UM CORPO AGENTE MALIGNO EM ERÁRIO MINERAL DE LUÍS GOMES FERREIRA: CONCEPÇÕES MÉDICAS ACERCA DA MENSTRUAÇÃO FEMININA NO SÉCULO XVIII
Desde a Antiguidade até o século XVIII a
menstruação foi considerada um excremento impuro se enquadrando na Teoria
Humoral Hipocrático-Galênica. A medicina, por meio de seu conhecimento teórico,
empírico, intervenções terapêuticas e
semiologia médica, assumiu o domínio sobre os corpos, especificamente o corpo
feminino, dado que esse corpo, em meandros do setecentos, ainda era considerado
pelo cânone médico como “débil, frágil, de natureza imbecil e enfermiça” (DEL
PRIORE, 1993, p. 151). No manual de medicina Erário Mineral (1735) de Luís
Gomes Ferreira é possível analisar em seus relatos a interpretação que o
cirurgião-barbeiro concebe à menstruação, um fluído venenoso que causa danos
terríveis, uma vez que, pautava-se em teses e superstições acerca do útero,
estigmatizando e qualificando a mulher segundo sua constituição biológica.
A
complexa construção de uma medicina brasileira no século XVIII: o sangue
catamenial e sua relação com a Teoria Humoral
A lógica que enquadra a menstruação na Teoria
Humoral Hipocrática-Galênica pode ser investigada na fonte documental Erário
Mineral quando se percebe o complexo e conflituoso processo de construção da
medicina desde a Antiguidade até, em especial, no século XVIII.
Ao se considerar que o período setecentista
foi, particularmente, ambientado por diversas “ciências”, permeado por
diferentes discussões acerca da vida e da saúde, onde tanto líderes religiosos,
doutores, quanto a população buscavam depositar sua crença em teorias que
pudessem reger suas vidas, é possível aferir sobre o quanto o conceito de
medicina naquele contexto poderia ser diverso (COELHO, 2002, p. 168). Ao
assinalar tal configuração, retomar períodos anteriores darão margem para
apontar alguns cenários que contribuíram para que a medicina interpretasse a
menstruação como um líquido mortífero.
Desde o contexto medievo havia uma confusão
no propósito de acolhimento nos chamados “edifícios para abrigar”, decorrendo
de uma ausência de distinção entre o que seria um hospital, uma albergueria ou
um manicômio (LABARGE, 1996). Assim, eram “simultaneamente uma e outra coisa”
(SÁ, 1996, p. 88). A reputada medicina da antiguidade anunciou em seu tempo o
autor da Teoria dos Humores, um médico grego chamado Hipócrates, onde seus
princípios terapêuticos seriam apropriados pelo médico grego Galeno e,
posteriormente, pelo médico polímata Avicena, no período medievo. Ulteriormente
no século XVIII, essa terapêutica seria o cerne para o estudo e tratamento de
doenças (COELHO,2002, p. 156).
Na Idade média a construção do saber no campo
da medicina envolvia, para além disso, uma mistura de saberes que abarcavam
outras esferas, como a prática astrológica, não sendo integralmente proibida,
mas somente quando utilizada pelos matemáticos do oriente. Essas práticas
tinham o mesmo peso de legitimidade que os Tratados médicos produzidos pelos
letrados do período. Ademais, no século XVIII, a presença de manuais de
medicina instrucionais seria constante no interior da malha social e
psicológica na colônia mineira (ABREU, 2011, p. 14), servindo-se de consulta
tanto pelos médicos quanto pelo público leigo, sendo manuseado com a finalidade
de instrução da vida, sobretudo da saúde.
Almanaques chamados Lunários Perpétuos
exerciam um papel salutar na condução da vida dos indivíduos na colônia mineira
no setecentos, seus diagnósticos eram como uma sentença quase definitiva, quem
os elaborou seguia fenômenos da própria natureza, ensinando sobre ciência,
remédios, cura de doenças e sobre a menstruação das mulheres (FIGUEIRÊDO, 2014,
p. 26). Havia também o uso recorrente de manuais de exorcismo, sob os domínios
da religião, onde o ato de exorcizar buscava curar as pessoas de uma moléstia
de feitiçaria (ibidem, 2011).
Na América portuguesa, a terapêutica africana
contribuiu para resolver problemas médicos no século XVIII com seus produtos da
África Centro-Ocidental, um aspecto significativo para a formulação da
farmacopeia europeia (FAGUNDES, 2017). Os conhecimentos advindos dos ameríndios
também podem ser encontrados nessa composição farmacêutica, pois, embora
submetidos aos tratamentos galênicos praticados pelos jesuítas, estavam
apoiados na flora brasileira para a cura de doenças endêmicas e saúde em geral
(DEL PRIORE, 2004).
A medicina portuguesa oficial, dita erudita,
que tentava interpretar os domínios do corpo, estava, pois, se afastando de
compreender seu funcionamento interno. Em sua totalidade anatômica, negava
práticas de cura ilegais, embora as incorporando, e pautava-se em seu diagnóstico
de doenças prioritariamente no esvaziamento do excesso e acúmulo de humor que a
pessoa apresentava quando estava enferma, pois a Teoria Humoral se baseava em
equilibrar perturbações internas chamadas de humores, sendo eles quatro, o
sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra (COELHO, 2002).
Segundo Porter e Vigarello (2008, p. 443)
“Não é aberrante fazer do “estado” dos fluídos, indícios do “estado” do corpo”.
Ou seja, a comparação da menstruação como excremento ou fluído venenoso, dado o
mistério no interior dos corpos, levando em consideração que o diagnóstico pela
observação inspecionava mais os líquidos do que os sólidos, levava a
menstruação regular das mulheres a serem interpretadas como resultado de um
desequilíbrio interno constante. A menstruação seria encarada como um excesso e
desequilíbrio humoral constante, produzido pelo aparelho reprodutor feminino,
uma doença exclusiva da mulher.
O
corpo feminino como “Receptáculo Maligno” no discurso médico, moral e religioso
no setecentos
O corpo sempre esteve sob o domínio do
discurso médico e, prioritariamente, do religioso, sendo este referência
inalterável para os religiosos, relembrando-o como sacrifício pela redenção da
humanidade (GÉLIS, 2008, p. 19). Mas, existe uma outra imagem do corpo que deve
ser evidenciada, o corpo humano, cujo pecado o persegue desde seu nascimento.
Nisto, para que ninguém se desviasse dos caminhos morais, a igreja estabeleceu
diversas medidas coercitivas para o controle do corpo, e quem mais se
maleficiou com esses regulamentos foram as mulheres.
O aparelho reprodutor feminino foi empregado
pela igreja para controlá-las, sob o aspecto do casamento e da maternidade,
pois, assim, poderia ditar seus passos (SILVA, 2019, p. 149), de modo que a
investigação de seu útero estava vinculada permanentemente sobre sua natureza
maternal, cujo destino estava reservado à todas. A menstruação seria designada
como um sangue limpo se constituísse a vida, caso contrário assumiria como
secreção suja, não servindo para nada, a não ser como causadora de moléstias
(LEAL, 1995, p. 27). A medicina atribuiu à menstruação um fenômeno similar a
uma doença, causada pelo desequilíbrio dos humores.
Esse corpo feminino, frágil e imperfeito,
estando aberto e propício a diversas influências do mau que há no meio externo,
invisíveis aos olhos, torna-se um objeto que incorpora mais facilmente a
corrupção dos humores (BARREIROS, 2014, p. 46).
Doenças
físicas
A mulher seria controlada e dominada pelo
útero e seus instintos mais perversos, uma vez que, as teorias engendradas no
furor uterino, juntamente com a proliferação de imagens sobre sua natureza
perversa, já estavam possuindo comprovação científica. Ademais, seus desejos e
prazeres sexuais seriam foco de atenção nos tratados médicos. O útero como
protagonista da infâmia das desreguladas, as direcionariam no caminho da
ninfomania, aparentemente, ocorrendo com menor frequência que a histeria, mas
acompanhada dela como um de seus sintomas (Ibidem, 2004).
A concepção de que o corpo feminino é um agente
maligno, embora coibido de dar à luz a uma vida, segundo o cirurgião Luís Gomes
Ferreira (2002) está no fato de que sua estrutura física e, mais precisamente,
seu organismo produzem um líquido nocivo, no qual as mulheres o utilizam para
enfeitiçar os homens, dando-lhes de beber ou por simples contato, por objetivo
conquistá-lo. No entanto, acaba por deixá-los “tontos, loucos, furiosos e os
mata, porque é tal o veneno e maldade do dito sangue que, até nas coisas
insensíveis, faz tais estragos e efeitos tão lamentáveis”(ibidem, 2002, p.
423), levando a acreditar que a mulher não teria boas intenções e índole
virtuosa justamente por propiciar, por intermédio de seu corpo, um sangue tão
danoso, no qual é letal à sua própria saúde física e mental quanto a do homem,
que por engano viesse a cometer tal erro.
Quando ocorriam mortes em que um homem
falecia e não se encontrava a causa, muitas opiniões, seja médica ou de cunho
popular, reforçavam a presença de feitiços feitos por mulheres que se
utilizavam de seu sangue menstrual. Logo, as opiniões populares do período
estavam banhadas de superstições que, à época, tinham caráter de factualidade.
Assim como, a mesma noção iria permear sobre o imaginário médico do setecentos.
Ilustração do anatomista Johann Remmelin,
1619, Universidade de Lowa.
Fonte:
https://publicdomainreview.org/collection/remmelin-s-anatomical-flap-book-1667
Doenças
mentais
A revolução burguesa do século XVIII
apregoaria a igualdade, mas que jamais se concretizaria. No entanto,
alicercearia uma nova ordem social, dentro de um ideário onde passaria a
controlar o cotidiano dos indivíduos, seus gestos e pensamentos. A sociedade
burguesa irá se munir de instrumentos de coerção, aliada ao fenômeno da
medicalização na medicina, transferirá seu pensamento “preventivo” sobre o que
poderia vir a ser ou contrair, em relação aos corpos, para o imaginário social,
que incorporará um senso de higienização e moral, cerceando, quiçá eliminando,
a partir de então, toda a autonomia da mulher (VIGARELLO, 2008).
Foi, pois, uma cultura masculina que procurou
construir uma leitura do comportamento da mulher, seja interpretando-a no que
diz respeito ao seu corpo e seu psicológico, seja concebendo modelos morais de
conduta, as medidas coercitivas sobre seu corpo as levariam a se enquadrar numa
condição de espécie fraca e de mente
desequilibrada, de modo que a sociedade alimentaria uma hostilidade em relação
a tudo o que a mulher e seu corpo estivesse envolvido. O sangue menstrual, por
sua vez, foi relacionado a uma gama de estigmas, o corpo da mulher passou a ser
encarado como “um animal voraz e feroz” (ibidem, 2019, p. 149) e devido a esse
corpo, ao mesmo tempo frágil e inquieto, seria mais propenso a desenvolver
transtornos mentais (ibidem, 2004, p. 333).
O comportamento das mulheres quando não lhe
vinham a conjunção era, muitas vezes, associado à histeria, uma vez que o
sangue menstrual acaba por assumir o protagonismo sobre diversas moléstias, o
fluído poderia causar doenças tanto nela quanto em quem entrasse em contato com
seu excremento venenoso. Elucida-se uma leitura religiosa, em que a medicina se
ampara, ao visualizar seu corpo como um veículo que incorpora o mau, senão, é o
próprio mau, e é a intermediária da histeria (BOLLAS, 2000).“A noção de
repulsa, de perigo e de evitação” em relação ao sangue menstrual ou a mulher
nesse estado está ligado a crença de que esse fluído catamenial é
“simbolicamente potente, poderoso, forte, fértil”, temendo os homens de se
tornarem impotentes e loucos (LEAL, 1995, p. 26).
Se o prelúdio é o útero, logo a mulher teria
mais propensão a contrair diversas doenças, principalmente transtornos mentais,
mas o fato é que muitas das vezes seu corpo, sua sexualidade é colocada em
pauta para identificar patologias, uma vez que já eram consideradas, por
natureza, inclinadas a desenvolver perturbações mentais pelo indecifrável
funcionamento do seu organismo, como também pelos seus atos libidinosos, e
esses, quando se desconfiava que havia, eram reprimidos e qualquer que fosse
seus desejos e ânsias. E em meio a esse ambiente, o procedimento padrão para
identificação da histeria, tal como a ninfomania, seria perceber se uma pessoa,
prioritariamente mulher, estava demonstrando inquietação com o corpo, fazendo
uso racional do sexo e demonstrando ter orgasmos com muita frequência (Ibidem,
2004).
O aspecto significativo é que a transgressão
pela sexualidade estaria atrelada a essas curiosidades por parte da mulher,
ela, por sua vez, seria fortemente reprimida por sua intromissão naquilo que já
estava sendo teorizado pelos médicos sobre seu corpo, medidas essas coercitivas
que segundo Matthews-Grieco (2008) alienariam
mentes, tanto de mulheres como de homens, onde Sigmund Freud diria mais
tarde que “o prazer sexual seria incompatível com a sociedade civilizada”
(Ibidem, 2008, p. 219), ou pelo menos, forçosamente civilizada.
Conclusão
O aparelho genital da mulher, tinha, então,
forte domínio sobre o estado mental das mulheres, seu corpo é um teatro de
expressões e manifestações, numa linguagem onde poderia denunciar as suas
fragilidades. As mulheres teriam de enfrentar dúvidas sobre seu próprio corpo
e, infelizmente, admitir que era uma doente, diante de uma sociedade que a
forçaria a se sujeitar.
O cirurgião Gomes Ferreira, em seus tratados,
tratou de inúmeras doenças venéreas, e nessas ocasiões sublinhava a necessidade
dos homens se afastarem das “mulheres depravadas”, visto que as associavam a
todo tipo de mau e bruxaria, ora, o português afirma que o sangue menstrual das
mulheres seria capaz de inúmeras vezes arruinar o membro masculino, no que
culminaria no homem uma profunda loucura e falta de juízo (DIAS, 2002, p. 88).
Um sangue que parecia possuir uma condição de alteridade, alojando-se no corpo
da mulher, fazendo-a sucumbir a diversas ações malignas (Ibidem, 1995, p. 22).
É considerável descortinar o véu que escondia
o medo coletivo quando o assunto era a histeria e a loucura, e, mais
precisamente, tudo que envolvia a mulher e seu corpo, os autores dos discursos
médicos acerca do aparelho reprodutor feminino e, mais precisamente, da
menstruação, eram homens, e essa categoria tinha medo do que não conhecia
(BARREIROS, 2014). Justificamos a pesquisa aqui apresentada, sob a necessidade
de esquadrinhar como se deu este importante processo em que enquadra a
menstruação a algo relacionado ao mau, de natureza venenosa, e como o fenômeno
da menstruação foi sendo concebido pelo imaginário coletivo e pela ciência
médica no século XVIII.
Referências
Gessica
de Brito Bueno é graduada em Artes Visuais e graduanda do curso de História na
Universidade Estadual de Maringá, bolsista PIC.
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corpo: o saber médico luso-brasileiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Editora
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do Corpo no Portugal do Século XVIII: Sensibilidade, Higiene e Saúde Pública.
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Monica seincman. –São Paulo: Escuta, 2000.
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In: FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira. Belo
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VIGARELLO, Georges. História do Corpo: Da
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Ótima pesquisa! Ao lermos sobre a trajetoria dos estudos sobre o corpo feminino percebemos que ainda existem certos tabus que o permeiam, principalmente a respeito da menstruação. Me surgiu uma dúvida, a partir de qual momento esse paradigma da lugar a outras pesquisas que desmitificam esse entendimento sobre o corpo feminino?
ResponderExcluirAngeliane Arceni Chefer
Olá Angeliane!
ExcluirMuito grata!
Esse paradigma acerca da menstruação e sua relação com a Teoria Humoral vai começar a ser contestado quando alguns anatomistas, médicos e cirurgiões começam a incorporar fundamentos do racionalismo, bem como, indo em defesa do experimentalismo, o que irá ocorrer por volta do século XIX, muito embora no final do século XVIII e início do XIX as descobertas por meio das dissecações anatômicas iriam ser usadas pra justificar a submissão das mulheres face aos homens. É a partir dos estudos anatômicos e fisiológicos que se depreendeu que a menstruação é um fenômeno biológico feminino. Contudo, muitas culturas ainda tratam o tema como um tabu, delegando o sangue menstrual a algo ruim ou um castigo.
Espero ter respondido sua questão.
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
Como foi colocado no inicio do texto, Luís Gomes Ferreira, na obra Erário Mineral (1735), associa a menstruação como algo maleficente. No entanto, como as próprias mulheres encaravam a menstruação nesse período?
ResponderExcluirGustavo Manchini Cardozo
Olá Gustavo!
ExcluirNos relatos circunstanciados na fonte documental Erário Mineral é possível perceber que as mulheres do século XVIII também acreditavam que seu sangue menstrual era maléfico, pois, o conhecimento sobre seus corpos estava sendo produzido por homens, cientistas e doutores, que afirmavam ser o sangue menstrual um fluído venenoso, elas acreditavam ter um corpo de natureza enfermiça, em constante desequilíbrio, físico e psicológico.
Espero ter respondido sua questão.
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
Partindo da ideia que a Igreja e os médicos pensavam que a menstruação poderia causar mal ao corpo feminino e masculino, havia alguma lei que proibia a prática sexual durante esse período? Era considerado pecado?
ResponderExcluirJoão Primon
Olá João!
ExcluirBoa pergunta! Em Minas Gerais, no século XVIII, as opiniões médicas a respeito da menstruação eram de caráter preventivo, até atemorizante, pois ter relações sexuais com uma mulher em período menstrual é correr o risco de perder a sanidade, bem como se tornariam impotentes, sendo o ato considerado pecado. Logo, havia uma repulsa e evitação em relação ao sangue catamenial, medos alimentados pelas instituições religiosas. As representações acerca do sangue maléfico eram fortes o suficiente para amedrontar o imaginário, muito embora há diversos relatos em que homens e mulheres tiveram relações sob essas circunstâncias. Não havia uma lei que os impedisse, mas quando algum homem, por coincidência, adoecesse logo após uma relação e contato com o sangue, responsabilizavam as mulheres pela moléstia.
Espero ter respondido sua questão.
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
Levando em consideração de que a menstruação considerada um fluido venenoso, existem relatos da época de como as mulheres reagiam e encaravam a primeira menstruação? e relatos de mulheres que paravam de menstruar (menopausa)? Como que as mulheres se resguardavam no período menstrual?
ResponderExcluirCarolina Freitas
Boa noite Carolina!
ExcluirNo século XVIII a igreja volta sua preocupação para a mulher onde evidencia sua contribuição positiva por meio de seu papel como mãe, esposa e a administradora do lar. Logo, as meninas brancas, atenção, após sua primeira menstruação, voltava sua identidade para o interior do núcleo doméstico. Considerando que estamos tratando de um contexto onde havia escravidão no Brasil, e a pesquisa é muito mais voltada sobre as mulheres negras, a situação das negras seria diferente e mais dolorosa. Em muitos relatos, o cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira escreve que ajudou negras que estavam doentes, pois seu sangue não havia descido. Num contexto em que elas deveriam trabalhar para seus senhores, seja em boticas, na casa grande ou vendendo alimentos, elas eram obrigadas a esconderem seu ciclo, sobretudo, nem eram consideradas como seres humanos, e sim um objeto de satisfação sexual, bem como, instrumento de trabalho. Enquanto as brancas se resguardavam em suas casas, as negras continuariam realizando seus trabalhos, sob abusos e torturas.
Espero ter respondido a sua questão.
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
Olá,
ResponderExcluirGostaria de saber as possíveis maneiras que essa temática poderia ser abordada em sala de aula?
Daiane da Silva Vicente
Boa noite Daiane!
ExcluirPrimeiramente é preciso desmistificar os tabus existentes em torno deste tema, levando textos e ilustrações, estimulando a participação dos alunos para responderem o que acham sobre o assunto. Ao tratar do tema, utilizar embasamentos científicos, tanto para o fundamental quanto para o médio, numa linguagem acessível para que possam compreender e questionar superstições acerca da menstruação.
Espero ter respondido sua questão
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
A partir da leitura da pesquisa, fica evidente o papel hegemônico das instituições religiosas e patriarcais, dentro do embasamento teórico científico do passado. Mesmo quando são assuntos que remetem a questões pertinentes, primeiramente, ao universo da mulher, que acabava não tendo parte optativa dentro da elaboração de argumentos construtivos, o que por consequência, acabou fomentando tantos tabus a respeito do funcionamento do corpo feminino.
ResponderExcluirConsiderando o desenvolvimento da medicina atual, como poderíamos pontuar um fator determinante dentro dessa ascensão? O que culminou na mudança dos paradigmas das pesquisas com ramificações biológicas, ora lideradas exclusivamente por agentes masculinos?
Vitor F Assis
Olá Vitor!
ExcluirUm fator determinante dentro dessa ascensão? Os homens, por muito tempo, lideraram as produções científicas, filosóficas, literárias acerca da vida e do corpo. Certamente, as teorias religiosas incentivaram esse tipo de atitude, o patriarcado é produto de um sentimento de superioridade, tanto em relação as mulheres quanto em relação a natureza. As mudanças de paradigmas no campo da ciência e estudos anatômicos ocorreram paulatinamente, pois seria necessário superar a resistência ao experimentalismo, de cunho teórico e mecânico, que compreenderia o funcionamento do corpo feminino.
Espero ter respondido sua questão
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
Você acha que essa construção sobre o corpo feminino e seus fluídos no século XVIII ainda permeia a visão sobre a mulher no século XXI? De que maneira?
ResponderExcluirDaiane Momo Daneluz
Boa noite Daiane!
ExcluirO Brasil do século XXI ainda carrega muitos de seus tabus do século XVIII, por exemplo, relações sexuais em período menstrual? Ocorrem, mas não é algo se se comente com naturalidade em um ciclo de pessoas desconhecidas. Assim como, as mulheres continuam a sentir certo constrangimento quando o assunto surge ou quando por acidente alguém descobre que está menstruando. Foram tantos anos de representações maléficas acerca do sangue menstrual, que ainda hoje elas ainda permeiam.
Espero ter respondido sua questão
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
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ResponderExcluirPrimeiramente, quero dar os parabéns pelo excelente trabalho, que se faz muito importante para entendermos como o presente assunto era tratado no período analisado. Segue a pergunta: Em Erário Mineral, de Luís Gomes Ferreira, as mulheres citadas na narrativa eram somente brancas ou as mulheres negras também apareciam? E qual a importância desse elemento ficar claro durante a narrativa?
ResponderExcluirBruno Novello
Olá Bruno!
ExcluirMuito grata!!
Na fonte documental Erário Mineral a maioria das mulheres que são citadas na obra são negras escravas, pois trata-se, ainda, do período da escravidão, há alguns relatos sobre mulheres brancas, porém, nos tratados do volume II, bem como, no volume I, as receitas e procedimentos médicos para fazer vir a conjunção eram voltadas, praticamente, para as negras, que, como se percebeu, tinham uma grande importância de cunho econômico no período. É importante evidenciar esse aspecto principalmente porque trata-se, ainda que não tenha sido intencional escrever a obra sobre elas, da história de mulheres negras que foram negligenciadas tanto no período quanto nos livros de histórias que temos acesso hoje, é por isso que a pesquisa se volta, para além da menstruação, para a mulher negra do século XVIII.
Espero ter respondido sua questão
Atenciosamente
Gessica de Brito Bueno
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