VIOLÊNCIAS DE GÊNEROS
O trabalho em questão faz parte do LEGIP
(Laboratório de Estudos de Gênero do IFMA Pedreiras)e provém do projeto de
pesquisa aprovado pelo EDITAL FAPEMA N° 004/2018- GERAÇÃO CIÊNCIA intitulado
como "Violências de Gêneros", que busca analisar a diversidade e a
propagação das Violências de Gêneros, evidenciando os casos da cidade de
Pedreiras Maranhão.
Para este artigo, optamos em discorrer sobre
a fundamentação teórica que embasa nossa pesquisa. Em meio às leituras das
Teorias sobre gênero e violências, verificamos como noções são atribuídas ao
corpo sexuado, juntamente com os papéis aos quais o indivíduo deverá
sujeitar-se e ocupar, antes mesmo do nascimento. É, portanto, segundo Joan
Scott (1989, p.7), possível perceber que o Gênero não se liga diretamente ao
sexo biológico, mas é construído em função desse, a justificativa para os
papéis normalmente atribuídos aos indivíduos, dessa forma, não está somente no
critério biológico, mas no social, cultural e histórico.
Essas estruturas estabelecidas a partir do
sexo biológico serão bastante criticadas por teóricos do campo político,
histórico e social, uma vez que fundamentam e legitimam sistemas como
Patriarcalismo, heteronormatividade e Masculinidade Hegemônica, que colocam o
Homem como superior e dominador, enquanto Mulheres “inferiores” precisam
submeter-se. Tal visão, meramente baseada na condição física e na natureza dos
dois, gera além das desigualdades, uma série de violências, legitimadas por uma
ideia de predestinação da dominação de um grupo sobre outro.
Já sobre a violência podemos defini-la de
muitas maneiras, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o
uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra
pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em
sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação.
(DAHLBERG, KRUG: 2007)
Podemos, ainda, relacionar violência com as
relações de poder ampliando as noções de atos violentos destacando-se, por
exemplo, ameaças e intimidações que causem danos ao indivíduo.
A violência baseada em gênero ocorre,
geralmente, a partir do momento em que pensamentos, como os dominantes, são
contestados ou há tentativas de rupturas, especialmente por grupos
inferiorizados, dessa forma, na busca de reafirmar a autoridade e a manutenção
de seu poder, os indivíduos “ameaçados” reagem por meio da violência, seja ela
física, psicológica, moral, sexual etc.
No Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, os números de indivíduos violentados por questões ligadas ao
gênero são bem altos, cerca de 4936 mulheres foram assassinadas em 2017, maior
número em 10 anos e em 2016, foram 5930 notificações de violência contra homossexuais
e bissexuais. Boa parte dessas violências ainda são legitimadas pelo senso
comum, pois estão imersas em uma sociedade que acredita papéis sociais de
gênero estanques.
Entendendo
o gênero
Definir gênero não é uma tarefa simples, pois
abrange uma rede bastante ampla de significados. Gramaticalmente, a palavra
está ligada a dicotomia feminino/masculino, embora em alguns idiomas apresente
o gênero neutro. Na biologia, representa uma unidade taxonômica, para a
classificação dos seres vivos. Todavia, quando levado em conta o contexto
histórico, cultural e social, representa, entre outros, as construções sociais
atribuídas aos indivíduos sobre o seu corpo sexuado, portanto, não se trata
apenas da diferença entre os sexos, mas em relações associadas às relações de
poder, à organização familiar, ao contexto político, como também na organização
e na história de uma nação, de uma sociedade.
A palavra gênero - com essas significações -
“tem suas raízes na junção de duas ideias importantes do pensamento ocidental
moderno: a da base material da identidade e a da construção social do caráter
humano” (NICHOLSON: 2000, p.2). Essa visão foi intensificadamente utilizada por
estudiosas, ligadas ao movimento feminista, nas décadas de 1960 a 1980, como
forma de trabalhar as diferenças entre homens e mulheres, não nas questões
biológicas, mas sim como base para compreender diferenças de comportamentos,
personalidades e socialização.
Essas estudiosas feministas buscavam
inscrever as mulheres na História, nesse contexto, gênero ganha significado
como sinônimo para mulheres, contudo, não se podia estudar separadamente a
História das mulheres, isto é, fazia-se necessário estudar as experiências
vivenciadas entre os indivíduos, entre a história do passado e as práticas históricas
atuais, Scott coloca que gênero possui uma significação mais ampla:
‘O gênero se torna, aliás, uma maneira de
indicar as “construções sociais” – a criação inteiramente social das ideias
sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir
às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das
mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta
sobre um corpo sexuado’. (SCOTT, 1988, p.7)
Tais estudos feministas contribuíram significamente
para a difusão dessas noções, fazendo com que fossem pensadas maneiras de
entender os modelos dominantes e desiguais. Ampliou-se também a abrangência do
termo gênero, que não mais se restringia a mulheres, mas considerava os
indivíduos e os papéis atribuídos a eles.
Corpo
e gêneros
Mesmo compreendendo que ao tratarmos de
gênero concentramo-nos no social, a discussão sobre corpo não fica de fora das
análises, afinal, grande parte das desigualdades de gênero, em especial contra
as mulheres, levam em consideração seus corpos. Segundo Elizabeth Grosz (2000,
p.67): “A sexualidade feminina e os poderes de reprodução das mulheres são
as características (culturais) definidoras das mulheres e, ao mesmo tempo,
essas mesmas funções tornam a mulher vulnerável, necessitando de proteção ou de
tratamento especial, conforme foi variadamente prescrito pelo patriarcado.”
Dessa forma, segundo o patriarcalismo, as mulheres, por suas características
corporais, não são suficientemente capazes de assumir papéis semelhantes aos
atribuídos aos Homens, e assim são justificadas as restrições aos papéis
sociais e econômicos das mulheres. Do mesmo modo, os indivíduos do sexo
masculino, “devem” assumir uma postura de dominação e proteção, e
consequentemente controle, dos demais indivíduos.
Historicamente as feministas responderam de
formas diferenciadas esse entendimento, objetivando a igualdade nos papéis
sociais, elas trouxeram o corpo como centro das discussões. De forma didática
Elizabeth Grosz classificou essas discursões
em “ondas”, sendo a primeira o Feminismo Igualitário, que afirmava corpo
feminino como uma limitação para a igualdade e, portanto, era preciso
superá-lo. Dentre as características femininas, analisaram a maternidade
concluindo que “Se a mulher adota o papel de mãe, seu acesso à esfera pública,
social, torna-se difícil, senão impossível, e a equidade dos papéis dos dois
sexos perde o sentido. No melhor dos casos, a equidade das relações entre os
sexos só é possível na esfera pública” (GROSZ. 2000. p.71). Portanto, era
preciso superar a maternidade.
A segunda onda, chamada de Construcionismo
social, colocava que o corpo realizava produção e reprodução, em contradição à
mente, que se concentrava na ideologia e no social. Portanto, para atingir a
igualdade, não era necessário mudar o corpo - este sendo imutável - mas crenças
valores e atitudes.
Já, a terceira onda, Diferença Sexual, aponta
o corpo como significante e significado, construído conforme um contexto
histórico e cultural. “Assim, essas feministas não estão evocando um corpo
puro, pré-cultural, pré-social ou pré-linguístico, mas um corpo como objeto
social e discursivo, um corpo vinculado à ordem do desejo, do significado e do
poder” (GROSZ. 2000. p.77).
É possível perceber, que nas discussões a
respeito de corpos encontra-se diversos fatores que justificam preconceitos,
estes por sua vez, atrelado às relações de poder, causam violências, sejam em
diferentes vertentes, mas que agem muitas vezes contra o corpo das vítimas. Se
analisarmos mais profundamente, podemos perceber que sobre os corpos se
voltaram várias questões apoiando-se diretamente ao gênero e não propriamente
ao corpo.
É preciso, levarmos em conta tanto a relação
que o indivíduo mantém com seu corpo, quanto as expectativas sociais desse
indivíduo pelo corpo o qual pertence. Portanto, trataremos não mais de gênero,
no singular, mas de Gêneros, pois compreende-se que há uma ampla rede de
identidades sociais, provenientes das Masculinidades Plurais, das relações de
sexualidades e afetividades, das transexualidades e transgêneros, como também
daqueles que não se consideram pertencentes aos gêneros pré-estabelecidos.
Violência
A origem do termo violência vem do latim
violentia e significa o ato de violar alguém ou auto violar-se. “Além disso, o
termo parece indicar algo fora do estado natural, algo ligado à força, ao
ímpeto, ao comportamento deliberado que produz danos físicos tais como:
ferimentos, tortura, morte ou danos psíquicos, que produz humilhações, ameaças,
ofensas” (PAVIANI. 2016). Todavia,
é preciso levar em consideração as conjunturas históricas e culturais dos
grupos sociais, de modo que o conceito de violência ganha amplos significados e
teorias. Hannah Arendt, por exemplo, define violência como “meio ou instrumento
de coacção que constituem recursos ao serviço exclusivo e soberano de uma dada
autoridade (ou entidade), no exercício de uma dada forma de poder.” (ARENDT.
1970) Sendo que existem situações que propiciam os atos violentos, em especial
àqueles em que há a “perda de autoridade” ou situações em que existe a ameaça
de transformação na estrutura daquela relação de poder.
Contudo, mesmo entendendo que o conceito de
violência é cultural, histórico e socialmente construído, é preciso levar em
conta o aspecto da saúde e bem-estar do indivíduo. Alguns atos podem ser
legitimados por culturas e crenças, mas prejudicam a saúde do indivíduo. A
violência contra a mulher, por exemplo, ainda que legitimada por alguns, causa
um dano à saúde e bem-estar desta e, portanto, não pode ser considerado algo
natural. É importante, também, entender que violência não se resume a violações
físicas, mas se expande em uma ampla rede de atitudes que massacram e oprimem
uma vítima. Dentre os tipos de violências, segundo Relatório Mundial da OMS destacam-se:
“As Violências Autoinfligidas, violência
praticada contra si mesmo, especialmente suicídio, agressões a si próprio,
automutilações, entre outros;
As Violências Interpessoais, classificadas em
Violências intrafamiliar: entre parceiros íntimos e entre membros da família,
principalmente no ambiente doméstico, mas não unicamente; e Violências
Comunitárias, que ocorre no ambiente social em geral, entre conhecidos e
desconhecidos;
As Violências coletivas incluem-se guerras,
atos terroristas, geralmente motivados por interesses de dominação; “se
entendem os atos violentos que acontecem nos âmbitos macro-sociais, políticos e
econômicos e caracterizam a dominação de grupos e do Estado” (MINAYO.2005).
Relatório Mundial da OMS adiciona ainda as
Violências do tipo estrutural, a qual “se refere aos processos sociais,
políticos e econômicos que reproduzem e cronificam a fome, a miséria e as
desigualdades sociais, de gênero, de etnia e mantêm o domínio adultocêntrico
sobre crianças e adolescentes” (MINAYO.2005). Nestas podemos citar as
Violências Culturais, que levam em consideração as formas de violência
naturalizadas por uma cultura, em especial as Violências de caráter
étnico/racial e as Violências de Gênero.
Violências
de Gêneros
Foucault
(2001) afirma que a violência pode ser um instrumento utilizado nas relações de
poder embora sejam fenômenos distintos, estão diretamente relacionados, e que a
chave para a compreensão da violência é a forma como se concebe o poder. Assim,
a violência surge como recurso ou alternativa para manter a estrutura de poder.
(OLIVEIRA. CAVALCANTI. 2017)
As
vítimas desse tipo de violência, são o grupo que é dominado e oprimido por essa
estrutura, como as mulheres, as crianças e todos os demais que não estão de
acordo com os padrões instituídos. A família se constitui na principal
instituição em que as violências são manifestadas, pois é principalmente nela que
há as organizações dos papéis sociais. Além disso, perceber
e denunciar essas violências é mais complexo, pois além dos laços familiares
construídos, muitas vezes, essa demonstração de violência acontece no privado e
permanecem no silêncio dos envolvidos. "(...) a família nuclear
tradicional tem sido um lugar onde a prevalência de abuso de crianças,
violência doméstica, e estupro é sistematicamente ocultada e negada.” (SEGAL,
1989, p.136).
Geralmente, nas relações entre homens e
mulheres, principalmente casais, os atos de violência são naturalizados de
acordo com uma ideologia sexista e misógina. Nessas relações, as mulheres ficam
com o trabalho doméstico e a responsabilidade principal de educar os filhos,
enquanto o homem possui a função de sustentar e "organizar" a
família. Segundo Koss (2000) essa divisão do trabalho colocam as mulheres a
assumir posições desiguais em termos de poder, prestígio e riqueza. Dessa
forma, quando muitas mulheres almejam contrapor as funções atribuídas a elas, são
submetidas a manifestações violentas de homens. A violência contra crianças,
especialmente meninas, também se manifesta, frequentemente, no ambiente
doméstico e tornando-se mais complicado de perceber, pois pela idade da vítima
sua palavra é questionada quando comparada a de um adulto. Fora do âmbito
doméstico, muitas mulheres também sofrem agressões, até mesmo quando ocupam
cargos políticos, majoritariamente de representantes masculinos, não raro elas
são criticadas e desvalorizadas, meramente, por seu gênero, ainda que tal ato
seja negado e mascarado por outras justificativas. Há ainda outras formas
preconceituosas muito comuns, como o julgamento pela vestimenta, sendo usado
como justificativa até em casos de estupros e feminicídios, tornando a vítima
culpada por não seguir o padrão moral que é imposto ao seu gênero.
As formas de agressão são complexas,
perversas e apresentam-se de diversas formas como ameaças, humilhações,
insultos, chantagens, limitações, além de patrimonial, que é quando há o
controle e privação de bens ou dano a algum objeto de valor daquela vítima; há
ainda violências do tipo moral, quando há acusações, exposição, desvalorização
da vítima; e também sexual (estupros, abusos sexuais, impedir o uso de métodos
contraceptivos, etc.), podem se manifestar antes, durante e fora de
relacionamentos com a vítima.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), em 2013 o Brasil já ocupava o 5º lugar, num ranking de 83 países onde
mais se matam mulheres. São 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, em que quase
30% dos crimes ocorrem nos domicílios. Além disso, uma pesquisa do DataSenado
(2013) revelou que 1 em cada 5 brasileiras assumiu que já foi vítima de
violência doméstica e familiar provocada por um homem. Os resultados da
Fundação Perseu Abramo, com base em estudo realizado em 2010, também reforçam
esses dados – para se ter uma ideia, a cada 2 minutos 5 mulheres são
violentamente agredidas. (INSTITUTO MARIA DA PENHA)
De acordo com esses dados, é relevante
procurar maneiras de quebrar os ciclos de violência contra a mulher, a criação
de leis, que assegurem o direito à liberdade de acordo com a Declaração dos
Direitos Humanos, se faz importante em uma sociedade marcada pela violência,
como a nossa. A Lei N° 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha foi uma
conquista árdua das mulheres na luta por seus direitos. A Lei afirma no Art. 2º
que:
Toda mulher, independentemente de classe,
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e
religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar
sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
(Lei N° 11.340/06)
A Lei foi criada no intuito de conceber um atendimento
diferenciado e preferencial às mulheres que são vítimas de violência doméstica
e/ou intrafamiliar. Posterior a essa lei, outras ganharam espaço, com outras
motivações, mas com o mesmo caráter de combate a violência contra a mulher, é o
caso da Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/2012) que dispõe sobre a tipificação
criminal de delitos informáticos, a Lei de Feminicídio (Lei 13.104/2015) que
busca reduzir o número de homicídios contra mulheres em função de seu gênero,
entre outras leis que criminalizam e repudiam atos de violência contra as
mulheres.
Não somente as mulheres são vítimas de
violências baseadas em gênero, mas muitos homens, especialmente crianças, que
não expressam o modelo hegemônico de masculinidade são vítimas de bullying,
abuso sexual, agressões físicas etc., gerando sujeitos reprimidos,
traumatizados e até violentos.
Há ainda aqueles que sofrem violências de
gêneros na condição de sua identidade de gênero e sua opção sexual não serem
tradicionais. A LGBTfobia destaca os principais grupos afetados por essas
violências. Na maior parte das vezes, essas violências são invisibilizadas e só
ganha destaque quando há casos de homicídio. Segundo Junqueira (2007),
LGBTfobia se refere a sentimentos negativos relacionados ao “medo” e ao “semelhante”
direcionados a gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. Dessa
forma, “compreendemos a expressão LGBTfobia como o conjunto de anseios como
ira, nojo, desconforto, receio, horror, desprezo e descaso pelas pessoas que
não estão inclusas nas definições rígidas amarrados a heteronormatividade e a
dialética binária de gênero.” (Ministério dos Direitos Humanos, 2018).
Considerações
finais
Segundo art. 2º da Lei Maria da Penha/2006
“Toda mulher, independente de classe, raça, etnia..., goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades
e facilidades para viver sem violência...”, no entanto, dados registram alta
nos casos de violência contra mulher, principalmente mulheres negras. O Mapa da
Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, elaborado pela Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) mostra que a taxa de assassinatos
de mulheres negras aumentou 54% em dez anos, enquanto que, no mesmo período, o
número de homicídios de mulheres brancas diminuiu 9,8%. Isso comprova que as
violências de gênero também devem ter um recorte racial, afinal, a violência
contra as mulheres negras está relacionado ao peso histórico da escravidão, na
qual a mulher não estava de acordo com o mito da “fragilidade” atribuída ao
feminino, portanto, é necessária uma atenção diferenciada para que sejam
considerados esses e outros aspectos que constroem esse tipo de violência.
Diante do exposto, reiteramos a necessidade
de pesquisar e entender as questões de gênero, uma vez que estas permeiam nossa
vida e nossas relações, relacionando-se com as violências na Sociedade. É necessário persistência e estudos para que possamos
desconstruir culturas sexistas e desiguais, conferindo liberdade de gênero e de
expressar esse gênero legalmente.
Referências
Ma. Nila Michele Bastos Santos é
Historiadora, Psicopedagoga, Especialista em Formação de Professores. Mestra em
História Social pela Universidade Federal do Maranhão. Professora EBTT de
História do Instituto Federal do Maranhão IFMA - Campus Pedreiras. Coordenadora
do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFMA campus Pedreiras e
Coordenadora do LEGIP. Contato: nila.santos@ifma.edu.br
Manuel Oliveira da Costa Neto, Estudante do
Curso Técnico em Petróleo e Gás Integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal
do Maranhão – IFMA Campus Pedreiras. Membro do LEGIP (Laboratório de Estudos de
Gênero do Ifma campus Pedreiras), Bolsista I.C. Júnior da FAPEMA.
ANDRÊS. Artur D. S. O conceito de ‘violência’
no pensamento de Hannah Arendt. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. 2012
DAHLBERG, L. L. KRUG, E. G. Violência:
um problema global de saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, 11(Sup).
1163-1178, 2007
DAHLBERG, L. L. KRUG, E. G. et all.
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Genebra. 2002
GROSZ. Elizabeth. “Corpos Reconfigurados”:
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INSTITUTO MARIA DA PENHA (IMP). Disponível em
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MINAYO. Maria C. S. Impacto da Violência na
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Brasília. 2005
NICHOLSON. Linda. “Interpretando o Gênero”.
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OLIVEIRA. Roseane. CAVALCANTI. Elaine.
Políticas públicas de combate e enfrentamento à violência de gênero. Periferia
- Educação, Cultura & Comunicação. v.9. n.2. 2017
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University Press, 1989. Tradução: Cristine Ruffino Dabat e Maria Betânia
Ávila.. 3.ed. Recife: SOS CORPO, 1996. P.1-20.
SILVA. Marcos V. M. Violência LGBTFóbicas no
Brasil: dados da violência. Brasília: Ministério dos Direitos Humanos, p. 79.
2018
Olá, boa tarde! Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirVocês acreditam que trazer essa questão da violência e das suas mais variadas facetas contra os mais diversos grupos da sociedade para dentro da escolas, nas aulas de História, pode colaborar para que desde cedo as pessoas olhem com mais empatia para essas questões e também para as suas vítimas?
Isabela Nogueira da Silva Grossi
Olá, Isabela, agradecemos a pergunta!
ExcluirSim, nós acreditamos que o conhecimento histórico auxilia na mudança de mentalidades. Desse modo, vemos que através dos diálogos claros e abertos sobre a questão, os alunos podem compreender que as violências são frutos das relações de poder que se manifestam inferiorizando, marginalizando e oprimindo minorias, além de consolidar preconceitos.
Logo ao trabalhar a questão da violência de gênero, em toda sua pluralidade e historicidade dentro das aulas de História - espaço ideal para um debate sobre a construção da sociedade - seja uma maneira de explicar os significados por trás das violências, e dependendo do seu contexto histórico e social, dá sentido a muitas estruturas contemporâneas.
Dessa forma, entendendo as violências de gênero e seu histórico, poderemos destacar os prejuízos às vítimas e as injustiças que rodeiam esse campo, e assim desconstruir desde cedo o pensamento opressor, trabalhando a empatia e alteridade dentro das relações cotidianas.
No campus Pedreiras as aulas de História trabalham essas questões em todo ensino médio, criamos inclusive uma conta no Instagram: @legip.ifma, para expor trabalhos e propor questões de reflexão. Esperamos que nos visite, para que possamos continuar o debate.
Acabei de dar uma olhada na conta no Instagram e fico muito feliz em saber que projetos como esse estão sendo propostos e colocados em prática. Eu sou recém formada e as experiências que eu tive nas salas de aula foram através dos estágios obrigatórios e, por terem me dado uma certa liberdade, consegui montar as aulas que dei sempre tentando incluir, na medida do possível, temáticas como essa que vocês abordaram no texto. Meu medo é não saber muito bem como seguir o que a escola pede no currículo e, além disso, adicionar esses assuntos que são importantes e que não podem ser deixados de fora dos debates escolares. Mas a resposta de vocês foi muito esclarecedora. Muito obrigada!
ExcluirIsabela Nogueira da Silva Grossi
Olá Isabela,
ExcluirComo professora entendo perfeitamente o que queres dizer, o currículo e o tempo para explicar todo o currículo nos massacra e as vezes questões tão importante são deixadas de lado. Uma sugestão é a adaptação. Isto é, a mulheres sempre estiveram presentes na História e violência sobre seu corpo, físico ou metal, também. Embora poucas vezes os livros didáticos tratarem do assunto. Se me permite uma sugestão, uma prática que costumo fazer em minhas aulas é buscar essas histórias e introduzi-las nos conteúdos que já estão postos, elas podem aparecer como atividades aos alunos, pesquisas extras ou mesmo você pode apresentar um “você sabia”, algo como a diferença de vida entre as mulheres ateniense e espartana na Grécia antiga. Ou ainda a participação das mulheres na revolução francesa e na revolução industrial, ou mesmo porque não ouvimos falar das mulheres neste conteúdo? Seria a exclusão um tipo de violência? Foi em meio as aulas de História que surgiu a ideia do Laboratório, é claro que tais interações, são uma ação que depende do professor, mas vejo que a medida que mais e mais professores, bem como a sociedade exigir esses diálogos, tanto os livros, quantos os currículos terão que se adaptar.
Att,
Prof. Nila Michele Bastos Santos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirColegas, o texto traz importantes e urgentes reflexões sobre a questão da violência de gênero. De certo modo dialoga com o meu texto, que também está nessa mesa, "MEMÓRIAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA" (Susane Rodrigues de Oliveira). Gostaría de colocar em questão as abordagens da violência de gênero no ensino de história. Como professores/as é fundamental atentarmos para a historicidade de tais práticas, como bem destacam no texto acima. Nessa perspectiva, necessitamos de uma abordagem histórica interseccional do gênero à raça, classe, etnia, religião, idade, nacionalidade, orientação sexual e outros marcadores sociais que permitam a compreensão do caráter complexo e multidimensional da opressão das mulheres na história. Para isso precisamos avançar no campo dos estudos de gênero e reconhecer as contribuições importantes dos estudos feministas interseccionais (negros, indígenas, pós-coloniais e decoloniais), para evitar explicações generalizadas sobre feminino/masculino e patriarcado, que não só apagam as experiência de mulheres negras e indígenas, como reforçam ainda mais a violência simbólica e epistêmica da história contra estas mulheres. Assim, gostaría de saber como vocês pensam ou propõe abordar as interseccionalidades do gênero nas aulas de História? Além do trabalho de promover empatia em relação às vítimas, como devemos agir em relação aos modelos de masculinidades brancas, agressoras e dominantes que se perpetuam nas narrativas históricas centradas, em sua maioria, apenas no protagonismo, superioridade e poder de homens brancos, hetero, cristãos e de camadas sociais mais privilegiadas?
ResponderExcluirSusane Rodrigues de Oliveira
Olá professora Susane Rodrigues de Oliveira, obrigada por sua questão;
ExcluirO artigo aqui posto é apenas um parte de nosso trabalho que está associado ao Laboratório de Estudos de Gênero do IFMA Pedreiras e conta tanto com uma parte ligada à pesquisa quanto outra ligada a extensão. Na primeira parte, aliada à pesquisa bibliográfica, estamos fazendo o levantamento de casos de violência denunciados na cidade de Pedreiras-MA, que infelizmente encontra-se entre as cidades com maior número de desse tipo de violência registrado no Maranhão, esse levantamento visa a criação de um mapa da violência da região. Para isso também utilizamos referencias de outros mapas estaduais e federais. As Analises desses e dos dados já obtidos na cidade nos impossibilitar homogeneizar a questão, observamos claramente que os sistemas de opressão, fruto das relações de poder, não age independentemente uns dos outros, ao contrário percebemos que essas formas se inter-relacionam, criando um aparelho violento que reflete o "cruzamento" de múltiplas formas de discriminação que vão desde o racismo, o sexismo, o classismo, a homofobia, a transfobia, gordofobia e intolerâncias baseadas em crenças e tantas outras identidades que são marginalizadas e inferiorizadas simplesmente por não seguir o padrão daqueles que estão dominando. É nesse ponto que nosso trabalho se associa a extensão, o mapa construído fará parte de uma “Caixa Lúdica” (evitamos usar o termo Kit, justamente para evitar os preconceitos, já estabelecido) que contará com outros materiais desenvolvidos no laboratório, tais como cartilhas sobre a identidade de Gênero, fanzines sobre etnias, raça e poder, Cards sobre corpo e gênero etc. Já fizemos o levantamento das escolas que iremos atuar, são escolas Públicas do Estado do Maranhão, na cidade de Pedreiras. Infelizmente a pandemia, suspendeu essa ação, mas tão logo possível retornaremos e buscaremos ampliar nosso foco de atuação, a ideia é atingir todas as escolas públicas das adjacências que possuem contato com o nosso Instituto. Acreditamos que assim possamos alcançar o maior número de jovens abordando diretamente as interseccionalidade do gênero.
Em relação aos modelos de masculinidades que colocou, no campus Pedreiras as aulas de História trabalham essas questões em todo ensino médio. Em meio as narrativas históricas, uma posição que buscamos ter é a de questionadores desses modelos, tendo um olhar crítico em relação a esses momentos históricos, desconstruindo figuras heroicas e destacando indivíduos oprimidos, que tiveram sua relevância e que, por causa do gênero, têm suas contribuições apagadas dentro desses contextos, e quando consideramos outros indicadores junto da questão de gênero, essas lutas são ainda mais ignoradas. Portanto, analisar a história do ponto de vista das minorias é um paço importante para compreender os desdobramentos daquele contexto.
Contudo, não buscamos apenas ficar nos questionamentos teóricos, é preciso proporcionar os surgimentos de indivíduos atuantes na sociedade e que se manifestem frente as injustiças com as armas que possuem. Nesse ponto, para além das palestras e campanhas que fazemos, utilizamos as redes sociais, inclusive, criamos uma conta no Instagram: @legip.ifma, para expor trabalhos e propor questões de reflexão. Esperamos que nos visite, para que possamos continuar o debate.
Att,
Prof. Nila Michele Bastos Santos
Manuel Oliveira da Costa Neto, Estudante do Ensino Médio do IFMA
Parabéns Nila e Manuel por esse trabalho super importante e muito bem direcionado!!! Irei sim visitá-los no Instagram. Sucesso!
ExcluirAtt.,
Susane Rodrigues de Oliveira
Olá, Nila e Manuel
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho de vocês!
Gênero é um conceito importante para pensar as relações de ser, saber e poder do nosso cotidiano. Estudar sobre essas relações, considerando as diversas abordagens têm ajudado na reflexão sobre os ditos papeis de gênero - construídos e esperados socialmente, bem como, a admitir que é necessário falar sobre isso em qualquer espaço em que há presença humana. A escola é o poço da manutenção de estereótipos de gênero e as investidas de modificar essa realidade têm suscitado muitos bons resultados. Tais reflexões se tornam importantes aliadas ao combate às desigualdades, fato que auxilia nos processos de aprendizagem e na construção de pessoas plenas e conscientes de suas possibilidades.
A autora e o autor têm algum dado e pesquisa relacionada a violência no âmbito escolar na cidade em que se realiza tal estudo? Como vocês articulam essas questões de violência/gêneros/direitos humanos no ensino de História?
Um abraço,
Kenya Jessyca Martins de Paiva.
Olá, Kenya Jessyca
ExcluirObrigado pela pergunta.
A cidade que o estudo acontece é Pedreiras-MA, um município localizado na região do Médio Mearim, cerca de 24 km de São Luís. Segundo dados da Secretaria da Mulher e informações da polícia, foram confirmados 7 casos de feminicídio na cidade em 2017, o que muitas vezes é colocado como a ponta do iceberg, que é a violência contra a mulher. Ademais, um grande problema é que por Pedreiras ser uma cidade do interior onde, muitas vezes, a situação da violência é vista como uma questão apenas familiar, muitos casos de violência doméstica não são denunciados. Assim este estudo específico se concentrou na violência apenas nos dados da violência contra a mulher fora do ambiente escolar, mas em nosso laboratório outros colegas estão realizando pesquisas na área do bullying, relacionando este com as interseccionalidade dos gêneros, infelizmente não disponho destes dados agora, mas você pode nos acompanhar no Instagram @legip.ifma, lá costumamos expor nossos trabalhos, além de promover
Quanto ao ensino de História é preciso ressaltar que o laboratório só pôde ser criado devido aos debates que surgiam nas aulas de História, a cada conteúdo curricular posto a professora propunham questionamentos sobre as minorias, em geral “esquecidas” por uma Historiografia tradicional e positivista, assim através das aulas, das pesquisas e atividades paralelas descobríamos coisas que nos deixavam ora assustados, ora indignados, mas também passávamos a compreender certas permanências. Infelizmente nosso currículo técnico nos deixa pouquíssimos tempo para as aulas de História. Nossa solução foi criar o laboratório para atuar tanto na pesquisa quanto a extensão. Ele ainda é novinho, tem apenas 3 anos, mas esperamos que ele tenha uma vida longa e próspera.
Att,
Prof. Nila Michele Bastos Santos
Manuel Oliveira da Costa Neto, Estudante do Ensino Médio do IFMA
Boa noite, Nila e Manuel
ExcluirAgradeço pelo retorno. Esta realidade de silenciamento é de fato muito comum. Parabéns pelo trabalho do laboratório e vou acompanhar,sim!
Abração e seguimos na luta. \o
Kenya.