual imposta pelos soldados às mulheres de Canudos. Trata-se de uma representação do estupro coletivo como sanção social, que evidencia não só o poder, a supremacia e as formas de governabilidade patriarcal do Estado brasileiro, mas também as chaves de construção/reprodução de masculinidades viris nas guerras.

Embora os avaliadores do PNLD destaquem que a coleção Oficina de História “incentiva o combate à violência de gênero e ao racismo” (BRASIL, 2017, p. 80), notamos que o enunciado sobre a guerra de Canudos tem sérias implicações na educação para a superação da violência sexista e racista contra as mulheres. Em determinados conflitos armados, os estupros coletivos fizeram parte de campanhas sistemáticas e massivas de terror, e por isso mesmo causam enorme espanto. No entanto, os modos de rememorização destes estupros abrem uma enorme ferida nos livros didáticos, ao fixar imagens de mulheres pobres e afrodescendentes, como a maioria das mulheres de Canudos, em situação de horror, violência, aprissionamento, sofrimento e morte. “Não que o horror não precise ser estudado e conhecido, mas é preciso saber trabalhá-lo. (...) o ensino de questões sensíveis e controversas não tem como objetivo chocar ou apenas dar a conhecer eventos chocantes do passado. O objetivo é suscitar a reflexão dos alunos. É preciso saber passar de fase, nesse jogo: da sensibilização para a reflexão” (ALBERTI, 2014, p. 3).

Enquanto professores/as podemos assumir a tarefa de problematizar o enunciado no livro didático, desvelando também a historicidade de suas memórias e representações. É nesse sentido que podemos lançar, em sala de aula, alguns questionamentos: como as mulheres de Canudos são retratadas no livro didático? Que outras versões dessa história poderiam ser apresentadas? Quais os significados e implicações do estupro e prostituição forçada de meninas naquele contexto? Quem eram aquelas mulheres? Os estupros coletivos são fenômenos restritos às guerras? Afinal, por que se repetem em quase todas as guerras mencionadas nos livros didáticos? Quais as consequências dessa violência para as mulheres?

Estupros nas guerras contemporâneas
A coleção História cita ainda os estupros de mulheres chinesas cometidos pelos soldados japoneses em 1937, durante a Segundo Guerra Mundial, na conquista dos territórios de Nanquim (SANTOS; FERREIRA; VAINFAS; FARIA, 2016, v.3, p. 97). Trata-se de memórias traumáticas e bastante controversas no tempo presente, pois tais atos de violência ainda são interpretados como necessários para “manter a disciplina” das tropas e proporcionar descanso e lazer aos soldados. O corpo destas mulheres aparece como alvo de anexação, como um território a ser ocupado e conquistado, cuja posse sexual devia ser distribuída entre os homens-soldados, como corpo escravo, servil, concubino e de exploração sexual no contexto de guerra.

Segundo Joanna Bourke, o trabalho de historicização do estupro deve se situar “em oposição a explicações essencialistas tais como as da psicologia evolutiva, que defende a existência de uma continuidade da conduta sexualmente violenta, cujas origens remontam a nossos antepassados mais longínquos e que inclusive podem se localizar nos genes (masculinos)” (2009, p. 14. Tradução nossa). Os estupros demandam, portanto, abordagens didáticas que exponham o seu caráter histórico-cultural, tendo em vista o desvelamento de seus mecanismos de re-produção e funcionamento em diferentes contextos. Rejeitando as concepções do estupro como um fenômeno a-histórico, expressas na afirmação de que, por natureza, todos os homens são estupradores em potencial, o ensino de história pode nos mostrar que essa violência tem raízes em questões políticas, econômicas e culturais concretas.

Já a coleção História Global traz um exercício baseado na leitura de um pequeno relato das “monstruosidades” contra as crianças e mulheres judias nos campos de concentração nazista. Uma parte desse relato diz que:

“(...) os sobreviventes se recordam primeiro das crianças. Falam dos bebês arremessados vivos nos crematórios, dos moribundos corroídos pelas doenças injetadas pelo médico de Auschwitz, doutor Josefe Mengele; dos concursos de arremessos de crianças judias entre os guardas da SS. Também falam das mulheres; as mais jovens estupradas repetidamente antes de mortas, seus corpos usados como tochas humanas em fogueiras de mortos – a carne delas, constataram os guardas, queima mais rápido. Quando pergunta-se sobre as pilhas de corpos, as testemunhas lembram de ratazanas mordiscando os cadáveres; de prisioneiros ainda vivos lutando para se expelir de uma montanha de mortos; de mulheres grávidas abortando fetos. E do cheiro, dizem todos.
II Guerra Mundial. Fábrica da Morte [Revista Veja Online, 2016]”. (COTRIM, 2016, v. 3, p. 333. Grifos nossos).

Novamente o horror vem à tona, mas com o objetivo de ressignificar tais atos de estupros como “monstruosidades”. Trata-se de uma representação que retira o caráter humano e histórico da violência sexual desencadeada naquele contexto. Conferir sentidos a essa experiência dos estupradores não é tarefa fácil. A desumanização selvagem dos estupradores estabelece uma distinção e barreira fundamental entre “eles” e “nós”. No entanto, como explica Bourke, a humanização dos estupradores, é ao mesmo tempo algo positivo e perturbador: “positivo porque os retira da categoria de monstros inumanos e, por conseguinte, faz com que suas ações sejam suscetíveis de mudança; perturbador porque nos arriscamos a familiarizar e acostumar em excesso com o terrível dano que provocam” (2009, p. 14. Tradução nossa). Atentando para este problema semântico, é importante que os livros didáticos tenham um cuidado na forma de nomear ou adjetivar os estupradores, pois as maneiras estereotipadas de vê-los e tratá-los (como monstros, irracionais ou loucos) não permite um enfrentamento mais amplo desta violência na vida social, já que tende a encerrar este problema no indivíduo, tratando-o (ou punindo-o) de modo isolado ou individual, desconsiderando a persistência desse problema como um fato social realimentado cotidianamente por meio de imagens, memórias e práticas que subjetivam masculinidades dominantes na posse e violência de corpos femininos.

A partir da leitura do depoimento acima, o livro pede aos/as estudantes que debatam com os colegas as seguintes questões: “Quais seriam as origens da violência e da maldade?” (COTRIM, 2016, v. 3, p. 333). O Manual do Professor chama nossa atenção pela resposta que confere a essa indagação, ao classificá-la como pessoal e explicar que se trata de um tema “complexo e de amplitude filosófica”, propondo que “os/as estudantes devem conversar com os/as professores/as de Filosofia e Sociologia e, tanto quanto possível, ler autores que tratam do tema (Konrad Lorenz, Hannah Arendt, Sigmund Fred etc)” (COTRIM, 2016, v. 3, p. 333). Não por acaso, retira-se da história a responsabilidade de ofecer qualquer explicação para essa violência qualificada como monstruosa, demonstrando dificuldades no enfrentamento de temas sensíveis evocados por relatos perturbadores de violência e injustiça.

As narrativas didáticas fixam a política de gênero das guerras contemporâneas, construindo masculinidades/dominantes e feminilidades/ dominadas, tendendo a naturalizar a relação da masculinidade com a guerra, bem como o estupro como forma de dominação e resolução de conflitos. A violência de gênero como representação das injustiças e crueldades em uma guerra tende a reduzir o protagonismo das mulheres na história, pois seguem representando-as de forma negativa e estereotipada, perpetuando a desigualdade e violência de tipo simbólico que ainda predomina em nossa sociedade. É isso que podemos também observar na imagem abaixo, de uma mulher nua e dominada nos braços de um homem, junto a uma narrativa do livro História (volume 2) sobre as guerras pela unificação da Itália no século XIX. A legenda diz: “Nesta imagem, a mulher representa Roma; o homem que a segura Vítor Emanuel II; e o clérigo, ao chão, o papa Pio IX.


IMAGEM 1: Desenho do século XIX. Autor desconhecido.
Fonte: SANTOS; FERREIRA; VAINFAS; FARIA, 2016, v. 2, p. 142.

Esta imagem serve como expressão do poder, vitória, força e superioridade dos homens na história. A violência sexual contra as mulheres revela assim a sua dimensão expressiva, colaborando na banalização de uma prática de terror às mulheres. Ao orientar o nosso olhar e sentimentos para a normalidade, indiferença e tolerância em relação às memórias de dominação sexual, as narrativas didáticas ensinam a não ter empatia com as vítimas, funcionando também como “pedagogias da crueldade” (SEGATO, 2016) contra as mulheres.

Para finalizar...
Após a Segunda Guerra Mundial, os livros didáticos, especialmente dos países envolvidos nesse conflito, se tornaram alvo de vigilância e controle por parte de instituições internacionais, como a Unesco, pelo receio de que visões estereotipadas de grupos e populações pudessem instigar novamente uma guerra entre nações (BITTENCOURT, 2011, p. 489). Hoje, as memórias de estupros de guerra devem suscitar também preocupações e avaliações. Trata-se de memórias domesticadas por histórias capazes de despertar sentimentos misóginos e desejos de dominação sexual das mulheres como forma de guerra, governo, resolução de conflitos e demonstração de poder e masculinidades viris; constituindo-se em potentes referenciais políticos onde o principal inimigo e oponente passa a ser o corpo das mulheres, especialmente de mulheres racializadas.

É necessário que os livros didáticos não deixem de mencionar as resoluções internacionais para os crimes de guerra, onde o estupro passa a ser caracterizado como forma de tortura e genocídio (SÁNCHEZ, 2016, p. 229). Além disso, a educação para a superação da violência sexual, demanda a elaboração de narrativas didáticas que desnaturalizem as razões, os significados e as implicações dessa violência, desvelando também as conexões da violência de gênero com outros eixos de dominação (raça, classe, etnia, etc.). A ênfase na violência sem a devida visibilidade do protagonismo, resistência e identidade das mulheres que sofrem esta violência na história, tende a cristalizar imagens e memórias de vítimas/femininas e agressores/masculinos. Faz-se necessário trazer memórias de atuação das mulheres nos mesmos cenários onde a violência sexual aconteceu, para conferir-lhes também o status de sujeito histórico nos enredos narrativos. Podemos, por exemplo, mostrá-las como combatentes ou ativistas em organizações que tentam intervir em processos de paz, a favor do desarmamento e prevenção às guerras (SÁNCHEZ, 2016). Embora alguns livros didáticos tragam outras formas de representação das mulheres nas guerras, ainda que de modo controverso, destacando o seu protagonismo nas batalhas como combatentes, vivandeiras (SANTOS; FERREIRA; VAINFAS; FARIA, 2016, v. 2, p. 221) ou enfermeiras (GRANGEIRO, 2016, v. 3, p. 144), observa-se que os modos de rememorização dos estupros de guerra integram narrativas que tendem a fixar a violência que vitimiza e inferioriza as mulheres. Mais um motivo, portanto, para que o ensino de história assuma o compromisso de ser uma instância de valorização de subjetividades positivas e plurais para as mulheres, no reconhecimento da memória como princípio fundador da construção da igualdade de gênero.

Referências
Dra. Susane Rodrigues de Oliveira é historiadora e professora associada do Departamento de História da Universidade de Brasília, atuando na área de Teoria e Metodologia do Ensino de História. Este trabalho é resultado da pesquisa de pós-doutorado realizada na Unicamp (2018) e no Instituto de Investigaciones Feministas da Universidad Complutense de Madrid (2018-2019).

Uma versão mais ampla deste texto foi publicada na Revista Tempo e Argumento (Udesc). Cf.
http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311282019466.

ALBERTI, Verena. O professor de história e o ensino de questões sensíveis e controversas. Palestra proferida no IV Colóquio Nacional História Cultural e Sensibilidades, realizado no Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Caicó (RN), de 17 a 21 de novembro de 2014.
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CAMPOS, Flávio de; PINTO, Júlio Pimentel; CLARO, Regina. Oficina de História. 2ª ed., São Paulo: Leya, 2016.
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OLIVEIRA, Susane Rodrigues de. “Guerras e violência sexual nos livros didáticos de história brasileiros: análises e orientações pedagógicas feministas”. In. STEVENS, Cristina; SILVA, Edlene; OLIVEIRA, Susane de Oliveira, ZANELLO, Valeska. Relatos, análises e ações no enfrentamento da violência contra mulheres. Brasília: Technopolitik, 2017, p. 131-167.
OSSENBACH, Gabriela. Manuales escolares y patrimonio histórico-educativo. Educatio Siglo XXI, Revista de la Facultad de Educación de la Universidad de Murcia, vol. 28, n. 2, 2010, pp. 115-132.
SANTOS, Georgina dos; FERREIRA, Jorge; VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro. História. 3ª ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2016.
SÁNCHEZ, Carolina Jiménez. Las mujeres en los conflictos armados: conflicto, proceso de paz y posconflito. España: Universidad de Málaga, 2016.
SEGATO, Rita Laura. La guerra contra las mujeres. Madri: Traficante de Sueños, 2016.
VICENTINO, Bruno; VICENTINO, Cláudio. Olhares da História: Brasil e Mundo. 1ª ed. São Paulo: Editora Scipione, 2016.
VICENTINO, Bruno; VICENTINO, Cláudio. Olhares da história: Brasil e mundo. São Paulo: Scipione, 2016. v. 1.
VIGARELLO, Georges. História do Estupro: violência sexual nos séculos XVI-XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1998.

54 comentários:

  1. Há algum tipo de enfrentamento a essas coletâneas de livros didáticos ou até aos grupos que os aprovam essas coletâneas para o PNLD? Se sim, como se da esse enfrentamento?
    Pergunta de Beatriz Honório Moreira

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    1. Oi Beatriz, creio que qualquer enfrentamento dos livros didáticos deve partir principalmente dos/as professores/as em sala de aula, que devem ter o cuidado de abordar os livros didáticos como fontes de análise e que chamam uma série de questionamentos e reflexões. Não há um livro didático perfeito, pois a história nunca é neutra ou portadora de verdades absolutas. Os/as estudantes também precisam aprender a questionar e situar (historicamente) os valores e interesses envolvidos nas narrativas dos livros didáticos. O trabalho de avaliação destas coletâneas é muito complexo, porque há várias expectativas sobre eles, então acaba deixando passar aquilo que se mantém como tradição na cultura escolar brasileira. Por isso, é muito difícil que se consiga uma mudança radical dos livros didáticos. Se não podemos mudá-los totalmente, também não convém jogá-los no lixo, porque isso só iria encobrir ainda mais os problema relacionados à nossa cultura histórica sobre a violência sexual. Enquanto professores/as precisamos enfrentar as representações e práticas sexistas da história em sala de aula, junto aos/às estudantes, problematizando-as e historicizando-as.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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    2. Beatriz, e agora temos mais um agravante. O trecho referente à superação da violência contra mulheres foi retirado do último edital do PNLD (2019), deixando de ser critério para avaliação das coleções. Os desafios ao ensino de história serão ainda maiores!

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    3. Sim, penso que na educação como um todo, temos vários agravantes com as novas mudanças inclusive na BNCC. Vivemos tempos sombrios e de grandes retrocessos, com um ministro da educação elitista, racista e burro.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Quando eu estava na escola, infelizmente, eu não me lembro de ter tido muitas aulas que falassem sobre a História das Mulheres, mesmo o básico do básico, embora os livros didáticos trouxessem algumas informações acerca da mesma. Tanto a História das Mulheres quanto um tema tão delicado como é a violência sexual ainda não são abordados ou são abordados sem tanta profundidade nos colégios. Como é explicitado no artigo, isso é muito perigoso, pois essa abordagem superficial pode passar ideias equivocadas que vão acarretar em uma formação de conhecimento igualmente superficial. Como podemos fazer, no contexto em que vivemos, para que esses assuntos sejam gradativamente mais falados dentro das salas de aula?

    Isabela Nogueira da Silva Grossi

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    1. Oi Isabel, os livros didáticos de história produzidos nas últimas décadas mudaram muito em relação aos do passado, por isso não podemos ignorar certos avanços na incorporação de novos sujeitos na história. Porém, não basta só incluir novos sujeitos, como as mulheres, é preciso que haja uma mudança nos enredos narrativos que ainda permanecem centrados nas ações de sujeitos masculinos, brancos, hetero, cristãos e burgueses, sempre a enquadrar os outros de forma inferior ou coadjuvante, justificando exclusões e opressões sociais. Como professores/as de história, teremos que enfrentar o tema da violência sexual, especialmente, nos conteúdos relacionados às guerras contemporâneas, onde os estupros são frequentemente mencionados. As guerras ainda estão entre os temas mais privilegiados na história escolar, e constituem uma oportunidade de problematizar e historicizar essa questão em sala de aula. Ao assumir este compromisso com o questionamento das representações veiculadas nos livros didáticos, abrimos cada vez mais espaço para a inclusão do tema da violência contra as mulheres de modo atrelado aos conteúdos principais. É importante também que para isso os/as professores/as participem das discussões sobre as políticas curriculares oficiais. Precisamos estar atentos e resistir aos projetos de lei que criminalizam ou perseguem os/as professores/as na abordagem das questões de gênero em sala de aula.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  4. Olá,
    Gostaria de saber se questões como essa que foi apresentada, sobre a violência sexual nos livros didáticos de história, é algo que necessita de mais estudos por parte dos historiadores, e como proceder em sala de aula ao falar sobre um assunto tão delicado?

    Daiane da Silva Vicente

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    1. Oi Daiane, infelizmente o tema da violência sexual é pouco ou raramente estudado pelos/as historiadores/as. Para a realização deste estudo me apoiei, especialmente, nos estudos de feministas negras, indígenas, pós-estruturalistas e pós-coloniais, que tem trazido enormes contribuições teóricas e historiográficas a uma abordagem mais complexa e multidimensional da violência contra as mulheres. Sendo assim, acho muito importante que os/as professores/as de história leiam também os trabalhos produzidos por pesquisadores/as feministas, isso com certeza irá enriquecer as abordagens de questões de gênero nas aulas de história. Por se tratar de um assunto tão delicado e sensível é muito importante que os/as estudantes possam discutir abertamente os acontecimentos de violência sexual que aparecem na história, e esse debate deve ser conduzido de modo a desnaturalizar as concepções e práticas que podem constranger meninas, mulheres e LGBTs em sala de aula. Revelar a historicidade da violência sexual, mostrando o seu caráter histórico e de construção social é fundamental na transformação das formas de ver, sentir, pensar e tratar esse problema no tempo presente. No atual cenário político, a abordagem do tema da violência sexual na história se torna ainda mais desafiadora, diante das perseguições movidas por grupos conservadores e fundamentalistas nos acusam de "ideologia de gênero". Por isso, precisamos de muita força e coragem para resistir e lutar pela educação democrática no Brasil.

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  5. Parabéns pelo texto! Sou professora de escola pública e considero muito importante suas reflexões a respeito das memórias de violência sexual nos livros didáticos de história. Apesar dos livros mais recentes incluírem novos sujeitos, como as mulheres, essa abordagem se dá de forma descontextualizada do todo. E vejo que esse conteúdo além de pouco refletido nos livros, também é pouco abordado pelos professores, por falta de conhecimento. Como trazer essa discussão aos professores para que possam realmente refletir esse assunto sem cair na conformação do tema e repetição de estereótipos?
    Obrigada!
    Ana Joana Zimolong.

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    1. Oi Ana Joana, uma maneira de estimular os/as professores/as a abordar criticamente os conteúdos dos livros didáticos, é investir na formação inicial e continuada, e também na produção de pesquisas que resultem em publicações mais acessíveis a estes professores/as. Nisso é importante estimular uma mudança de atitude dos/as professores/as diante do conhecimento histórico escolar. Os livros didáticos de história, assim como as fontes históricas e outros recursos pedagógicos, não podem ser tratados como portadores de verdades absolutas. Além disso, não podem ser abandonados ou ignorados em sala de aula, porque são portadores de uma cultura histórica muitas vezes dominante e que necessita ser problematizada em sala de aula. É claro que essa mudança de atitude representa, sobretudo, o rompimento com uma formação docente tecnicista que relegou a escola e os/as professores/as ao papel de meros transmissores/reprodutores de conhecimentos produzidos por outros. Porém, nos últimos anos temos avançado um pouco, especialmente nos cursos de licenciatura, estimulando os/as professores/as a se reconhecerem também como pesquisadores/as enquanto sujeitos de produção de saberes históricos escolares. É muito importante estimular a autonomia e produção de saberes docentes, mesmo em um período tão conturbado politicamente com a inibição e criminalização da liberdade docente em sala de aula.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  6. Bom dia, Professora Susane!É possível citar, no Brasil, conquistas no que se refere a uma construção de igualdade de gênero nos livros didáticos nos últimos anos?
    HÉLIO SECRETÁRIO DOS SANTOS

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    1. Oi Hélio, sim claro, alguns livros didáticos do PNLD de 2018 trazem capítulos sobre os direitos conquistados pelas mulheres nas últimas décadas, especialmente com a Lei Maria da Penha. Tais abordagens representam avanços significativos. Porém, tais narrativas ainda carecem de abordagens mais históricas, pois tendem ao presenteísmo, ainda omitem os processos que movimentam estas conquistas e, especialmente, as razões históricas da persistência da violência contra as mulheres no tempo presente. Precisamos tratar estas conquistas como resultado de lutas e processos que envolvem a atuação das mulheres, para valorizar e fortalecer tais conquistas no tempo presente. Haja vista que, no atual cenário político, vemos nossos direitos ameaçados e questionados por grupos conservadores e fundamentalistas, com riscos a sérios retrocessos.

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    2. Pesquiso a categoria gênero e sempre nas minhas aulas na Educação Básica promovo discussões sobre o tema!! Obrigado e parabéns!!!

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  7. Olá Susane
    Adorei ler o texto, me suscitou muitos pensamentos na composição do livro didático, pois mesmo com o PNLD atestando a necessidade de inserir as abordagens sobre as mulheres, ainda vemos discursos tão equivocados e que silenciam, trazem estereotipos. Tenho trabalhado com algumas coleções que reforçam representações das mulheres negras, haja visto que ainda temos livros que seguem uma lógica de 'folclorização' das mulheres negras. Talvez seja um recorte importante também na tua pesquisa.

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    1. Oi Jaqueline, com certeza este é um recorte importante e necessário. Analisar as formas dessa "folclorização" dos saberes e práticas de mulheres negras na história, implica em desvelar também a violência simbólica e epistêmica promovida também pelos livros didáticos e a educação escolar. Diante de tantas modalidades de violência contra as mulheres identificadas nos livros didáticos, tive que reduzir o foco para dar conta de tantas análises, então optei apenas pelas narrativas históricas referentes às relações de poder, conflitos, guerras, colonialismo, escravidão e governo. Mas não deixarei de mencionar essa folclorização nas discussões da violência epistêmica. Obrigada!

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  8. Parabéns pelo trabalho!!! Percebemos a violência contra a mulher ao longo da História, essa é relaizada de várias formas tanto físicas quanto psicológicas, foi destacado no seu texto os estupros realizados nos vários períodos da História, não podemos esquecer que durante a Dutadura militar váriasmulheres foram estupradas de forma coletiva, em celas, salas de interrogatórios tendo a presença de vários indivíduos, isso abalou com o psicológico dessas mulheres e ao analisar os relatos podemos concluir que a violência era legitimada por parte dos estupradores como uma forma de obter informações. É de grande importância destacar essa questão mostrando a violência que essas mulheres sofreram, entretanto apenas alguns livros didáticos destacam a participação das mulheres na História e o que essas passaram, nesse caso cabe ao professor repassar ao aluno os vários lados da História. Mas esse assunto sobre a violência e abuso sofrido pela mulher é pouco discutido nos colégios e as vezes se torna algo muito superficial, no seu ponto de vista quais pontos de partida devem ser tomados para a discussão desse assunto.

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    1. Com certeza! Na análise dos livros didáticos eu realmente procurei muito pela violência contra as mulheres na Ditadura Militar, mas isso ainda é bastante silenciado. Há enunciados bastante generalizadas sobre a violência da ditadura, mas nada fica explícito sobre o modo como ela atingia especialmente as mulheres. Acho ainda que esse silenciamento não é por acaso, pois há um conteúdo político na abordagem dessa violência que pode levar ao reconhecimento da atuação política e guerrilheira de muitas mulheres naquele período, o que acabaria rompendo com o predomínio de imagens que apenas vitimizam as mulheres - mostrando-as como sujeitos passivos e assujeitados a todo tipo de violência na história. As mulheres raramente aparecem como sujeitos de resistência política. São silêncios significativos que devemos enfrentar em sala de aula, buscando fontes alternativas para sua abordagem em sala de aula.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  9. Parabéns pelo texto! Uma reflexão muito importante. Posto aqui mais um desabafo/comentário/desafio. Como trabalharmos a questão da violência sexual em relação às mulheres sem incorrermos em anacronismos?
    “Não que o horror não precise ser estudado e conhecido, mas é preciso saber trabalhá-lo. (...) o ensino de questões sensíveis e controversas não tem como objetivo chocar ou apenas dar a conhecer eventos chocantes do passado. O objetivo é suscitar a reflexão dos alunos. É preciso saber passar de fase, nesse jogo: da sensibilização para a reflexão” (ALBERTI, 2014, p. 3).
    Os questionamentos que faz na sequência desta citação podem responder, mas minha inquietação é como o ensino de História pode contribuir para a equidade de gênero?
    Realmente usando apenas a reprodução de conteúdos canônicos e práticas pedagógicas que releguem discussões como a que apresentou ao campo da Filosofia e Sociologia, é que não será.
    Pesquisa muito relevante.

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    1. Oi Janaina, seus questionamentos são bastante pertinentes e estão em sintonia com a minha pesquisa. Para não incorrer em anacronismos no modo de interpretar a violência sexual em outros tempos/espaços na história, precisamos nos desvencilhar de abordagens generalizadas e universalistas em torno do "ser mulher" e da binariedade e hierarquia do sexo/gênero. Precisamos partir do princípio de que sexo e gênero são construções históricas e culturais, e que assim variam no tempo e espaço. Esse é um problema que os estudos feministas interseccionais e decoloniais vem apontando em relação aos estudos de gênero estruturalistas e eurocêntricos que tendem a ver a opressão das mulheres como algo universal, apenas como resultado de relações patriarcais, desconsiderando as interseccionalidades do gênero à raça, etnia, nacionalidade, religião, idade, orientação sexual, classe, etc. Então, para escapar destas generalizações no campo da história das mulheres podemos nos apoiar nos estudos de feministas negras, indígenas, pós-estruturalistas e decoloniais, que ajudam a compreender o caráter complexo e multidimensional da violência contra as mulheres na história.

      Respondendo à sua segundo questão, creio que o ensino de história pode contribuir na equidade de gênero na medida em que revela para os/as estudantes o caráter histórico e de construção do sexo/gênero. Não basta apenas dizer que se trata de uma invenção humana, no ensino de história temos que trazer exemplos concretos de como isso foi construído e difundido em sociedade. Trazer exemplos de outras épocas e lugares onde as mulheres experimentaram a igualdade com os homens também é fundamental. Na minha tese de doutorado sobre as mulheres Incas tentei trazer essas "histórias do possível" para as identidades e relações humanas, histórias que permitem ampliar nossas concepções e expandir a vida. Afinal, memórias e histórias fundam nossas identidades.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  10. Que texto incrível, completo de dados e informações importantes. Durante os meus estudos, não sabia desses casos de violência sexual e muito menos de relatos presentes em livros didáticos, acredito que são fatos que não são muito comentados dentro das escolas e em trabalhos escolares uma vez que praticamente não obtive contato nenhum com esses fatos. Desse modo, gostaria de saber quais são as mudanças que considera de maior importância dentro do ambiente acadêmico e escolar para que todas essas histórias de abusos, estupros e violências de gênero passem a ser contadas e lembradas e qual seria a melhor forma de dar continuidade e memória para todos esses acontecimentos que já se encontram em esquecimento?

    ANA CAROLINA ALVES TIBÚRCIO

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    1. Oi Ana Carolina, para mim é muito importante ouvir a opinião e questões colocadas por vocês professores/as na Educação Básica, já que atuo na formação de professores no curso de Licenciatura em História da UnB. A questão é que estes acontecimentos de violência sexual estão aparecendo com mais frequência nos livros didáticos, não há um silenciamento sobre eles, porque nas guerras mais contemporâneas os estupros estão se tornando práticas centrais de dominação, impactando cada vez mais os corpos das mulheres, veja os casos mais recentes, por exemplo, promovidos por grupos extremistas do Estado Islâmico na Síria, no Iraque e no Congo. Mesmo com o surgimento de acordos e tratados internacionais sobre crimes de guerra e violação de direitos humanos, com prescrições para a proteção das mulheres nas guerras, observamos que nos conflitos armados, desde o século XX, tem piorado a situação para os civis e especialmente para as mulheres, com o aumento dos estupros e abusos sexuais. Diante disso, o mais importante é re-significar tais acontecimentos no ensino de história, para que não sejam vistos e tratados de modo banal, normal ou natural. Nesse sentido, é preciso estimular os/as professores/as a problematizar e historicizar os acontecimentos de violência sexual que aparecem nos livros didáticos ou atrelados aos temas curriculares. Para isso é importante incluir os estudos de gênero nos cursos de formação inicial e continuada de professores/as, e também difundir publicações, entre os/as professores/as, com os resultados mais recentes de pesquisas sobre estes temas. Para desnaturalizar tais acontecimentos de violência sexual na história, os/as professores/as precisam de argumentos, conhecimentos e fontes favoráveis.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  11. Após a leitura e reflexão, foi possível perceber um grande estabelecimento de sentidos, tratamentos e explicações para os abusos, violência e estupro, desse modo, gostaria de saber se existe uma grande variação desses sentidos e possíveis “motivos” para o acontecimento ou se os mesmos estão dentro de uma mesma linha de raciocínio, tendo a imagem feminina sempre como inferior e sem direitos.

    ANA CAROLINA ALVES TIBÚRCIO

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    1. Na história das guerras, a violência sexual ganha vários sentidos e significados, isso varia de acordo com cada perspectiva de abordagem. Veja os estudos da antropóloga Rita Segato sobre feminicídio e as novas formas de guerra. Porém, nos livros didáticos há o predomínio de uma narrativa onde o estupro se passa de modo banal, como a normalidade ou sub-produto da guerra e outras formas de resolução de conflito. Isso é problemático, porque são acontecimentos que reforçam a vitimização das mulheres na história, ao mesmo tempo em que reafirmam a ideia de virilidade, agressividade e instinto sexual masculinos como forma de exibição de força e poder. Assim, é importante sempre confrontar os sentidos que emergem na história escolar, discutir os valores, fontes, interpretações e perspectivas que emergem em tais narrativas, confrontando com outros pontos de vista, para que os/as estudantes possam entender a historicidade de tais interpretações, bem como a historicidade da violência sexual.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  12. Primeiramente, parabéns pela excelente reflexão! Sou professora de História do ensino fundamental e constato as situações de violência e exploração sexual feminina em contraponto a virilidade masculina ao longo dos períodos históricos registrados nos livros didáticos! Então, como incentivar o protagonismo feminino sem deixar de estudar os casos de violência e exploração sexual feminina e a vitimização das mulheres vulneráveis, visto que o debate de tal assunto causa constrangimento nas alunas que se identificam com a situação mencionada?
    ANA DANIELE HOLOVATY AMARAL

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    1. Oi Ana Daniele, os acontecimentos de violência sexual realmente estão se tornando cada mais presentes nos livros didáticos de história, em virtude mesmo do aumento dos casos de estupros e abusos sexuais nas guerras e conflitos mais contemporâneos, onde esse tipo de violência tem se tornado prática central de expressão de força e dominação. Veja os acontecimentos mais recentes no Afeganistão, Bósnia, Iraque, Síria, Congo, Nigéria, Sudão, México, Peru e Guerrilha do Araguaia, por exemplo. Trata-se de acontecimentos que estão muito presentes na cultura histórica e também na mídia, mas que tocam em feridas profundas para aqueles/as que já sofreram algum tipo de violência sexual. Por isso mesmo os/as professores/as precisam ter bastante cuidado na abordagem de memórias femininas de violência de estupros em cenários de guerra, pois como bem observou a antropóloga Kimberly Theidon (2009), as memórias também podem ser tóxicas e violentas para algumas mulheres e filhos, ao evocar a dor e o sofrimento psicológico relacionado às atrocidades que presenciaram na guerra e que deixaram sequelas subjetivas que ainda marcam profundamente o ser dessas mulheres, ao subjetivá-las como seres desprezíveis, inferiores, vulneráveis e sem o mínimo valor humano para os homens. Em sala de aula devemos considerar a possibilidade de que nossos/as alunos/as também possam ter sido vítimas de estupro e que a evocação de memórias traumáticas, de dor e sofrimento relacionados a este tipo de violência podem despertar empatias que promovem ainda mais angústias, constrangimentos, injustiças e formas de subjetivação que inferiorizam e humilham ainda mais as vítimas. Assim, precisamos lançar perguntas e julgamentos adequados que colaborem na promoção de sentimentos de indignação e vergonha perante tais atos. Nessa abordagem, podemos ainda promover a pesquisa escolar sobre as formas de atuação e protagonismo das mulheres nos mesmos cenários onde elas emergem como vítimas. Além disso, a desnaturalização das concepções de gênero/raça/classe que se inscrevem nos atos de estupro, com a exposição dos seus significados históricos e culturais, pode também estimular os/as estudantes a superar, denunciar, problematizar e enfrentar todo tipo de violência contra mulheres e sujeitos feminizados. Então, não proponho o silenciamento ou omissão destes acontecimentos, é importante enfrentá-los de maneira adequada, porque trazem oportunidades de reflexão e crítica em sala de aula. Nessa abordagem devemos, sobretudo, nos concentrar em desnaturalizar e problematizar os modelos de masculinidades dominantes e agressoras que se formam também no cotidiano escolar e na aprendizagem da história centrada na dominação masculina. A discussão histórica das masculinidades é fundamental nesse cenário de aumento dos casos de feminicídio e estupros. Os meninos e homens precisam compreender a historicidade e diversidade "do ser homem", construindo posicionamentos mais críticos e conscientes perante os discursos e práticas que re-afirmam a superioridade, força, violência e poder masculinos como algo natural e a-histórico. Para que assim não se sintam desvalorizados e inferiorizados perante a liberdade e direito das mulheres, e possam também construir relações sociais mais harmônicas, justas e amistosas.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  13. Acredito que esta questão que trata o texto é de suma importância para o ensino de história tanto na acadêmica, como no ensino básico. A mulher na história não pode ser vista, analisada de um único viés, uma vez que são protagonistas de lutas que nos trouxeram até aqui e nos proporcionaram grandes conquistas. Nesse sentido gostaria de saber quais os caminhos que podem ser seguidos para modificar a
    visão sobre a mulher nos livros didáticos, uma vez que não ha uma abertura significativa para o protagonismo feminino, como podemos observar durante a leitura do texto que elas são retratadas geralmente como um objeto sexual, que sofre com a violência causada pelo homem?


    Angela Ferreira Ribeiro

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    1. Olá Angela, conheço a sua dissertação de mestrado, parabéns por esse trabalho! Sabemos o quão difícil é a modificação dos livros didáticos, porque tudo isso não depende apenas das expectativas docentes, mas do modo como as políticas educacionais são interpretadas também por editoras e grupos que atuam no MEC e PNLD. Cientes também de que não existe o livro didático "perfeito" e que ele é apenas um dos recursos didáticos que nós podemos utilizar em sala de aula, acho que o primeiro passo tem que ser dado por nós professores/as no modo como tratamos as narrativas dos livros didáticos em sala de aula. O livro didático é uma fonte que possui historicidade e chama a si inúmeros questionamentos. Assim, não proponho a exclusão dos livros didáticos das aulas, muito pelo contrário, pois eles nos dão a oportunidade de confrontar diferentes versões do passado, revelando seus valores, interesses, concepções e perspectivas, ou seja, a historicidade de suas elaborações. É no questionamento das versões que estes livros no trazem dos acontecimentos do passado que podemos também introduzir outras versões a partir de fontes históricas e outros materiais didáticos que revelem a atuação das mulheres nestes acontecimentos, ou o ponto de vista e memórias das mulheres sobre estes acontecimentos, colocando o gênero como categoria de análise histórica em articulação com a política, economia, religião, raça, etnia, classe, formas de governabilidade, etc. Mesmo que a BNCC não coloque explicitamente as mulheres ou as questões de gênero como conteúdos curriculares, temos que criar estratégias como essas para incluir versões do passado onde as identidades e experiências das mulheres estejam no centro dos acontecimentos elencados no currículo, para assim conferir outras dimensões aos acontecimentos. Então não basta só incluir as mulheres na história, é preciso que a presença, a atuação e os saberes das mulheres façam a diferença, colaborando na transformação de imaginários e práticas sexistas.

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  14. Boa noite! Tive que enviar a pergunta novamente porque não assinei logo abaixo dela.
    É possível citar, no Brasil, conquistas no que se refere a uma construção de igualdade de gênero nos livros didáticos?
    HÉLIO SECRETÁRIO DOS SANTOS

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  15. Parabéns pelo teu trabalho! Muito pertinente para pensarmos em como trabalharmos estas questões em sala, principalmente por se tratar de um tema tão delicado, em que algumas fronteiras precisam ser respeitadas.
    Nos últimos anos os trabalhos sobre a história das mulheres vem ganhando ainda mais espaço no ambiente acadêmico, porque você acha que esta temática não tem muitas pesquisas na academia?
    Gratidão, gostei muito do seu trabalho! Forças para continuar em meio ao caos que estamos vivendo no Brasil!
    Atenciosamente,
    Rafaela Limberger

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    1. Oi Rafaela, obrigada! A pesquisa sobre a história das mulheres realmente se desenvolveu bastante nos meios acadêmicos, mas infelizmente os resultados dessas pesquisa nem sempre chegam ao ensino de história, pois a transposição didática dessa historiografia não é um processo simples e mecânico, por isso mesmo a presença das mulheres nos livros didáticos ainda é problemática. Essa transposição ainda é produzida dentro de um contexto epistemológico racista/sexista e eurocêntrico que pouco é questionado ou atingindo pelas políticas curriculares. Não basta apenas mostrar que as mulheres estiveram lá (no passado), essa inclusão tem que ter um efeito político e educativo significativo na formação dos/as estudantes. Nesse sentido, precisamos investir mais em pesquisas e publicações didáticas que permitam abordagens mais adequadas das questões de gênero e história das mulheres nas aulas. Uma didática efetiva da história das mulheres, que tenha por objetivo educar no combate à violência contra as mulheres, deve partir do reconhecimento das especificidades dos saberes históricos escolares, das exigências curriculares oficiais, das múltiplas expectativas e demandas em torno da educação escolar no tempo presente. Por isso mesmo ainda é desafiador incluir a história das mulheres no ensino de história.

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  16. Sem dúvidas esse é um excelente texto. Professora, ao longo da sua produção, a senhora frisou a reflexão como o elemento primordial para a compreensão do gênero no livro didático. Reflexão essa que deve ser estimulada/atiçada pelo Professor de maneira efetiva e cotidiana. E o material didático, como a senhora muito bem apontou é carregado de problemas quanto a expressões e maneiras de apresentar determinados conteúdos e, nesse caso em questão sobre a violências às mulheres. Por mais que o livro didático seja um mecanismo carregado de intencionalidade, até quando a senhora acredita que ele continuará carregado de subjetividades escritas com o olhar do dominador que acaba denotando um tradicionalismo e não uma mudança reflexiva?

    KECIANNY ARAUJO SANTOS

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    1. Olá Kecianny, infelizmente as mudanças nos livros didáticos aprovados no PNLD dependem dos grupos que exercem o controle sobre o MEC. Diante dos interesses, valores, discursos e concepções conservadoras e fundamentalistas dos grupos que hoje exercem esse poder em torno das políticas educacionais, acho que ainda precisaremos lutar e resistir por muito tempo para que mudanças efetivas possam ocorrer nas narrativas dos livros didáticos. Creio que houve avanços significativos nas duas últimas décadas, mas no atual cenário já observamos certos retrocessos, especialmente, com a retirada dos trechos de promoção de imagens positivas das mulheres, de superação da violência contra as mulheres e de combate à homofobia e à discriminação étnico-racial, nos editais do PNLD de 2020 e 2021. O futuro continua incerto, mas seguiremos na luta!

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  17. Lindo texto! Percebemos que ao analisar os livros didáticos na maioria das vezes a figura da mulher não está presente, na maioria a mulher aparece destinada aos cuidados do lar. Sabemos que as mulheres atuaram nos vários períodos da História e fizeram parte dela, porém não são lembradas como protagonistas dessa História. Pensando a sala de aula e a importância de debater esse assunto, como o professora(o) pode relaizar essa abordagem suplindo a ausência da mesma na maioria dos livros didáticos? Franciele marcos velho.

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    1. Oi Franciele, obrigada! Para uma didática efetiva da história das mulheres, tendo em vista a educação para o combate à violência de gênero, os/as professores/as necessitam de mais autonomia, fontes/recursos didáticos e conhecimentos históricos. O trabalho de desnaturalização das representações sexistas/racistas e também de ruptura com os silêncios em torno da atuação das mulheres na história, requer uma atitude mais ativa e investigativa tantos dos/as professores/as quanto dos/as próprios/as estudantes. Na falta de fontes para embasar este trabalho podemos apostar também na pesquisa escolar. No entanto, complementar os livros didáticos com outras fontes não é hoje nenhuma novidade, e isso requer dos/as professores/as muito trabalho de pesquisa fora da sala de aula, então uma maneira ainda mais prática de inciar este trabalho é partir do questionamento e historicização dos acontecimentos narrados nos livros didáticos. Para isso é importante também que os/as professores/as estejam no mínimo embasados por leituras de teorias feministas e de gênero que colaborem efetivamente nesse trabalho.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  18. Ao ler o texto,é possível perceber que a violência sexual embora seja um assunto que sempre aparece nos jornais e nas demais mídias,é um assunto que desde de quando os portugueses aqui chegaram já existiam ou passaram a existir,com tantas campanhas para que isso mude,será possível esse tipo de violência e tantos outros deixarem de existir no futuro?

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  19. Maria Aparecida Viana
    Ao ler o texto,é possível perceber que a violência sexual embora seja um assunto que sempre aparece nos jornais e nas demais mídias,é um assunto que desde de quando os portugueses aqui chegaram já existiam ou passaram a existir,com tantas campanhas para que isso mude,será possível esse tipo de violência e tantos outros deixarem de existir no futuro?

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    1. Oi Maria Aparecida, a violência contra as mulheres em suas diversas modalidades é um problema complexo e estrutural, com tem múltiplas dimensões, por isso a mudança não é fácil. Nesse sentido, é preciso que haja mudanças muito mais profundas na cultura, na educação, na economia, nas formas de governo e na formação das identidades em nossa sociedade. Se não acreditássemos nas mudanças, hoje com certeza estaríamos numa situação bem pior que a do passado colonial ou antes mesmo do direito ao voto feminino. Então toda forma de luta é bem vinda. E mesmo que essa violência não desapareça totalmente, algumas ações tem feito a diferença na vida de muitas mulheres no presente. Vamos continuar lutando! Pra dar sentidos melhores à nossa existência!

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  20. Olá Boa Tarde! Infelizmente os livros didáticos não se traz tanta informação em relação a violência sexual sofrida pelas mulheres,a mídia a todo momento traz nos várias informações e estatísticas que só aumentam o número de mulheres com seus direitos e corpos violados, gostaria de saber qual a didática, metodologia ou melhor forma de tocar nesse assunto dentro da sala de aula para abranger todos sem generalizar.
    Talita de Souza Silva Bueno

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    1. Oi Talita, pior do que não mencionar a violência sexual é tratá-la como algo normal, banal ou natural na história, como fazem os livros didáticos ao mencionar só de passagem estes acontecimentos. Na abordagem deste tema sensível e que ainda é um tabu em nossa sociedade, estrategicamente podemos tentar inseri-lo, quando possível, dentro da abordagem dos conteúdos elencados na BNCC, para que estejamos respaldados em sala de aula. Teoricamente, as teorias feministas interseccionais nos dão um bom embasamento para os argumentos e questionamentos em sala de aula. Estes estudos ampliam nossas perspectivas de abordagem da violência sexual, colocando um olhar mais atento às conexões do gênero à raça, classe, etnia, idade, nacionalidade, região, religião, orientação sexual e outros marcadores sociais, iluminando o caráter estrutural e multidimensional da violência sexual na história; para deste modo romper com a visão reducionista deste problema como algo ligado à intimidade ou ao mundo doméstico e que não diz respeito ao mundo público e político das relações sociais. Isso rompe também com a visão ainda dominante de que o estupro é culpa da mulher. No que se refere à metodologia, é importante também se apoiar em métodos de ensino que permitam o diálogo e a construção/compartilhamento de conhecimentos em sala de aula. Os/as estudantes precisam ser ouvidos com atenção, porque este tema também é presente no cotidiano e na vida de muitos/as estudantes. Um foco importante deve ser colocado nas masculinidades, desnaturalizando os comportamentos dos agressores masculinos, para que meninos e homens sejam críticos em relação aos discursos e práticas que naturalizam a agressividade e dominação sexual dos homens sobre as mulheres. Estas abordagens irão também colaborar no entendimento das relações de poder e dominação que se inscrevem nos acontecimentos históricos assinalados na BNCC para o Anos Finais do Ensino Fundamental. A leitura crítica de fragmentos de fontes históricas que trazem indícios de violência sexual também é uma estratégia, especialmente para o Ensino Médio, desde que os/as professores/as contextualizem bem estas fontes, atentando para as suas condições de produção e circulação no passado. Agradeço pela questão. Estou ampliando minhas pesquisas para produzir um livro sobre o assunto.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  21. No texto foi possível perceber que os/as professores/as deve trabalhar o livro criticamente. Mas para além disso, como a escola em conjunto com professores, pode abordar esse tema?

    Joana Bleza Cunha Alves

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    1. Oi Joana, a abordagem coletiva e interdisciplinar do tema da violência sexual pode contribuir bastante na formação dos/as estudantes. Tenho visto relatos do quanto a abordagem deste tema, de maneira interdisciplinar, nas escolas, tem mudado a vida de muitas estudantes, trazendo perspectivas e auto-estimada para meninas que sofrem este tipo de violência. Para isso, as escolas podem promover também eventos com a presença de especialistas das áreas de saúde, psicologia, direito, sociologia, educação e história, para discutir com os/as estudantes. Nesse sentido, convido-a a ouvir o Podcast da palestra que ministrei para estudantes de Ensino Médio, numa iniciativa deste tipo em uma escola pública daqui do Distrito Federal. Segue o link de acesso:
      https://www.labehunb.com.br/violencia-contra-mulheres

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    2. Joana, indico também o ebook "Maria da Penha vai à escola", pode trazer algumas inspirações aos/às professores/as na bordagens do tema da violência contra as mulheres na escola. Veja o link abaixo para download:

      https://docero.com.br/doc/1c81ss

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  22. Olá Dra. Susane! Excelente texto, esta problemática da violência sexual necessita de enfrentamento, olhando no atual cenário político, com a nossa Ministra de Estado da Mulher, da família e direitos humanos sendo uma pastora evangélica, que critica o feminismo, a ideologia de gênero, aborto e defensora daquele discutido projeto escola sem partido. No ponto de vista da Dra. há perspectivas de mudanças nos livros didáticos, criação de políticas públicas eficazes contra as desigualdades de gênero e o combate à violência sexual no atual governo?

    Desde já, agradeço a atenção dispensada!

    Nathália Rydam Pereira Silveira.

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    1. Oi Nathália, infelizmente este governo tem atuado no retrocesso de algumas conquistas no campo da educação, especialmente no que se refere aos princípios do PNLD, pois os editais de 2020 e 2021 retiram dos critérios de avaliação das obras didáticas, os trechos relacionados à educação para o combate ao racismo, homofobia e violência contra as mulheres. Teremos mudanças não muito positivas nos livros didáticos que virão nos próximos anos, além de inúmeros desafios na docência e formação de professores. Porém, continuaremos fazendo da educação um ato de resistência e democracia.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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  23. Oi, Susane!

    Seu texto é muito bacana e super importante, sobretudo no momento em que vivemos! Fiquei pensando, ao longo da leitura, nos laços existentes entre essa cultura do estupro e toda a parafernália que a reforça contemporaneamente, como a pornografia, que recoloca a mulher sempre no mesmo lugar - mesmo as produções que se querem "feministas" -, a pedofilia, que vem à reboque e se concretiza na violação dos corpos na infância, e a prostituição, que explora sujeitos acusados de "escolherem" essa vida - sem enfatizar que opções estavam postas. Considerando as discussões da interseccionalidade, na sua opinião, uma reeducação da masculinidade poderia ser um ponto de partida, dentre tantos outros possíveis, quando nos referimos à alteração desse estado de coisas? 

    Abraço,
    Caroline Trapp de Queiroz.

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    1. Oi Caroline, sim! A minha proposta de ensino de história no combate à violência tem como foco também a desconstrução desse modelo de masculinidade branca, agressora e dominante que aparece com centralidade nos acontecimentos históricas dos livros didáticos e da cultura histórica predominante no Brasil. Os estudos feministas e a historiografia das mulheres tem contribuições importantes na desnaturalização de modelos de feminilidades passivas e assujeitadas, mostrando a atuação e diversidade do "ser mulher" em várias épocas e lugares. Acompanhando este movimento as mulheres tem resistido à dominação e subordinação aos homens, tornando-se cada vez mais independentes e atuantes. Porém, falta o mesmo para os homens. A construção histórica-cultural de masculinidades dominantes é constantemente reafirmada na cultura histórica escolar, por isso mesmo requer maior atenção no sentido de sua desnaturalização em sala de aula. O sociólogo Michael Kimmel tem bons trabalhos sobre o tema.

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  24. Olá, vi que em seus comentários foi recorrente a crítica a BNCC e toda a política envolvida na construção dessa base. É evidente que conceitos como, por exemplo, gênero são amplamente renegados e muitas vezes discutido em disciplinas como Educação Física e Biologia, dessa forma sempre associados ao biológico e não a construção histórica e social que acarreta aos indivíduos. Assim questiono, você acredita que seja possível uma mudança significativa tanto no PNLD como na BNCC nos próximos anos? E que conceitos como gênero sejam incluídos gradativamente no ambiente escolar?

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    1. infelizmente, no atual governo não vejo possibilidade alguma de mudança positiva. O gênero já vinha sendo incluído gradativamente nos currículos oficiais desde os PCNs e do I Plano Nacional de Educaçao (PNE 2001-2010). Já em 2014, o gênero foi retirado do II PNE pela pressão de grupos conservadores e fundamentalistas no Congresso. Há um retrocesso ainda maior, em operação desde 2018, especialmente no PNLD. Como já disse, os editais de 2020 e 2021 do PNLD retiraram dos critérios de avaliação das obras didáticas, os trechos relacionados à educação para o combate ao racismo, homofobia e violência contra as mulheres. Dessa forma, não vejo possibilidade de mudanças muito positivas nos livros didáticos que virão nos próximos anos. Já estamos enfrentando inúmeros desafios na docência e formação de professores de história, especialmente por conta dessa onde de revisionismos e negacionismos históricos movidos por estes mesmos grupos conservadores que buscam destruir o potencial educacional da escola, colocando em risco a educação democrática no Brasil.

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  25. Olá, vi que em seus comentários foi recorrente a crítica a BNCC e toda a política envolvida na construção dessa base. É evidente que conceitos como, por exemplo, gênero são amplamente renegados e muitas vezes discutido em disciplinas como Educação Física e Biologia, dessa forma sempre associados ao biológico e não a construção histórica e social que acarreta aos indivíduos. Assim questiono, você acredita que seja possível uma mudança significativa tanto no PNLD como na BNCC nos próximos anos? E que conceitos como gênero sejam incluídos gradativamente no ambiente escolar?

    Att. Darcylene Domingues

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    1. Oi Darcylene, infelizmente, no atual governo não vejo possibilidade alguma de mudança positiva. O gênero já vinha sendo incluído gradativamente nos currículos oficiais desde os PCNs e do I Plano Nacional de Educaçao (PNE 2001-2010). Já em 2014, o gênero foi retirado do II PNE pela pressão de grupos conservadores e fundamentalistas no Congresso. Há um retrocesso ainda maior, em operação desde 2018, especialmente no PNLD. Como já disse, os editais de 2020 e 2021 do PNLD retiraram dos critérios de avaliação das obras didáticas, os trechos relacionados à educação para o combate ao racismo, homofobia e violência contra as mulheres. Dessa forma, não vejo possibilidade de mudanças muito positivas nos livros didáticos que virão nos próximos anos. Já estamos enfrentando inúmeros desafios na docência e formação de professores de história, especialmente por conta dessa onde de revisionismos e negacionismos históricos movidos por estes mesmos grupos conservadores que buscam destruir o potencial educacional da escola, colocando em risco a educação democrática no Brasil.

      Susane Rodrigues de Oliveira

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