Emili Sabrina Ribeiro Silva


NOS EMBALOS DO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO: SEXISMO E MACHISMO NO GÊNERO MUSICAL PREFERIDO DOS (AS) BRASILEIROS (AS)



O gênero musical sertanejo universitário tomou conta do gosto musical dos brasileiros, o estilo que teve início nos anos 2000 apareceu como uma nova versão do até então conhecido sertanejo raiz e da música caipira. O gênero: “encontrou, então, terra fértil no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais, sendo cultivado, ao mesmo tempo, por João Bosco & Vinícius, além de César Menotti & Fabiano. Agora, é colhido por dezenas de outros artistas do gênero, de várias partes do Brasil” (EXTRA, 2015). A formação de duplas é característica desse gênero musical, que no início era predominantemente masculino, mas que ao longo das últimas décadas tem sido embalado por diversas vozes femininas, como exemplos da atualidade, a artista Marília Mendonça e a dupla Simone e Simaria popularmente conhecidas como “as coleguinhas” e também duplas com ambos os sexos, como Maria Cecília e Rodolfo.

Diversas pesquisas de popularidade dos gêneros musicais mais ouvidos no Brasil apontam para a fama do sertanejo universitário, ora tratado apenas como sertanejo. Uma pesquisa realizada pelo ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) no ano de 2018 divulgou que o sertanejo é o gênero mais tocado em todo país. Os dados finais foram analisados levando em consideração: “a execução pública de músicas em plataformas de streaming, shows, rádios e locais com música ao vivo entre 2016 e 2018” (ECAD, 2018). Outras pesquisas, como a Hello Research mostraram a mesma preferência musical: “A música sertaneja vive, há alguns anos, um momento de destaque no cenário musical. O ritmo domina as paradas nas plataformas digitais, nas rádios e também na televisão, onde é constante a presença dos artistas do gênero como convidados nos programas de tevê. Estudo divulgado neste ano pela agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research corrobora com essa hegemonia do gênero” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2019). Spotify, um importante aplicativo no seguimento da música também divulgou dados a esse respeito, exibindo “as músicas mais tocadas de 2019 na plataforma. No top 10 nacional, o sertanejo é predominante” (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2019), além de fazer uma retrospectiva da década, onde os cantores mais ouvidos foram Jorge e Matheus, seguidos por Marília Mendonça, ambos artistas sertanejos.

Tamanha popularidade é vista diariamente. Carros com equipamentos de som soam aos quatro ventos as letras sertanejas, os aplicativos de música dos celulares proporcionam a apreciação singular das músicas através dos fones de ouvido, propagandas comerciais transmitem o sertanejo como som de fundo ou paródias, suas letras se tornam legendas de fotos nas redes sociais, estampas de camisetas ostentam frases das músicas, etc.. O universo do sertanejo ultrapassa o de apenas ser embalo para festas, danças, namoros e comemorações. Contudo, sendo o Brasil um país marcado pela diversidade, o estilo também apresenta diferenças regionais no gosto musical. “Em seu berço, o Centro-Oeste, o sertanejo reina, tendo a adesão de 87% dos ouvintes, sendo 60% mulheres. Em outras localidades brasileiras o estilo também possui grande aceitação. No Sul, 64% dos ouvintes priorizam escutar este tipo de música, enquanto que no Sudeste é o gênero preferido de 55% dos entrevistados pela agência de pesquisa. Já no Norte perde a liderança para o gospel (52%) com metade de seus ouvintes sendo do sexo feminino” (ADNEWS, 2019).

Não tenho dados concretos que demonstram um fato percebido empiricamente e pelo senso comum, entretanto, é visível nas plateias de shows sertanejos o número superior de mulheres, se comparadas ao número de homens. Na compra dos ingressos não existe catalogação de gênero, portanto, seria difícil encontrar tal dado se não fosse através do exame das plateias dos shows. Desta forma, as mulheres não são somente as maiores ouvintes e prestigiadoras da música sertaneja, como também personagens importantes das letras desse gênero musical.

A música faz parte do cotidiano do brasileiro, seja ela sertaneja ou não. Os jovens são grandes consumidores de cultura e a música faz parte deste seguimento, sendo que no ano de 2016 a revista Exame publicou uma notícia indicando que os maiores utilizadores do Spotify são jovens da geração Y (os millennials), frisando que esses “jovens da geração Y ouvem mais música, com mais frequência e com mais variedade de lugares que outros consumidores” (EXAME, 2016). Dito isto, minha função aqui é mostrar a possibilidade de levar a música para a sala de aula, visto que seu consumo entre os jovens é frequente. O debate feito através das músicas sertanejas será sobre a construção de estereótipos de feminilidade no atual contexto histórico, a partir do entendimento que algumas construções de discursos, saberes, poderes e representações das mulheres ainda carregam vestígios de colonialidade e do patriarcado.

Sendo a música uma possível fonte histórica, levar esse debate crítico para a sala de aula, terá a função de aguçar a curiosidade dos alunos a analisar cotidianamente seus hábitos e gostos musicais, incentivando o exame cuidadoso das letras - levando em consideração que nas aulas de História partimos de problematizações do presente para assim encontrarmos sentido no estudo do passado e que também através da compreensão do passado possibilitamos a mudança de concepções na atualidade. Coloco aqui como sugestão para tal trabalho o público do Ensino Médio, visto que eles terão maior participação, formulação de críticas, debates, sugestões e de trocas de experiências entre si e com o (a) professor (a).

Através de uma rápida pesquisa na internet podemos perceber a predominância do sertanejo nos segmentos musicais, um estudo da Crowley demonstrou uma informação importante para esse texto: “do ranking divulgado sobre os artistas mais escutados do ano, todos os dez artistas brasileiros são do gênero sertanejo. Para a Crowley, de cada 100 músicas tocadas nas emissoras brasileiras, metade são deste estilo musical” (JORNAL OPÇÃO, 2019). Tanto nessa amostra, como em outra presente na revista Época sobre os artistas mais ouvidos na última década, constam soberania de cantores sertanejos. Dentro deste ranking selecionei duas duplas de destaque do segmento no atual cenário da música: Zé Neto e Cristiano e, Henrique e Juliano. Irei analisar algumas letras de canções que constam como as mais ouvidas do top 20 de cada dupla, no site Letras que divulga as músicas, letras e cifras para os internautas.

A primeira letra de música a ser analisada será da dupla Zé Neto e Cristiano, com data de lançamento no ano de 2016, intitulada Cadeira de aço:

“Sobraram as marcas das brigas da separação
Ficaram os cacos de vidro e as flores no chão
 Se eu tivesse abaixado a voz
Talvez hoje seríamos nós”

Aqui podemos perceber claramente que o “eu” que narra a canção, no caso um homem, pormenoriza um cenário pós-discussão com a mulher, que poderia ser sua namorada, noiva, esposa, amante ou companheira sexual/amorosa. O conflito que segundo ele teria marcado a separação dos dois conta com cacos de vidro e flores no chão, o que configura que em algum momento houve sérias alterações de humor de alguma das partes ou de ambos. Essas alterações de humor consequentemente trouxeram agitamento físico e psicológico, já que na frase seguinte deste trecho ele relata ter alterado a voz com a mulher, diante disto, podemos concluir que a parte mais exaltada da discussão foi a masculina. Esse homem confirma sua parcela de culpa e por certo admite talvez total culpa, já que afirma que se tivesse tido atitude diferente ainda poderia estar com ela.

Esse cenário exposto acima demonstra a realidade cotidiana de muitas mulheres, a violência doméstica. No ano passado o Atlas da Violência demonstrou que o número de homicídios de mulheres (feminicídio) no Brasil aumentou: “Verificamos crescimento expressivo de 30,7% no número de homicídios de mulheres no país durante a década em análise (2007-2017), assim como no último ano da série, que registrou aumento de 6,3% em relação ao anterior” (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019). O que chama a atenção é que grande parte desses casos de violência brutal e fatal aconteceram em ambiente doméstico: “para analisar a questão, utilizamos os microdados da saúde, que permitem traçar o perfil desses homicídios segundo o local da ocorrência do fato. Do total de homicídios contra mulheres, 28,5% ocorrem dentro da residência (39,3% se não considerarmos os óbitos em que o local do incidente era ignorado). Muito provavelmente estes são casos de feminicídios íntimos, que decorrem de violência doméstica” (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019). Além desses dados, a pesquisa ainda aponta que esse tipo de violência aumentou 17,1%.

A cena relatada na música poderia ter tido um fim trágico caso algum dos dois não saísse do lugar. Assustadoramente, o caso da canção não é uma crítica social, é uma narrativa que embala milhares de pessoas em seu cotidiano, majoritariamente mulheres - como já destacamos - e que sequer se dão conta de que estão prestigiando, financiando e replicando um discurso de violência contra seu próprio gênero.

O espaço dedicado às mulheres na história por muitos séculos foi o de silenciamento, seu lugar foi definido por homens, sua história escrita por eles, suas atitudes vigiadas e punidas. Partindo da ideia foucaultiana (FOUCAULT, 2015) de que os discursos são construídos e de que eles carregam em si relações de poder, podemos entender que as construções sociais de gênero são resultado de uma sucessão histórica, social, cultural e econômica. Em Tempos diferentes, discursos iguais: a construção histórica do corpo feminino, Colling (2014) escreve sobre a continuidade desses discursos no decorrer da história, chegando até os dias atuais:

“A história do discurso masculino sobre as mulheres demonstra que, do ponto de vista teórico, as mulheres não existem. Não são mais do que construções de discursos convergentes – filosofia, religião, medicina, ciência” (COLLING, 2014, p. 35)

Seguimos com a canção:

 “Um mês e quatro dias tentando, ela nada de me atender
Outras bocas, fui desencanando
Coração quase parou de tanto sofrer
Meu refúgio foi mesa de bar pra tentar te esquecer”

Aqui percebemos que o sujeito não desistiu de ter a mulher de volta, de tal forma que ficou ligando incansavelmente para ela, demonstrando um perfil obsessivo, um tanto psicótico, além de violento. Ela, em contrapartida, demonstra resistência em atender, atestando não querer mais contato. Entretanto, esse amor que ele demonstra sentir não foi empecilho para que se relacionasse intimamente com outras pessoas. Esse sofrimento pelo rompimento da relação buscou consolo em outras bocas, como ele afirma. Nesse momento podemos perceber que ele se relaciona com outras mulheres baseado em uma relação de objetificação do corpo feminino, não demonstrando nenhum cuidado ou empatia pela mulher com quem ele estava. Coloco aqui mulher, porque predominantemente as canções retratam o padrão heteronormativo em suas letras, o que é reflexo direto de uma sociedade ainda sexista, machista e LGBTfóbica. Além do seu descuidado total com seu próximo, no caso as mulheres com quem ele se relaciona, este homem apresenta um perfil bastante difundido nas músicas sertanejas, o do homem consumidor de álcool.

O refúgio na mesa do bar reflete o desespero e desesperança desse homem, que encontra no álcool um remédio que pode lhe causar: “diversos efeitos, que aparecem em duas fases distintas: uma estimulante e outra depressora” (CEBRID). Ambos os efeitos que podem ser causados pelo álcool alterariam ainda mais o humor deste sujeito que já se encontra psicologicamente instável, podendo fazer com ele procure desenfreadamente ainda mais essa mulher, gerando um destino incerto para ambos, mas que possivelmente seria violento novamente, de acordo com as experiências passadas dos dois. E encontramos na história que essa: “justificação da autoridade é baseada no princípio de que o ‘macho é mais apto para a direção do que a fêmea’ [...] a mulher deve ser governada como se governa um cidadão, mas sem haver alternância no poder, porque a mulher não tem autoridade” (COLLING, 2014, p. 55).

Continuando:

 “Sentado numa cadeira de aço enferrujada e bebendo
Cada copo americano enganava o meu sofrimento
Achei que eu tivesse esquecido a danada naquela hora
Até ver seu nome escrito na lata de Coca-Cola
Ai ai ai, ai ai ai
Deu uma saudade dela agora
Ai ai ai, ai ai ai
Garçom, joga essa lata fora”

Nesse instante o sujeito assume que o álcool de nada está adiantando, já que sua função no momento estava sendo de mascarar os sentimentos dele, que no fundo ainda continuam presentes. O homem entende que o álcool não está remediando, mas mesmo assim não deixa de beber. Bastou ler o nome da mulher em uma lata de Coca-Cola para que o sentimento de perda aumentasse. Defino esse sentimento como perda, porque em nossa sociedade a mulher ainda é tratada como propriedade do homem, o que está sendo reproduzido nas atitudes desse sujeito que narra a canção. A sensação de posse sobre a mulher é tão grande que ele não admite perde-la, dai parte a insistência obsessiva compulsiva e psicótica atrás dela, que demonstra resistência e indiferença pelo sujeito. Essa saudade sentida por ele, nada mais é do que a falta do exercício de poder, dominação e autoritarismo sobre a mulher que agora se recusa a voltar para ele.

Esses discursos sobre a fragilidade feminina estiveram e estão presentes em diversos campos. As religiões, as ciências, a medicina, a política etc. são construtores e reprodutores desse estereótipo. O corpo feminino é palco dessas discriminações, observadas também em Uma história do corpo na Idade Média: “a derrota doutrinal do corpo parece, portanto, total. Assim, a subordinação da mulher possui uma raiz espiritual, mas também corporal. ‘a mulher é fraca’, observa Hildegarde de Bingen no século XII, ‘ela vê no homem aquilo que pode lhe dar força, assim como a lua recebe a força do sol. Razão pela qual ela é submetida ao homem e deve sempre estar pronta para servi-lo’. Segunda e secundária, a mulher não é nem o equilíbrio nem a completude do homem. Em um mundo de ordem e de homens necessariamente hierarquizado, ‘ o homem está em cima, a mulher embaixo’, escreve Christiane Klapisch-Zuber” (LE GOFF; TROUNG, 2015, p. 52).

A música escolhida da dupla Henrique e Juliano, intitulada Conheço meu gado, lançada neste ano:

“Terça-feira na balada
Não é desapego, é depressão
Essa legenda não me engana, não
E por trás de toda essa risada
Que eu sei que é forçada, tem um coração
Que não me esquece, não
De repente, suas amigas você até engana
Diz que ama ser sozinha, mas não dura uma semana
Pro teu corpo me chamar”

Aqui temos outro comportamento masculino predominante nas músicas sertanejas, o convencimento. Como nessa letra, o homem sempre tem certeza de que a mulher é dependente dele, que o ama e não consegue viver sem ele. Esse comportamento demonstra um perfil controlador, que acredita ser a única possibilidade de felicidade da mulher. A mulher, seguindo a ideia de ser frágil e que necessita de “cuidado” e domínio, enxerga sua possibilidade de bônus na vida, única e exclusivamente através da relação amorosa heteronormativa com esse homem convencido. Esse discurso simplifica e reduz a vida feminina ao universo androcêntrico. Desconfigura da mulher a possibilidade de ter amor próprio, realizações pessoais e profissionais, e menospreza sua capacidade emocional e psicológica.

A alegria da mulher não é verdadeira, ele entende que ela não consegue se desapegar sem entrar em depressão, e confirma que o coração dela não consegue esquecê-lo. Ele determina que em uma semana ela sentirá falta dele e provavelmente irá procurá-lo. Vemos aqui atitudes novamente obsessivas e também psicóticas. Ele diz que ela irá procurá-lo, quando na verdade, quem está contando os dias, escancaradamente é ele.

 A ofensa mais grave vem agora:

 “Eu conheço meu gado, oh, oh, oh
A saudade já deve tá te machucando
E daqui a pouco a gente tá voltando
Eu conheço meu gado, oh, oh, oh
Já tô vendo o meu telefone tocando
Você na minha cama e a gente se amando”

Esse homem relega a mulher o lugar de animal. Mas não é qualquer animal, é a vaca (feminino do boi). “O gado”, que em seu sentido literal, o animal, tem um tipo de tratamento específico no nosso sistema econômico capitalista. O segmento bovino é pastoreado, nesse sentido, comandado por alguém, que normalmente é uma figura masculina. Além disso, é visto único e exclusivamente como fonte de dinheiro, riqueza e prazer. Por que prazer? Prazer, porque é criado para o consumo, seja da carne ou do leite, no caso da vaca. A lógica que quero expor é que esse homem além de definir essa mulher como um animal, tirando assim dela toda humanidade, racionalidade e sentimentalismo, também coloca a ele esse mesmo papel, o de insensibilidade, irracionalidade e desumanidade, porque a vê como um ser desprovido sobre quem ele exerce total poder.

E o termo carne não perde aqui a ideia de consumo, porque ele resume sua relação com a mulher estritamente a cama, local de conjunção carnal entre os dois. Dito isto, podemos claramente nos lembrar de situações em que amigas, parentes, ou até mesmo nós mesmas, nos sentimos como “um pedaço de carne” consumida pelos homens. Eis aqui não só a objetificação da mulher, como também a sua animalização. Na música, o homem retira por completo toda a humanidade feminina. Enquanto ela não o tira do coração, ele a transporta para o campo exclusivo do prazer carnal. Contribuindo aqui para reforçar outro discurso, o de que a mulher é sensível, está umbilicalmente presa ao campo dos sentimentos, enquanto o homem, em sua racionalidade natural, consegue separar o sentimento, do prazer. Na Idade Média, segundo Le Goff e Troung o sexo deveria ser moderado, contudo proclamava um padrão divulgado até hoje: “na cama, a mulher deve ser passiva, o homem, ativo” (2015, p. 41).

Devido os limites de escrita que devo respeitar, deixo aqui esse convite a analisar criticamente as músicas atuais, que continuam a reproduzir discursos de outrora, apresentando as mulheres com padrões desumanos e desqualificados. No mínimo encontrei dezenas de músicas que reproduzem tais pensamentos, que de acordo com o grau de análise pode acabar condenando álbuns musicais inteiros. Abordei o gênero musical sertanejo por conta da popularidade e das letras “mais tranquilas” para serem trabalhadas em sala de aula com adolescentes, contudo, encontrei esses estereótipos em todos os gêneros musicais, entoados tanto por homens, quanto por mulheres.

Referências
Emili Sabrina Ribeiro Silva, graduanda em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

ADNEWS. Pesquisa mostra as preferências musicais de cada região brasileira. ADNEWS, 15 de outubro de 2019. Disponível em: https://adnews.com.br/adadcultura/pesquisa-mostra-as-preferencias-musicais-de-cada-regiao-brasileira/
Bebidas alcoólicas. CEBRID. Disponível em:
https://www2.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/folhetos/alcool_.htm
CAMPANHARO, Carol; ANDRADE, Naiara. Sertanejo Universitário: o sertanejo faz escola. Extra, 2 de setembro de 2015. Disponível em: https://extra.globo.com/tv-e-lazer/sertanejo-universitario-sertanejo-faz-escola-363067.html
COLLING, Ana Maria. Tempos diferentes, discursos iguais: a construção do corpo feminino na história. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2014.
CRISTIANO; NETO, Zé. Cadeira de aço. Cuiabá, 2016. Disponível em: https://www.letras.mus.br/ze-neto-cristiano/cadeira-de-aco/
DEARO, Guilherme. Geração Y é maioria no Spotify; veja o consumo na plataforma. Exame, 18 de abril de 2016. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/marketing/geracao-y-e-maioria-no-spotify-veja-o-consumo-na-plataforma/
Ecad comprova: sertanejo é o ritmo mais ouvido no Brasil. ECAD, 11 de dezembro de 2018. Disponível em: https://www3.ecad.org.br/em-pauta/Paginas/ecad-comprova-sertanejo-e-o-ritmo-mais-ouvido-no-brasil.aspx
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
ENRIQUE; JULIANO. Conheço meu gado. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.letras.mus.br/henrique-e-juliano/conheco-meu-gado/
IPEA; FBSP. Atlas da violência 2019. Brasília; Rio de Janeiro; São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019.
IZEL, Adriana. Levantamento mostra os ritmos preferidos dos brasileiros; confira! . Diário de Pernambuco, 3 de novembro de 2019. Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/viver/2019/11/levantamento-mostra-os-ritmos-preferidos-dos-brasileiros-confira.html
LE GOFF, Jacques; TROUNG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. Tradução Marcos Flamínio Peres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
SANTOS, Fernanda. Sertanejos dominam ranking dos dez artistas mais tocados em rádios em 2019. Jornal Opção, 31 de dezembro de 2019. Disponível em:
https://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/sertanejos-dominam-ranking-dos-dez-artistas-mais-tocados-em-radios-em-2019-228712/

30 comentários:

  1. Olá, tenho duas questões:
    1. Com a maior entrada de mulheres nesse gênero musical, você acredita ser possível alguma mudança nesse contexto ou até mesmo maior reflexão/conscientização sobre o conteúdo das músicas?
    2. Como você analisa a popularização dessas letras que perpetuam certas formas de violência, ainda que de forma menos direta, entra a população mais jovem? Seria possível associar a um reflexo de valores comuns?
    Adorei seu trabalho! Parabéns!

    Bethânia Luisa Lessa Werner

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    1. Olá, Bethânia.
      Sobre sua primeira questão: Acredito que ocupar lugares majoritariamente masculinos, atribui às mulheres um poder até então negado. Contudo, depende da forma com que cada cantora/artista se apropria desse novo “lugar de fala”, porque como nos sugere Djamila Ribeiro (2017, p. 75) “os saberes produzidos pelos indivíduos de grupos historicamente discriminados, para além de serem contra discursos importantes, são lugares de potência e configuração do mundo por outros olhares e geografias”.
      Como é sabido, nós mulheres também somos reprodutoras desses estereótipos de feminilidade, como consequência direta das interações familiares, sociais, culturais e econômicas. Nesse sentido, a figura feminina na música sertaneja precisa ter como foco a nova construção do feminino nesse gênero musical. Pois, como hooks (2019, p. 62) afirma “criticar imagens sexistas sem oferecer alternativas é uma intervenção incompleta”. Dito isto, destaco trecho de uma música bastante popular no momento atual, Supera (2019) de Marília Mendonça:

      “Para de insistir, chega de se iludir
      O que cê tá passando, eu já passei e eu sobrevivi
      Se ele não te quer, supera
      Se ele não te quer, supera
      Ele tá fazendo de tapete o seu coração
      Promete pra mim que dessa vez você vai falar não
      De mulher pra mulher, supera
      De mulher pra mulher, supera”
      Fonte: https://www.letras.mus.br/marilia-mendonca/supera/

      Aqui vemos a sororidade em ação, rompendo com aquele ideal de que a mulher só conquista algo ou tem valor, baseada em sua relação com o homem. Vemos uma mulher se solidarizando com outra e mostrando que romper relacionamentos baseados nesses estereótipos é possível. Trás outro ponto também importante, o dizer “não!”. Por consequência de séculos de silenciamento, nós mulheres contraímos certa dificuldade em dizer não, em impor nossa oposição. Aqui, uma mulher mostra a outra que é preciso e possível rejeitar “masculinidades tóxicas”.

      Para a segunda questão: A realidade é um fato, nós mulheres somos violentadas e mortas diariamente, em números alarmantes, no Brasil. Então, acredito que essas canções perpetuam sim, entre os jovens, essas construções estereotipadas de gênero. Eis essa uma das propostas dessa aula - exemplificada no meu texto – questionar essas construções para poder intervir na realidade, seja através da educação dos comportamentos e costumes ou pela mudança de hábitos sociais diariamente.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  2. Tendo em vista que os (as) ouvintes do sertanejo universitário são, majoritariamente do sexo feminino, em que medida tal evidência pode causar uma banalização da narrativa machista em uma sociedade tão marcada pela desigualdade entre os sexos?

    Caio Cesar Honório Moreira

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    1. Olá, Caio.
      A banalização já é evidente, visto que as mulheres são as maiores consumidoras desse gênero musical. Acredito que o sertanejo caminha para algumas mudanças, principalmente em canções entoadas por cantoras/artistas. O que percebo é que a mídia propaga com grande evidencia esse gênero musical e em contra partida, como hooks (2019) já observou, expõe imagens negativas do feminismo, tornando assim o movimento alvo direto de grupos conservadores. Sinto falta de representatividade dos movimentos feministas revolucionários (para continuar com a ideia de hooks) nas mídias de maior circulação (a exemplo, na televisão), entretanto, existem grupos e pessoas engajados em dar evidência para a banalização do sexismo e machismo nas músicas, como a Campanha da Secretaria de Políticas Públicas para Mulher (SEPOM) da Prefeitura de São Leopoldo-RS “Música: uma construção de gênero”, páginas na internet como “Arrumando Letras” e “Música Machista Popular Brasileira (MMPB)”.
      Nesse sentido, corrobo com a necessidade de uma iniciativa conjunta de (re)educação acerca das construções de gênero, partindo da concepção de que “se não trabalharmos para criar um movimento de massa que oferece educação feminista para todo mundo, mulheres e homens, teoria e prática feministas serão sempre enfraquecidas pela informação negativa produzida na maioria das mídias convencionais” (hooks, 2019, p. 47-48).
      Apesar disso, sinto que nos últimos anos as mulheres – e homens também - tem se informado mais acerca do sexismo e machismo, visto que graças a críticas nas redes sociais, no ano de 2018 uma canção de funk intitulada “Só surubinha de leve” do MC Diguinho foi retirada do Spotify e Youtube por fazer apologia ao estupro, forçando a letra ser revista e editada para nova gravação. Deste modo, sinto que caminhamos para mudanças positivas. Vale lembrar que nossa luta é antiga e já obteve várias conquistas.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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    2. Muito bem! Apesar da pergunta modesta sua resposta foi completa. E vale salientar que o alcance dos princípios básicos do feminismo para onde essas informações não chegam são interrompidos por meio de políticas públicas como o Escola sem Partido, idealizada por grupos conservadores como você bem mencionou.
      Por fim, essa luta é de vocês mulheres, mas de nós homens também, assim como todas as minorias e grupos subalternos, considerando que algumas pessoas sofrem a ação de diversos sistemas de opressão.

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  3. Boa noite! Percebo que algumas músicas escritas por mulheres são tão machistas quanto as escritas por homens. Gostaria de saber por que isso acontece. Se é porque as cantoras normalizam esse tipo de discurso, estando tão submetidas ao machismo enraízado que não percebem a gravidade de suas letras, ou por que esse tipo de letra "vende mais"?
    Gostaria de parabenizá-la pelo trabalho, ficou muito bom!

    Eduarda Andréia Kerkhoff

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    1. Olá, Eduarda.
      Essa é uma questão bastante polêmica. Quando falamos em mulheres replicando discursos machistas e sexistas, precisamos pensá-las como agentes históricos com identidades construídas baseadas na família, religião, cultura, economia e consequentemente heranças patriarcais e coloniais. De acordo com Benlloch (2005, p. 110) “la identidad permite tomar conciencia del sí mismo, del lugar que se ocupa en el mundo y en relación a los demás”, sendo assim, o ambiente externo é ponto fundamental na construção e internalização de papéis sociais. Benllonch nos diz que logo na infância somos submetidos a concepções do que é próprio da mulher e do que é próprio ao homem, o que torna isso parte de nossas construções de feminilidade e masculinidade.
      Deste modo, ser mulher ou ser mulher feminista não nos exclui do mundo em que vivemos e fomos criadas. Apesar disso, vivemos em uma sociedade marcada por esses estereótipos e estamos sujeitas as contradições presentes nela. O que diferencia é o grau de protagonismo e ativismo de cada mulher. Todas nós sofremos com o sexismo internalizado, mas o que fazemos com ele nos direciona para o conservadorismo ou feminismo. Adquirir consciência é fundamental, dialogando com hooks (2019, p. 31) percebemos que “a intervenção mais poderosa feita por grupos de conscientização foi a exigência de que todas as mulheres confrontassem o sexismo internalizado, sua fidelidade a pensamentos e ações patriarcais e seu comprometimento à conversão feminista”.
      Não entendo a reprodução desses estereótipos como foco no mercado ou na venda, mas sim como uma construção social internalizada que ainda não foi submetida a revisões e reflexões. Ter consciência sobre as bases patriarcais da sociedade pode despertar o protagonismo e ativismo, ou não. Existem pessoas que por vários motivos preferem continuar no lugar de oprimido que tende a ser opressor, mas essas são questões particulares, que exigem análises específicas.
      Espero ter esclarecido sua questão.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  4. Olá. Parabéns pelo texto.

    Primeiramente, a música sertaneja é uma das que mais circula no cotidiano dos estudantes. Muitas vezes, eles a escutam sem refletir previamente o sentido que a letra traz em si.

    Dito isso, tenho dois questionamentos. Primeiro: Já que é algo do gosto dos alunos, como levar isso para a sala de aula de forma que eles não sintam que o professor em questão está descredibilizando e inferiorizando seus gostos populares? Sinto que em muitos casos há um grande afastamento dos alunos para com os professores por esse motivo.

    Por fim, como aliar essas músicas a disciplina de História? (aqui no caso, gostaria de saber a qual conteúdos sugere fazer o uso desse recurso)

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    1. Olá, Juliana.
      Como já apontei no texto, o sertanejo realmente é gosto comum entre os jovens e para usá-lo em sala de aula devemos tomar alguns cuidados para que esse tipo de comportamento que você citou não apareça.
      O que vejo como alternativa para essa situação é apresentar os dois lados. Como em outras situações dentro da sala de aula, devemos mostras possibilidades outras para não acabar tachados/as como “doutrinadores/as”, já que essa falácia está tão em voga. Sendo assim, indico que busque além das músicas que apresentam estereótipos de feminilidade e masculinidade, outras canções que retratam o inverso. O sertanejo é marcado pelas ditas “sofrências”, mas podemos encontrar canções mais engajadas e que apresentam as relações heteronormativas (padrão do sertanejo) de outra forma. Darei um exemplo para elucidar melhor. Segue trecho da música “Chora boy” (2016) de Simone e Simaria:

      “Tá pra nascer
      Alguém que manda em mim
      Que possa me impedir de ser feliz
      Tá pra nascer
      E não vai ser você
      Sou vacinada e mando em meu nariz”
      Fonte: https://www.vagalume.com.br/simone-e-simaria/chora-boy.html

      Essa música faz parte de um conceito recente da música sertaneja, o chamado “feminejo”. Nessa ideia, a mulher assume protagonismo, demonstra autonomia de sua vida e inverte a imagem de submissão feminina. Contudo, algumas músicas classificadas com esse conceito também escondem estereótipos, como a construção histórica de que as mulheres são inimigas umas das outras, usando ofensas nas letras. Da mesma maneira que devemos analisar criticamente as canções que reproduzem sexismo e machismo, devemos analisar essas, ditas feministas.

      Tratando a música como fonte para ser usada na sala de aula, podemos incorporar a temática sugerida no meu texto, em diversos momentos. Com a introdução da temática dos Direitos Humanos nos currículos, podemos trazer como parte da discussão essas canções que demonstram comportamentos violentos, discriminatórios e sexistas, por exemplo. Mas, como Sacavino (2009) nos aconselha, é preciso trabalhar essas temáticas para além de datas comemorativas (como dia internacional da mulher, agosto lilás, a exemplo da temática feminina). É fundamental fazer “links” durante as aulas, proporcionando uma compreensão para além do livro didático ou do material de apoio, assim a aula sempre fica mais rica.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  5. Trabalhar com músicas ouvidas pelos estudantes é riquíssimo. Creio que se fizermos com que reflitam sobre o que ouvem, desenvolverão referenciais para leitura crítica de outros discursos.
    Muito interessante sua reflexão sobre as masculinidades presentes na música sertaneja (universitária). Porém elas também apresentam outras feminilidades, ou seja, outra forma de "ser mulher" neste meio.
    Identificou isso em suas análises? Se sim, em quais canções?

    Janaina Jaskiu

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    1. Olá, Janaina.
      As feminilidades aparecem de diversas formas, tanto pejorativas como positivas, as possibilidades são muitas, mas vou falar de um perfil que percebi predominância (nas músicas que tive acesso). Como destaquei no meu texto, o álcool sempre se faz presente nas letras - que são características desse estilo dito “sofrência” - ambos os sexos aparecem como consumidores assíduos dessas bebidas, mas existe uma diferença fundamental entre o comportamento da mulher e do homem, que está alcoolizado/a.
      Nas letras, os homens após beberem sempre apresentam algum tipo de comportamento agressivo ou sentimento de posse sobre a mulher. Já as mulheres, quando bebem, sempre aparecem com descontrole sobre suas atitudes para com elas mesmas. Elas sempre terminam ligando para o ex ou apenas pensando na possibilidade - reforçando nas canções aquele estereótipo que elenquei no texto - tendo a sensação de só conseguir seguir em frente ou ter significado na vida, se tiver um parceiro. Você pediu exemplos, mas lhe garanto que não é preciso muito esforço para encontrar canções com esses estereótipos, de qualquer maneira, darei sugestões. Segue trecho da música “Cobaia” (2018) de Lauana Prado:

      “Você tem
      Um emprego pra mim? Olha aí
      Qualquer coisa que
      Que me mantenha perto de você
      Posso fazer
      Cafuné no cabelo
      Vigio o seu sono, sei lá
      Até provo o seu beijo
      Pra ver se a barba vai me arranhar
      Eu posso ser fiscal do seu olhar
      Nem precisa pagar
      Pego sua toalha
      Pra quando você sair do banho
      Posso ser a cobaia
      Pra quando você fizer seus planos
      Quando for beijar alguém
      Testa esse beijo em mim
      Antes de amar, meu bem
      Testa esse amor em mim”
      Fonte: https://www.vagalume.com.br/lauana-prado/cobaia.html

      E também um trecho da música “Aí eu bebo” (2019) de Maiara e Maraisa:

      “Aí eu bebo
      E fico tonto
      Lembro de nada
      Nem do meu nome
      Esqueço tudo
      Quase tudo
      Só não esqueço
      Seu telefone
      Aí eu ligo, ligo, ligo, ligo, ligo, ligo
      Não me atende e eu só bico, bico, bico”
      Fonte: https://www.letras.mus.br/maiara-maraisa/ai-eu-bebo/

      Nesse caso, apesar da letra usar o masculino “e fico tonto”, é importante salientar que quem canta são mulheres e que no vídeo oficial da música, elas aparecem bebendo, uma com um copo de chopp e outra com uma taça. Ou seja, as cantoras também replicam esse discurso de feminilidade que abordei acima, sendo que fazem participação especial em uma música de Marília Mendonça, intitulada “Bebaça” (2019) que também aborda esse estereótipo de feminilidade.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  6. Olá Emíli, parabéns pelo texto!
    O mais interessante na sua leitura é ver como o sertanejo é consumido massivamente, não importa o grau intelectual ou condição financeira do indivíduo.
    Eu por exemplo, ouço muito esse estilo.musical e muitas vezes não percebo que algumas letras demonstram certos comportamentos tóxicos, por mais que nas universidades ou outros espaços como na TV, possamos debater assuntos como esses.
    Minha pergunta vai em relação a muitas vezes essa transposição da música sertaneja dos shows para o audiovisual.

    Você acredita que é possível desenvolver também um trabalho acerca desses comportsmentos de gênero Através dos clipes musicais de sertanejos?
    Ou até mesmo na análise de casais de novelas que tem sua música tema sertaneja? por exemplo na reprise de Fina Estampa temos Baltazar e Celeste, em que ele agride a esposa e a música tema é "amor covarde" de Jorge e Mateus.
    Parabéns novamente pelo texto.

    Marcos de Araújo Oliveira

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    1. Olá, Marcos.
      Entendo completamente o que você diz, eu também tive resistência em deixar de ouvir algumas músicas sertanejas, já que o ritmo sonoro das canções nos dá uma sensação boa e até vontade de dançar. Mas ouvir e ler as canções de forma crítica é essencial, já que estamos lutando contra o sexismo e machismo há muito tempo e ainda assim temos um cenário nacional de violência contra a mulher muito alarmante.
      Sem dúvida, é possível enxergar esses estereótipos, tanto de feminilidade quanto de masculinidade, nos clipes das músicas. Nos clipes talvez fique até mais evidente para o público, já que nossa sociedade contemporânea é bastante visual. Também seria uma alternativa interessante para trabalhar na sala de aula, nas aulas de História e em outras disciplinas.
      Quando você fala da construção de um casal de novela que retrata um perfil de violência doméstica e que a escolha da trilha sonora é uma música sertaneja, chegamos a um ponto muito interessante e que também pode ser abordado na sala de aula, de forma evolutiva, primeiro com a letra e depois com o audiovisual. Mas sua colocação me levou a pensar em outro estereótipo reproduzido nas músicas sertanejas - talvez nem tão figurativo assim - já que apresenta a realidade de muitos casais como Celeste e Baltazar de Fina Estampa, dado exemplo que você trouxe. As “relações tóxicas” ou de dependência, seja ela emocional, financeira, física, etc.
      Como já disse no texto e em resposta para outra colega aqui no evento, o sertanejo ou a classe “sofrência” desse gênero apresenta um padrão musical que traz alguns elementos fundamentais para nossa análise. Como nas décadas de 60,70 e 80 o Rock’n Rool remetia para juventude da época o slogan de “sexo, drogas e rock’ n roll”, o sertanejo traz para nossa juventude “álcool, traição e sofrência”, digamos assim. Os relacionamentos narrados nas canções sertanejas sempre envolvem uma relação de dependência, seja pela parte do homem ou da mulher, onde existe uma resistência muito grande em deixar o outro/a seguir sua vida sozinho/a e que na maioria das vezes, quando a mulher tem esse comportamento de “seguir em frente” o homem a julga e destrói sua imagem. Vejamos exemplos em alguns trechos de músicas. Vamos começar com “Miséra” (2019) de Jads e Jadson:

      “É um termina e volta
      É um volta termina que nunca termina
      E o prejudicado sou eu
      Que aceita essa vida
      Whisky e gelo tem, modão doído também
      E alguém sofrendo por alguém aí multiplica por 100
      Se ela fala em largar coração acelera
      Como é que larga essa miséra”
      Fonte: https://www.letras.mus.br/jads-e-jadson/misera/

      Outro exemplo, “Na cama que eu paguei” (2019) de Wesley Safadão com participação especial de Zé Neto e Cristiano:

      “Eu tinha um lar, eu tinha uma casa
      Agora eu tô morando num motel de rodoviária
      Assistindo novela numa TV 14 polegadas
      Imagem chuviscada, Bombril na antena
      Quem me vê, dá até pena
      E ela tá lá
      Na cama que eu paguei
      Fazendo o amor que a gente nunca fez
      Na cama que eu paguei
      Fazendo todo dia
      O que comigo era uma vez por mês”
      Fonte: https://www.letras.mus.br/wesley-safadao/na-cama-que-eu-paguei-part-ze-neto-e-cristiano/

      Essas letras de músicas e consequentemente o sucesso de público e vendas deve nos alertar para que tipo de relações e significações a sociedade contemporânea está construindo. Além de reproduzir estereótipos e discursos de outrora, elas sinalizam a banalização de comportamentos violentos, discriminatórios e preconceituosos, como sexismo e machismo. Eis a importância de discutir criticamente essas canções, tanto na sala de aula, como nos grupos de amigos e com a família, dessa forma podemos criar uma consciência mais apurada e transformar nossos costumes, valores, crenças e consumo. O consumo é muito importante, porque essas músicas são produzidas com esses discursos porque existe um público grande para elas e quando passamos a ter consciência disso, podemos talvez mudar o foco dessas canções, para reprodução de imagens mais positivas, por exemplo.
      Espero ter colaborado para o esclarecimento de suas inquietações.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  7. Olá Emili, parabéns pelo trabalho, muito atual.
    Primeiramente queria saber se você acha possível que essas musicas sejam repensadas em um futuro próximo pelos cantores e cantoras, e assim ao menos uma parcela dessa classe de artistas mudem as composições nas futuras letras. E, você encontrou em sua pesquisa, musicas onde o machismo não esteja tão enraizado com nos exemplo já citados?

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    1. Olá, Marcos.
      Acredito que as canções possam transmitir outros discursos em um futuro próximo sim, especialmente se nos engajarmos em fazer leituras críticas das letras. As músicas são escritas levando em consideração o contexto social, histórico e cultural da sociedade, para assim atingir maior público, nesse sentido, as músicas exemplificadas por mim no texto e em respostas a outros/as colegas do evento, mostram que nossa cultura carrega muitos estereótipos de outrora. Desta forma, é mudando a estrutura social das mentalidades que poderemos mudar os discursos presentes nas músicas. Precisamos conscientizar as pessoas acerca do feminismo, como hooks (2019) sugere “abordar as multidões nesta nação, que todos os dias são bombardeadas por reações antifeministas violentas e que são orientadas a odiar e a resistir a um movimento sobre o qual conhecem muito pouco” (p.14).

      Encontrei outras músicas sertanejas que não abordam esses estereótipos, das quais eu escuto algumas. A maioria delas tem cunho mais romântico, narrando histórias ou sentimentos comuns à todas pessoas, sem destruir a imagem do homem ou da mulher. Esses/as artistas tem um estilo mais sentimentalista e até exaltam a figura feminina em algumas canções. Segue como exemplo trecho da música “Cuida bem dela” (2014) de Henrique e Juliano:

      “Cuida bem dela
      Você não vai conhecer alguém melhor que ela
      Promete pra mim
      O que você jurar pra ela
      Você vai cumprir
      Cuida bem dela
      Ela gosta que reparem no cabelo dela
      Foi por um triz
      Mas fui incapaz de ser
      O que ela sempre quis
      Faça ela feliz!”
      Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=2Q6eFRuYa2w

      E uma música de Fernando e Sorocaba com participação especial de Jorge e Mateus, intitulada “Bom rapaz” (2017):

      “Vai ficar olhando ou levar
      Essa joia pra sua casa?
      Olha você tá ouvindo sim
      De quem disse não pra tantos caras
      Ela já se machucou demais
      Promete que vai ser um bom rapaz
      E se ela disser vem
      Cê pega e vai
      E não solta nunca mais
      E não solta nunca mais
      Outra dessa cê não acha
      Olha como ela te abraça
      E você ganhou de graça
      Corre que essa chance passa
      Corre se não ela escapa”
      Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=XzC-DqfiHiY

      Ambas músicas demonstram outra imagem masculina, de um homem que se importa, valoriza e compromete-se de maneira responsável com a mulher, evidenciando as qualidades femininas. Contudo, as duas apresentam a imagem de uma mulher que já sofreu com outros homens, o que não está distante da nossa realidade e que pode acontecer tanto com mulheres, como com homens. A desilusão amorosa não é previsível e estamos todos passíveis a ela.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  8. Belíssimo texto Emili!

    Boa noite

    Sua pesquisa demostra a permanência dos estereótipos para com as mulheres apesar de um amadurecimento de algumas pessoas sobre a temática,ficando explícito que essa construção
    social feitas sobre as mulheres é fruto de uma prática histórica que perpassa o
    tempo e ainda tenta manter velhos resquícios de uma cultura machista na atual conjuntura, de acordo com o seu estudo já realizado qual seria a melhor forma de empregar o estudo de gênero na perspectiva da música sertaneja na aprendizagem histórica e também na sociologia e demais disciplinas (de modo interdisciplinar)?

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    1. Olá, Marta.
      Sua questão é muito interessante. Podemos usar essas músicas atuais sempre como exemplos de como a construção das mentalidades, discursos, relações de poder, preconceitos e discriminações se dão ao longo de um processo histórico e que por vezes permanecem em sociedades distantes temporalmente e geograficamente das que foram construídas.
      Quando abordamos Idade Média, por exemplo, onde temos uma agricultura basicamente familiar, ao trabalhar com as relações sociais e os papéis femininos nessa sociedade, podemos usar como gancho as músicas sertanejas que ainda definem a mulher o espaço doméstico, por exemplo. Trazendo para o território do Brasil, ao discutir, por exemplo, a diferença da educação dada às mulheres e aos homens - seja na colônia, império ou república - podemos apontar a força dessas construções opressivas e de poder, que ainda delegam a mulher um papel submisso, por vezes infantil, de dependência masculina como herança de uma sociedade patriarcal, etc.
      Já em Sociologia podemos trabalhar mais profundamente a contemporaneidade. No meu texto, citei o Atlas da Violência, a respeito dos dados de feminicídio. Essa também é uma alternativa para fazer uma conexão com as músicas sertanejas, que abordam esses estereótipos de feminilidade e masculinidade e a violência, reforçando certos comportamentos negativos que acabam sendo tratados com naturalidade em um gênero musical tão popular. As possibilidades são variadas.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  9. Em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-la pela publicação. Trata-se de uma temática importante e oferece a nós, leitores, uma oportunidade a mais de reflexão.

    Gostaria também de citar o exemplo da música "A dama da noite" da dupla Fred e Gustavo, que em seu clipe oficial, disponível no youtube, faz uma denúncia à violência contra a mulher. É possível observar, ao ler os comentários, que os ouvintes se envolvem mais com a interpretação da letra quando se tem uma "historinha" como pano de fundo, que é contada através dos clipes.

    Sendo assim, como os artistas podem fazer uso das produções audiovisuais para conscientizar o público, visto que os clipes, normalmente, têm mais visualizações que os vídeos gravados em shows ao vivo?

    - Elaine da Silva Simplício

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  10. Elaine da Silva Simplício21 de maio de 2020 às 09:10

    Em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-la pela publicação. Trata-se de uma temática importante e oferece a nós, leitores, uma oportunidade a mais de reflexão.

    Gostaria também de citar o exemplo da música "A dama da noite" da dupla Fred e Gustavo, que em seu clipe oficial, disponível no youtube, faz uma denúncia à violência contra a mulher. É possível observar, ao ler os comentários, que os ouvintes se envolvem mais com a interpretação da letra quando se tem uma "historinha" como pano de fundo, que é contada através dos clipes.

    Sendo assim, como os artistas podem fazer uso das produções audiovisuais para conscientizar o público, visto que os clipes, normalmente, têm mais visualizações que os vídeos gravados em shows ao vivo?

    - Elaine da Silva Simplício

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    1. Olá, Elaine.
      Além da temática de gênero, eu pesquiso sexualidade e seu comentário me fez lembrar a fala do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, que no documentário “A primeira vez do cinema brasileiro” (2012) ao argumentar sobre os filmes pornográficos disse que a queda de público se deu porque tudo se tornou muito direto, ele destacou que o brasileiro, diferente do americano, gosta da “historinha” por trás da pornografia, do que levou aquele homem e aquela mulher ao ato sexual, e não precisamente as cenas de sexo explícito. Bom, você deve estar se questionando porque resolvi falar de filme pornográfico para te responder, então lhe digo que foi justamente para me servir da fala desse homem. Ele detectou um comportamento interessante no brasileiro, que para além de ser muito visual devido a modernidade e aperfeiçoamento das tecnologias, gosta de histórias. Os clipes de músicas retratam justamente isso, histórias e não só histórias, mas histórias de casais envolvidos emocionalmente. A figuração, a ilustração da canção, em forma de vídeo ou filme traz espaço para a reflexão acerca do que foi visto e ouvido, nos faz usar um sentido a mais, além da audição, usamos a visão. Ao ver e ouvir, as coisas se tornam mais próximas, mais reais, mais palpáveis.
      Dito isto, a importância do ver e ouvir é muito significativa para o público sertanejo materializar a mensagem trazida nas músicas. Dessa maneira, os clipes ou filmes musicais são fundamentais na consolidação dessas mensagens. Então, acredito no potencial do audiovisual para a construção de um novo discurso, costume e cultura, no Brasil.
      Nesse ano, a participação da médica e feminista Marcela Mc Gowan no Big Brother Brasil causou bastante polêmica nas redes sociais, mas uma fala dela, em especial, foi bastante reproduzida. Lembro-me que a mensagem era de que nós mulheres fomos ensinadas pela grande mídia a encontrar nosso príncipe encantado, enquanto os homens foram guiados a procurar por uma atriz pornô. Eis aqui uma reflexão muito importante acerca dos discursos que vemos e ouvimos serem internalizados de forma direta. Então, essa fala dela e a repercussão tamanha diante disso nos faz entender que as pessoas compreendem o impacto direto da construção desse imaginário figurativo baseado no que assistimos durante a vida. As meninas estão sempre vendo filmes de princesas da Disney, depois na adolescência e juventude aquelas romances adocicados. Os meninos sempre veem filmes de heróis reforçando a importância da força, do protagonismo, da ação masculina, e depois na adolescência começam a explorar - mais que as meninas – o universo dos filmes pornográficos.
      Não sei se me fiz entender. Mas a mensagem que quero passar é que o audiovisual tem uma influencia perceptível na construção das relações, sendo assim, ao materializar as músicas sertanejas em “historinhas” injetamos nelas um potencial a mais de intervenção nas nossas vidas, seja de forma positiva ou negativa. E ao criar novos discursos, por exemplo, feministas, nesses vídeos, podemos causar um impacto maior nas pessoas.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  11. Olá Emili! Que tapa na cara esse seu artigo! Nos acostumamos com o que ouvimos no nosso dia-a-dia, nos alienamos e nem percebemos isso! Não percebemos o quanto a cultura machista está impregnada na nossa sociedade e como isso se reflete nos gêneros musicais. Esse tipo de canção reforça relações violentas, e meu questionamento é se essas musicas atuais são heranças de musicas machistas do sertanejo raiz? Ou essa temática está mais presente agora e no passado as canções que embalavam o cotidiano das pessoas eram menos esteriotipadas?
    Ligia Daniele Parra

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    1. Olá, Ligia.
      Você fez uma comparação interessante, mas não entendo a presença de estereótipos sexistas e machistas nas músicas do sertanejo universitário como heranças do sertanejo raiz. O sertanejo raiz ou música caipira, retratava a vida do sertanejo, do homem do campo e suas relações com a natureza e as pessoas. Já o nosso sertanejo universitário retrata a vida urbana, com temas envolvendo álcool, festas, traições e a dita “sofrência”. Ambos gêneros musicais retratam o contexto histórico e cultural no qual estão inseridos.
      Tratando das feminilidades e masculinidades, podemos perceber diferenças nos dois gêneros, que algumas pessoas poderiam definir como mais “leves” ou mais “pesados”. O que nos leva a fazer esse juízo de valor vai de acordo com o tamanho da banalização do sexismo, machismo e violência em cada contexto histórico.
      Entendo que os dois tem músicas com letras sexistas, machistas e violentas. As canções atuais podem parecer mais “leves” porque já superamos muitos obstáculos com a luta feminista, mas isso não diminui o valor simbólico de violência desses discursos ainda hoje. Por exemplo, em regiões mais interioranas, alguns discursos, costumes e comportamentos daquele sertanejo de outrora, ainda vigoram. Sendo assim, devemos compreender os dois gêneros como heranças de algo muito mais distante temporalmente. Eles carregam traços do colonialismo, do patriarcado, da misoginia, do passado. Eles estão inseridos dentro de uma construção secular. O que deve nos chamar atenção é que as letras carregadas de estereótipos do sertanejo raiz, do século passado e as do sertanejo universitário de hoje, ainda fazem perpetuar construções de feminilidades e masculinidades que estão tão longe e tão perto ao mesmo tempo. Longe porque foram construídas há séculos e perto porque ainda fazem parte da nossa realidade e do imaginário coletivo do que é ser homem e do que é ser mulher.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  12. Olá Emili,

    Parabéns pelo texto tão bem escrito e com uma análise tão atual e necessária. Vi alguns comentários e suas respostas e achei muito pertinentes. Mesmo sendo historiadora e praticamente ninguém do meu círculo de convívio ouvir sertanejo, eu sempre gostei muito, e meu gosto não mudou, haha. Porém, há algumas músicas que são impossíveis de engolir, como aquela "Vai namorar comigo sim", do Henrique e Juliano, ou aquela "Propaganda", do Jorge e Mateus, parece que consigo sentir eles cantando essa música de uma forma totalmente abusiva. Mas, apesar dos comentários anteriores falando que as músicas das mulheres reproduzem o sexismo e o machismo, tem sido uma construção para essas mulheres olharem por outra perspectiva. Vejo o caso da Marília Mendonça, que está bem conectada ao público e tudo mais, ela já tem mudado muito o teor das letras dela, não só pelas críticas, mas acredito que pela própria mudança dela entendendo o seu papel como mulher na música sertaneja sabe. Assim como em outros gêneros, é importante empoderarmos essas mulheres para que elas empoderem outras de alguma forma. Enfim, eu teria milhões de coisas para conversar com você e acho essa análise realmente muito legal, mas vou ficando por aqui, e te pergunto:

    Na sua percepção, esses cantores que muitas vezes utilizam músicas de outras pessoas, utilizam essas letras porque sabem que são temas "comerciais"? (Porque vejo que essas músicas dessas duplas que você trouxe são as mais chicletes de todas haha)

    Abçs,
    Ruhama Ariella Sabião Batista.

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    1. Olá, Ruhama.
      Eu continuo acreditando que a reprodução desses discursos estereotipados acerca do gênero não está baseada no mercado, mas não podemos negar que se há público, há mercado. Mas entendo que esse público está consumindo essas canções alicerçados no imaginário social que foi construído ao longo da história, como o que é próprio da mulher e o que é próprio do homem. E elas se tornam “chicletes”, como você bem disse, justamente pela banalização dos discursos de estereótipo de feminilidade e masculinidade.
      Quando você fala de Marília Mendonça estar mudando o teor de suas músicas, baseada em críticas e até mesmo na reflexão acerca do seu papel de mulher artista/cantora e sua influência na vida do seu público, podemos entender também como outra construção de gênero. Normalmente, quem está engajada na luta feminista, são as mulheres. Nós mulheres reivindicamos mudanças. É perceptível o pequeno número de homens pró luta feminista, isso por conta das imagens negativas que a grande mídia constrói acerca do movimento. Sendo assim, é mais simples entender que a mudança na música sertaneja, parta de uma mulher. Não quero com essa fala justificar as atitudes masculinas acerca da perpetuação desses estereótipos nas músicas sertanejas, mas sim dizer que é mais fácil ir a luta quando se faz parte do grupo oprimido, ou seja, é mais fácil se tornar feminista por ser mulher.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  13. Olá Emili! Parabéns pelo ótimo artigo!
    Acredito que seja de extrema relevância analisar de forma profunda aquilo que nos alimenta como seres humanos. A música, como arte, é um desses meios transformadores. Diante dessa perspectiva, gostaria de lhe questionar acerca das possíveis motivações que direcionam as pessoas a produzirem esse conteúdo. Em algum aspecto é possível que essas pessoas deixem de lado seus princípios pessoais a fim de perseguir um objetivo de lucro em razão da popularidade dessas canções?
    Muito obrigada.

    Bárbara Galli de Oliveira.

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    Respostas
    1. Olá, Bárbara.
      Como abordei em respostas anteriores para outros/as colegas do evento, não acredito que seja uma questão propriamente de mercado, mas sim da reprodução de estereótipos de gênero que estão internalizados nas pessoas. As letras das canções refletem diretamente esse imaginário social que ainda resiste, acerca do que é ser homem e do que é ser mulher. Para além de uma questão de caráter e valores pessoais, devemos levar em consideração, ao analisar as canções, aquela máxima de que somos seres “biopsicossocial”, ou seja, nos formamos, baseados na nossa biologia e nos relacionamentos com os/as outros/as. Assim sendo, não devemos levar para o lado pessoal, mas sim interpretar com uma abordagem mais ampla, levando em conta nossas heranças negativas, de colonialidade, do patriarcado e de todos outros sistemas de poder e opressão que atuaram na história, no passado, e que ainda se fazem presentes através da perpetuação de discursos, costumes, valores, etc.

      Emili Sabrina Ribeiro Silva

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  14. Olá Emili. Que belíssimo texto super bem fundamentado e com críticas tão precisas e importantes.
    Sempre consumi músicas do sertanejo universitário e já percebia como muitas letras reproduzem o discurso machista e violento que nossa sociedade possui. E penso que, infelizmente, poucas pessoas que consomem param para analisar e problematizar as letras, que perpetuam tantos estereótipos.
    Nesse sentido, o que gostaria de perguntar é se você acredita que tais letras acabam por normalizar relacionamentos abusivos e violências entre parceiros. Como as músicas retratam sentimentos e atitudes, as pessoas ao ouvirem esses relatos, não acabam por aceitarem que ocorra o mesmo nas suas relações?

    Isabelly Pietrzaki Pereira

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