O AVESSO DO ORDINÁRIO: TRATANDO SOBRE GÊNERO EM SALA DE AULA A PARTIR DO ESTUDO SOBRE A CONDIÇÃO DA MULHER NO BRASIL COLONIAL
Se distanciando das narrativas que concebem a
mulher como um simples sujeito reprimido e silenciado, o presente texto
objetiva apontar a possibilidade de se lançar outro enfoque sobre a figura
feminina na história do Brasil Colonial, apresentando concomitantemente uma
proposta de atividade para promover a discussão sobre a condição da mulher na
sociedade brasileira durante as aulas de História. A proposição dessa atividade
decorre da necessidade que os educadores têm hoje de incluir na sua prática de
ensino questões presentes no cotidiano do seu alunado. Para tanto, inicialmente
será apresentado um panorama sobre a condição social da mulher no período
colonial do Brasil. E em seguida, a atividade proposta será apresentada. No que
diz respeito a ela, cabe salientar que, ainda que, essa proposição tenha um
direcionamento voltado para os alunos do Ensino Médio, ela pode ser adaptada e
aproveitada também em turmas do Ensino Fundamental II.
Entre
normas e desvios: A mulher no período colonial brasileiro
No início da colonização do território que
configuraria o atual Brasil, faltavam mulheres brancas com quem os portugueses
colonizadores pudessem se relacionar e gerar uma descendência lusitana para
povoar essas terras. Isso forçou a Coroa Portuguesa a tomar a decisão de enviar
mulheres brancas para a Colônia como uma estratégia de evitar a mestiçagem e,
de consequentemente, garantir a proeminência das raízes luso-europeias no
povoamento desse território. Assim, no Brasil Colonial, as mulheres brancas
tinham a importância apoiada na sua capacidade de proporcionar a transmissão
dos padrões étnico e culturais de Portugal aos descendentes dos colonos.
Nesse período, as estratégias de
disciplinamento dos corpos, de vigilância e de controle lançadas sobre as
mulheres tinham forte presença no contexto colonial, pois conforme a
historiadora Mary Del Priore (1993) “[...] adestrar a mulher fazia parte do
processo civilizatório e no Brasil este adestramento fez-se a serviço do
processo de colonização” (DEL PRIORE, 1993, p. 27). Isso ocorria porque se
desejava dar continuidade na Colônia a uma preocupação, existente desde há
muito na Metrópole: a de conformar as mulheres a um modelo ideal de mulher
ibérica. Assim, as mulheres eram constantemente lembradas de que elas deveriam demonstrar
sutileza, castidade, obediência, fidelidade marital e, sobretudo, sujeição à
autoridade masculina, a despeito da crença que existia na época de que ao sul
dos trópicos não havia pecado (VAINFAS, 1988).
A mulher era encarada pela sociedade colonial
como indigna de confiança. Por isso, ela sempre estava acompanhada pelos pais,
irmãos e maridos em muitas situações da sua vida (ARAUJO, 2008). Isso
representava a vigilância e o controle lançados sobre as mulheres, a fim de que
as suas pulsões pecaminosas fossem reprimidas. Nesse sentido, as leis do
Estado, a Igreja e a coerção informal da comunidade também se encarregavam da
função de disciplinar a mulher na Colônia, ajustando seu comportamento ao
modelo ideativo, há pouco tratado.
Além disso, as mulheres precisavam também
adequar seus comportamentos, desejos e sentimentos às regras de moral e dos
bons costumes predominantes na época, visto que a obediência a essas
normatizações as tornavam qualificadas moralmente para serem consideradas como
honráveis e dignas de respeito. No tocante a isso, muitas qualidades eram
consideradas como fundamentais para as mulheres, tais como a obediência, a
discrição e o autoconhecimento da sua condição inferior em relação aos homens.
Em vista disso, as mulheres precisavam ser
discretas em todos os aspectos da sua vida, especialmente em relação à sua
sexualidade que não deveria ser publicizada através de manifestações explícitas
ou tácitas. Essa proibição tinha o intento de promover o disciplinamento do
corpo e da mente da mulher e ocorria porque a Igreja e, por extensão, a
sociedade objetivavam “[...] esvaziar a mulher de qualquer uso prazeroso do
corpo” (DEL PRIORE, 1993, p. 16).
Como se nota, um dos agentes responsáveis
pela difusão de uma imagem social inferiorizada da mulher foi a Igreja
Católica, que através da sua atuação moralizante normatizava arbitraria e
irredutivelmente a vida feminina a partir das suas doutrinas. Esse empenho, de
caráter normatizador, empreendido por tal instituição se pautava na ideia de
inferioridade “natural” da mulher.
Os religiosos apresentavam algumas evidências
que supostamente lançavam as justificativas para esse argumento. Eles
acreditavam que por causa da criação primogênita do homem, este seria detentor
de uma indiscutível superioridade dada por Deus. Além disso, fazendo referência
ao erro cometido por Eva, a primeira mulher criada, segundo a narrativa bíblica
de Gênesis, assim como a própria matéria usada na sua criação, a saber, a
costela recurva do homem, dizia-se que as mulheres estariam maculadas com a
essência errante, desviante e pecaminosa herdada da sua progenitora, Eva; e por
isso, todas as mulheres estariam, inevitavelmente, fadadas ao pecado (DEL
PRIORE, 1993).
O
corpo feminino no período colonial
O desfavorecimento da mulher era refletido no
pensamento que os religiosos e os médicos tinham sobre o corpo feminino no
período colonial. Esses agentes, por exemplo, achavam que o corpo da mulher era
um espaço de disputa entre as forças do bem e do mal (DEL PRIORE, 1993). Nessa perspectiva, concebiam-se como
diferenças entre homens e mulheres não só as características anatômicas, mas
também as morais. Dada a influência do pensamento religioso na ciência médica,
a mulher na visão dos médicos do período era um projeto de Deus destinado única
e exclusivamente para a reprodução; e em virtude disso, o conhecimento médico
do corpo da mulher se restringia ao conhecimento da sua genitália.
Sobre isso, a historiadora Mary Del Priore
(2008) nos diz que o discurso médico do período colonial no Brasil
propagandeava que a loucura e a ninfomania, entre as mulheres, poderiam ser
resultados do mau uso da madre (leia-se genitália). É por isso que, como se
argumentava na época, a reprodução era necessária para se evitar a sufocação da
madre, o que envolveria a ação de vapores que sairiam do útero e iriam para as
partes superiores do corpo feminino (DEL PRIORE, 2008). Ainda de acordo com Del
Priore (2008), acreditava-se, inclusive, que o próprio útero poderia ir para a
garganta, o que provocaria o sufocamento e a morte da mulher (DEL PRIORE,
2008). Esses eram argumentos que objetivavam convencer as mulheres de que sua
principal função era de gerar filhos; o que serve de indicativo do apoio dado
pela Igreja Católica ao projeto colonizador do Brasil.
Casamento:
alcance da completude feminina
Na Colônia, em regra, as mulheres não tinham
acesso à educação formal, pois esta era destinada exclusivamente para os
homens. Por esse motivo, a vida das mulheres, desde a tenra infância, estava
voltada para os afazeres domésticos. Ainda criança elas eram incentivadas a se
tornarem exímias cuidadoras do lar, qualidade vista como indispensável para uma
mulher de família.
Relacionado a isso, propagandeava-se que o
único meio da mulher alcançar a sua completude, isto é, a sua realização era
através do casamento, uma vez que depois de casada ela supostamente se
afastaria da condição de Eva e, em decorrência, se aproximaria da imagem
imaculada da Virgem Maria (DEL PRIORE, 1993).
Como já foi dito, a Coroa Portuguesa atuava
em parceria com a Igreja Católica na promoção do povoamento desse território.
Para tanto, esta última usava imagens de Nossa Senhora da Conceição, Nossa
Senhora do Bom parto e da Virgem Maria, como afirma Araújo (2008), para
convencer as mulheres da pretensa necessidade do casamento e da reprodução.
Ademais, nessa época todas as decisões relacionadas ao matrimônio eram da
responsabilidade do pai, inclusive era ele quem escolhia o futuro marido da sua
filha, o qual geralmente era mais velho. Isso por si só denota a
desconsideração dos desejos e dos sentimentos da mulher na condução da sua
vida.
O controle sobre a mulher não desaparecia
após o casamento, pois nele além da autoridade do marido, havia também a
influência impositiva da Igreja que normatizava até a vida íntima do casal,
estabelecendo como objetivo maior do leito conjugal a reprodução, em vez do
prazer dos cônjuges (VAINFAS, 1988). De modo que, considerava-se como cópula
pecaminosa aquela que proporcionava o prazer, em vez da geração de filhos.
Essa situação fazia com que as mulheres, não
raro, se decepcionassem nos seus leitos conjugais. Pois, seus desejos
costumavam ser ignorados pelos maridos, que ao pretender administrar a
sexualidade do casal, costumavam não satisfazer as necessidades sexuais das
suas esposas (VAINFAS, 1988). Por causa disso, ocorriam muitos casos de
divórcios, separações e adultérios como é atestado pelas documentações do
período (VAINFAS, 1988).
Quebrando
as regras: afirmação do eu feminino através da transgressão
Entretanto, como afirma Del Priore (1993), as
mulheres do período colonial não eram tão passivas, ao ponto de se sujeitarem
cabalmente às imposições da sociedade deste período, visto que elas resistiam,
de variadas maneiras, a esse processo de controle. Essas mulheres resistiam por
recorrerem ao uso de encantamentos, por pedirem o divorcio à justiça
eclesiástica (VAINFAS, 1988), por se responsabilizar pela chefia do lar e
também por levar uma vida sexual ativa, a exemplo das freiras nos conventos, que
não só conheciam como também faziam uso dos métodos anticoncepcionais
(ALGRANTI, 1993).
A ideia de que as mulheres estabeleciam
ligações com as forças demoníacas era corporificada no conhecimento que se
tinha de que na Colônia havia algumas mulheres que faziam uso da magia para
conquistar homens ou causar prejuízos aos seus inimigos. De acordo com Araújo
(2008), há evidências de que feiticeiras já atuavam em Salvador no ano de 1590,
período anterior à chegada do Santo Ofício ao Brasil. Aliás, essas mulheres
também costumavam fazer uso da magia para fins amorosos. Em casos assim, o
emprego desses recursos era feito predominantemente pelas mulheres casadas que
desejam receber atenção, carinho, respeito e obediência dos seus maridos (DEL
PRIORE, 2008).
Dessa forma, em apoio ao que diz Vainfas
(1988), nota-se que o estereótipo da mulher submissa e amedrontada com a
punição corretiva do homem e das instituições sociais se contrasta com a
realidade da mulher ativa e libertina, que lubridiava, seduzia e subjugava os
homens da sua época. É por isso que pode ser afirmado que apesar das tentativas
de controle, existiam também no Brasil Colonial muitas mulheres que não se
deixavam dar por vencidas ao sistema disciplinador da sociedade da época.
Ainda que não tenha conseguido obter êxito, a
Igreja Católica realizou o controle sobre as mulheres, como foi sublinhado
anteriormente. Mas, como se disse, muitas dessas mulheres subverteram essas
imposições. O que comprova isso são as constantes práticas de adultério, que
eram realizadas muitas vezes para suprir a solidão sentida por essas mulheres
ou então para experenciar o prazer sexual que os maridos geralmente não
proporcionavam a elas (VAINFAS, 1988).
Conforme o historiador Vainfas (2008), as
formas mais usuais usadas pelas mulheres para transgredir a ordem socialmente
estabelecida, eram os adultérios e os relacionamentos homoeróticos. Para
realizarem essas práticas, muitas dessas mulheres aproveitavam as oportunidades
que a própria sociedade lhes dava. Por exemplo, quando as moças eram levadas -
mesmo a contragosto - para os conventos, muitas delas não abdicavam da sua
sexualidade; ao contrário, elas encontravam nesses espaços as condições
propícias para exercê-la (ALGRANTI, 1993).
Como consequência, nos conventos muitas
mulheres davam vazão aos seus desejos mais profundos - até então reprimidos -,
passando a ter envolvimentos com padres, visitantes e inclusive com as demais
internas (ALGRANTI, 1993). Além disso, conforme Algranti (1993), o convento foi
a primeira instituição a ser governada por mulheres; indicando com isso que
nesse espaço as mulheres conseguiam
ocupar um lugar de comando, delegação que a sociedade se recusava a lhes dar
formalmente.
O Brasil fez três visitações de agentes
inquisitoriais que vieram se certificar do cumprimento dos códigos de moral
instituídos pela Igreja. Em todas elas, um pânico generalizado se desencadeava
em todo o território da Colônia. Nesse contexto, os acusados de heresia eram
levados para Portugal, onde eram julgados. A primeira visitação do Santo Ofício
no Brasil ocorreu ainda no princípio da colonização entre 1591 e 1595, sob a
tutela do visitador Heitor Furtado Mendonça (VAINFAS, 1988). Essa visitação
focou no nordeste do Brasil, por causa da grande quantidade de cristãos-novos,
da numerosa população e também das muitas riquezas existentes, à época, nesta
região.
Como nos diz Vainfas (2008), Heitor Furtado
Mendonça, durante sua visitação, descobriu vinte e nove casos de mulheres
praticantes do pecado nefando, ou seja, a sodomia. Dessas vinte e nove, somente
sete responderam a processo, sendo que no final apenas três mulheres foram
castigadas pelos delitos cometidos; e dentre estas últimas, estava Felipa de
Sousa, que foi a única punida rigorosamente (VAINFAS, 2008).
Vainfas (2008) nos apresenta alguns casos de
relações homoeróticas entre mulheres no Brasil Colonial. Um deles é o de Paula
de Figueira de 38 anos de idade. Ela, diferentemente da maioria das mulheres da
Colônia, sabia e gostava de ler. Seu livro predileto era um romance de Jorge de
Montemor, chamado A Diana. O dito apresentava a história de amor entre duas
moças. Por ter tal conteúdo, esse livro foi proibido pela Inquisição, porque
era considerado uma obra que incentivava práticas desviantes. Paula de Figueira
colocou em prática o que lia, com Felipa de Souza, visto que as duas mantinham
um relacionamento amoroso testificado pelas cartas apaixonadas e pelos beijos e
afagos que trocavam (VAINFAS, 2008). Situação semelhante vivenciava Isabel
Antônia com a Francisca Luis Isabel conhecida pela alcunha de Isabel, a do
veludo, como diz Vainfas (2008). Ela era uma mulher solteira que desembarcou em
Bahia no ano de 1579, porque tinha sido degredada. Isabel era chamada de “a de
veludo” porque todos sabiam que ela usava instrumentos de veludo nas relações
sexuais com suas parceiras (VAINFAS, 2008).
Esses registros mostram que o envolvimento
homoerótico entre mulheres no Brasil Colonial ocorria tanto como consequência
do transbordamento da sexualidade reprimida, da restrição de convívio e/ou da
curiosidade. Isso, por certo, contrariava o projeto de mulher pretendido pela
Igreja Católica na fase colonial da história do nosso país, e ao mesmo tempo
mostra que as mulheres não tinham a sua autonomia anulada pela imposição das
normatizações da Igreja e dos demais aparelhos da sociedade da época.
Proposição
de atividade sobre o tema
Para discutir sobre a condição da mulher no
período colonial do Brasil, sugere-se que o/a professor/a de História proponha
uma atividade estruturada nas seguintes etapas:
Pesquisa no livro didático da disciplina
sobre as menções feitas às mulheres na fase colonial da história do Brasil;
Pesquisa na internet sobre o tipo ideal de
mulher apregoado pela Igreja Católica;
Rodas de conversas com a turma sobre os
estereótipos e padrões de comportamento lançados sobre as mulheres no período
colonial e nos dias de hoje – nesse momento o/a professor/a pode aproveitar o
ensejo para incentivar a turma a identificar e problematizar as mudanças e permanências
na imagem social da mulher ao longo do tempo na sociedade brasileira;
E, após dividir a turma em grupos, o/a
docente da disciplina pode propor para os alunos a produção de lapbooks sobre
os resultados da discussão. Em seguida, esses lapbooks poderão ser exibidos
para os demais alunos da escola através de uma exposição feita na escola sobre
o tema.
Considerações
finais
Portanto, longe de serem personagens inertes,
estritamente passíveis e obedientes, as mulheres no Brasil Colonial assumiam
uma postura de enfrentamento ao processo de adestramento, ao qual a sociedade
do período tentava lhes conformar. Elas faziam isso de modos variados, mas com
o mesmo objetivo: o de assegurar sua liberdade e sua autonomia enquanto
indivíduos dotados de vontades e desejos próprios. Certamente, a iniciativa de
fomentar a discussão sobre esse tema se torna necessária, porque vivemos em uma
sociedade que ainda carrega traços coloniais na maneira como enxerga as
mulheres. De modo que, tratar sobre esse tema em sala de aula é uma maneira de,
a um só tempo, discutir gênero em sala de aula e mostrar para os alunos que as
mulheres não podem ser reduzidas a meros papéis de coadjuvantes na história.
Afinal, elas não só tem história, como também escrevem a sua própria história.
Referências
Raimundo Nonato Santos de Sousa – É acadêmico
do oitavo período do curso de História na Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA, campus Caxias. Atualmente, atua como pesquisador-bolsista PIBIC/UEMA e
pesquisador-colaborador UNIVERSAL/FAPEMA.
ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas:
mulheres da colônia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1993. [Livro]
ARAÚJO, Emanuel. A arte da sedução:
sexualidade feminina a colônia. In: PRIORE, Mary Del (org). História das
Mulheres no Brasil. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008. [Livro]
DEL PRIORE, Mary. Ao Sul do Corpo – condição
feminina, maternidade e mentalidades no Brasil Colônia. Brasília: Edunb, 1993,
P. 43-101. [Artigo]
_______________. Magia e medicina na colônia:
o corpo feminino. In: PRIORE, Mary Del
(org). História das Mulheres no Brasil. 9. ed. São Paulo:
Contexto, 2008. [Artigo]
VAINFAS, Ronaldo. Homoerotismo feminino e o
Santo Ofício. In: PRIORE, Mary Del
(org). História das Mulheres no Brasil. 9. ed. São Paulo:
Contexto, 2008. [Artigo]
______________. Trópico dos pecados: moral,
sexualidade e inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1988. [Livro]
Olá, parabéns por seu artigo, adorei. A mulher foi vista nesse período como uma das faces do demônio (assim como o índio, o negro e o judeu). Na sua visão, a mulher como face do diabo, seriam todas as mulheres do Brasil colonial, simplesmente por serem mulheres, ou essa ideia seria apenas para as mulheres que descumprissem as regras impostas?
ResponderExcluirBoa noite, senhora Itamara Cris Marchi Cordeiro. Muito obrigado pelas expressões. No Brasil colonial, as mulheres eram vistas sob duas perspectivas diferentes: uma demonizada que tinha como referência a figura de Eva que fez o primeiro homem pecar e outra purificada que tinha na figura da virgem Maria, mãe de Cristo, sua principal referência. Todas as mulheres, especialmente as solteiras, eram vistas como seres naturalmente inclinados ao pecado; e o medo das mulheres pecarem e levarem outros a pecar fazia com que o feminino fosse tratado com muita desconfiança. Acreditava-se que o casamento poderia afastar a mulher da condição de Eva, aproximando-a através da maternidade da condição de Maria. Nesse contexto, pelo simples fato de pertencer ao gênero feminino as mulheres eram discriminadas, inferiorizadas e subestimadas. Mesmo que elas não tivessem cometido nenhuma prática "desviante", a expectativa socialmente gerada era a de que elas em algum momento iriam transgredir os padrões de conduta considerados corretos; por isso, fazia-se necessário vigiá-las.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa
Olá, obrigada pela atenção.
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